Aranhas, rosa-dos-ventos e bicicletas.
Ainda sobre Vizinhos:
Na 4.ª feira cheguei a casa e tinha um saco pendurado na porta, com uma caixa lá dentro embrulhada por uma fita onde estavam escondidas estas delícias de chocolate com que o meu vizinho de baixo decidiu surpreeender-me.
E de repente, o Mundo voltou ao seu lugar.
Diário do Semi Confinamento #24102020
O meu dia começou pelas 7h quando acordei a primeira vez e o meu filho acordou a seguir a mim. Consegui convencê-lo de que ainda era de noite e ele veio para a minha cama e voltámos a adormecer até às 9h40. Soube pela vida estar enroscada nele a dar-lhe beijinhos e festinhas enquanto o ia ouvindo a respirar de forma cada vez mais pesada até entrar no sono novamente.
Estive na cama até perto das 11h enquanto ele brincava na sala e comia o pequeno-almoço que eu deixei preparado num tabuleiro no dia anterior. Passei a manhã a tratar da casa e das nossas coisas para a próxima semana. Fiz o almoço e a seguir fiquei sem serviço de TV e Net. Estou neste momento de dados ligados no telemóvel enquanto escrevo isto e oiço música.
Já reclamei mas aparentemente só tenho equipa técnica disponível na 2a feira. Vai ser um imenso desafio a mim mesma. Hoje fui passando entre dados e uma ida ao cinema com a criança onde éramos literalmente os únicos dois espectadores do filme na sala toda, o que me deu mais tranquilidade. Amanhã dão chuva para o Porto e não sei mesmo como é que vou sobreviver sem internet em casa com o puto. Um fim de semana analógico não estava nos meus planos. Mais do que agradecer o digital detox sinto que há uma imensa mensagem do Universo para parar.
Já me fartei de chorar hoje novamente. O Homem Poeta foi capaz de me despir sem me tirar uma única peça de roupa e isso tem tanto de reconfortante como de assustador.
Tenho visto muitas rosas dos ventos no meu caminho. Sinto que há uma nova navegação à vista. Que há um Norte novo a orientar-me e que é hora de rumar a um novo Porto. Podia ser Porto Santo! Adoro aquela praia...
Tenho rádio e livros para ler com fartura. Estou tranquila com o facto de não ter internet. Menos com o facto do meu filho não ter televisão nem tablet com dinossauros. Mas a criatividade é a melhor arma para combater isto. E dessa temos a montes!
PS. A foto é do fim de semana passado, em Vidago.
Diário do Semi Confinamento #23102020
Tenho passado os últimos dias a escrever como se a minha vida fosse aoenas debitar palavras em papéis. Sinto que estou a viver num mar gelatinoso de marasmo e escrever assemelha-se a um bote salva-vidas que me permite ir flutuando à deriva da maré.
Hoje o dia começou cedo. Eram 6h40 quando o despertador tocou depois de uma noite cheia de sonhos estranhos e de acordar pela 1h com a chuva a bater lá fora. Sabe tão bem estar no quentinho da cama à noite a ouvir o som da chuva...
Saí de casa eram 7h40 depois de ter deixado a criança entregue ao tio bombeiro para a levar à escola, em direcção ao evento mensal que me faz sentir em casa no Porto. Este mês foi mais uma confirmação de que o trabalho está a ser bem feito e de que vale sempre a pena apostar naquilo em que acreditamos.
Saí pelas 10h30 e decidi que precisava de estar fora de casa a trabalhar. Tenho tido imensa dificuldade em concentrar-me em casa e tenho de ir encontrando estratégias para ver se volto a ser produtiva. Acabei no Noshi a comer torradas e a terminar mais uma tarefa pendente que é urgente por a rolar.
Fui almoçar sushi com o Homem Poeta a um sítio bonito e fancy e saí de lá com a sensação de que estamos a caminhar para uma cada vez maior profundidade nesta relação que assume todos os papéis menos o carnal. Parecemos um antigo casal que não deu certo que almoça todas as semanas por respeito e carinho um pelo outro. Atualizamos as novidades da semana e buscamos sempre os assuntos que mais nos feriram e onde precisamos de alguém que nos passe a mão pela cabeça e nos diga que somos capazes de mais e melhor. E passamos o resto da semana a saber como correu o dia e a perceber como nos podemos apoiar mutuamente. Sinto que estamos a construir a base mais sólida de todas para uma amizade que não é nada convencional.
Cheguei a casa pelas 15h e decidi que tinha de combater a minha apatia. Decidi mergulhar bem lá atrás numa infância não muito bonita e com alguns aspectos dolorosos que influenciaram algumas das minhas crenças de vida. Sinto que estou numa nova fase de cura, que passei por um processo recente de uma transformação que nem eu própria ainda vejo no seu todo. Sinto que há toda uma nova camada de pele a conhecer porque é recente e não sei bem como é que é a sua textura.
Consegui cumprir as tarefas minímas de sobrevivência no final do dia e acabei a noite a tentar escrever isto enquanto ia derramando lágrimas pela cara abaixo, à medida que ia vendo o Arquitecto a escrever coisas no meu whatsapp e me ia lembrando das coisas boas que vivi.
Preciso do fim de semana que se avizinha como preciso de mar e de passeios na areia e de água. O meu lado feminino está tão ferido que só a água me pode ajudar a atenuar a dor.
