sexta-feira, 8 de abril de 2022

Criminal Minds 15ª Temporada (End Series)


 
15x01 – Under the Skin

 O homem não é o que ele pensa ser. Ele é o que se esconde.

Andre Malraux

 

 

15x02 – Awakenings

 

Nada acontece até que algo se mova.

Albert Einstein

 

Que sorte que eu tenho de possuir algo que torna tão difícil a despedida.

A. A. Milne

 

 

15x03 – Espectator Slowing

 

A vida não tem obrigação de nos dar o que esperamos.

Margaret Mitchell

 

 

15x04 – Saturday

 

A única razão para perguntarmos sobre o fim de semana de alguém é para podermos contar sobre o nosso.

Chuck Palahniuk

 

 

15x05 – Ghost

 

Agora eu sei o que é um fantasma. Questões pendentes, é isso que é.

Salman Rushdie

 

A única coisa que torna a batalha psicologicamente tolerável é o companheirismo entre os soldados.
Sebastian Junger


 

15x06 – Date Night

 

Psicóticos: diga o que quiser sobre eles, mas eles sempre tomam a iniciativa.

David Foster Wallace

 

 

15x07 – Rusty

 

A história possui um modo de alterar os vilões de forma que não nos vejamos mais neles.

Adam Serwer

 

Devemos estar dispostos a deixar a vida planejada para termos assim a vida que espera por nós.

Joseph Campbell

 


15x08 – Family Tree

 

Eles falam do que bebo, mas não da minha sede.

Provérbio Escocês

 

Nós, Serial Killers, somos seus filhos, somos seus maridos, nós estamos em toda parte e haverá mais crianças suas mortas amanhã.

Ted Bundy

(Theodore Robert Bundy, mais conhecido pela alcunha de "Ted Bundy" foi um notório assassino em série americano que sequestrou, estuprou e matou várias mulheres jovens na década de 1970 ou antes. Wikipédia)


 

15x09 – Face Off

 

Pessoas feridas são perigosas. Elas sabem que conseguem sobreviver.

Josephine Hart


 

15x10 – And in the End…

 

Boa noite. Adeus. Boa sorte. Não chore. É o limite de tudo isso. Todos os meus amigos. No final do mundo. Desejo vê-los novamente. É o final deste tempo. É o final do nosso tempo. Oh, quão pouco sabemos. Temos um caminho tão longo a frente. Quando você dormir hoje à noite você estará em meus sonhos. É um tipo de amor, é tudo escuro. Nada me confortando. A Terra ficou em silêncio e o ar parou. Agora eu sinto você mais do que jamais senti.

Soft Dark Nothing – Lily Kershaw.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

FUGA
um poema que me toca a alma

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Narrativas Curtas



“Vende-se: Sapatos de bebe, nunca usados.”
(Hernest Hemingway)

