Desejo uma réstia de esperança no final de noite. E quando
abro a janela à noite, encontro aquilo que curaria tantos vultos deambulantes:
o vento fresco nocturno vindo do Sul refresca as velhas memórias para que não se
percam nas areias do tempo.
E aqui, quando abro a janela, não há moralismos falaciosos.
Nem tão-pouco o sentimento de que cumpri exigências alheias - para merecer a
recompensa de ter sido bem comportado. Quando sinto a noite de Verão de textura
absolutamente perfeita, o único dever que cumpri foi o meu e o mundo que se
afogue nas suas pequenas regras, com a sua mesquinhez de quem lhe basta cumprir
leizinhas para ser feliz e, depois, talvez viver (se for possível).
Quando abro a janela, toda a História cavalga no vento. A
lua ilumina velhas lendas que nem lembro já o nome. Lá ao longe, sei que o mar
espera nas entrelinhas da visão. A noite será tranquila na antevisão do dia de
Praia, nesse jogo divino entre o amarelo e o azul.
E não há moralismos falaciosos num dia de Praia. Não há regras
alheias para serem cumpridas. Há apenas uma imensa preguiça de quem é feliz
numa noite fresca de Verão antes de um dia de praia. Não há moralismos
falaciosos – há vida para viver, entre o azul do mar e o amarelo da areia, ou
entre o céu e o sol. Há uma vida cheia de cor aqui, mesmo o Inverno, por vezes,
chega a ter cores primaveris.
E uma réstia de esperança chega, cavalgando no vento vindo
do Sul.