domingo, 23 de maio de 2010

Sobrevivente de um piloto polonês

Luscombe Aircraft
No ano de 1946/7 muitos pilotos europeus que haviam combatido na IIa. Guerra, emigraram para o Brasil à procura de trabalho. Essa gente fixou-se em São Paulo onde conseguiam a legalização e licença para voar.
Alguns deles chegaram a trabalhar nas firmas representantes das fábricas de aviões e saiam pelo interior do Brasil demonstrando os produtos que vendiam.

Um desses aviadores, de nacionalidade polonesa, chegou um dia à Joinville pilotando um 'Luscombe' bem mais moderno daquele que o Aeroclube possuía.
Fez voos de demonstração para quem se interessou e convidou-me a conhecer o novo modelo que pilotava.
Certamente ele imaginou que, sendo eu o instrutor naquela cidade, os interessados iriam pedir a minha opinião e isso pesava muito para se fechar qualquer negócio.

Painel de instrumentos do 'LUSCOMBE'

A mim ele teria de mostrar tudo o que o avião era capaz, assim como a robustez e economia.
Decolamos, ele pilotando, e já tive a sensação que estava me expondo à risco: saída em curva americana, situações de perda de velocidade (stall), pouso curtíssimo, acrobacias diversas, parafusos acidentais e, finalizou a demonstração fazendo um vôo rasante com curvas de grande inclinação acompanhando todas as voltas de um rio próximo ao aeroporto.
Durante essa última demonstração tive a oportunidade de olhar a fisionomia do piloto e vi nele a imagem de um combatente em ação, atacando alvos no solo e voando rente ao chão para se livrar da anti-aérea.

Tive a certeza que naqueles instantes ele tinha na mente os momentos de sua ação no Europa, pilotando um avião de caça sobre o alvo inimigo, atirando em tudo que se movia.

Foi aí que lembrei da rede elétrica de alta tensão que atravessava o rio lá mais adiante.

Tentei avisá-lo do perigo que se aproximava sem que ele compreendesse o meu português.
E o rasante continuava com o piloto extremamente eufórico,parecendo que estava em estado obsessivo.
Quando vi a rede elétrica a nossa frente e não havia reação do piloto, meti a mão nos comandos, puxando o manche para trás, elevando o nariz do avião o suficiente para passar a poucos metros acima da rede de alta tensão...

Foi um reação tão inesperada para o piloto, que depois tive que fazê-lo voltar para que ele pudesse entender o perigo que tínhamos passado.

Naquela tarde,quando retornamos ao aeroporto,estava eu sentado em frente ao hangar, enquanto os alunos treinavam decolagens e pousos. Ainda me recuperando do susto, matutava no problema que a guerra traz aos jovens pilotos que conseguem sobreviver desse cenário de luta e conflito.
As sequelas psicológicas se manifestam em suas mentes, indefinidamente !

***

Sobre a Força Aérea Polonesa


Um Spitfire polonês com as cores da Royal Air Force


"A Força Aérea Polonesa (Lotnictwo Wojskowe) , embora organizada e sob controle operacional da Royal Air Force, era quase que uma força aérea independente. Numericamente era a quarta maior força aérea aliada, perdendo apenas para a União Soviética, Estados Unidos e Grã-Bretanha.
Os pilotos poloneses eram provavelmente os mais bem treinados pilotos do mundo naquela época.
Devido ao seu pequeno tamanho, a Força Aérea Polonesa selecionava muito bem seus candidatos, principalmente aqueles destinados às unidades de combate".

(Fonte: Henrique Augusto Cruz Santos - História da Aviação Militar - mhtml:%7B08EA534C-56C4-46AB-91A6-C0137DA6143F%7Dmid://00000466/!x-usc:mailto:henrisan@infolink.com.br )




Fotos obtidas no Google