Esse provavelmente é o mais famoso exemplo de narrativa breve já conhecido. São seis palavras que contam uma história, ou várias, de acordo com o leitor.
Não é uma coisa simples de ser feita, e não se espera que todos os autores tenham essa concisão. O que se deseja é que os textos sejam objetivos e simples, fáceis de entender e com uma elaboração que ultrapasse os limites das palavras.
Um livro se inicia pelo título, se estende pela capa, dedicatória, prefácio e finalmente o conteúdo. Eu me lembro de um livro famoso nos idos de ´70. O título era bem sugestivo, A Vida Sexual do Homem de 60 Anos. Era um livro de aproximadamente 150 páginas. Quando se abria o volume, notava-se que as páginas estavam em branco, exceto a ultima que dizia: “Apresse-se! Escreva suas memórias. Eu não consegui.”
Não me pergunte quem é o autor, dei o livro de presente, mas a advertência tem me perseguido pelos últimos vinte anos. Será o tema de um futuro livro, espero escrever antes dos 60 anos, mas ainda estou recolhendo material.
Esses dois exemplos demonstram como um texto pode ser trabalhado, desde o título até o local onde esse texto será inserido, tudo pode ser elemento do texto e ir além dele na construção da história.
Quando eu digo: Finalmente dormiu, descanse em paz. O que estou fazendo é contando uma historia em cinco palavras, cada uma delas modificando o significado das anteriores, acrescentando e direcionando a imaginação, criando um contato com o leitor e sua capacidade de entender o que esta na mente do autor.
Vejamos um exemplo de uma construção de um microconto e como as palavras o modificam conforme vão sendo acrescidas.
Título: Amor Virtual
Texto: Digite Sexo.
O título e o texto se completam e criam uma história que pode ser ampliada ou modificada: Digite sexo e idade. Fantasie, não minta.
A cada acréscimo o sentido se modifica. No primeiro complemento fica frio, muda o sentido do primeiro termo, no segundo retoma um caminho diferente e modifica o título.
Esse poder de alterar toda uma seqüência, está em cada palavra em um texto, cada vírgula, cada ponto. Brincar com esses elementos é construir formas diferentes de dar uma mensagem que pode ser explicita ou obscura, com múltiplos significados, como na frase: Sorria! A câmera está quebrada.
O motivo para o sorriso pode ser o mais variado. A frase pode ser uma piada, ou o dialogo entre dois bandidos, ou ainda a constatação de uma tragédia. Tudo depende do contexto onde a frase vai ser usada. O que fica claro é que há dois interlocutores, o que manda sorrir e o outro que poderá sorrir, ou não, se for o dono da câmera. Se eu inserir apenas uma palavra, “já”, eu condiciono a frase a uma situação mais específica: Sorria! A câmera JÁ está quebrada. Modifiquei a frase que passa a descrever um ato de vandalismo, no mínimo, com a cumplicidade do outro interlocutor.
É preciso prestar atenção a cada palavra que se insere no texto, de forma que elas cumpram o objetivo de tornar indiscutível a situação, criando, porém, o vínculo mágico entre o leitor e o autor de forma que possam conversar e acompanhar a história que será contada. Então, serão testemunhas oculares do encanto da literatura.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Querêncio


Dentro do Armário
mora um monstro
de cara amarrada
e dentes grandes.
Sempre que o menino se deita
o monstro o observa vigilante.

De noite,
em silêncio
matreiro
abre a porta.
Espia o menino Querêncio
que dorme
de boca torta.

Pé por pé
o monstro
deixa o armário,
da cama vai se aproximando.
E o pobre do Querêncio dorme
chega a estar ronronando.

O monstro
os braços levanta
preparando o ataque fatal.
Irá devorar o menino
tal qual um peru
em noite de natal.

Porém, ora veja!
Que surpresa!
De malvado
o monstro só tem o jeito.
Com cuidado cobre o menino
da ponta dos pés até o peito.

Para o armário
o monstro retorna,
sensação de dever cumprido.
Volta para vigiar o sono
De Querêncio,
seu amigo querido.

Jana Lauxen - Membro da Taverna Filosófica.

Sei que o texto fala de um personagem menino e a imagem que ilustra é uma menina, porém para quem já teve oportunidade de ver uma foto da Jana sabe que a imagem tem tudo a ver com ela. Cara de sapeca, olhão verde... E escondida em baixo do cobertor assutada como o Querêncio!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Meus 44 anos





