Na quietude da tarde alentejana,
Que adormece todos os sentidos,
Procuro na memória já insana
E não encontro momentos já vividos.
Questiono-me por isso.
Em vão? Talvez.
Mas eu, que tenho a mania dos porquês
E não sei libertar-me,
Não desisto.
Fico prisioneira de mim mesma,
Numa louca e recorrente obsessão
E, entre o delírio e a razão,
Reencontro algumas forças e insisto.
Então, construo castelos na areia
Que de frágeis se dissolvem com o vento.
E fico, de mãos vazias
E de olhar perdido, que vagueia,
Numa indolência que me consome o tempo.
Não resisto e deixo-me ficar
À espera da noite e das estrelas,
Em busca de razões para sonhar.