As ondas refluem e levam as palavras embora.
É pra isso, também, que servem poesias. Falam por nós todos.
E Vinicius fala por mim.
Diante de ti homem não sou, não quero ser.
És pai do menino que eu fui.
Entre minha barba viva e a tua morta, todavia crescendo
Há um toque irrealizado. No entanto, meu pai
Quantas vezes ao ver-te dormir na cadeira de balanço de muitas salas
De muitas casas de muitas ruas
Não te beijei em meu pensamento! Já então teu sono
Prenunciava o morto que és, e minha angústia
Buscava ressuscitar-te. Ressuscitavas. Teu olhar
Vinha de longe, das cavernas imensas do teu amor, aflito
Como a querer defender. Vias-me e sossegavas.
Pouco nos dizíamos: "Como vai?" Como vais, meu pobre pai
No teu túmulo? Dormes, ou te deixas
A contemplar acima – eu bem me lembro! – perdido
Na decifração de como ser?
Ah, dor! Como quisera
Ser de novo criança em teus braços e ficar admirando tuas mãos!
Como quisera escutar-te de novo cantar criando em mim
A atonia do passado! Quantas baladas, meu pai
E que lindas! Quem te ensinou as doces cantigas
Com que embalavas meu dormir? Voga sempre o leve batel
A resvalar macio pelas correntezas do rio da paixão?
Prosseguem as donzelas em êxtase na noite à espera da barquinha
Que busca o seu adeus? E continua a rosa a dizer à brisa
Que já não mais precisa os beijos seus?
Calaste-te, meu pai. No teu ergástulo
A voz não é – a voz com que me apresentavas aos teus amigos:
"Esse é meu filho FULANO DE TAL". E na maneira
De dizê-lo – o vôo, o beijo, a bênção, a barba
Dura rocejando a pele, ai!
31 de julho de 2007
30 de julho de 2007
Sunshine
Uma pessoa decide ficar acordada até que o sol se mostre.
Os primeiros raios aparecem, Vênus aparece. À medida em que o céu se torna azulado, pessoas protegidas do frio saem de suas casas em busca de algo. Todas parecem apressadas. As felizes buscam um sonho. As tristes, só o sustento.
Todas essas pessoas caminham rumo ao sonho, ou sustento, como máquinas. Seus corpos obedecem a comandos automáticos enquanto suas cabeças estão um pouco longe - estão lá no sonho, e no sustento. O cotidiano lhes preenche toda a imaginação. Formigas marchando.
Não percebem, esses pobres animais, que algo muito maior acontece, algo muito mais fantástico e inacreditável do que aqueles sonhos absurdos em que se permitiram sonhar de fato. O Sol, força impensável da natureza, está começando a aparecer no horizonte e a mostrar seu encanto difícil de encarar, mas impossível de se desviar.
Os oprimidos pelo grande relógio continuam marchando, alheios ao espetáculo diário que faz sentir o tempo, a distância, a infinitude, a transitoriedade. Perdidos nos momentos de divagação cotidiana que lhes parecem eternizar a alma, esquecem-se do Sol e da própria angústia de quem vive: a morte. Vivem num mundo de sonhos, um modestíssimo mundo de sonhos.
O sol, então, já aparece por completo. Ele é um dentre muitos trilhões de pontinhos nessa existência toda. As estrelas não dão a mínima pra nós. Perto desses titãs, nossa vontade de potência é uma piada e o tempo que temos para viver é imensuravelmente exíguo. O tempo que temos para viver o que desejamos, então, é menor ainda.
O sol nos lembra que temos que viver o que desejamos viver. Ele pode se dar ao luxo da solidão por bilhões de anos - nós, não. Somos breves suspiros da natureza. Suspiremos alto, portanto. Imensamente alto.
Os primeiros raios aparecem, Vênus aparece. À medida em que o céu se torna azulado, pessoas protegidas do frio saem de suas casas em busca de algo. Todas parecem apressadas. As felizes buscam um sonho. As tristes, só o sustento.
Todas essas pessoas caminham rumo ao sonho, ou sustento, como máquinas. Seus corpos obedecem a comandos automáticos enquanto suas cabeças estão um pouco longe - estão lá no sonho, e no sustento. O cotidiano lhes preenche toda a imaginação. Formigas marchando.
Não percebem, esses pobres animais, que algo muito maior acontece, algo muito mais fantástico e inacreditável do que aqueles sonhos absurdos em que se permitiram sonhar de fato. O Sol, força impensável da natureza, está começando a aparecer no horizonte e a mostrar seu encanto difícil de encarar, mas impossível de se desviar.
Os oprimidos pelo grande relógio continuam marchando, alheios ao espetáculo diário que faz sentir o tempo, a distância, a infinitude, a transitoriedade. Perdidos nos momentos de divagação cotidiana que lhes parecem eternizar a alma, esquecem-se do Sol e da própria angústia de quem vive: a morte. Vivem num mundo de sonhos, um modestíssimo mundo de sonhos.
