Lisboa, 1 de Janeiro
de 2013
Exmo. e
Respeitoso Sócio do Sporting Clube de Portugal,
Comentador no
Programa Dia Seguinte da SIC Notícias,
Senhor Doutor
Paulo de Andrade,
Assunto: Ser do Benfica e ser do
Sporting é diferente.
Aquilo que nos
move para a escrita desta missiva prende-se singularmente pelo respeito que é
devido a cada cidadão na vida em sociedade, independentemente do clube que se
escolhe.
Uma posição de
destaque em horário nobre na televisão portuguesa deve ser, em princípio,
consonante com elevação no discurso. Logo, partir de forma acesa para a
deselegância com aqueles que não conhece é, por certo, a pior forma de defender
os “seus”.
Senhor Doutor,
Em nenhuma das
linhas do livro 100 Histórias à Benfica (ou as “Histórias do Pai Natal”
ou as “Anedotas do Pai Natal”, como de forma tão deselegante a ele se pretendeu
referir) existe o desrespeito para com o Sporting, a sua história ou qualquer
um dos seus representantes, como aquele que manifestou para connosco.
Na verdade, o
livro que orgulhosamente escrevemos nunca teve a pretensão de ser um livro de
história. Ao invés, trata-se de um livro de dois adeptos sobre histórias do
nosso clube. Todavia, existe nele algo que ninguém lhe poderá apontar: falta de
rigor nos dados históricos apresentados.
Nenhum
benfiquista, que preze a sua história, desconhece a influência que o jovem
fundador do clube verde e branco, José Alvalade, financiado pelo avô Alfredo
Augusto das Neves Holtreman, o primeiro e único Visconde de Alvalade, ia tendo
no desfecho do clube encarnado logo nos primeiros anos de existência.
Embora
frequentemente vitoriosos – como é disso exemplo a grande vitória sobre a
potência futebolística da época, o Carcavellos, por 2-1 em 1907 - os jogadores
do Grupo Sport Lisboa, “cansados” de tomar banho no poço e de se vestir e
despir na rua para os jogos, cederam a uma proposta “milionária” de balneários
e duches de água quente do Sporting, que julgaram muito mais condizente com o
seu estatuto social.
E foi assim
que José da Cruz Viegas (o entusiasta que escolhera a cor vermelha para os
equipamentos em 1904), os irmãos António e Cândido Rosa Rodrigues, Emílio de
Carvalho, Albano dos Santos, António Couto, Daniel Queirós dos Santos e Henrique
Costa começaram a equipar-se de verde e branco.
Não sei se V.
Excelência tinha conhecimento sobre este facto, mas foi com essa deselegante
atitude de tentar compor, pelo poder do dinheiro, a primeira equipa principal
do seu clube, que tinha sido fundado no ano anterior, que se temeu seriamente
pelo futuro do Sport Lisboa. Este, após a fusão com o Sport Benfica, veio a dar
origem ao Sport Lisboa e Benfica, a 13 de Setembro de 1908, graças ao esforço
dos “sobrantes“ Cosme Damião, Marcolino Bragança, Félix Bermudes, entre outros.
É desta
história (e de outras parecidas que se passaram nos anos 10 e 20) que nasce a
frase REAL de Cosme Damião sobre dinheiro e dedicação, citada directamente
do nosso livro pelo Dr. Rui Gomes da Silva, que deu origem ao intenso debate no
programa de segunda-feira.
De facto, a
grandeza ou a pequenez dos clubes nasce logo com as suas origens, mas a
avaliação delas faz-se no presente. Assim, não deixa de ser notável verificar
aquilo que um clube que nasceu pobre e humilde, sem campo próprio e que comprou
a sua primeira bola em segunda mão por 1500 réis, como o Benfica, veio a
alcançar, e o estado em que o Sporting, um clube que nasceu rico, dono do seu
campo e que apresentava bolas novas em todos jogos, vive actualmente.
A terminar, citamos ainda aquilo que escreviam os
estatutos do Sporting Clube de Portugal que vigoraram até à década de 50 do
passado século:
“O Sporting
Clube de Portugal é uma associação composta por indivíduos de ambos os sexos,
de boa sociedade e conduta irrepreensível.”
Infelizmente,
verificada a história e pela deselegância das palavras que proferiu em relação
a algo que nem sequer se deu ao cuidado de ler, é um preceito que, ao que
parece, apenas se prende ao papel.
Esperamos que
V. Excelência não se esqueça também que o espaço para o nosso direito de
resposta para a sua desagradável afirmação é reduzido, servindo a presente
missiva para o efeito. Ficaremos na esperança de algum tipo de retratamento
daquilo que, embora notoriamente a quente, de forma tão imprudente, fez questão
de dizer.
Ser do Benfica
e ser do Sporting é completamente diferente.
E, por isso
mesmo, despedimo-nos com desportivismo e com os desejos de um ano novo melhor
do que o anterior,
Fernando Arrobas
João Tomaz