Preciso correr. Correr contra o tempo, correr, correr, correr. Não descobri ainda porque o céu é azul, e não de outra cor. Tampouco porque pássaros voam, golfinhos nadam, jubartes cantam, e o vento por entre as folhas de uma árvore também. Não descobri porque crianças levam 1 ano para andarem, e outros animais alguns minutos, nem porque uma lágrima de criança comova tanto, assim como o olhar de um pobre velho doente. Preciso correr, mais depressa que os amigos, para esperá-los logo mais ali na frente, correr para dobrar as curvas do meu caminho com tempo e calma, não correndo o risco de dobrar esquinas erradas. Correr... correr... Correr para tentar voltar a sentir o perfume de coisas que o cigarro não me permite mais sentir, correr para entender pq adultos estancam diante do problemas, enquanto as crianças caem, caem, mas estão sempre seguindo adiante em busca do que querem, independente dos obstáculos. Ainda preciso descobrir pq crescemos tanto, e ao invés da vida se tornar mais fácil, se torna mais dura, porque trabalhamos tanto, e quando estamos velhos e vamos descansar, não temos força, nem ânimo, nem saúde para fazermos tudo que sonhamos anteriormente. Quero descobrir porque algumas flores são amarelas, outras brancas, outras violetas, outras margaridas. E porque algumas são rosas, mas de tantas cores são que nem sei ainda dizer quantas são, mas pra isso vou correr. Para descobrir. Porque hoje, eu senti uma coisa com muita força: que preciso correr. Correr se quiser ver tanta coisa que ainda quero ver, porque meu tempo... bom, é melhor correr... há tanta coisa ainda a fazer, ver, descobrir... nem sei se compensa... estou cansado. Pela primeira vez em minha vida, eu me sinto assim: cansado...




Marcco Blue

domingo, 2 de novembro de 2008

MANCHETES

OS ASSUNTOS MAIS BACANAS,OU MAIS POLÊMICOS,
OU MAIS DEBATIDOS NA TAVERNA
AUTOR -Lilian

Lições de vida
Era um sábado à noite, uma noite gelada de Agosto. Estou contando isso porque não consegui esquecer (e porque já bebi um cadinho e estou de pileque). rs

Talvez não esqueça nunca. Esperava a namorada em frente a uma barraquinha de pipocas; em frente ao Lumière; enquanto aguardava sua volta com os ingressos para o filme, o velhinho apareceu. Sujo e amarrotado.


Mendigos se parecem em todos os lugares do mundo, pensei. Mas este era diferente; não pediu nada a ninguém; uma madame comprou pipoca, um casal também. O velhinho mendigo continuou ali, paciente, sentado em frente a um enorme banco, império das riquezas e dos gerentes sem alma. Mas era sábado à noite, de modo que ninguém o expulsou.

Então eu tremia de frio, apesar do casaco grosso; e ele ali, o velhinho, me olhou. Retribuí. Então ele sorriu, e tinha os olhos mais doces do mundo. Tirou das suas coisas uma sacolinha branca de supermercado, amarrotada e suja. E falou com o pipoqueiro que, gentil, encheu a sacola do velho mendigo com pipocas. As mesmas que iam alimentar a madame, o casal de namorados e, logo em seguida, também eu.

Engoli em seco. O velhinho mantinha a sanidade e uma certa dignidade por trás do cobertor sujo. Novamente, me olhou e sorriu. E me disse: boa noite! Sorriu novamente, encantado pela minha resposta ao cumprimento. Depois, sentou na frente do banco, enrolou-se e começou a comer as pipocas, entre feliz e envergonhado.

Eu engoli em seco, novamente. Pensando na virtude do meu belo casaco, no abraço quente da minha namorada, na cama quentinha que me esperava. Triste. O céu tinha estrelas, as mesmas que eu e o pobre senhor enxergava, também. A luz fraca da noite era nossa. Tão minha quanto dele quanto da madame, quanto do casal de namorados, quanto do pipoqueiro generoso. Mas não tive vontade de me olhar no espelho, depois. Podia ser qualquer um de nós ali.

E a noite continuou fria e escura, e mais triste. Mesmo.

Alguma história que tenha te sacudido assim?

