As novas atribulações de uma nova caminhada têm-me afastado um pouco da escrita para o Blog mas cá continuo a vir e aqui fica mais algo que me despertou a curiosidade neste entretanto.
Merece destaque pelo arrojo e originalidade o livro de uma mulher (a jornalista Norah Vincent, que calça sapatos 11 1/2 == 45) que descreve a sua experiência como homem durante 18 meses no que ela chama uma experiência cultural de observação "incógnita" do que significa ser HOMEM.
O resultado é um livro que tem recebido muita atenção no Brasil (em Julho 2006), mas curiosamente nenhuma em Portugal - tanto quanto se perceba! A conclusão de Norah Vincent no livro é que o homem é bem melhor - e bem pior - do que muitas mulheres alguma vez imaginaram. Grande conclusão ;-).
Também encontram-se bastante comentários negativos pela net, como por exemplo o que junto de uma brasileira: "E essa besta jornalista norte americana Norah Vincent quer que eu tenha pena de homens porque não choram... Eles não choram mas abandonam esposas doentes, passam a vida transando com todo mundo na moita e são coitadinhos??? Será que eu enlouqueci????"
A este comentário gostava de juntar um caso que conheci faz pouco tempo de uma pessoa que vivia em união com uma mulher que quando o apanhou no IPO conseguiu convencê-lo antes da operação a passar o apartamento dele para o nome dela e autorizar a movimentação de contas. Tal decorreu com toda a legalidade incluindo a presença médica e legal a verificar a lucidez no acto. Enquanto esteve no hospital numca mais recebeu a visita da tal mulher e hoje o homem está sem casa e sem tostão com os advogados a dizerem-lhe que muito dificilmente recupera seja o que fôr. O pouco que tem vai gastá-lo na tentativa de recuperação, enquanto a família o apoia mas não deixa de o lembrar o quão parvo foi!
Outra referência é a entrevista na Veja online que copio:
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Em 2003, a americana Norah Vincent pediu licença de seu posto de colunista do jornal Los Angeles Times para devotar-se a um projeto inusitado. Por quase dois anos, ela trocou sua identidade feminina pela de um homem. Com um disfarce meticulosamente elaborado, da barba artificial ao tom de voz, Norah – que é filósofa por formação – infiltrou-se em vários ambientes masculinos. Ela conviveu com homens da classe operária numa liga de boliche, freqüentou clubes de strip-tease, internou-se num mosteiro, trabalhou numa empresa de vendas e integrou-se a machões em crise num grupo de terapia. Seu objetivo era investigar o comportamento e a psicologia dos homens pelo ponto de vista de um observador de fora desse universo. O resultado é narrado no livro Feito Homem (tradução de Magda Lopes; Planeta; 305 páginas; 34,90 reais), que fez sucesso nos Estados Unidos e agora chega ao Brasil. Norah (nas fotos acima, como mulher e homem) trouxe à tona impressões reveladoras sobre as diferenças entre os sexos, a crise da masculinidade e as próprias mulheres. Nessa entrevista, ela conta suas aventuras como Ned, seu alter ego masculino.
Veja – Os homens são mesmo ruins como se fala?
Norah – Ao ver de perto como os homens se comportam, desmontei a idéia muito propalada entre as mulheres de que tudo na vida é mais fácil para eles. Essa descoberta, confesso, foi um choque. A condição sexual sempre foi vista como um peso muito maior para as mulheres do que para os homens. As feministas queimaram sutiãs nos anos 60 para exorcizar isso. Mas os homens também têm de corresponder a tudo que se espera deles, o que pode resultar numa ansiedade brutal. Está na hora de eles tomarem consciência de quanto as expectativas sociais – inclusive das mulheres em relação a eles – os limitam. As feministas podem torcer o nariz para essa idéia, mas eu vi a situação de perto e acho que é preciso ser dito. De fato, toda essa experiência mudou a minha visão sobre os homens. Hoje tenho muito mais simpatia por eles e sei interpretar atitudes que antes não compreendia, por confundi-las com arrogância ou insensibilidade.
Veja – O homem de hoje lida de forma mais relaxada com os valores da masculinidade?
Norah – Fala-se muito nos metrossexuais, os homens que não têm medo de se mostrar sensíveis. Mas as expectativas em relação aos homens são as mesmas desde sempre: autocontrole emocional, convicções firmes, independência. Ou seja: eles não devem demonstrar fraqueza ou carência em público. Um homem também não é considerado pleno se não for bem-sucedido no trabalho – por mais que se relevem suas falhas nesse campo, ele será menos que um homem se não for assim. A verdade é que, para um homem vencer na vida, os valores tradicionais ainda são o parâmetro.
Veja – Como a senhora percebeu isso durante sua experiência como Ned?
