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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

vazios do campo

correr de marcar um gol
para achar por acaso
os vazios do campo
não enxergar
bola chutada
quando se foi
menino goleiro
para entrever
a sandália dela
sob vestido longo
suar
o tempo
da superfície
como mudas novas
os pés
deixam o hábito
e pisam na terra
como um deus forte
e aspiram
no deserto
vento que move
em promessa
e ávidos
buscam no quarto
outros pés
dispostas na sala
sandálias
esperam
a volta
de sua dona
esperam
no tempo contíguo
um olhar
que lhes contemple
o desenho
a cada dia
renovado

Luiz Fernando Medeiros

Juiz de Fora, 20/10/2015

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Seco

o filho disse ao pai
vamos dar um tempo
o pai disse
agora não
o filho disse
 magister
quem disse?
crendice
o que fazer
com a versão do outro?
silêncio
estrada
gole seco
até a canoa voltar

(Luiz Fernando Medeiros

fevereiro 2015)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Portátil

à minha volta o bar urrava
e saí para a rua sentindo frio
ao celular a voz cobria-me de veludo
quisera varar a fibra ótica
para ávido beijar sua boca
que continuava fustigando  sinapses
e os peixes de sua língua
saltavam convexos
o frio se dissipava
os peixes pulavam ainda na onda


Luiz Fernando Medeiros
Setembro, 2014

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Vazio nos bolsos

Tempo fiapo,
agarrei-me a elas
como alguém
numa prancha
de surf
sem saber
nadar
agarrei-me
pedindo sobrevida
mas elas já iam
soltas
agarrei-me a elas,
tempo fiapo,
por coisa nenhuma
elas iam soltas
como se subsistissem
só porque a gente
pensa nelas
mas elas não salvam
amontoam névoas
dispersas
na injusta ondulação
mesmo assim
só posso ir
dentro desta nave
confiando sempre
nelas,  as palavras
e apesar da solidão
como um vazio
nos bolsos

Luiz Fernando Medeiros

27/06/2014

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Essa outra

o corpo dela
me deu esta bondade:
meu corpo não se sabia
tão intenso
tão agora
experimentado para outras
contidas nela mesma
quando ela vem
de todos os lados
sorrindo
e falando outra

lingua

(Luiz Fernando de Carvalho)

terça-feira, 10 de junho de 2014

ENTRE A PEDRA E A BIC

(para Marcia)

entre a pedra e a bic
mais que sereia
e esfinge juntas
ela seca a seca
e olha para muito longe
dentro do futuro
seu olhar atinge
a objetiva
e revela
o já agora
do big bang
dos fotogramas
da vida
Lá na frente
quem a segue
sorri
Lá em cima
da pedra
ela apura
suavemente
a matéria
e alcança
o amor dos elementos


( Luiz Fernando Medeiros)

Volta

dança de pele
costume do corpo
dança densa
que se abre
em riso
suave
sobe
veste
outro corpo
verte
líquidos
oleosos
pétala
muda-se
em verso
volta
em ondas
mais leve


( Luiz Fernando Medeiros)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

palimpsesto

Deixava marcas
na pele
súbito
estancou os arranhões
e disse
siga em frente
com outra
sem  a minha escrita

Na contra corrente dessa vocação
de leitor de incunábulos
agora ele segue

deambulando

(Luiz Fernando Medeiros de Carvalho)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

entreaberta

Entreaberta

Aquele pássaro
seguia o ímpeto
de sua máquina
de habitar
o verde solo
que parte do céu
estaria ele
a mostrar naquele instante?
Comecei  a cantar
“Vou abrir a porta”
pensando na malandragem
que é abrir uma porta
com  tempo certo
porque a outra pode chegar
nesse instante  pensei
em porta semiaberta
 no passarinho
 nos frutos do mundo

Luiz Fernando Medeiros, 8 jul 2013

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Prazer dos Plátanos

1
Sei que vocês me olham
para ver como estou passando
Também vejo vocês
nessa mutação
colorida
à espera,
da próxima estação.