domingo, 26 de outubro de 2008

HALL DA FAMA



TERCEIRO COLOCADO NO 2º CONCURSO LITERARIO

DA COMUNIDADE TAVERNA FILOSOFICA


DEPOIS DE DEPOIS DO DIA QUE MORRI -


AUTOR MARIA

Foi como acordar dos mortos. Uma sensação única. As idéias ainda estavam meio confusas, e as imagens distorcidas, mas pouco a pouco foi ficando tudo muito claro. Meu corpo doía como se tivesse despencado de um prédio. As lembranças passavam como um flash em minha mente.
Tudo aconteceu muito rápido, me formei em engenharia e logo assumi os negócios da família, pois já venho de uma descendência de engenheiros e arquitetos renomados, e não fugi a regra. Logo já tinha meu escritório bem equipado, meu diploma pendurado na parede, ostentado como um troféu.
Não demorou muito já estava nas altas rodas, desfilando com as mais belas mulheres, freqüentando a nata da sociedade paulista, fui até citado em jornais, na parte de coluna social, como o mais disputado solteiro do pedaço.
E foi nestas badalações todas que fui apresentado à figura mais conhecida de todas as rodas, aquela que a principio todos pensam que vão dominar, mas que ilusão... ela se deixa dominar até nos ter totalmente em suas mãos, e é aí que ela mostra quem realmente manda e domina, ela a mais pura, a mais atraente, a mais envolvente dama, a Cocaína.
No início fiquei encantado, ela me levava a lugares que nunca imaginará, tocava nas estrelas, com ela cheguei ao maior êxtase possível, podia jurar que me lavará ao nirvana, depois ela me fascinava, não conseguia mais viver sem ela, ela já fazia parte de mim, quando não a sentia, meu mundo desabava, eu enlouquecia, nada me importava mais, era ela e mais nada, já me possuía, já era ela quem ditava as regras, era o principio da minha morte, e eu nem dava conta disto.
Mas as coisas já tinham começado a mudar em minha vida, já não era mais convidado para as grandes festas, as belas mulheres não eram mais tão belas assim, eu já não era mais atraente para elas, das colunas sociais, passei para as paginas criminais, “– O solteiro mais cobiçado, foi preso por dirigir em alta velocidade e por portar vários papelotes de cocaína...”, foi o necessário para que me minha ruína viesse á tona, minha família já não confiava mais em mim, meu escritório, nem as moscas mais visitavam, logo tive que entregar a sala, meu diploma se tornará um peso, e logo a parede não o sustentava mais.
Perdi totalmente a noção das coisas, não sabia mais quando era dia ou noite, tudo se tornará cinzento e frio, quando não estava dormindo, coisa que fazia muito pouco, estava comendo compulsivamente e feito um louco atrás dela.

E foi num momento de lucidez que minha razão chamou-me a atenção. Era ela, maldita, que eu odiava e amava tão intensamente, queria me livrar e ao mesmo tempo me jogar nela.
E ela mais uma vez, foi mais forte que eu, e percebeu minha intenção em deixa lá, e foi a aí que realmente vi sua verdadeira face, feia, má, cruel a verdadeira face da morte, e quando pensei em fugir, ela me deu o golpe final, sua dose foi dobrada e meu coração não agüentou, parecia explodir em meu peito.
Eu morri. Fui socorrido imediatamente, pois ainda havia um sopro de vida, estava por um fio, e por ele tinha que lutar, e foi uma guerra que parecia não ter fim, foram três meses, onde conheci o inferno, onde o demônio se divertia com meu sofrimento.
Mas não sei como e nem porque, só sei que alguém gosta de mim, e me deixei levar, pois não tinha mais nada a perder, e foi ai que a calmaria chegou e eu despertei, como se tivesse voltado dos mortos. ...................Fim!!!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

HALL DA FAMA


SEGUNDO CONCURSO LITERARIO DA TAVERNA
SEGUNDO COLOCADO

O JURI -

By NIGEL

Eram cinco da madrugada. No banheiro de lajes brancas, parado em frente à louça da pia, segurava a navalha com a mão um pouco trêmula, o queixo protejatado adiante, a lâmina mirando o próprio rosto.

Eu não dormia a três dias. Era um julgamento longo, e o júri agora examinava mais uma evidência, um tímido fio de sangue descendo pela lateral da face. O espelho alegava dolo, apontando para a mão trêmula ainda com a navalha em mãos. Pingos começaram a cair sobre a louça pesada da pia, e dançavam até o ralo.