O sol, então, já aparece por completo. Ele é um dentre muitos trilhões de pontinhos nessa existência toda. As estrelas não dão a mínima pra nós. Perto desses titãs, nossa vontade de potência é uma piada e o tempo que temos para viver é imensuravelmente exíguo. O tempo que temos para viver o que desejamos, então, é menor ainda.
O sol nos lembra que temos que viver o que desejamos viver. Ele pode se dar ao luxo da solidão por bilhões de anos - nós, não. Somos breves suspiros da natureza. Suspiremos alto, portanto. Imensamente alto.
26 de julho de 2007
Radiohead - parte ?
Eu poderia estar errado
Eu poderia estar errado
Eu poderia jurar que vi uma luz vindo
Eu costumava pensar
Eu costumava pensar
Que não havia restado futuro algum
Eu costumava pensar
Abra, comece de novo
Vamos cair a cachoeira
Pensar nos bons momentos e nunca olhar pra trás
Nunca olhar pra trás
O que eu faria?
O que eu faria?
Se eu não tivesse você
Abra e deixe-me entrar
Vamos cair a cachoeira
Ter pra nós um bom momento, não é nada
Não é nada
Não é nada
Nunca olhar pra trás
Nunca olhar pra trás
Eu poderia estar errado
Eu poderia jurar que vi uma luz vindo
Eu costumava pensar
Eu costumava pensar
Que não havia restado futuro algum
Eu costumava pensar
Abra, comece de novo
Vamos cair a cachoeira
Pensar nos bons momentos e nunca olhar pra trás
Nunca olhar pra trás
O que eu faria?
O que eu faria?
Se eu não tivesse você
Abra e deixe-me entrar
Vamos cair a cachoeira
Ter pra nós um bom momento, não é nada
Não é nada
Não é nada
Nunca olhar pra trás
Nunca olhar pra trás
Sol de supernova
O Dream Theater, que é tão fraco de letra, me veio com essa agora há pouco:
Ainda acordado
Eu continuo me movimentando por aí
Cultivando a minha própria insensatez
Ainda acordado
Trazendo a mudança
Trazendo o movimento
Trazendo a vida
Chovendo
Chovendo
Chovendo profundamente no paraíso
E eu completo:
Aqui não
Pois aqui faz sol
Sol de supernova
Vou ver o sol nascer
No castelo
Ainda acordado
Eu continuo me movimentando por aí
Cultivando a minha própria insensatez
Ainda acordado
Trazendo a mudança
Trazendo o movimento
Trazendo a vida
Chovendo
Chovendo
Chovendo profundamente no paraíso
E eu completo:
Aqui não
Pois aqui faz sol
Sol de supernova
Vou ver o sol nascer
No castelo
24 de julho de 2007
O sol da meia-noite
22 de julho de 2007
Bala com asas de borboleta
Existem músicas, e mesmo bandas, que vivem adormecidas em nós. E que por vezes acordam, cheias de significados ainda não imaginados.
Smashing Pumpkins - Bullet With Butterfly Wings
O mundo é um vampiro, enviado para sugar
Destruidores de segredos, te mostram as chamas
E o que eu consigo, pela minha dor?
Desejos traídos, e um pouco do jogo
Mesmo que eu saiba - suponho que eu mostrarei
Toda a minha frieza e o meu frio e velho trabalho
Apesar da minha raiva sou apenas um rato engaiolado
Apesar da minha raiva sou apenas um rato engaiolado
E alguém dirá que o que está perdido nunca poderá ser recuperado
Apesar da minha raiva sou apenas um rato engaiolado
Agora estou nu, nada além de um animal
Mas você consegue fingir, apenas mais uma vez?
E o que você quer? Eu quero mudar
E o que você consegue, quando sente o mesmo?
Me diga que eu sou o único
Me diga que não existe nenhum outro
Jesus era um filho único
Me diga que sou o escolhido
Jesus era um filho único... para você
Apesar da minha raiva sou apenas um rato engaiolado
E eu ainda acredito que não posso ser salvo
Smashing Pumpkins - Bullet With Butterfly Wings
O mundo é um vampiro, enviado para sugar
Destruidores de segredos, te mostram as chamas
E o que eu consigo, pela minha dor?
Desejos traídos, e um pouco do jogo
Mesmo que eu saiba - suponho que eu mostrarei
Toda a minha frieza e o meu frio e velho trabalho
Apesar da minha raiva sou apenas um rato engaiolado
Apesar da minha raiva sou apenas um rato engaiolado
E alguém dirá que o que está perdido nunca poderá ser recuperado
Apesar da minha raiva sou apenas um rato engaiolado
Agora estou nu, nada além de um animal
Mas você consegue fingir, apenas mais uma vez?
E o que você quer? Eu quero mudar
E o que você consegue, quando sente o mesmo?