Norah – Tome um velho atributo enaltecido pelos machões: a postura incisiva. Na pele de Ned, descobri que os que exibem esse traço tendem a ser mais respeitados e a obter mais o que querem. No ambiente de trabalho, espera-se que os homens briguem de forma agressiva por seu espaço e nunca demonstrem falta de confiança. Eles, obviamente, também sentem suas fraquezas e têm dúvidas existenciais. Mas aprenderam que um dos itens mais valiosos para a sobrevivência é a capacidade de exibir uma couraça de autoconfiança. Quanto mais conseguem ser convincentes, mais as coisas ficam sob seu controle, pois as pessoas passam a acreditar nisso e a lhes delegar mais responsabilidades. As mulheres têm muito que aprender com isso. Depois de observá-los, eu mesma me dei conta de quanto vivia pedindo desculpas e me diminuindo perante os outros.
Veja – A senhora diz que os homens, nas últimas décadas, foram colocados numa posição defensiva e muitas vezes cultuam os valores masculinos de forma envergonhada. Quais as conseqüências disso?
Norah – O homem goza de péssima reputação nos dias de hoje. O mundo tende a ver a masculinidade como um desvio politicamente incorreto, assim como vê os brancos ocidentais como vilões por terem colonizado outros povos. Não faltam advogados de defesa dos negros e das lésbicas, mas o macho branco ocidental – e heterossexual, claro – é sempre demonizado. Espero que meu trabalho ajude a ver que é uma bobagem enxergar o mundo por esse prisma estreito. Em minha opinião, é preciso, sim, alargar os horizontes do que se convencionou chamar de valores masculinos. Mas é um absurdo propor a simples extinção deles, como parecem pregar algumas de minhas colegas feministas.
Veja – Como foi possível se passar por homem por quase dois anos sem que seu disfarce fosse notado?
Norah – Tenho traços físicos que, provavelmente, tornaram esse disfarce mais fácil para mim do que seria para a maioria das mulheres. Sou, por exemplo, uma mulher alta. Mas nada disso teria sido suficiente se eu não tivesse feito um esforço excruciante para acreditar na persona que estava encarnando. Se eu não tivesse incorporado a psicologia de Ned, minha versão masculina, não adiantaria ter o melhor dos disfarces: as pessoas perceberiam a farsa com um simples golpe de olhos.
Veja – Quais foram os maiores desafios para não trair sua identidade?
Norah – Do ponto de vista da caracterização, foi acertar o tom de voz, sem dúvida. Sempre tive um timbre grave, mas uma professora da Juilliard School (escola de música nova-iorquina) me ensinou formas de respiração e ritmo que fazem toda a diferença entre os sexos. Os homens tendem a usar palavras mais curtas e costumam esgotar todo o ar dos pulmões numa frase, enquanto as mulheres têm uma respiração mais entrecortada, o que dá maior dramaticidade ao que falam. Mas a parte mais dura de minha empreitada foi conviver com os homens. Comportar-me como um rapaz num meio 100% masculino revelou-se incrivelmente difícil, pois tive de aprender a sufocar minhas emoções.
Veja – Por quê?
Norah – O jeito emotivo que as mulheres têm de encarar o mundo e se relacionar com as pessoas é algo que não encontra lugar entre os homens, assim como nossas expectativas em relação aos outros são bem diferentes. Ao contrário das mulheres, que não se cansam de exprimir o que sentem, os homens são criaturas fechadas que se entendem entre si muitas vezes por meio de não mais que resmungos – ou mesmo o silêncio, como comprovei ao participar de uma liga de brutamontes que jogavam boliche. Sofri rejeição, porque os homens com quem convivi volta e meia implicavam com meu jeito hesitante e tentavam me corrigir. Eles às vezes achavam que havia algo de errado comigo, porque eu não estava agindo do modo que consideravam normal num macho. Mas na maior parte do tempo meu disfarce funcionou perfeitamente. Quando eu ia a bares ou estava numa roda de amigos, eles falavam das mulheres na minha frente de um modo franco como nunca falariam se soubessem meu verdadeiro sexo. Eu me senti como uma espiã infiltrada no sindicato do crime.
Veja – Como Ned, a senhora viveu várias experiências de paquera. É mais fácil ser homem ou mulher nessa hora?
Norah – De forma geral, é mais fácil ser mulher. Pela natureza da vida social, as mulheres têm de fazer menos esforço para se arranjar – é só esperar até que os caras se aproximem e façam a corte. Se eles tiverem a sorte de não levar um fora, precisarão ainda gastar muita conversa – além de pagar a conta – antes de chegar aos finalmentes. Como constatei ao buscar uma namorada, lidar com a rejeição é um dado inescapável na vida dos homens. Deparei com sujeitos que aprenderam com os pais um velho mandamento da masculinidade: um homem de verdade não desiste nunca, não importa quantos foras tome.
Veja – Não é ilusório achar que as mulheres estão menos sujeitas à rejeição?
Norah – Elas também têm dificuldades, mas esse é um dos campos em que os homens se sentem menos poderosos que as mulheres. Ao ver de perto as agruras dos rapazes, percebi que as mulheres poderiam tirar mais vantagem de sua posição. Elas não imaginam o poder que suas opiniões têm sobre a auto-estima masculina.
