Eu gostava tanto de ti...Tu gostavas tanto de mim...

Posted by Uma Coral chamada Petra on sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

foto: Sara Sa


Ultimamente tenho andado nostálgica. E a nostalgia leva-nos sempre de encontro ao passado. Ou o passado é que nos traz a nostalgia. Talvez seja isso, não sei bem.
Sei que hoje voltei lá mais uma vez e encontrei todas as cartas que te escrevi desde o inicio do nosso fim. Sim, porque as outras, ficaste tu com elas anexadas a todas as caixas e baús, todos os postais e fotografias. Dói-me pensar que tudo isso está num anexo qualquer da tua casa. Dói ainda mais pensar que possam já não existir, que tenhas tido a coragem de destruir esses pedaços da nossa história.
Comigo ficaram as cartas que nunca te entreguei, as outras que te ofereci mas que tu nunca leste. As secretas que nunca me atrevi a mostrar a ninguém, e as outras que ousei mostrar ao mundo.
Hoje reli a primeira de muitas que escrevi quando os nossos sentimentos pareciam estar a despenhar-se. Mesmo com os sentimentos em colisão frontal, eu sabia que continuava a gostar de ti. Preocupava-me contigo. E mesmo com o fim à vista eu continuava a acreditar que gostarmos um do outro chegava. Eu só precisava de espaço. E eu achava que aquele espaço seria a nossa “salvação”. Tu não entendias. Faltou-te a capacidade para entender que quando eu dizia estar farta, era porque sentia que estávamos perante uma relação completamente desgastada. Tu não compreendias quando tentava explicar o sufoco que as nossas diferenças se tinham tornado. Eu também não conseguia perceber como é que ao fim de três anos eram as nossas diferenças as culpadas. Porque diferentes… sempre fomos. Mas tinham sido precisamente essas diferenças a fazer-nos sentir completos um ao outro.
Tu eras a calma e a serenidade. Eu era a agitação e o alvoroço. E juntos, tínhamos a liberdade de sermos nós mesmos.
Eu gostava tanto de ti. Tinha orgulho em ti, orgulho do nosso amor, do nosso encaixe de personalidades apesar das nossas diferenças.
Tu gostavas tanto de mim. Gostavas de mim por inteiro. E eu gostava ainda mais de ti por isso. Por gostares de mim e de todos os outros “eus” existentes em mim.
Sorrias sempre que olhavas para mim. Sorrias e dizias que gostavas quando me ouvias filosofar a meio de uma conversa. Sorrias ao mesmo tempo que me chamavas curiosa, e dizias que nunca conheceste ninguém como eu, que perguntava tudo, que observava tudo. Tu gostavas de mim. Isso estava escrito nos teus olhos. Gostavas de mim de qualquer maneira. Estivesse eu contente, melancólica, lúcida, sóbria ou alterada. Gostavas de mim porque estivesse eu como e com quem estivesse era sempre eu. E eu gostava ainda mais de ti por me deixares ser eu própria.
Até ao dia em nos fartamos. Até ao dia em que a minha agitação aluiu a tua serenidade. Até ao dia em que a minha impulsividade zangou a tua calma. E ali estávamos nós…fartos, esgotados, a sentir a mágoa um do outro, e cheios de desilusão no olhar.
Fui eu que dei o primeiro passo para o fim. Quis ficar sozinha. Quis reflectir. Tudo à nossa volta parecia estar em guerra, e eu só pensava na paz que queria devolvida. A minha e a tua.
Não conseguia perceber o que estava a acontecer-nos. Não conseguia perceber se estávamos próximos do final, ou se estávamos a um passo de compreender o que realmente queríamos um para o outro. A única coisa que eu sabia, ou pelo menos pressentia, era que quando os meus sentimentos se reorganizassem eu seria uma pessoa um bocadinho mais forte.
O que eu não sabia nessa altura, era que, recompor e reconstruir um coração leva tempo…muito tempo…

10 comentários:

Marissa Cooper disse...

Dói tanto reviver o fim. Pior que isso, só mesmo a dor de pensar como seria se nunca tivesse havido um ponto final! Não há mesmo volta a dar? :(

Força !
http://cooper20.blogspot.com/
Beijinhos

Valquíria Vasconcelos disse...

Mulher... isto assusta-me!

ninguém disse...

Não sei sequer o que te dizer... Também aprendi que o gostar, mesmo que seja mútuo, por vezes não é suficiente. Também aprendi que as diferenças, a certo ponto, podem afastar o que sempre pareceu destinado a estar junto. E também aprendi (aprendo) que um coração leva muito, muito tempo a reconstruir...
Beijinho grande

Uma Coral chamada Petra disse...

Marisa: Pois doí, mas não sei porquê ultimamente sinto que reviver tudo isso me ajudará a ultrapassar mais uma barreira.

E não, não há volta a dar, e nunca foi essa a minha intenção. Escrevo para dar a volta do que ainda tenho dentro de mim...

Obrigada pelas palavras. beijinhos

Uma Coral chamada Petra disse...

Valquiria: Já sabes o que penso. Se arrepia é porque te diz algo. beijinhos

Uma Coral chamada Petra disse...

Katie: Tu percebes aquilo que sinto...mas tudo passa minha querida. beijinhos

Miguel disse...

Há dias - e por vezes um dia pode demorar dias, semanas - em que a nostalgia nos invade com especial impacto. Nesses dias não revivo o fim, como já aqui foi dito, mas cada momento bom, às vezes tão breves como um olhar, um abraço mais apertado, o calor de uma mão na outra,emoções despidas de palavras e que nos dizem tanto. Recordações essas que nos magoam e não levam a lugar nenhum, eu sei, mas que pelo menos por enquanto sinto precisar delas como outras pessoas precisam de ar para respirar. Também pensei um dia que o amor e a plena convicção de que ele ainda existe mesmo separados, fosse suficiente, mas parece que estava enganado. Não deveria o amor ser superior a qualquer diferença? Ser bastante? Será que as conversas de amor e uma cabana foram sempre uma grande mentira? É triste pensar que por maior que seja o amor ele será sempre tão frágil e delicado como um pequeno cristal. Um bom fim de semana e votos sinceros de uma breve e esplendorosa bonança.

*Bela Poeta disse...

Como entender que aquilo que um dia uniu não une mais? Por que quando o mundo gira, tudo tem que mudar de lugar? Paralisar momentos seria uma grande invensão científica (ou amorosa).
Lindo texto. Ventos me trouxeram até aqui e gostei muito. Se quiser me fazer uma visitinha...
Abraço,
Vanessa.

Elisa disse...

leva um tempo interminável...

Abraço-te disse...

Pego numa frase tua...

Efeitos do tempo

Abraço-te