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sábado, 3 de dezembro de 2011

Ismália, Buenas Noches.

Ismália, Buenas Noches.



Sente só
           Só agora
                 Aspira o pó
                             O pó aéreo
                                       Pós 2ª Guerra
                                               Pior que cocaína.

Vê no tom cinza negro amarelo
Como o ar essa noite é seco
E parece estar de mau humor.

É o bafo da Lua nascente,
Essa Lua fumante,
Mas quem se importa.
Vejo-a, pela lente da janela aberta, a fumar seus alvéolos pulmolunares, e basta a visão.

Piores ainda são os ares
Pressurizados
Politicamente corretos
Pelos quais planam morcegos cegos.

Pega hoje a tua bandana, garota,
Molha-a com água gelada,
Amarra-a no rosto pra umedecer o respirar pelas mucosas internas.
Saiamos sem ensaio
Pelas ruas pós-trabalho
                  De um faroeste em chamas.

(Então corremos de mãos dadas, pulando sobre obstáculos incendiados, enquanto o exército tenta nos atingir com metralhadoras de munição traçante, e não cessam os bombardeios até que chegamos ao abrigo.)

Pronto, amiga, já podemos respirar.
Respire fundo, a hipocrisia expira.
Solta o pânico que ficou lá fora.
Agora toma um gole comigo,
Pois tu, Lua Ismália...                    
Em si és bela,
Fora de si é inda mais.

Que tal irmos ao fim do logradouro?
Lá há uma sala, beco deserto
Onde dois divãs nos esperam.
Deitemos a fadiga das células, dos tecidos, das ondas, das ressacas passadas, das sugadas dos morcegos cegos, dos sufocantes ares poluídos, dos fardos semivivos, toda fadiga: deitemos.

Canta, como é que foi teu dia?
Canta, que somos agora?
Narrativas lineares no espaçotempo? 
Significados essenciais solutos em consciência?

Gametas? Somos gametas – palavras? Somos planetas – facetas? Somos capetas – canetas? Somos caretas – tormentas? Somos pimentas – erratas?

Peça, amiga, que me prendam!
Sou um marginal, incapaz de ver as barreiras das coisas. Mas, sendo assim, que me prendam bem preso, tão preso que eu sequer veja a prisão.
Mas antes, querida, brinquemos como crianças
Pelas zonas erógenas aldeãs,
Pelos jardins e cemitérios sérios.
Brindemos ao amor anárquico,
À visão plena do escuro pleno branco,
À bravura, à coragem de adentrar no escuro brando,
À piromania e à cera quente na qual nossos dedos se aprofundam,
À disciplina no voo dos vagalumes rebeldes,
À atenção ao invés da concentração,
À luz constante da Midríase que passeia seu olhar miando e roçando com carinho os filósofos amantes metafísicos.

Querida,
Cacau
Cevada e buenas noches. 

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Por Israel Silva.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pensassonho



Que é esse vão palavrão?
Essa palavra inventada,
Esse dono sem cão,
Esse cão na estrada?


Pensassonho é um pensamento livre,
É livro livre, sonho que flui lento.
É rápido, é lógica, elétrico talento
Nos fios frios de lá de dentro do pensamento.

(É um fluido que se torna forma recipiente)

Pensassonho é liberdade da mente
que se sente.
Oxigênio suficiente.

Para gerar um pensassonho,
Fundir ferro com vento.
Dando aos pensamentos asas de sonho,
Dando aos sonhos força de pensamento.


Unir coisas antagônicas:
Juntar o dia e a noite.
Fazer amor em meio a piadas cômicas,
Derrotar ditadores, calar o açoite...

Pensassonho é uma base para construir.
É o início, tentativa de pensar sem pesar...
(Princípio da Incerteza).
— Portanto: 
                     pense, sonhe, pensassonhe.

domingo, 11 de setembro de 2011

Nesse Momento



Te domino,
Te                d  e  s  f  a  ç  o
Nesse                       espaço.

Ouço o sino:
Já é hora!
O resto é fora,
Agora é dentro.
Nós somos dentro,
Nós somos agora.
(Eu vampiro sedento em ti adentro.).