Me diga que eu sou o único
Me diga que não existe nenhum outro
Jesus era um filho único
Me diga que sou o escolhido
Jesus era um filho único... para você
Apesar da minha raiva sou apenas um rato engaiolado
E eu ainda acredito que não posso ser salvo
Lá e de volta outra vez
Como previsto, não foi possível blogar durante a semana. Voltei ontem à noite de Porto Alegre, depois de quase dois dias de viagem - boa parte dela na famosa BR-116. O governo federal está duplicando aquele cemitério em forma de estrada, mas parece que vai demorar um pouco. A única coisa boa é que não tem pedágio. Foi gasto zero com esse assunto entre o Rio Grande e São Paulo. Mas foi só nos locomovermos um pouco em território paulista - com estradas melhores, reconheça-se - que quase vinte reais foram torrados. Nada contra os pedágios, tudo contra o altíssimo valor pago para rodar poucos quilômetros.
Enfim, críticas aos pedágios estão longe da novidade. O novo ficou lá no sul. Voltemos pra lá, então.
Porto Alegre surpreende pela péssima sinalização. Quer dizer, seria péssima se ela existisse. Um exemplo: a placa que sinaliza a entrada à direita para chegar a São Leopoldo fica... já dentro da própria via à direita! Bah, tchê!, ninguém no carro era clarividente, nem mesmo o motorista, cuja auto-representação é a do HAL 9000, o computador que nunca erra. Contamos, portanto, com a boa vontade dos gaúchos, sempre muito solícitos, para nos explicar os caminhos dos pampas: "tu não vai te perder", "tu margeias o Guaíba". Sempre com aquele sotaque cantado que a muito custo tentávamos imitar. Assim como no Rio, em que pedíamos por um "mishto quente", certamente soamos ridículos: "bah, como é que faz pra chegar na Farrapos?", indagava Rodolpho. Foi divertido.
Mais divertido ainda foi ver o Corinthians tomar um ridículo 3 a 0 do Inter em pleno Beira-Rio.
Lindo estádio, torcida fanática. Quase 20 mil pessoas, mais de 14 mil sócio-torcedores às 10 da noite de uma fria quarta-feira. Com banheiros utilizáveis e cerveja (com álcool) vendida dentro do estádio, não há do que os colorados reclamarem mesmo. Para inveja de pontepretanos e bugrinos. Rogério, o Guerreiro da Tribo, remoía-se, como eu, de toda aquela estrutura. O jogo mesmo foi fraco, mas serviu pra animar até mesmo a Vanessa, tadinha, perdida num estádio de futebol. Numa falta no círculo central, perguntou se havia sido impedimento. Os gols ela entendeu, lógico. O gol é a linguagem universal do futebol.
Mas fomos a Porto Alegre para a ANPUH, que aconteceu na Unisinos, em São Leopoldo. A Unisinos pode ser caracterizada como uma universidade que margeia um shopping. Sim, há um shopping no meio da Unisinos. Perto dela, a Unimep, em Piracicaba, é um reles mall. Bizarro.
A ANPUH pode ser caracterizada como uma reunião de gente com cara de intelectual enfiada num casaco com cachecol articulando discursos-padrão na seguinte fórmula: "O trabalho abarca questões que perpassam uma temática multidisciplinar e propõe, a priori, deslocamentos de abordagens múltiplas por territórios teóricos cujos matizes apontam para (re)significações e (re)construções do sujeito enquanto agente transformador". E ainda participei de um mini-curso em história da ciência cujos vôos para os lados de Deleuze e Foucault aprofundaram minha ausência mental. Ausência com certificado, diga-se.
Não que não houvesse muita gente com coisas interessantes pra dizer, é claro. Mas isso fica pra outra hora. Aliás, a genialidade que não encontrei na ANPUH veio no muro do Hotel Roma, no qual nos hospedamos. "Quem tem boca vai no Roma", dizia a fantástica peça publicitária. Procurei pelo logo da W/Brasil no muro mas não achei. O Washington Olivetto deve ser um cara muito modesto.
Quem tem boca vai no Roma, mas vai no Alfredo também. Lanchonete/restaurante encontrado ao acaso no desespero da fome numa cidade desconhecida, o Alfredo é uma casa que se orgulha de ter sido frequentada pelo Brizola e sintetiza a relação custo-benefício da comida na capital gaúcha: porção de batata, 4 pilas; risoto, 6. Come-se bastante, e barato, por lá. Talvez seja para recuperar as energias de um caminho erradamente indicado pela péssima sinalização porto-alegrense.
Enfim, críticas aos pedágios estão longe da novidade. O novo ficou lá no sul. Voltemos pra lá, então.