Eram três dias de memória em depoimento. Havia defensor. Minha mente alega instinto, e pede abrandamento da pena. Tudo o que fiz até hoje foi por instinto, e assim espero convencer o juri que todo e qualquer dos meus atos foi uma interminável cadeia de confusões e ciladas da minha humanidade. E assim declaro que sim, eu me esgueirei noite adentro até aquela mulher por instinto. Eu não poderia ter feito melhor, e espero que entendam, minhas culpas, que o fiz da melhor forma que eu sei. Com bravura incansável foi que obrei laboriosamente pela madrugada, e cada passo de dança foi um mal menor para um bem maior.

E se é que a deixei foi novamente por instinto. Grandes mentiras... ela era uma grande mentirosa... e que tipo de cínico fui eu que relevei cada uma das mentiras. Aparar o amor como um golpe em falso no ar, para distrair, porque o próximo golpe que vem é uma estocada precisa no coração. E o promotor alega que por isso, não dei chance de defesa. Mas ela era uma suicida. Ela havia puxado o gatilho anos atrás, e o cão da arma levou quatro anos indo lentamente em direção à espoleta da bala. Eu a deixei por sobrevivência. Era meu instinto.

Para estes fins eu declaro, que o sabor de ter feito alguma justiça poética foi doce. Havia um sabor doce nisso tudo. Enquanto minha boca dizia "adeus", o grilo em meu ombro dizia "chore por mim... chore... agora deves chorar". Mas até o choro dela era mentiroso.

Deixei o lavabo, e na cozinha o led da cafeteira tinha acabado se apagar-se. Pausa: café fumegante. Esparadrapo no rosto.

O saco de areia pendia na sala pouco mobiliada. Foi também por instinto, eu insisto em minha defesa. Eu não conseguia perdoar a inépcia de Mateus com as luvas. A cada vez que saía de sua guarda com a esquerda, seu nariz se tornava um alvo vermelho e branco, e eu gentilmente mostrei isso a ele. Mirei no bull's eye, e desci sobre ele como um trem de carga descarrilhado. O direto quebrou seu nariz em três lugares, fiquei sabendo. É preciso quebrar um nariz ao menos duas vezes para que não sangre em excesso, e a primeira fratura de Mateus foi um presente meu.

Há uma generosidade em mostrar a alguém um erro dessa maneira. Trens de carga...

Eu saía do galpão de reparos toda a noite. O barulho infernal das buzinas, caixas de ferramentas, cada milímetro daquele lugar era recoberto de graxa. Não foi minha a idéia de colocar uma cobra morta dentro do armário de Ademar. "Mas você riu! Você riu!" berrava o promotor. Sim, eu ri. Eu ri até o momento em que lívido, e entre todos os colegas no vestiário, podia-se ver a massa de fezes correr pelas pernas de Ademar. Ele demitiu-se. Eu não pus a cobra em seu armário, eu a matei apenas. "Então foi cúmplice!" Sim eu fui.

Eu devo ir longe nisso? Já são três dias de julgamento. Toda uma trajetória de tolices, e ontem eu fiz trinta e três anos. Ontem eu morri. Eu devo merecer o Prêmio Darwin por ter cooperado com a seleção natural. Por no dia do meu aniversário resvalar no tapete do banheiro enquanto me barbeava, e acertar minha própria jugular. Já faz um dia que meu corpo jaz gelado no piso do banheiro. Ninguém telefonou ainda. A cafeteira ficou ligada, e nas próximas duas horas, um curto circuito irá atear fogo em todo o apartamento. Não posso fazer nada... estou apenas rezando para que o vizinho veja a fumaça antes de sair para trabalhar, e deixar os dois filhos pequenos em casa. Espero que ele veja.

Do meu lado está aquela garota mentirosa que se suicidou. Também a cobra, e também Ademar, que coberto de vergonha caminhou macambúzeo até em casa, e não viu aquele caminhão dobrar a esquina.

Estamos os três aqui, esperando meu veredito.