              Eu tenho, eu sou teu explosivo.
Invado-te.
 (Bem como queres                –           e como queres...).
Eu sei...

Daí provo-te... (humm...)
Tu me tocas...
(Bocas)
Me sufocas...
Me deslocas...
(Aqui dentro do meu peito tu és tão presente).
(Aqui dentro eu te aceito eu te necessito).

— Ah! Diga coisas loucas!

Quero ouvi-las
Quero senti-las
Abraçá-las vê-las
Beijá-las
Acariciá-las praticá-las!
— Sim, essas coisas loucas todas que tu falas!

Nossa fúria!
       Sua mão.
             Nossas mãos,
                      Seu coração.
                          Nossos corações.
Seus lábios,
                   Nosso beijo.
Nossos beijos...
Ensejos.
Sejas.
Daqui não me retiro,
Não me despeço,
Tudo esqueço,
Me disperso,
Não me canso.
Sou de aço!
Aperta o laço!
(Este que nos une)

(risos)        Faço cócegas no seu ventre,
Realizo fantasias numa leitura dinâmica
Penetrando nas paredes da tua mente...
Vai, fala sério, não mente.

Eu te caço.
Isso não passa!
Os minutos, passos sem pressa.
O tempo outrora escasso
                  Agora espaço.
T e d o m i n o t e d e s f a ç o n e s t e e s p a ç o
Te domino com efeito 
...feito:                                                                                   D o M i N ó

Momento lento sem vem: fim assim.
...
Ao final da tarde...

— Lembra-se do tempo?
— Ah, nesse momento nem lembro nem temo.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

(Entre)vista: Thiago Cervan



Mais uma breve entrevista realizada por um carinha que não é jornalista mas é curioso. E é sendo curioso que se aprende, não decorando fórmulas, mas chegando à elas, e ainda assim nunca tomando apego à elas, mas antes, um sentir. 

Dessa vez trago aqui as palavras de um camarada da cena artística atibaiense underground psiconauta cosmolocal. Verdadeiro ativista, vale a pena conhecer a poesia e a arte urbana desse "manolo".

Thiago Cervan é filho das ruas cinzas do ABC e fazedor de coisas. É um viciado na palavra.
Foi publicado na antologia “Balões Coloridos” pela Editora Via Literária com a crônica “ A puta passageira” e participou do livro “Microcontos” organizado por José Luiz Goldfarb, lançado em 2010. Também colabora mensalmente na Revista Kalango.
Como roteirista tem diversas participações em curtas-metragens.
Possui um trabalho de poesia visual nas ruas e também é um dos idealizadores do Sarau do Manolo, evento que acontece em Atibaia/SP
Atualmente prepara o lançamento de seu primeiro livro de poesias o “Com Verso Fiado”.




http://thiagocervan.com.br/site/index.php


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Israel Silva: Quando e como você se iniciou nesse mundo doido das artes?


Thiago Cervan: Tem uns três anos que escrevo regularmente. Comecei com essa história de experimentar meu trabalho em outros suportes em 2009, quando fiz um curso de audiovisual na Difusão Cultural com Rodrigo Koni, com isso, realizei alguns curtas e nanometragens e com essas produções participei do Curta Atibaia e do Festival do Minuto. Meus trampos de stencil/serigrafia/colagem começaram depois que entrei em contato com o Matias Picon por meio da Galeria Mutante/Atelier Undergrude, isso foi no ano passado.

Israel: O que veio primeiro, a “poesia escrita” ou a visual? 

Cervan: A poesia “tradicional” veio primeiro.

Israel: Você atribui sua atividade à algum acontecimento de sua infância? Ou seja, você acha que alguma coisa foi responsável por acender sua tua faísca artística?

Cervan: Estudei música clássica por mais de dez anos. Desde sempre fui curioso, mas não há nenhum fato marcante ou desencadeador.
Israel: Quem te acompanha no facebook vê que você é um cara bem engajado. Você vê a arte como arma de transformação social?

Cervan: Toda arte é política e deve ser transformadora. A arte que não dialoga com o seu tempo, a meu ver, tem pouco valor.