2
Plátanos, plátanos
repito o nome
para trazê-los de volta
já os ouço próximos
no rumor
do Parque.
“Estamos aqui
murmurando na noite
enquanto você chega.”
Amanhã os verei de novo
folhas
 eternamente suspensas


Luiz Fernando Medeiros, jun 2013

segunda-feira, 13 de maio de 2013

CÂNTICO DO TROMPETE


Todo trompete
tira o medo
da noite
DEDOS
em alquimia
subir
descer
para
alhures
romper
couraça
de assombração
túnel sem
paredes
a tocar
tocar
tocar
a pétala
úmida

Luiz  Fernando Medeiros,
13/05/2013

sábado, 4 de maio de 2013

sábado, 12 de maio de 2012

Poemas Pina


Vitela 1

Dançar na  ponta dos pés
com a vitela
sacrificada.
Ó vitela cariátide
de bailarina
asceta  no metrô
aceita este pobre sacrifício.


Vitela 2

“Isto  é
carne de vitela !”
gritou a bailarina
antes de iniciar
o sacrifício
antes  de
enfiar
filés
para  saciar
a fome dos
pés.
No final
do filme
de Wenders
o fadista canta:
“olhos
são rosários
de atenuar
a dor do vivente.”


11/05/2012
Luiz Fernando Carvalho

domingo, 1 de abril de 2012

Fotografia de mãe e menino com orquestra voadora


perfumes
cores
aparecem
mais tarde
Penetram
lentamente
Imitando
o frescor
que habitava
desde sempre
este corpo
nele a respiração
é dança à espera da dança
para além dela mesma
um menino agora
segue o ritmo
desses passos
e se encanta com o paraíso
quando
em vôo de livre
frêmito
o corpo sorri  e
roda com ele

(Luiz Fernando Medeiros de Carvalho)

sábado, 8 de outubro de 2011

Ulisses e o BMG



Tive vontade de responder
Minha filha você me liga numa sexta-feira
Depois do expediente
após uma caipirinha de maracujá com pimenta
O que você está fazendo nesta hora
com esta proposta?
Mas não respondi
seria mais uma afronta
à sensibilidade de moça
enquadrada na loucura de hoje.
O canto da sereia do BMG era muito tentador
nem o navegador foi tão tentado como nestes tempos.
Com sua voz treinada nas ondas
de posse de meus dados cadastrais
Ela me oferecia tudo.
O que fazer ?
Ficar mudo e acorrentado
não ver e não ouvir mais nada?
Deixar passar e dizer tímido
não posso

Luiz Fernando Medeiros
6/10/2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

poemas para o pequeno

poemas para o pequeno

1.
Não repito a sina de sísifo.
Das pedras só a angular
com seu leite.
Aciono o movimento
sem ser água
de moinho cansado
carecendo de nuvem.
Sísifo esfuma-se,
o caminho
solfeja

2.
O caminho começa
com o chegante
Ele veio ali na sala de parto:
todos em concentração,
bocachiusa.
Mais tarde
o pai totalmente árabe
o filho dorme
nos braços do barbudo
Mais tarde,
é a sumarenta
aurora

3.
Este filho é obra,
anúncio
de que todos os artigos,
todos os ensaios por vir
estão perdoados
porque a obra se fez,
está ali,
iluminando.

4.
E vieram brincar
que eu não parava
Como se mais
um filho no mundo
fosse um anátema
à luxúria da razão,
como se escrever
fosse o deserto.
Vivo de duas margens
que me apontam
o caminho
Quando o filho olha
sei que cheguei
à fonte.

5.
A clareira abriu-se
no meio da angústia
branca
Uma fé não se apaga
impele mesmo
o corpo
a brincar de novo
a deixar de lado
os zumbidos
e celebrar
pele, cheiro, toque.