Porto Alegre surpreende pela péssima sinalização. Quer dizer, seria péssima se ela existisse. Um exemplo: a placa que sinaliza a entrada à direita para chegar a São Leopoldo fica... já dentro da própria via à direita! Bah, tchê!, ninguém no carro era clarividente, nem mesmo o motorista, cuja auto-representação é a do HAL 9000, o computador que nunca erra. Contamos, portanto, com a boa vontade dos gaúchos, sempre muito solícitos, para nos explicar os caminhos dos pampas: "tu não vai te perder", "tu margeias o Guaíba". Sempre com aquele sotaque cantado que a muito custo tentávamos imitar. Assim como no Rio, em que pedíamos por um "mishto quente", certamente soamos ridículos: "bah, como é que faz pra chegar na Farrapos?", indagava Rodolpho. Foi divertido.
Mais divertido ainda foi ver o Corinthians tomar um ridículo 3 a 0 do Inter em pleno Beira-Rio.
Lindo estádio, torcida fanática. Quase 20 mil pessoas, mais de 14 mil sócio-torcedores às 10 da noite de uma fria quarta-feira. Com banheiros utilizáveis e cerveja (com álcool) vendida dentro do estádio, não há do que os colorados reclamarem mesmo. Para inveja de pontepretanos e bugrinos. Rogério, o Guerreiro da Tribo, remoía-se, como eu, de toda aquela estrutura. O jogo mesmo foi fraco, mas serviu pra animar até mesmo a Vanessa, tadinha, perdida num estádio de futebol. Numa falta no círculo central, perguntou se havia sido impedimento. Os gols ela entendeu, lógico. O gol é a linguagem universal do futebol.
Mas fomos a Porto Alegre para a ANPUH, que aconteceu na Unisinos, em São Leopoldo. A Unisinos pode ser caracterizada como uma universidade que margeia um shopping. Sim, há um shopping no meio da Unisinos. Perto dela, a Unimep, em Piracicaba, é um reles mall. Bizarro.
A ANPUH pode ser caracterizada como uma reunião de gente com cara de intelectual enfiada num casaco com cachecol articulando discursos-padrão na seguinte fórmula: "O trabalho abarca questões que perpassam uma temática multidisciplinar e propõe, a priori, deslocamentos de abordagens múltiplas por territórios teóricos cujos matizes apontam para (re)significações e (re)construções do sujeito enquanto agente transformador". E ainda participei de um mini-curso em história da ciência cujos vôos para os lados de Deleuze e Foucault aprofundaram minha ausência mental. Ausência com certificado, diga-se.
Não que não houvesse muita gente com coisas interessantes pra dizer, é claro. Mas isso fica pra outra hora. Aliás, a genialidade que não encontrei na ANPUH veio no muro do Hotel Roma, no qual nos hospedamos. "Quem tem boca vai no Roma", dizia a fantástica peça publicitária. Procurei pelo logo da W/Brasil no muro mas não achei. O Washington Olivetto deve ser um cara muito modesto.
Quem tem boca vai no Roma, mas vai no Alfredo também. Lanchonete/restaurante encontrado ao acaso no desespero da fome numa cidade desconhecida, o Alfredo é uma casa que se orgulha de ter sido frequentada pelo Brizola e sintetiza a relação custo-benefício da comida na capital gaúcha: porção de batata, 4 pilas; risoto, 6. Come-se bastante, e barato, por lá. Talvez seja para recuperar as energias de um caminho erradamente indicado pela péssima sinalização porto-alegrense.
13 de julho de 2007
Recesso(?) programado
Aviso aos meus 17 milhões de leitores.
Este blog irá para São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para participar do XXIV Simpósio Nacional da ANPUH - Associação Nacional de História. Gostaria de escrever minhas impressões sobre as apresentações e cursos que presenciar por lá, mas tudo dependerá da disponibilidade de tempo, de computador, e de dinheiro, por conseguinte. Sou professor.
Enfim, pode ser um recesso bloguístico, pode não ser. Ou não.
PS: Luis, quero só ver quando é que você vai receber a grana emprestada. Até a Copa de 2014 eu te pago. Em ticket.
Este blog irá para São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para participar do XXIV Simpósio Nacional da ANPUH - Associação Nacional de História. Gostaria de escrever minhas impressões sobre as apresentações e cursos que presenciar por lá, mas tudo dependerá da disponibilidade de tempo, de computador, e de dinheiro, por conseguinte. Sou professor.
Enfim, pode ser um recesso bloguístico, pode não ser. Ou não.
PS: Luis, quero só ver quando é que você vai receber a grana emprestada. Até a Copa de 2014 eu te pago. Em ticket.
11 de julho de 2007
Sobre tripods e a realidade
A famosa e já clássica "Intersection Scene", do Guerra dos Mundos. Trata-se de uma das mais inventivas e bem executadas cenas de ação que eu já vi. Spielberg transforma os elementos criados por computador em parte integrante daquela realidade que quer representar. A todo momento, a máquina é vista através de outros elementos do filme. A observamos por meio de reflexos numa vitrine e nos vidros dos carros. O máximo do efeito de realismo se dá quando Spielberg filma o início da matança por meio do visor de uma outra câmera, caída no chão. Naquele momento, é como se quisesse dizer: estou filmando algo que está filmando esta realidade exterior. Pronto. A realidade está construída e as pessoas estão prontas para ficar sem fôlego nos próximos dois minutos.
