Este ano, deixei-me de marteladas e fiquei por casa na noite de S.
João.
Às 9:00 horas do dia 24, porém, já estava no centro da cidade a
escolher o melhor local para ver o desfile do Carro das Ervas, a Dança do Rei
David e o Carro do Auto dos Pastores.
É um outro S. João!... Muito bonito!...
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O Carro das Ervas é uma
tradição medieval cujo objetivo era perfumar as ruas com ervas de cheiro, de
forma a purificar os locais por onde passavam os cortejos e procissões.
A dança do Rei David é outra das
tradições mais relevantes das festas de São João em Braga.
Constituída por 13
elementos, um dos quais o Rei David, que se destaca ao centro. O grupo está
dividido em duas filas de seis elementos cada. Cada fila tem um guia, cuja
missão é iniciar a dança e interagir com o Rei. A melodia que acompanha a dança
é constituída por “duas partes de doze compassos binários”.
A
música atualmente utilizada é oitocentista, devendo-se a sua autoria a um monge
agostinho do Convento do Pópulo. Quanto à dança, o mais caraterístico é um
passo tipo polca, em que uma das pernas está elevada com o joelho dobrado sobre
a cinta, enquanto a outra suporta o peso total do corpo.
Frequentemente
associada ao auto do Carro dos Pastores, tem também origem nos quadros exibidos
nas procissões sanjoaninas do período barroco, discutindo-se a influência que
poderá ter recebido da Mourisca, com cuja configuração detém semelhanças.
Trata-se,
provavelmente, da tradição mais antiga associada aos festejos bracarenses,
tendo mantido uma regularidade assinalável quer quanto à música, quer quanto à
forma.
A
origem da dança do Rei David, que já se tornou no maior ícone das festas
sanjoaninas, continua até hoje por apurar. São muitas as vozes que atiram a sua
origem para o século XVI, nomeadamente para a Mourisca, tradição que já
abordamos e que nasceu associada às celebrações do Corpus Christi. Esta
tradição chegou aos nossos dias, pois, durante várias gerações, foi conservada
por uma família da freguesia de Palmeira, que orgulhosamente a foi transmitindo
de pais para filhos.
O
protagonista da dança representa a destacada figura bíblica do pastor que se
tornou monarca do Povo de Deus ao derrotar o Golias: o Rei David. Diz-nos José
Gomes, que existe uma referência documental à dança do Rei David datada de
1726, na qual se refere que esta dança deveria ser levada a cabo pelos
correeiros, sirgueiros, pasteleiros e palmilheiros.
O Carro dos Pastores é uma tradição com origem provável
no século XVIII, sendo uma típica representação teatral, posterior à fundação
do teatro moderno. A sua preexistência, é citada na “Relação do Festivo
Aplauso”, documento que descreve a constituição de uma grandiosa procissão em
honra de São João Baptista no ano de 1754.
Os
diversos atos que compõem esta peça teatral, representada num carro forrado a
cortiça e totalmente decorado com ervas e flores, referem-se ao nascimento de
São João Baptista, o momento recordado pela liturgia deste dia. Neste palco
sobre rodas, são representadas cenas bíblicas como o aparecimento do anjo a
Zacarias que, conjuntamente com sua esposa Isabel, há muito desejava um filho,
facto que se tornava cada vez mais utópico devido à idade avançada dos dois. O
anjo anunciou e Zacarias não acreditou, ficando surdo e mudo até ao final do
ato. O anjo volta aparecer para anunciar o nascimento de São João que,
sorridente, aparece “destapado” por uma placa metálica causando um burburinho
na multidão que assiste.
Toda
a representação é marcada pelos cânticos e danças dos pastores, seis rapazes e
seis raparigas, vestidos com trajes tradicionais e vistosos que dão
indescritível brilho a esta representação. Os cajados decorados com fitas
coloridas e as pandeiretas completam o quadro pastoril. Os anjos que vão
aparecendo sobre uma nuvem, que vai subindo e descendo conforme a cena a
representar, confere igualmente um toque de grande originalidade e engenho a
este auto.
Outrora
puxado por duas juntas de bois, tradição recuperada parcialmente nos últimos
anos, o carro dos Pastores vai circulando pelas ruas da cidade, desde as 09h00
até 16h00, em conjunto com o Carro do Rei David e o Carro das Ervas, sendo sem
dúvida a mais bela e elegante alegoria ao São João, conservada como memória
viva da Sagrada Escritura.
Fonte: http://saojoaobraga.pt/sobre/ervas-pastores-e-rei-david/