A crise económica e financeira que atravessa o mundo traz inevitáveis repercussões nas relações económicas bilaterais, mesmo naquelas cuja solidez havia sido firmada ao longo dos tempos e que assentava, por essa razão, num quadro tradicional de estabilidade e confiança.
Assim, e por muito que gostássemos que tal não viesse a acontecer, há que convir que as ligações luso-francesas – nos domínios comerciais, de investimento ou de turismo – correm hoje riscos de serem afectadas, neste cenário quase global de recessão, que não tem data marcada para a sua atenuação ou desaparição. Num contexto como o que atravessamos, sustentar um discurso de despropositada euforia seria uma atitude algo patética, uma mera negação da realidade. Não contem comigo para isso.
Quero com isto dizer que, chegado a Paris como novo embaixador português, me deparo hoje com um terreno que, à partida, passa a ser diferente daquele que se desenhava de há uns anos para cá, no qual prosperavam as diferentes linhas de crescimento económico.
Perante isto, parece-me óbvio que temos de mudar de runo, porque este estado de coisas, porque é bem diferente, passa a exigir da parte de todos nós novas e talvez muito mais profissionais respostas.
Desde logo, importa “desconstruir” os efeitos que a crise possa estar já a gerar nas diversas dimensões do nosso quadro de relacionamento económico, identificando sectorialmente as razões das mudanças entretanto detectadas e começar a tentar perceber as linhas tendenciais de uma sua possível superação.
Para essa finalidade, conto com poder instituir um quadro de relação muito íntima com os agentes económicos, cuja capacidade de detecção, no terreno, das alterações dos mercados passa a ser da maior importância para todas as estruturas oficiais que enquadram a nossa acção externa. Mais do que nunca, importa-nos ouvir com atenção e vir a retirar do que nos for dito pelos operadores todas as ilacções que possam justificar mudanças de filosofia e acção, no âmbito dos nossos próprios mecanismos de promoção e apoio.
É esse esforço que tenciono potenciar, a muito curto prazo, em íntima ligação com a nossa Câmara de Comércio, emvolvendo quer os agentes económicos portugueses que operam no mercado francês, quer o conjunto dos principais empreendedores franceses que hoje são nossos tradicionais clientes. Fidelizar os clientes tradicionais é a palavra de ordem para a nossa acção comercial em França.
Mas as crises foram sempre, paradoxalmente, um momento para novos sectores encontrarem as suas oportunidades. E porque em Portugal, nos últimos anos, tem vindo a verificar-se a emergência de novas tipologias de empresas, por vezes dedicadas a áreas antes nunca exploradas no quadro da internacionalização económica, marcadas por formas de modernidade e pela adesão a novas e interessantes propostas tecnológicas, queremos contribuir para lhes proporcionar montras de visibilidade no mercado francês. Essa será sempre a melhor forma de tais unidades, quase sempre mobilizadas por gente jovem e ambiciosa, poderem vir a garantir a hipótese de conquista de lugares de futuro no novo tecido de relacionamento económico que vai acabar por afirmar-se no pós-crise.
Falar de novos investimentos, num quadro de recessão, pode parecer uma ideia despropositada nos dias que correm. Mas todos temos de perceber que um país como a França, com uma economia potencial sempre de grande pujança à escala global, mantém uma linha estratégica de afirmação económica externa que tende sempre a ver muito para além da conjuntura.
No passado, Portugal foi um espaço interessante para algum investimento francês, da mesma forma que esses mesmos capitais se revelaram - e continuam a revelar – um factor importante para o nosso próprio tecido económico. É do interesse oficial português continuar o diálogo com os grandes grupos franceses, bem como com PME’s de certos sectores com vocação externa, com vista a sublinhar as vantagens comparativas que o mercado português, como campo de investimento, continuará a proporcionar. Quem já lá actua desenha, aliás, o nosso melhor cartão de visita.
Uma palavra especial para o turismo. Os últimos tempos vinham a definir um interesse crescente da França pelo mercado português, um mercado que é competitivo no preço, acolhedor na oferta e com uma variedade que tem muito a ver com as profundas ligações culturais e de civilização que nos aproximam. Procuraremos que essa tendência se não perca.
Em todas as áreas, em suma, vamos tentar responder à crise com mais trabalho, mais imaginação e maior diversidade de propostas. E o embaixador de Portugal está à plena disposição dos agentes económicos – portugueses ou franceses – para os ajudar a encontrar os melhores caminhos para a concretização dos seus interesses.
Texto publicado no número de Fevereiro de 2009 da revista "Portugal Global" da AICEP