________________
11/07/2011
Luiz Fernando Medeiros

terça-feira, 26 de abril de 2011

Keith Jarrett in Rio

O pássaro negro senta-se ao piano, estende as mãos, começa a tocar
levanta-se, emite gemidos inteiros, bate os pés como um neandertal foca
o contratempo
o pássaro quebra paradigmas
o som da boca é mesmo um ahymé!
do piano surge um improviso melismático, contracenando com algum tango, algumas células de Stravinsky
o piano vai a ele numa atração mútua, aquele sistema se rearranja para caber numa dissolução nova
agora o pássaro estica-se todo
agora o pássaro enrola-se sobre o próprio corpo e aproxima a cara do teclado como se quisesse ouvir a voz da madeira
totalmente pássaro, uma parte dobra-se enquanto a outra olha para nós
volta para o tris, chegando rente ao público como um pingüim aquecendo-se um pouco.
Dobra-se todo na escuridão da humildade.

Luiz Fernando Medeiros, 9 de abril de 2011

domingo, 31 de janeiro de 2010

Reverso

vi o anjo
no entanto
vou de costas
não enxergo nada
estou em meio a ondas
no vórtice


angst, angelos,
luz transfixiante
que me aguarda na praia
a abençoar sinapses


ondas retornam
e há desejo de areia.


Luiz Fernando de Carvalho
30/01/2010

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dois poemas de Luiz Fernando

após a festa


Embaraçada
acolhe o rio

cachorro
do fundo
do poço
a olhar

a coisa continua
risos

mas o silêncio
é o que espera

tudo pedra
como antes

e o cachorro
a olhar

Luiz Fernando de Carvalho
7/09/09


Instrução para modos de medrar

Junte alguns diplomas
adicione currículos
na internet.
Continue firme
fazendo pose
continue rindo
para todos
os lados
continue
por mais 40 anos.
Chacoalhe tudo
(menos você)
à maneira de coquetel.
Depois
escreva memórias

Luiz Fernando de Carvalho
7/09/09

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mundo moinho

Estou sempre olhando pra todos os lados, como se algo estivesse para acontecer. A sensação de que corro perigo vem a todo instante. O mundo é chão de armadilhas. Vou chegando, arisco. Sempre olhando para os outros a ver se algum bando está por perto. Tenho muita fome nessa hora. Estou sempre com fome. A fome guia minha caminhada. E me alimento rápido porque a armadilha pode estar à minha volta. Pode ser o próprio alimento. Talvez já esteja apanhado nela sem saber. A velocidade que me fez ir nessa direção encontra-se com a minha aflição. Não sei o que fazer. Achei o que saciava, mas tenho aflição. Minha cabeça roda, procurando motivos do medo. O meu olho também roda. E se desloca como se tivesse eixo próprio alhures. Como saber se já não estou na armadilha? Tudo talvez esteja perdido. Minha cabeça roda tanto e olha tudo tão rápido que só posso estar preso. Tento me acalmar. Meus óculos funcionam como câmeras que vasculham cada recanto do shopping.
Acabo de me perder de minha mulher, estou com um filho me esperando com a sessão começada do Ensaio sobre a cegueira, eu tenho a chave da casa e ela não. Em vez de entrar na sessão percorro andares várias vezes e nos mesmos lugares. E não consigo controlar a aflição. Por que fiquei com a chave se ia ao cinema? E continuo a rodar, o corpo como câmera. Num desses instantes me vem aquele menino que acordou na noite e não tinha ninguém na casa. Houve um lapso aí, esse menino cerca de uma hora talvez esteja muitas casas abaixo na varanda de vizinhos, ouvindo uma voz que vem de cima, de um senhor que diz que o seu pai já vem. Aquela voz não dizia nada, os grandes são engraçados, acham que tudo passa. Mas alguma coisa estranha se passou ali, talvez o primeiro abismo. Continua a câmera olhando ao redor. Não estou lá nem procurando mãe. A angústia é a mesma. O filme já está em meio. A cegueira é aqui. Tateio e sufoco entre a multidão que pivoteia no cilindro, na confusão de línguas. Nenhuma lucidez, nenhuma calma, à espera da divina imagem surgir nos degraus de uma escada rolante.

Luiz Fernando Medeiros de Carvalho
26 de janeiro