Fevereiro é dos meses de que mais gosto. É o mês em que a luz do dia começa a prolongar-se pela noite dentro. É o mês do florir das camélias e das amendoeiras e em que o Sol começa timidamente a aquecer substituindo aos poucos o frio do início da manhã. É o mês da pré-Primavera, do renascer do jovem ano naquele esforço sempre repetido qual Sísifo voltando a empurrar a sua pedra para o alto da montanha. Aparecem alguns pássaros que começam a propalar o seu chilreio. E, por vezes, há um perfume no ar que, sem nos inebriar como o de Maio ou Junho, nos enche a alma de um azul anilado. As acácias vestem-se daquele amarelo que só vemos no Alentejo em pleno Verão e as mimosas recendem nas matas.
Há sempre no mês de Fevereiro umas tardes de quase Verão em que começa a dar vontade de arrumar os casacões que, ironicamente, ainda nos hão-de fazer muita falta e de ir dar belos passeios a pé. A primeira vez que senti esse fingimento de Verão foi quando, há anos, muitos anos mesmo, vim pela primeira vez a Leiria nesta época para o casamento de um irmão do então meu namorado (quer dizer, do meu “conversado” no dizer brincalhão da minha grande amiga T. dos tempos da Faculdade...) De facto, Leiria é uma zona muito quente e muito fria, de grandes amplitudes térmicas.
Relembro sempre, porém, com grande nostalgia, nesta altura do ano, os solitários passeios que dava pelo parque quando, no tempo do colégio, o atravessava em direcção a casa, quando morava não na Vila, mas nas Murtas ou na Portela. Até no verde-húmido de Sintra se fazia sentir, em Fevereiro, um fiozinho daquele Sol novo de início de ano. E depois as nossas brandas loucuras do Carnaval!
Muita da gente crescida gosta de dizer que “o Carnaval não lhes diz nada”, mas a mim diz. Não este Carnaval dos desfiles dos grandes carros ditos alegóricos com as meninas lá em cima em bikini a baterem o dente de frio porque nós aqui não temos o calor do Carnaval carioca. Senti, ao longo dos anos e até hoje, uma enorme pena de já não haver daquelas festas em que dançávamos (por vezes mesmo mascarados) até às tantas, daquelas em que nos “metíamos” na noite de 6ª feira chamada gorda e de que só saíamos na 3ª feira de Carnaval pela noite dentro, desde que, como o meu pai exigia, não faltássemos às aulas, logo de manhã, na 4ª feira.
Apetece dizer com o Fausto “que boa vida era a de (Lisboa) Fevereiro”...