Ruindo...
O que é melhor do que estes sons e estas palavras voando em ondas pelo ambiente e transformando organismos inteiros em mares revoltos?
Falling Away With You
I can't remember when it was good
Moments of happiness elude
Maybe I just misunderstood
All of the love we left behind
Watching our flash backs intertwine
Memories I will never find
So i'll love whatever you become
Forget the reckless thing we 've done
I think our lives have just begun
I think our lives have just begun
And I'll feel my world crumbling
I feel my life crumbling
I feel my soul crumbling away
And falling away
Falling away with you
Staying awake to chase a dream
Tasting the air you're breathing in
I know I won't forget a thing
Promise to hold you close and pray
Watching the fantasies decay
Nothing will ever stay the same
And all of the love we threw away
And all of the hopes we've cherished fade
Making the same mistakes again
Making the same mistakes again
And I'll feel my world crumbling
I feel my life crumbling
I feel my soul crumbling away
And falling away
Falling away with you
All of the love we left behind
Watching our flash backs intertwine
Memories I will never find
Memories I will never find
Falling Away With You
I can't remember when it was good
Moments of happiness elude
Maybe I just misunderstood
All of the love we left behind
Watching our flash backs intertwine
Memories I will never find
So i'll love whatever you become
Forget the reckless thing we 've done
I think our lives have just begun
I think our lives have just begun
And I'll feel my world crumbling
I feel my life crumbling
I feel my soul crumbling away
And falling away
Falling away with you
Staying awake to chase a dream
Tasting the air you're breathing in
I know I won't forget a thing
Promise to hold you close and pray
Watching the fantasies decay
Nothing will ever stay the same
And all of the love we threw away
And all of the hopes we've cherished fade
Making the same mistakes again
Making the same mistakes again
And I'll feel my world crumbling
I feel my life crumbling
I feel my soul crumbling away
And falling away
Falling away with you
All of the love we left behind
Watching our flash backs intertwine
Memories I will never find
Memories I will never find
10 de julho de 2007
A Bruxa de Kepler
No ano de 1577, um grande cometa apareceu nos céus. Dentre as incontáveis e no mínimo intrigadas pessoas que o observaram, uma mulher e seu filho, Johannes Kepler, então com seis anos de idade, contemplavam-no do alto de uma colina próxima à pequena cidade alemã de Weil der Stadt.
Um cometa, nos diz a atual astronomia, é um pequeno corpo composto de gelo e rochas que orbita o Sol em trajetória elíptica e, quando dentro da região em que orbitam os quatro planetas mais próximos da estrela – a Terra é um deles –, exibe aos observadores terrestres uma cauda de poeira e gases. Seu formato e aparição peculiares geraram, como se pode esperar, inúmeras interpretações nas mais variadas culturas. O cometa de 1577 foi associado, na Escócia, a uma grande batalha e três reis mortos. O que quer que Kepler e sua mãe pensaram enquanto observavam o misterioso astro, provavelmente estava bem longe da representação astronômica atual. E, no entanto, a moderna astronomia deve muito a Kepler.
Entre muitas outras realizações caras à ciência atual, Johannes Kepler foi, talvez tanto quanto Galileu Galilei, decisivo para a vitória do copernicanismo, o conjunto de idéias que tirou a Terra do centro do Universo para colocá-la girando em torno do Sol. Kepler criou uma explicação para o movimento dos planetas no sistema solar fixando as bases para que, muitos anos mais tarde, Isaac Newton desenvolvesse a teoria da gravitação universal. Enquanto elaborava essa explicação, enunciada pelas famosas Três Leis que levam seu nome, Kepler sofreu com perseguições religiosas, a morte de vários filhos, e se viu envolvido na elaboração da defesa judicial de sua mãe, Katharina, acusada de bruxaria.
As realizações intelectuais de Kepler sendo influenciadas e mesmo respondendo à cultura de seu tempo e às vicissitudes e tragédias de sua vida é o tema de A Bruxa de Kepler: a descoberta da ordem cósmica por um astrônomo em meio a guerras religiosas, intrigas políticas e julgamento por heresia de sua mãe, de James A. Connor. O autor é um professor universitário em Nova Jersey cuja ampla formação inclui geociência, filosofia, teologia e literatura. O fato de Connor ter sido no passado um padre jesuíta pode ajudar a entender a amplitude de sua formação, que se reflete na própria abordagem da obra. No entanto, em que pese o fato de ser uma obra de difícil definição, dado seu amplo e múltiplo caráter, pode-se dizer que A Bruxa de Kepler é um livro de história da ciência.
