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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

[Crítica Contemporânea] "Quando éramos mentirosos", de E. Lockhart [Asa]



Autora: E. Lockhart

Editora: ASA [Grupo LeYa]

Edição: Maio de 2014

Páginas: 312

Género: Romance contemporâneo

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Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o Blog Os Livros Nossos:

   Quando éramos mentirosos, de E. Lockhart [Pseudónimo de Emily Jenkins, autora Norte-Americana a residir em Nova Iorque, detentora de um Doutoramento em Literatura Inglesa] constituiu uma excelente surpresa, tratando-se de um romance contemporâneo que pode ser inserido na categoria de Young Adult, mas que se destaca pela originalidade, pela especificidade, beleza e pelo carácter sui generis da escrita da autora, capaz de nos prender de forma verdadeiramente inebriante às páginas do livro.

   Como cenário central da narrativa vamos encontrar a bela ilha privada de Beechwood, no Massachusets, propriedade da poderosa, abastada e aparentemente perfeita família Sinclair, e o local de eleição para as férias de Verão deste clã.

  Os Sinclair ostentam e alimentam uma imagem pública de classe, beleza, bom gosto e fortuna, mas vamos ter oportunidade de ir desvendando obscuros segredos familiares, ao travarmos conhecimento com a narradora, e participante na trama, a jovem adolescente Cadence Sinclair Eastman, uma jovem inquieta, que evidencia uma nítida perturbação do foro psicológico ou mesmo psiquiátrico, mas que nos transmite o seu olhar sobre a intimidade familiar, convidando-nos a desvendar o que se esconde por detrás das belas mansões familiares e do universo à parte que constitui a Ilha privada da família.

  Logo no início do livro encontramos uma árvore genealógica dos Sinclair, e uma planta da Ilha, que nos facilitam a compreensão da história e o modo como se articula o dinamismo narrativo de todas as personagens. Iremos conhecer o rígido patriarca da família - Harris Sinclair e a esposa Tipper, bem como as suas filhas e sua descendência - Carrie Sinclair [mãe de Johnny e Will]; Bess Sinclair [mãe de Mirren, das gémeas Liberty e Bonnie, e do pequeno Taft], e Penny Sinclair [mãe da protagonista Clarence].

  À família juntar-se-á Gat, um jovem de ascendência Indiana, sobrinho de Ed [negociante de arte e companheiro de Carrie, por sua vez tia de Cadence] um jovem considerado pela família, intimamente, como um outsider de inferior classe social, mas que é acolhido para passar o verão, a partir dos oito anos, tendo perdido recentemente o pai. Gat revelar-se-á um jovem bastante atento, inteligente e culto, e a paixão que surge entre Cadence e Gat irá abalar, de algum modo, a estrutura familiar dos Sinclair, já bastante frágil, uma vez que vivem todos isolados em ridículas disputas pelo poder e pelo "ter", escondendo tudo o que é negativo e evidenciando uma perfeição que é completamente ilusória.

  Num mundo onde impera a dissimulação, a futilidade e a perturbação mental, Gat e Clarence, apesar de jovens, irão conseguir descortinar que muitos dos principios e pressupostos ali vigentes estão, à partida, errados e são bastante limitadores em relação aquilo que é o mundo real cá fora!

  Os mais jovens vão reflectir, inevitavelmente, a instabilidade latente resultante de um mundo de aparências, de casamentos desfeitos, de relações afectivas falhadas desde a origem, e a narrativa divide-se entre o tom intimista, perturbador e perturbante tantas vezes assumido por Clarance, e o clima de mistério que se vai adensando até ao desenlace verdadeiramente genial e inesperado.

   Um livro que se lê de um ápice, que nos fará pensar sobre um certo estilo de vida que, estando aqui centrado na classe alta norte-americana, tantas vezes pode ser transversal a vários outros meios sociais e culturais, onde o poder, a riqueza e o sucesso aparentes escondem, muitas vezes, ocultas fragilidades.

Sublime,sui generis e um verdadeiro must read de indiscutível qualidade literária!

Classificação atribuída do Goodreads 5/5 estrelas.