A nível europeu,
destaca-se a subida do voto de protesto e a derrota dos socialistas, deixando mais
longe algumas soluções para o euro
A nível geral, podemos destacar duas ideias das recentes
eleições para o parlamento europeu. Em primeiro lugar, como esperado, a
dimensão do voto mais radical, mais fora do sistema. A Grécia conseguiu a maior
“proeza” neste campeonato, tendo a extrema-esquerda ficado em primeiro lugar e
a extrema-direita em terceiro.
Há um profundo descontentamento com a forma como a UE se tem
apoderado de soberania, com transferências de poder que não foram submetidas a
voto popular, desde os chumbos de 2005 ao tratado constitucional em França e na
Holanda. Em vez de recuarem, os líderes europeus insistiram numa integração
forçada, tendo o último elemento sido o Tratado Orçamental de 2012, que
introduziu um espartilho sobre os orçamentos nacionais, que constitui uma
afronta à soberania nacional.
Assim sendo, a dimensão do voto anti-UE é consequência
directa da forma como, primeiro, não se ouviu o que os eleitores disseram e,
segundo, deixou-se de os ouvir completamente, com novos tratados não submetidos
a referendo.
É verdade que estes partidos de protesto têm opiniões muito
diversas entre si, mas é de admitir que introduzam muita perturbação, quer na
UE, quer no euro. É difícil imaginá-los a construir soluções, por isso é mais
provável que tornem tudo mais complicado.
Mas há uma outra questão que não pode ser ignorada. É
impossível que os partidos do centro, após os rombos eleitorais que sofreram,
resistam à tentação de adoptar algumas das bandeiras mais populares daqueles
partidos. Sarkozy já veio fazer uma proposta inacreditável, de limitação da
imigração e de redução do poder dos países mais pequenos. Esta ideia até pode
não se concretizar, mas parece-me que este é apenas um dos exemplos do tipo de
resposta que os partidos do centro tentarão para estancar a hemorragia de
votos. Aliás, a segunda parte sugerida pelo ex-presidente francês tem todas as
condições para aumentar o voto anti-euro em vários países.
A segunda ideia a retirar destas eleições é a fraca
prestação dos socialistas europeus. Para um continente mergulhado na
austeridade, é surpreendente que os paladinos da luta contra a austeridade
tenham tão mau resultado. É evidente que isto se deve ao facto de que os
socialistas só tem sido contra a austeridade quando estão na oposição, já que
quando estão no poder têm sido forçados a tanta ou mais austeridade do que a
direita.
A consequência principal desta derrota socialista é que
todas as ideias de mais solidariedade europeia (euro-obrigações, subsídios de
desemprego pagos pela UE, etc.) ficaram mais longe.
Em relação a Portugal, o voto de protesto também se
verificou, com os partidos do arco da governação a atingirem um mínimo
histórico, não chegando aos 60%. No entanto, verificou-se também uma
pulverização deste mesmo protesto.
Os partidos da maioria tiveram um resultado muito baixo,
facilmente explicado pelos últimos três anos de austeridade. Já a percentagem
de votos obtidos pelo PS fica muito abaixo do conseguido por outros partidos na
oposição quando o país vivia momentos muito menos penosos do que hoje. Daí a
disponibilidade de António Costa para liderar o partido.
A principal novidade foi o sucesso eleitoral de Marinho
Pinto, cuja associação ao MPT até lhe poderá ter custado votos, tão obscura é
esta sigla. Sempre achei que o ex-bastonário da Ordem dos Advogados poderia ter
uma carreira política, se o quisesse. Mas considero-o uma pessoa imprevisível.
Há políticos que são racionalmente populistas, procurando
defender qualquer tese que tenha apoio popular, independentemente do que pensam
sobre ela, sendo Paulo Portas o melhor exemplo deste tipo. Marinho Pinto parece
ser emocionalmente populista, para além de ser muito idiossincrático. Ele
acredita e sente tudo o que defende, uma amálgama com aceitação popular.
Já toda a gente anda a falar da inevitabilidade de um novo
bloco central nas eleições legislativas de 2015, mas não é de descartar uma
coligação PS-MPT.
[Publicado no jornal “i”]