Um dos grandes méritos do livro reside no esforço de Connor em penetrar a fundo nas duas principais cosmologias conflitantes dos séculos 16 e 17. O universo aristotélico, principalmente, ganha em A Bruxa de Kepler uma visão mais "de dentro", o que nos permite enxergar os motivos do profundo enraizamento do modelo geocêntrico na cultura européia do início do período moderno. Há passagens surpreendentes que subvertem o senso comum sobre o universo aristotélico. Para quem está acostumado a pensar no heliocentrismo como mais um passo rumo às grandes humilhações que revelaram a insignificância de nossa existência, não deixa de ser espantoso o seguinte trecho:
Aristóteles jamais pensou na Terra como um lugar especial ou a menina dos olhos de alguém. A Terra ocupava a posição mais baixa no cosmo, onde tudo que era caótico e tudo que era corruptível no fim se assentava. O mundo sob a esfera da Lua era a privada do universo, onde os seres vivos nasciam e depois morriam, onde mais cedo ou mais tarde toda a vida retornava para apodrecer. Só os céus eram eternos; só os céus eram divinos. A redefinição da Terra como um planeta, como fez Copérnico, na verdade a colocou nas esferas celestes junto com outros planetas e elevou os valores de propriedade ao redor.
Resta a ressalva de que Connor não é louco de tentar reabilitar o cosmos aristotélico. Faz questão de ressaltar aquilo que todo mundo sabe: Aristóteles pode não ter dado um status muito privilegiado para a Terra mesmo, mas para os cristãos a Terra era o lugar onde o próprio filho de Deus, o Criador, havia vivido como um reles ser humano, um simples mortal, a fim de salvar a humanidade. A humanidade e, por conseqüência, a Terra, tinham um lugar muito privilegiado no cosmo cristão. Colocá-la num sistema ocupando um lugar e a função de outros astros mais ou menos parecidos (os planetas) rompia radicalmente com esse privilégio.
Além da discussão cosmológica de fundo, o leitor poderá encontrar na obra análises minuciosas sobre as idéias de Kepler e aquelas com que ele se deparou ao construir suas explicações astronômicas. Além disso, um dos objetivos de Connor é contextualizar os feitos de Kepler que passaram à posteridade como científicos. Apresentá-los em meio à relação entre o astrônomo e a realidade à sua volta. Realidade que, obviamente, não se resume apenas aos colegas de profissão, estudiosos, livros e cálculos matemáticos. Numa complexa trama, ciência, política, religião, idéias, técnicas, doenças, sexo, dores e perdas, entrelaçam-se para forjar o sujeito histórico que ajudou a impulsionar uma mudança radical na visão humana do universo. As leis de Kepler referem-se aos céus, mas não são celestiais.
8 de julho de 2007
El Eclipse
Numa das primeiras aulas de "História das Ciências Naturais", nas geociências da Unicamp, fui apresentado a um pequeno conto em espanhol intitulado "El Eclipse". O texto, dizia a professora Margaret Lopes, causara furor às portas de um congresso de história da ciência no México, onde estava sendo informalmente distribuído. De autoria de Augusto Monterroso, guatemalteco radicado no México, "El Eclipse" atinge o alvo sem rodeios.
A tradução foi encontrada no blog Exílio (in)voluntário. Ao texto, portanto.
Quando Frei Bartolomé Arrazola se sentiu perdido, aceitou que nada poderia salvá-lo. A selva poderosa da Guatemala o havia sufocado, implacável e definitiva. Diante de sua ignorância topográfica, sentou-se com tranqüilidade a esperar a morte. Quis morrer ali, sem nenhuma esperança, isolado com o pensamento fixo na Espanha distante, particularmente no convento de Los Abrojos, onde Carlos V condescendera uma vez a descer de sua eminência para lhe dizer que confiava no zelo religioso de seu trabalho redentor.
Ao despertar viu-se rodeado por um grupo de indígenas de rosto impassível que se dispunham a sacrificá-lo ante um altar, um altar que a Bartolomé pareceu como o leito em que descansaria, por fim, de seus temores, de seu destino, de si mesmo.
Três anos no país lhe haviam conferido um domínio razoável das línguas nativas. Tentou algo. Disse algumas palavras que foram compreendidas.
Então floresceu nele uma idéia que teve por digna de seu talento, de sua cultura universal e de seu árduo conhecimento de Aristóteles. Recordou que para esse dia se esperava um eclipse total do sol. E dispôs-se, no mais íntimo, a valer-se desse conhecimento para enganar a seus opressores e salvar a vida.
- Se me matais – lhes disse – posso fazer com que o sol escureça na sua altura.
Os indígenas o miraram fixamente, e Bartolomé surpreendeu a incredulidade nos seus olhos. Viu que se produziu um pequeno conselho, e esperou confiante, não sem um certo desdém.