Israel: O que você acha do fato de a “arte popular” atual estar tão distante das causas sociais?

Cervan: A arte, assim como tudo, é um produto histórico da sociedade. A arte que o grande público acaba consumido está nas mãos de grandes empresários e serve a uma estrutura podre de poder. Acredito mesmo é em pequenos grupos de pessoas trabalhando de forma autônoma para mudar a realidade local. Nos anos setenta o lema já era “pensar globalmente, agir localmente”. Não posso ficar preocupado em mudar o mundo se não mudo nem a minha rua.

Israel: Manolo, planos para o futuro?

Cervan: Produzir bastante, ler muito, viajar, ou seja, viver bem.

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Encontre os trabalhos de Cervan (ou ele próprio) também através dos seguintes links:


domingo, 21 de agosto de 2011

Lamaluz




à Alika Finotti

Um Shaman perdido                                                      um talvez
Homem – expresso                                                      eterno               paciência
Imerso em simplicidade, de si, do resto. Sem rótulo. Sem rótula.
Em paz, ciente.
Humilde criatura nascida n’África, quiçá planeta Terra,              nascida do resto
Filho da célula primeira, filho da mãe, filho
                                                                    Da Existência agora autoconsciente.
T u p y
T u c a n o d a m a t a c o l o r i d a.
Uma hora, uma hora o filho pródigo volta à casa.                              Don’t worry.
O prodígio volta pródigo à lama             -                     sim, por os pés na lama e                                                                                                                                                                                                             sentir o espírito mineral, a penetração sexual dos sais nos poros
Contato imediato de santo graal.

Agora há o sentir da essência ao longo dos longos.
Agora surge um ciborgue orgânico, que dança em raves viranoites viralatas.
Um ser extracorpóreo transcende os limites da pele
                                                                             Suor tônico de dança osmótica.
Quebra a muralha, há a percepção da totalidade.
 Molda a nova percepção com barro. O filho do laser e do gelo seco, a personificação transmoderna da psicodelia.
A criação, em sua humildade, vive em aldeia.
Glóbulo, globo, na veia, fluxo informacional da Existência.
Dance! E ligue-se à natureza. Na lama fosforescente, o espírito passa a existir.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Revolução Elétrica



Livres elétrons sem massa
Massivamente correnteiam
geram atrito, calor, queimam.

Um coração inflamado
queima enquanto acorda.

Desfibrilador                     dor
Dor ressucitante                recitante
queima enquanto acorda - acorde
Sem dó.                                             Dó menor.

Vejo mil
Corpos queimados
Dois mil
Olhos estalando
Glóbulos e partes
De um todo
Correndo sobrevivos
Numa solução plasmática insolúvel
Corrosiva em corredores.

Vejo coágulos queimados
Nos fios de alta tensão

Elétrons gritantes, lampadas mágicas e
Gênios retirantes desesperançosos negativamente caregados
Cansados de suas órbitas cotidianas.

Tudo confuso nervoso anamórfico
Tudo queima enquanto acorda.
...

Na nossa marcha eletrônica
o circuito é tenso, e as resistências
grandes. Passamos e incandescemos.
Luz, calor, tudo muito chocante.

Nas ruas, as lâmpadas acendem,
E tudo queima enquanto acorda.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dourazul



Voando avoado revoando
Sobrevoando o céu azul
Azul azulando azulejo
Sob o cortejo do Sol no Céu
Sob o cortejo do Sol no Céu

Dourado do Sol no céu azul
Dourado do céu no Sol azul
Dourado no azul e o Sol no céu
Corado sabor de mel
Corado sabor de mel

domingo, 31 de julho de 2011

A Persistência da Memória



(lembranças solutas em sentimentos quase póstumos)

INTRODUÇÃO

No escuro
Vértice                                                                                                                           Vórtice
Córtex

— Engraçado, sempre me lembro da chuva
                                                                    e
                                         Do céu nublado e
Da admiração que tinha pelos raios.
Raios.
! Que os invoco agora !
Pois você que outrora minha nuvem
Pois você que outrora
em mim
precipitou-se como um temporal
                                                             atemporal
(com tudo que lhe constrói o caráter: ventania, raios, fúria etc.).
— Você aqui persiste.
                                        na memória.
Nas minhas janelas, nos meus memory cards

Neurais                                                                                                                      Cerebrais
Celebrais

Aliás, não apenas tu, Outrora. Outros seres também persistem aqui.
Também persistem:
Vós. Vós todos que aí estão.
(marimbondos do meu passado)
Vocês, que persistem em minha memória, são testemunhas de que existi, assim como eu testemunho a existência ainda que passada de vocês.
Justo.
...

