O Jardim III
As flores escorrem dos cimos das árvores com os raios de sol.
O pólen torna o ar entre as árvores mais espesso e dá forma aos raios de luz.
Insectos preciosos acompanham a descida das flores com estranhas danças.
O pequeno verme arrasta-se no chão perdido.
Fotografam-se gatos e amantes em posições ridículas.
Os sons dos pássaros fazem diagonais entre o arvoredo.
As gralhas preferem os ciprestes, os rouxinóis serem invisíveis como eu.
E sempre o som dos barcos que nunca vi e que não sei porquê sinto que partem.
Jornais abertos e prontos a levantar voo das mãos de leitores descuidados.
"Amo-te" – diz a árvore. Coração trespassado pela flecha de Cúpido, gotas de amor que escorrem, seiva derramada pela árvore que cresceu acima do amor escrito no seu tronco.
As pessoas vão à fonte onde estamos proibidos de beber e fazem a água correr e salpicam-se e contentes vão-se embora com a minha sede.
Um homenzinho fardado atravessa o jardim com uma metralhadora no ombro e com o olhar fuzila todo o verde do jardim.
Pergunto-me: quanto tempo seria preciso para que as flores que caem das árvores me cobrissem enquanto escrevo?