Duas horas depois o coração de Frei Bartolomé Arrazola jorrava seu sangue veemente sobre a pedra dos sacrifícios (brilhante sob a opaca luz de um sol eclipsado), enquanto um dos indígenas recitava sem nenhuma inflexão de voz, sem pressa, uma a uma, as infinitas datas em que se produziriam eclipses solares e lunares, que os astrônomos da comunidade maia haviam previsto e anotado em seus códices sem a valiosa ajuda de Aristóteles.
A tradução foi encontrada no blog Exílio (in)voluntário. Ao texto, portanto.
Quando Frei Bartolomé Arrazola se sentiu perdido, aceitou que nada poderia salvá-lo. A selva poderosa da Guatemala o havia sufocado, implacável e definitiva. Diante de sua ignorância topográfica, sentou-se com tranqüilidade a esperar a morte. Quis morrer ali, sem nenhuma esperança, isolado com o pensamento fixo na Espanha distante, particularmente no convento de Los Abrojos, onde Carlos V condescendera uma vez a descer de sua eminência para lhe dizer que confiava no zelo religioso de seu trabalho redentor.
Ao despertar viu-se rodeado por um grupo de indígenas de rosto impassível que se dispunham a sacrificá-lo ante um altar, um altar que a Bartolomé pareceu como o leito em que descansaria, por fim, de seus temores, de seu destino, de si mesmo.
Três anos no país lhe haviam conferido um domínio razoável das línguas nativas. Tentou algo. Disse algumas palavras que foram compreendidas.
Então floresceu nele uma idéia que teve por digna de seu talento, de sua cultura universal e de seu árduo conhecimento de Aristóteles. Recordou que para esse dia se esperava um eclipse total do sol. E dispôs-se, no mais íntimo, a valer-se desse conhecimento para enganar a seus opressores e salvar a vida.
- Se me matais – lhes disse – posso fazer com que o sol escureça na sua altura.
Os indígenas o miraram fixamente, e Bartolomé surpreendeu a incredulidade nos seus olhos. Viu que se produziu um pequeno conselho, e esperou confiante, não sem um certo desdém.
Duas horas depois o coração de Frei Bartolomé Arrazola jorrava seu sangue veemente sobre a pedra dos sacrifícios (brilhante sob a opaca luz de um sol eclipsado), enquanto um dos indígenas recitava sem nenhuma inflexão de voz, sem pressa, uma a uma, as infinitas datas em que se produziriam eclipses solares e lunares, que os astrônomos da comunidade maia haviam previsto e anotado em seus códices sem a valiosa ajuda de Aristóteles.
6 de julho de 2007
Epifania
Veja a seguinte imagem:
Isto é o chamado NGC 290, um aglomerado estelar situado na Pequena Nuvem de Magalhães - espécie de galáxia anã que orbita a Via Láctea. Ela está há 200.000 anos-luz de distância de nós. Isso quer dizer que essa luz toda captada pelo Hubble foi produzida há 200.000 anos. As centenas de estrelas do NGC 290 estão espalhadas num espaço de até 65 anos-luz.
Há duzentos mil anos o homo sapiens, como o conhecemos, ainda não havia surgido - é o que indicam os registros fósseis. Para atravessar o aglomerado na velocidade da luz seria necessário o tempo de uma vida humana média. Para que a luz do aglomerado chegue a nós, é necessária toda a história da espécie humana (e mais um pouco).
Ponto.
O utilíssimo e-dicionário de termos literários aborda o tema da epifania pela ótica literária. E lá, por exemplo, nos deparamos com as epifanias de Virginia Woolf, "iluminações, fósforos que se acendem inesperadamente no escuro", e a de James Joyce, "uma súbita manifestação espiritual, presente quer na banalidade da fala ou do gesto quer num estado memorável da própria mente." Joyce as vê como "os mais delicados e evanescentes dos momentos".
Outro ponto.
Olho para minhas mãos. Mexo-as, contraio e estico os dedos. Presto bem atenção nelas. Pego algum objeto e solto. Agora reflito sobre o que acabei de fazer. Penso nas mãos de outros primatas. Penso nas garras das aves. Penso nas patas de um cachorro.
Agora penso no coração que bate, nos olhos que vêem. Penso no coração dos outros animais, nos olhos deles. Penso no tato. Penso nos incontáveis organismos que já viveram. Penso nos inúmeros que viveram ao longo do caminho que levou a eu e você. Penso nos incontáveis que vivem. Penso nos impensáveis que ainda vão viver.
Penso nessas estrelas do NGC 290. Penso, tentando arranhar com a imaginação, nos 200 bilhões de estrelas da nossa galáxia. Penso, tento, nos outros bilhões de galáxias.
Mais um ponto.
James Joyce é visto como o escritor que secularizou as epifanias. Estes " delicados e evanescentes momentos" podem ser disparados, em Joyce, por qualquer banalidade, um gesto ou uma fala, por exemplo. Um sorriso ou um olhar. Ou um bando de gente, na maior informalidade, cantando ao redor de Vinícius de Moraes e Baden Powell. Um violão, muitas vozes e um copo de uísque na mão do poeta.