===Fin===

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

HALL DA FAMA



SEGUNDO CONCURSO LITERARIO DA TAVERNA
CONTO VENCEDOR


O Estranho Caso do Sr Jones

Campina Verde, é o nome da cidade. Poderia se chamar São João do Roque, padroeiro da mesma, ou ainda Anandaçú, ou qualquer outro nome que seus fundadores quisessem lhe dar. Mas foi assim chamada devido ao estranho caso que ocorreu no Cemitério local, chamado de Campina Verde porque era essa a impressão que se tinha ao visitá-lo, uma imensa campina coberta de grama com algumas placas colocadas sobre o solo para indicar onde estavam enterrados os cidadãos eméritos que vieram a falecer.Ou quase todos, já que nunca foi esclarecido o que aconteceu com o Sr Jones Antuérpia, um dos mais eméritos cidadãos da pequena vila.

Imigrante de outras terras, tinha encontrado seu lugar entre as casas e corações de Campina Verde e, talvez por ser o médico do lugar e ver tantas pessoas vir ao mundo e ajudar a que se mantivessem nele, foi o primeiro a ver a necessidade de se dar um destino louvável aos que deste partissem.Assim, quando decidiu-se por uma área livre, de terra fofa (e os futuros coveiros sempre lhe agradeceriam por esse cuidado) rodeada de arvores frondosas e de belas flores, para ser o cemitério do lugar, ninguém se opôs a ele. Como não havia corpos mortos para serem depositados, outros corpos, bem vivos, achavam-se no direito de deitar-se ali, e alguns até a, ironicamente, buscarem mais vidas para este mundo e para as bênçãos do Sr Jones e suas mãos mágicas.

E a cidade foi crescendo cheia de bem aventurança, e nada do dito cemitério ser inaugurado. Não que houvesse pressa alguma disso, já que serventia lhe era dada, ainda que não a que se destinava de fato. Até que, um dia, por uma triste coincidência, o digníssimo Sr Jones veio a falecer.

Contam alguns moleques em suas conversas escusas, que foi quando o fogoso Sr Jones se debruçava sobre uma de suas clientes, examinando-lhe com instrumento próprio, o interior de suas partes pudicas, ainda que sem fins médicos que fossem necessários, mas que de bom grado o fazia, e não só com ela, que se apresentava ao infortúnio desse momento, mas com toda que lhe dissesse não ter vínculos maritais que a comprometesse.

Mas eis que esta, a do infortúnio, embora sem vínculos explícitos a todos, que se pudesse comprovar, tinha lá seus vínculos com o José de Arimatéia, famoso em toda a vizinhança por seus modos nada delicados com moças e piores ainda com os homens. Beberrão mais que consagrado, e criador de casos e descasos. Tolerado apenas, e não muito, devido a sua habilidade indizível de destrinchar qualquer bicho que lhe caísse às mãos e às facas, que portava sempre na cinta, a pretexto de qualquer necessidade de última hora.

E não foi por sorte de um, e azar de outro, que o dito cujo, José, adentrou no consultório do Sr Jones devido a desarranjo por algo que havia comido e que lhe soltara os fluidos superiores e inferiores, e encontra o digníssimo cidadão em pleno ato de comer algo que não devia, também.

_ Maria da Roça – disse o José de Arimatéia. Ambos nomes que não constam da lista de moradores para protegê-los, e ao relator, que não é nada bobo – o que estás a fazer com o nobre doutor?Há quem possa dizer que não foram estas as palavras, também, mas existem tantas versões do ocorrido que mais uma não há de fazer diferença perceptível.

_ Aiiii, aii, meu peito...aiiiiiiiii......Antes que se pense que a pobre moça estava com algum problema, o peito a que se refere a dor, foi o do Sr Jones que ao ver o estrago que a comida iria lhe fazer, resolveu que melhor seria sofrer um infarto fulminante, como o olhar do menestrel das facas, o João, bem o sabe quem já o viu fazê-las cantar, atritadas uma contra a outra, a desempenar-lhe o fio cortante.

E assim dizendo, o digníssimo Sr Jones estatelou-se ao chão com uma das mãos a agarrar a camisa na altura do coração e a outra a segurar as calças, prontificando-se ele mesmo a inaugurar o cemitério que criara.

