Cedo, bem cedo quando descobrias o prazer de observar a
natureza ao teu redor, te conduziram à uma instituição chamada escola, uma
fábrica de adaptar pessoinhas ao mundo vigente. Você, pequeno, maleável, tristemente
condicionável, não mais podia brincar com os outros lotes, digo, as outras crianças,
durante um determinado horário; tinha de ficar sentado numa cadeira,
enfileirado e voltado pra frente, sob os olhos de um professor e tutor, tendo
que observar o mundo não diretamente, mas através de um medíocre quadro negro
cuja cor é verde. Dele vieram informações mastigadas, obrigatórias e, quem sabe,
tendenciosas - tanto fez, você era mesmo só uma criança ingênua.
Daí você foi crescendo dentro dessa instituição, tendo suas
possibilidades de experiência de vida limitadas. Assim, você foi aprendendo e
apreendendo(-se) ao longo de seu “progresso escolar”, repetindo aquilo que as entidades
invioláveis (o quadro negro-verde e o professor-robô) apresentavam e sendo
submetido a testes. Embora, e talvez, cheio de informações, tua capacidade intuitiva
foi atrofiada, e teus talentos não foram bem alimentados. Ainda assim te
disseram que, com aquele monte de aprendizado, você poderia, no futuro, “se dar
bem na vida”. E lá se sabe quantas coisas foram ditas “pro futuro”, pois na
escola instituída não há presente, nenhum viver é possível no presente, só nesse
futuro.
Obviamente não bastou a supertutela da instituição, era
preciso que os outros lotes... Quero dizer, colegas, te testassem também, para
que você se adequasse, senão à escola, à dita sociedade exterior, ainda mais
inviolável. Teus coleguinhas, inclusive, te fizeram sofrer para cumprirem essa
função de defensores do status quo, ou simplesmente para que se sentissem
superiores à você. Eles eram tão mais adequados...
Tendo sobrevivido a tudo isso, o tal futuro chegou, e o
sistema se mostrou em sua benevolência. Após conseguir o diploma, você já pôde
se especializar em alguma função e exercer aquilo, sendo remunerado por isso,
podendo assim ter o direito de sobreviver nesse mundinho legal. Mas esse já é
outro capítulo...
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