Aprendi a ser puta com balthus. Imitava, quando menina, as poses mais ousadas das putinhas das imagens que conseguia ver nas livrarias, nas reproduções com que topava, iludi muito, graciosamente. Fiquei ligada a vida toda a essas duas predições do paraíso. as mulheres mais velhas, senhoras, me odiavam. Viravam o rosto e diziam por entre dentes, para que eu as ouvisse, putinha. Quanto mais diziam, mais o gestual se aguçava como num quadro de varett – o das putas insólitas. Aliás, varett foi o último dos pintores com quem me familiarizei, já velha, mas nele me vi quando e quanto eu fui. Ser puta tinha a vantagem de mandar a puta que os pariu os poderes todos.
Já minha primeira trepada foi uma provocação – de que tirei mais prazer do que a foda em si mesma – trepei não por tesão, mas para exemplar os babacas que me cercavam. Queria convencer meus amigos que fossem para a rua em força e fizessem cair este regime de gordos e os expulsasse das estruturas do poder. Foi mais um ato político que me adiantou os desejos que sempre busquei ter nas imitações fáusticas da putaria. Levei um tabefe na cara, fui expulsa de casa – mas não vaguei como uma vadia pelas ruas – o babaca com que trepei me levou para sua casa, pensava em me comer de novo, mas não dei para ele nunca mais. Tiozinho escroto, o sujeito.
(Jurema Silva – Memórias Esotéricas)
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