PARTE I

Verdade. Atesto que, Sim, existi. Fui real um dia, tive história.
Já a morte...
A morte
Contêm-se
Em sua insignificância.
Pois nem a morte é capaz
De capturar a luz tão incidente
Do passado persistente
Paz                                                                                                                                 Fugaz

A morte não sobrepuja a memória da vida.
Sim, pois o próprio universo lembrar-se-á
                                                                            Da vida.
(amém)
...

PARTE II
Eis que eu, então, sendo filho do Pai,
Filho direto do universo, da existência...

[re]                                                                                                                           resistência
          (r)existência                                                                                       persistência

— Eu, sendo filho feito à Sua imagem e semelhança:
                                      Lembro.
           

Temos a dádiva da mente
e na mente temos memória.
...
PARTE III

Lembro do tom da primeira rosa e
Da terra que a circundava.

(Terra vermelha. Rosa vermelha. Formigas vermelhas).

Assim como tatuei no campo das lembranças os lábios teus.

Ver                                                                bios                                                          Melhor
Melhor                      Me                           Ver
Vermelhos...
(lábios)

— E não quero e não vou esquecer-te! Pois és tu, Outrora, a minha nostalgia analgésica.

...

PARTE IV

Ah, não me conformo com o esquecimento. Falo do esquecimento proposital, da fraqueza psicológica que nos pede para esquecer.
Considero o cúmulo do desprezo
(e mesmo do desrespeito)
abandonar fragmentos recicláveis
da vida própria em
páginas quaisquer na
lixeira do Nunca Mais,
e jogar o Antes
aos vermes.

(esquecer assim é peneirar o Sol com nuvens)

...



PARTE V

 Aos                                                             Vermes.                                            
  — Nuvens.
Rever           ver          mês       chuva      cumulonimbus
Vermes                                                                                                                    Vermelhos

Eu bem que poderia esquecer
aquelas palavras,
aqueles vermes vermelhos
saindo da boca daqueles
 que me ofenderam
E me sugaram o sangue
Vermelho
Naquele mês, naquele dia chuvoso, nublado, lampejante.

“Engraçado, sempre me lembro da chuva, do céu nublado, da admiração que tinha pelos raios.”

Poderia também esquecer
o escuro que se expandiu
no vórtice da minha amargura
no vértice da minh’alma.

Mas não me esqueço não, pois lapidar minha aflição foi aprendizado autodidata.. Aprendi a caçar por ter me enfadado de ser presa. Aprendi a amar o escarlate.

...

PARTE VI

Portanto eu lhe rogo, querida: Não te esqueças de mim.
Não...
Sejas testemunha de que eu existi e
Seja prova viva
De um amor que existiu.
Façamos um pacto para não dissiparmos a memória já esparsa de nossa história.

Então seremos
Testemunhas
De uma força que move a humanidade.
Assim sorriremos quando chegar o dia
De testemunhar
No Juízo Final.

...

FINAL

Rogo à vocês também,
À todos vocês que ainda vivem,
Imploro à vocês que ainda persistem enquanto eu fui embora já:

Não
Se esqueçam
De mim.

Não
Se esqueçam
Da vida.

Não esqueçam os aprendizados mais valiosos, não esqueçam os sentidos de estar no mundo.
No final das contas,
Gritemos um brado fragoroso, mais que retumbante
                                                                                          Para que Tudo que Há
Também se lembre de nós depois de partirmos.

Um dia o Universo há de sentar-se. Neste dia ele se lembrará de nós. Sejamos a Persistência da Memória da Existência.
Aqui vai uma mensagem para o pós:
— Nós estivemos aqui.
PS: Amo-te. Um beijo.