A epifania começa aos cinco minutos de vídeo.
Ponto final.
Ligue os pontos.
4 de julho de 2007
Mars Volta
Vira e mexe, Marte volta a este blog. Mas hoje é a pedidos de um leitor ilustre.
A seguir, imagens do solo marciano em cor "quase" real, na denominação da NASA. Tudo bem, uma fotografia é sempre "quase" real. Os créditos das imagens vão para a dupla sertaneja Spirit & Opportunity, como sempre. Ambos estão, neste momento, passando as agruras de uma mega-tempestade de areia, o que é mais ou menos comum em Marte. Eles literalmente precisam do sol para viver, mas a tempestade impede que a luz solar chegue adequadamente a seus painéis de captação. É como ficar dias sem comer, pelo jeito.
Clique nas imagens para ampliá-las.
As marcas redondas não foram feitas por marcianos, mas pelo equipamento de abrasão do Spirit. Sim, ele examina o interior das rochas marcianas e já achou coisas muito interessantes sobre isso...
Aqui, dunas no solo da cratera Endurance. As formações flagradas pelo Opportunity têm menos de 1 metro de altura. Belíssimo!
E por fim, a primeira foto da Terra vista de Marte, tirada pelo aventureiro Spirit. Como está sem cores, a Terra não passa aqui de um pálido ponto... branco. Clique para ampliar.
A seguir, imagens do solo marciano em cor "quase" real, na denominação da NASA. Tudo bem, uma fotografia é sempre "quase" real. Os créditos das imagens vão para a dupla sertaneja Spirit & Opportunity, como sempre. Ambos estão, neste momento, passando as agruras de uma mega-tempestade de areia, o que é mais ou menos comum em Marte. Eles literalmente precisam do sol para viver, mas a tempestade impede que a luz solar chegue adequadamente a seus painéis de captação. É como ficar dias sem comer, pelo jeito.
Clique nas imagens para ampliá-las.
As marcas redondas não foram feitas por marcianos, mas pelo equipamento de abrasão do Spirit. Sim, ele examina o interior das rochas marcianas e já achou coisas muito interessantes sobre isso...
Essa rocha estranha ficou conhecida pelo pessoal da NASA como "Mazatzal". Esse nome esquisito é o mesmo das formações rochosas de 1.2 bilhões de anos presentes em Four Peaks, no Arizona. Agora, se você me perguntar mais um "por que?", eu não vou saber responder. O que eu sei é que o Spirit usou sua parafernalha para revelar o interior dessa rocha. Exames preliminares dos resultados indicam que algum tipo de fluido (alguém disse água?) esteve presente durante a formação de Mazatzal.
Uma das imagens mais interessantes para os não-cientistas: o envólucro em que o Opportunity desceu ao solo marciano. À frente, lê-se "JPL", que é a sigla para Jet Propulsion Laboratory, da NASA.
Aqui, dunas no solo da cratera Endurance. As formações flagradas pelo Opportunity têm menos de 1 metro de altura. Belíssimo!
E por fim, a primeira foto da Terra vista de Marte, tirada pelo aventureiro Spirit. Como está sem cores, a Terra não passa aqui de um pálido ponto... branco. Clique para ampliar.
3 de julho de 2007
Sobre sábios e loucos
Com a palavra, a Loucura:
Trecho de Elogio da Loucura, de Erasmo, o Tremendão de Roterdã.
Voltando, pois, à felicidade dos loucos, devo dizer que eles levam uma vida muito divertida e depois, sem temer nem sentir a morte, voam direitinho para os Campos Elísios, onde as suas piedosas e fadigadas almazinhas continuam a divertir-se ainda melhor do que antes. Confrontai, agora, a condição de qualquer sábio com a de um tolo. Imaginai, figurai, um homem venerável, verdadeiro modelo de sabedoria, e observai como faz a sua passagem pela terra. Constrangido desde a infância a consagrar-se ao estudo, passa a flor dos anos nas vigílias, nas aflições, na mais assídua fadiga; e, mal sai dessa dura escravidão, acha-se ainda mais infeliz do que nunca. Por isso é que, devendo viver com economia, com moderação, com tristeza, com severidade, ele se torna cruel e pesado a si mesmo, incômodo e insuportável aos outros. Pálido, magro, enfermiço, ramelento, fraco, encanecido, velho antes do tempo, termina uma vida infeliz com a morte prematura. Mas, que importa ao sábio morrer moço ou velho, quando se pode afirmar, com toda a razão, que nunca viveu? Com efeito, não se pode falar em viver quando não se gozam todos os prazeres da vida. Que vos parece, agora, esse belo retrato do sábio? Agrada-vos?
Trecho de Elogio da Loucura, de Erasmo, o Tremendão de Roterdã.
Assinar:
Postagens (Atom)