Diante da inusitada situação, João, para salvar a honra de si e de sua amada, achou melhor de dizer que o pobre havia partido desta para melhor por arte da mal afamada adversária de todos os médicos. E prontificou-se a ficar postado ao lado do mesmo, em homenagem póstuma ao tanto, de galhos diriam alguns, que o concidadão havia lhe dado em vida.

E assim foi feito, pois que ninguém conseguiria, ainda que tivesse vontade, fazer João arredar de sua homenagem ao falecido.
Rapidamente providenciaram um caixão e colocaram o defunto para se deitar em seu ultimo lugar de repouso, vigiado de perto pelo seu novo cão de guarda, que nem piscava, e até, admirado seja esse seu ato nobre, recusou-se a “beber o cadáver”, como a tradição mandava, mas que por lhe dever tanto, abstêmio se tornava a partir daquele momento de tristeza.

E foi homenageado por todos dignatários do local, o distinto Sr Jones, que em vida tantos servira e na morte inaugurava o seu último feito de renome. Decidiu-se, no calor do momento e do líquido ingerido, por todos presentes, que se deveria dar nome para a cidade do mesmo lugar onde o nobre concidadão repousaria em seu descanso eterno.

A homenagem póstuma, na qual havia se convertido o velório, se estendeu por todo o resto do dia e durante a noite até que ninguém se agüentou de sono ou de bebida e caiu em algum canto sem arredar o pé. Até mesmo o João acabou se aninhando nos braços da desconsolada Maria e se consolou ele, ao seu jeito.No dia seguinte o caixão já fechado foi levado, e escoltado. Estranharam o leve peso que se sentiu, vai que foi devido ao Sr Jones ter alma tão pura que esse milagre lhe sucedia, mas no estado que estavam ninguém sequer levantou objeção a um peso menor a ser conduzido.

Colocado o caixão na cova inaugural e coberto por terra e flores, foi deixado à própria sorte. Coisa indigna de se dizer de quem não a teve tanto quanto merecia, mas que se fazer a essa altura?

No dia seguinte, João inconformado do ocorrido, se dispôs a ir ao lugar de destino final do amado médico, que tanta falta ia fazer a muitos, e porque não dizer até mesmo ao pobre homem que chorava, não se sabia bem do motivo e, nesse momento de tristeza, decidiu cometer o sacrilégio de cavar a terra e remover o caixão apenas para entregar, como jura de pé junto até hoje, ao digno concidadão, suas inseparáveis amigas de trabalho de diversão.
Seu berro foi ouvido nos confins da cidade, que tão grande não era, e quando os moradores foram verificar o que se assucedia, encontraram o caixão vazio aos seus pés.

_ Sumiu. Quando abri não estava mais entre nós – disse João desfigurado pela surpresa do ocorrido.
– Não lhe tirei os olhos um minuto e sumiu assim, na minha frente.
_ Um Milagre! Era um santo homem mesmo – disse alguém
_ Subiu aos céus com corpo e tudo – disse outro
E todos confirmaram, a bem de melhor resolver a coisa.

Desde então, João virou outro homem, convertido em sua fé imorredoura que revelou na morte do Santo Homem e acabou por se casar com Maria.
Maria da Roça teve que recorrer a outro médico para lhe fazer o parto, vigiada de perto pelo João para garantir-lhe a saúde. Ainda diz sentir a benção de São Jones, que para ela sempre foi um santo, em sua vida.

Quem se atreverá a dizer o contrário, ainda que João, tornado beato pela arte do santo, agora porte as facas escondidas sob as roupas, para o caso de poder entregá-las pessoalmente ao Sr Jones, como sempre foi seu desejo.
O Caixão vazio foi novamente enterrado e colocada a placa merecida em seu devido lugar, garantido que estava por seus atos em vida.
Por mais misteriosa que tenha sido a ocorrência do milagre, uma dúvida ninguém a tem: O Sr Jones, em vida, nunca há de voltar ao lugar que lhe foi destinado em Campina Verde.
E que todos digam amém.


AUTOR: DANNY MARKS