Veja – O que foi mais complicado: ir a um clube de strip-tease ou achar uma namorada?
Norah – Passei poucas e boas em busca de uma namorada, mas nada se compara às experiências nos clubes. Foi deprimente ir a lugares desse tipo. Trata-se de um lado obscuro – e mal resolvido – da vida masculina. Não há novidade, é claro, no fato de os homens pagarem prostitutas para satisfazer um impulso meramente físico. Sei que é complicado para eles se abrir com suas mulheres ou namoradas sobre suas fantasias sexuais – 99% delas não entenderiam. Foi chocante, contudo, descobrir que esse ritual muitas vezes é só uma válvula de escape para uma vida vazia e cheia de hipocrisia – ou mesmo uma forma de afirmação perante os amigos. Um dos homens que conheci deixava a mulher com câncer terminal em casa e ia a um clube. Eu me surpreendi ao ver como é comum que maridos dedicados freqüentem inferninhos pela vida inteira, sem que a esposa desconfie.
Veja – E qual a sua impressão sobre arranjar uma namorada?
Norah – Um dos objetivos óbvios de meu estudo era obter uma visão feminina do universo dos homens. Mas a experiência também serviu para que eu visse traços nas mulheres que nunca havia percebido. Como Ned, cortejei uma trintona que era o estereótipo da mulher mal-amada. Ela fazia tudo para repelir seus pretendentes, como falar de casos que não deram certo e mostrar fotos de família logo no primeiro encontro. Por meio de figuras como ela, pude detectar alguns defeitos femininos capazes de cortar a excitação de qualquer um. Não há nada mais desestimulante que uma mulher que exala certo ar de superioridade emocional e insiste em esfregar na cara do pretendente como os homens a magoam.
Veja – A senhora conviveu com monges num mosteiro. O homem confinado num ambiente de celibato é diferente dos demais?
Norah – Muito pelo contrário. Se há alguma diferença, é que as dificuldades desses homens em se comunicar com os outros e suas carências são ainda mais exacerbadas. Eles não podem demonstrar quanto precisam de carinho e afeto, pois essa é a regra nesses locais. É uma pena, porque para mim ficou patente que precisam muito disso.
Veja – A senhora não temia ser desmascarada?
Norah – Eu ficava em pânico com isso. Temia até por minha integridade física, especialmente quando me infiltrei no grupo de terapia – um bando de marmanjos que não escondiam sua raiva das mulheres que os oprimiam. Quanto mais eu fingia, mais me envolvia com esses homens, e o fardo acabou se tornando pesado demais. Ao final, já não agüentava me olhar no espelho e ver Ned na minha frente a cada manhã. Tive um esgotamento nervoso e acabei num hospital.
Veja – Como foi a reação desses homens quando finalmente vieram a saber da farsa?
Norah – Primeiro, eles ficavam embaraçados e se recusavam a acreditar que eu era mulher. Depois, começavam a ver as coisas em retrospecto e juntavam as pistas das quais não tinham se dado conta. "Ah, então é por isso que Ned sempre foi tão bom confidente", diziam. Ou então: "Está explicado por que Ned tinha um jeitinho gay que me incomodava". O fascinante desse processo é que, tão logo vinham a saber que eu era mulher, o modo como me tratavam mudava totalmente. Muitos relaxavam e passavam a se abrir mais. Outros assumiam uma postura mais defensiva. Eu tinha virado alguém de outra espécie, afinal.
Veja – Em algum momento a senhora ficou com vontade de ter nascido homem?
Norah – Sou homossexual, mas nunca tive o desejo de ser algo diferente do que sou. Sou mulher, programada biologicamente para agir e pensar como qualquer outra pessoa de meu sexo. Isso não mudou depois de minha experiência como Ned. Descobri que a realidade oferece vantagens e armadilhas distintas para cada lado. A vida dos homens pode ser muito dura, principalmente no aspecto emocional. Eles são muito isolados em relação aos pais, irmãos, filhos e amigos, pois não comungam sua intimidade com o mesmo desprendimento que as mulheres têm umas com as outras. E, embora isso ajude a compor sua imagem de macho, muitos homens se ressentem da falta de um canal para extravasar seus problemas íntimos. Aqueles com quem convivi num grupo anônimo de terapia masculina estavam ali por causa dessa carência – só em segredo podiam dividir sua vulnerabilidade com os outros. Por outro lado, apesar dessa dificuldade em comungar suas emoções, os homens têm um certo espírito de companheirismo que o feminismo tentou mas nunca conseguiu despertar nas mulheres.
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Depois disto sinto-me sem originalidade para escrever. O que é preciso fazer hoje em dia para chamar a atenção e viver!? Seja como fôr, um brinde a todos os que nos abanam a consciência e os preconceitos - mesmo que criando novos ;-)))).