Diário do Semi Confinamento #22102020
Gosto muito da palavra Malaca. Gosta da forma como se enrola na língua e bate nos dentes, como se fosse uma goma de açúcar prestes a explodir-nos na boca e invadir-nos de doçura. E depois soa a um misto de maluca com marota e muita laca no cabelo!
Hoje andei na rua o dia todo e isso fez logo maravilhas pela minha boa disposição. Lá fora o sol brilhou o dia todo também e essa vitamina D a mais também ajudou bastante a elevar a moral desta tropa. Comecei o dia a levar o carro à inspecção (ainda não foi este ano que arranjei um gajo para me tratar disto, a par do IRS e dos cozinhados!) e a ouvir a história de uma criança de 6 anos que tem hipotonia e de um pai que vive atormentado por o filho não ser capaz de andar. É nestas alturas que levo um estalo da vida e penso que nem sei a sorte que tenho por ter um filho saudável. Queixo-me de coisas tão insignificantes, que parece que queixarmo-nos e aspirarmos a mais é uma necessidade demasiado humana.
De seguida fui tratar de questões logísticas minhas e da criança enqaunto ouvia música e andava a pé ao sol com uma leveza que já não sentia há algum tempo. Segui para casa a tempo de despachar tarefas pendentes do grande evento do mês que é amanhã de manhã. À tarde tive uma reunião num espaço de bicicletas do Porto, a Veloculture, e fiquei fascinada com toda a decoração. Se um dia tivesse uma loja seria assim!
Acabei por voltar a pé para casa e fotografar alguns recantos da cidade. Quanto mais tempo passa, mais percebo que andar a pé a ouvir música e fotografar são duas coisas que me acalmam até ao estado zen. Fico fascinada com os detalhes! E agora que tenho um telemóvel com um câmara espectacular ainda retiro maior prazer disso.
Ontem na brincadeira com um grupo que tenho no whatsapp, comecei a delinear a ideia da festa de arromba pós-corona que vou organizar quando a pandemia passar. E a brincar, a brincar, esta ideia acabou por acender a minha luz ao fundo do túnel. Ando mentalmente a fazer a playlist da coisa, já tenho uma DJ de serviço, tenho contactos de patrocinadores de bebidas e tenho um espaço icónico na cidade para fazer acontecer. Pode ser só loucura, mas é bem provável que venha a ganhar forma! Veremos...
Não sei se foi do sol que apanhei, do murro no estômago de perceber que só tenho problemas de 1.º mundo ou da ideia louca de uma festa, mas a verdade é que hoje o meu ânimo melhorou. Amanhã tenho o melhor evento nacional do mês e um almoço com o meu poeta. Creio que manteremos o ânimo levantado.
Ninguém sabe bem quanto tempo esta pandemia pode demorar, mas a verdade é que um dia acaba. E nesse dia, as pessoas continuarão cá. E essas, são a única coisa que interessa. Isso e uma hipotética viagem a Malaca que cada vez mais se vai tornando real na minha realidade pós-pandémica.
Diário do Semi Confinamento #21102020
Porque a escrita é sempre o Porto seguro onde regresso quando tudo na minha vida parece querer desabar, volto a esta espécie de Diário que me salvou da insanidade no confinamento. Crente de que aqui possa ir ganhando sentido disto tudo. E porque este Domingo no meu Clube de Leitura falou-se da perda que temos vindo a sofrer da memória a longo prazo e de como precisamos da escrita para isso e para, a par com a memória, conseguirmos ir relacionando conceitos e conhecimentos mais profundos.
Ontem escrevia no meu caderno em papel sobre o Arquitecto, um homem que me irrompeu na vida e me fez perceber que ainda sou capaz de me apaixonar tal como antes. Infelizmente a coisa foi breve, mas intensa o suficiente para me fazer chorar quando dei de caras com uma foto dele nas redes. Ali voltei a sentir que seria capaz de fazer ninho e chamar aqueles braços casa.
Hoje escrevo aqui porque me sinto num imenso marasmo. Estou vazia de sentido. Lentamente sinto que a apatia está a tonar conta de mim. Passo os meus dias enfiada a trabalhar em casa. Saio de manhã para levar a criança à escola, sigo para o ginásio se conseguir ter tempo, volto para casa a tempo de despachar emails e notícias, almoço enquanto vejo uma série - ando viciada no Admirável Mundo Novo e na Normal People da HBO - e arrasto-me nas horas e nas tarefas até ser horas de sair para ir buscar a criança outra vez. Passo semanas sem trocar mais que meia dúzia de palavras com adultos e sem que alguém me toque, além do meu filho. Não sei o que é ser despida e beijada há demasiado tempo.
Estou a sentir fisicamente uma dor desta ausência de beijos e abraços com os amigos, da ausência de ver sorrisos na cara das pessoas, de ver lábios. Estou absolutamente exausta desta pandemia. E sinto que a minha saúde mental já viu melhores dias.
Hoje tive uma conversa porreira com uma amiga na mesma situação que eu. Discutimos possibilidades do que fazer no final do Doutoramento e de como é tão solitário o trabalho de investigação. No final do dia, acabei à conversa com o meu vizinho de baixo que é chefe de cozinha num Vila Galé cá da cidade e percebi que faz sobremesas por encomenda. Acho que me vou desgraçar!
Morro de saudades de ver filmes enroscada em alguém, de dormir encaixada, de dar e receber mimos. Aos 36 anos a solidão está a pesar-me de uma forma que nunca achei ser possível.
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