Nesses últimos tempos vinha recebendo algumas broncas de pediatras porque Mariana ainda tomava mamadeira. Disseram que devia ter parado há tempos. O pediatra dela é da linha do deixa prá lá, então não ligava muito. Outro dia no pronto socorro, comentei com o plantonista por conta do receio de nova otite de mamadeira e lá vem o olhar de reprovação, a bronca, a culpa. E semana passada foi na nova médica, homeopata, um broncão daqueles de ficar vermelho. Tenho grande facilidade em admitir culpas. Basta alguém dizer que eu estou errada que eu aceito na mesma hora.
Então a doutora homeopata me mandou ir correndo comprar copos para a Mariana. E fomos as duas pro Alô Bebê mais próxima e eu deixei que ela escolhesse os copos que gostasse. Viemos para casa com copo de Hello Kitty, Marie e um de canudo. Na hora da consulta ela até chorou de ouvir a doutora dizer que ela devia jogar as mamadeiras fora, que já era grande e coisa e tal.
Na loja disse que não queria os copos.
Em casa baixou a guarda e disse que à noite experimentaria leite na Hello Kitty e eu sempre dizendo que se não gostasse tudo bem, teríamos as mamadeiras.
O bico da Hello Kitty se revelou muito duro e ela não se ajeitou. Ofereci um outro copo que já tínhamos em casa, com bico de silicone. Gostou. Tomou o leite. Dormiu bem em seguida.
No dia seguinte, na escola, tomou o leite na Hello Kitty e foi tudo certo. Voltou com elogio na agenda.
E desde então não toma mais mamadeira. Nem nunca mais pediu.
Ao contrário, ontem disse que eu podia dar todas as mamadeiras para o bebê pobre. Onde você ouviu isso filha? Na doutora, ela disse. Guardou um comentário que eu nem havia notado.
Foi tão simples que até parece que eu devia ter feito antes.
Mas arrumando gavetas no sábado encontrei a agenda do ano passado. No dia 28 de outubro, há um ano portanto, um pedido meu para que o leite fosse oferecido no copo. O mesmo copo que ela aceitou agora. Disse também que se ela recusasse, sem problemas, que lhe oferecessem a mamadeira. E a resposta da professora foi de que tinha tentado, mas que Mariana se recusou e que só tomou o leite na mamadeira.
Ou seja. Cada coisa a seu tempo. Sem forçar, sem estressar, sem grandes dramas. A doutora homeopata nos culpou, nos chamou de permissivos, nos acusou de estarmos criando uma criança sem limites. Mas ouso discordar. Estamos criando uma criança no tempo dela. Respeitando os limites, as capacidades, os desejos. Não sei ser de outro jeito. Não sei ser radical. E só vou conseguir criar minha filha dessa forma.
Então é isso. Mais uma parte do bebê ficou para trás. Chegada a hora certa, tem que deixar crescer.