Studio One Dub (Soul Jazz)
I’m in a dancing mood...
Kingston, Jamaica, anos 60. Algures numa ilha do outro lado do Atlântico, um punhado de músicos gravava durante o dia um conjunto de temas em modo de contra-relógio fervilhante. As gravações eram quase arcaicas, simultaneamente selvagens, frescas e alucinantes. Pouco interessava desde que - e é impossível resistir a esta piada - o volume do baixo estivesse no máximo. O resultado destas sessões era imediatamente destinado para animação nocturna, altura do dia em que os soundsystems disputavam entre si o trofeu das festas mais concorridas e animadas e onde o sucesso se media em litros de suor despendidos e quilómetros de dança percorridos. Circulam histórias de dj's que trocavam as etiquetas dos discos para despistar possíveis rivais. As filas de jovens rapazes à porta das editoras, à espera da sua oportunidade para uma sessão de gravação, originavam mexericos sobre actividades pedófilas. Desentendimentos entre a Studio One e a Trojan – soundsystems rivais - terminavam muitas vezes em confrontos físicos. Êxitos americanos da soul eram cantados com a pronuncia pedrada da Jamaica e transformavam-se em hinos locais sem pagar direitos de autor. Cantavam-se odes a Jah, Bobby Bobylon, rastafari e todas as divindades locais misturadas com mensagens de teor político com um som recheado de ecos, reverbações e delays. Até que ... Londres, 40 anos mais tarde. Nomes como os de Jackie Mittoo, Alton Ellis, Delroy Wilson, King Stitt, Dennis Alcapone ou os The Skatalites caíram praticamente no esquecimento, desconhecidos por responsabilidade do ícone Bob Marley - esse autêntico Jim Morrison de tranças - que, qual sanguessuga, secou tudo em redor. Tesouros desprezados. Até que a editora Soul Jazz investigou o espólio da Studio One, o recuperou e editou, respectivamente, os volumes Studio One Rockers, Soul, Roots, Dj’s e Scorchers. 'Studio One Story' parecia ser o último volume da série, afirmando-se como o documento definitivo. Acompanhado por um livro profusamente ilustrado e por um dvd com mais de 4 horas - extenuante para um leigo menos interessado mas com depoimentos pertinentes, vídeos exclusivos e onde finalmente se percebe a razão pela qual King Stitt se intitulava "The Ugly One" - 'Studio One Story' é, como se costuma dizer nestas alturas, uma verdadeira lição de vida. Ou mais prosaicamente uma demonstração de amor à música e de imensa alegria de viver, na demanda do groove ideal e do ambiente perfeito. Mais tarde foram editados Studio One Musik City (caixa que incluia os primeiros cinco discos desta saga), Studio One Ska e Studio One Dub. As versões dub eram muitas vezes apenas instrumentais, onde o produtor e os engenheiros de som experimentavam novos efeitos sonoros e desenvolviam o seu lado mais criativo. No reggae- e ao contrário da terminologia utilizada, por exemplo, no hip hop - a pessoa com o microfone era normalmente designada como dj, enquanto a pessoa encarregada de escolher a música se chamava selector. Normalmente os singles tinham um lado A, preenchido com a versão mais popular do tema, enquanto o lado B se destinava a facultar uma base instrumental escolhida pelo selector e onde cada dj dava o seu próprio cunho pessoal. 'Studio One Dub' inclui versões em bruto de temas históricos como 'Skylarkin' de Horace Andy , 'Truth and Rights' de Johnny Osbourne, 'Swell Head' dos Burning Spear ou 'Bobby Bobylon' de Freddie McGregor (aqui com outras designações), para além de um conjunto de temas menos conhecidos, mas todos eles com um enfâse muito particular na secção rítmica (bateria e baixo). A maior parte dos fãs de ska, reggae e rocksteady vão reconhecer facilmente estes temas. Mas, mesmo para esses, esta é uma oportunidade única para os ter todos no mesmo disco.