quarta-feira, setembro 30, 2009

Rotundas.



É extraordinária a profusão de rotundas que se tem observado nos últimos anos em Portugal, das mais majestosas, enfeitadas com monumentos, estátuas, esculturas e outras manifestações de cariz artístico (por vezes de qualidade e gosto duvidoso), às mais simples, quase simbólicas, por vezes até com um aspecto tosco e inacabado.

O facto é que a “rotunda” tem vindo a afirmar-se cada vez mais como solução óbvia para a resolução de qualquer dilema de "intersecção arterial" dentro e fora das localidades nacionais.

Será porque no longo prazo se tornam menos dispendiosas para os municípios? Pois ao contrário dos cruzamentos com semáforos, não requerem o uso de electricidade e exigem custos inferiores de manutenção? É claro que as rotundas demasiado grandes acabam por também ter semáforos. E há ainda aquelas que são iluminadas durante a noite. E não podemos esquecer a limpeza das manifestações artísticas, o aparar da relva e o podar das árvores que algumas têm. Talvez a resposta esteja então na fluidez de trânsito que estas permitem, quando comparadas com os tradicionais e obsoletos cruzamentos e os seus semáforos. No caso da rotunda, basta chegar primeiro e "é sempre a andar". Ainda assim, quem habita ou percorre os grandes centros urbanos, já se deparou ou depara diariamente, com grandes filas de trânsito que convergem para estas rodelas mágicas do planeamento urbanístico. Sinceramente e apesar de há muito tempo reflectir sobre esta questão, acerca do porquê da vitória esmagadora da “rotunda”, não encontro uma resposta que seja satisfatória.

Mas para mim, o facto mais curioso e intrigante no que toca à propagação da rotunda em Portugal, está relacionado com a insistência numa solução em relação à qual, os condutores portugueses demonstram uma inépcia crítica na compreensão das suas regras básicas de funcionamento.

(Recordo um episódio caricato decorrido há uns anos atrás, aqui em Lisboa. Dirigia-me num táxi para o centro comercial das Amoreiras, quando esse mesmo táxi, ao arrancar num sinal verde, na rotunda do Marquês de Pombal, foi abalroado violentamente por outro carro, o que nos levou, a mim e à pessoa que me acompanhava na altura, a fazer o restante percurso a pé, devido ao choque em que nos encontrávamos em consequência do acidente. Surpreendentemente não houve ferimentos graves mas o caso ainda valeu uma radiografia à minha acompanhante, devido a uma contusão na cabeça e uns anos mais tarde uma ida a tribunal a ambos, como testemunhas. Um par de horas depois, já de regresso a casa, apanhámos novamente um táxi e ao chegar à rotunda do Marquês, achámos curioso o “nosso” 1º táxi, o sinistrado, ainda se encontrar no local, com o carro que servira de aríete encaixado na carroçaria mas desta feita com a polícia a tomar conta da ocorrência. Enquanto trocávamos impressões sobre o assunto e em simultâneo satisfazíamos a curiosidade do presente taxista acerca dos pormenores do acidente e do facto de termos participado nele, dá-se um novo embate, entre o “nosso” 2º táxi e outro automóvel. Sinceramente, até hoje não sei de quem foi a culpa neste 2º acidente, nem sei muito bem o que aconteceu. Apenas nos despedimos do taxista, abrimos as portas do taxi e fomos embora para casa, a pé.)

Coincidência?




domingo, maio 03, 2009

IRÃO? Para onde?

IRÃO, 2009, planeta Terra.

Se um qualquer Deus existisse (o que faria com que estivessemos perante outro milagre, embora não tão espantoso como é o da Vida), o que diria Ele das suas criações?

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Salvem o "Miguel" (e os outros também)!



Para quem não sabe, as rolhas tradicionais são feitas de cortiça. A cortiça é a casca de uma árvore chamada sobreiro. E Portugal é o maior exportador de cortiça a nível mundial. A cortiça é um material versátil e 100% natural. Com um vasto leque de possíveis utilizações, podemos encontrá-la tanto nas garrafas de vinho, como em nossas casas, em peças de vestuário e acessórios de moda e até mesmo no isolamento térmico dos tanques de combustível externos do Space Shuttle Columbia, utilizado pela NASA.
Segundo dados da APCOR (Associação Portuguesa de Cortiça), referentes ao ano de 2007, o valor gerado pelas exportações nacionais de cortiça representa cerca de 0,7% do PIB (a preços de mercado), aproximadamente 2,3% do total das exportações portuguesas e cerca de 30% do total das exportações portuguesas de produtos florestais. Isto só para dar uma ideia da importância deste sector.
A indústria corticeira nacional tem um rosto de destaque de quem toda a gente certamente já ouviu falar, especialmente desde que, em 2008, a revista Forbes o classificou como o homem mais rico de Portugal e um dos mais ricos do mundo. Refiro-me obviamente a Américo Amorim, presidente do Conselho de Administração do Grupo Amorim, ao qual pertence a sobejamente conhecida Corticeira Amorim, que é a maior empresa mundial de produtos de cortiça e está organizada em cinco unidades de negócio: Matérias-Primas, Rolhas, Revestimentos, Aglomerados Compósitos e Isolamentos.
A crescente procura de soluções alternativas ao uso da rolha de cortiça em alguns mercados internacionais (especialmente em países como os EUA, a Austrália e a Nova Zelândia), optando por rolhas sintéticas ou tampas de plástico, tem comprometido e ameaçado de forma séria todo o sector corticeiro. Recentemente, numa tentativa de contrariar esta tendência, o Grupo Amorim financiou uma curiosa campanha internacional em defesa da tradicional rolha de cortiça, usando para o efeito o actor humorístico Rob Schneider que, segundo o breve filme criado para o efeito, tem como missão viajar até Portugal na nobre demanda de "Salvar o Miguel" (no título original: Save Miguel), sendo que "Miguel" é um sobreiro, o que neste caso é sinónimo de "Cortiça".
Pelos vistos o resultado desta campanha e de outras eventuais medidas (se é que as houve mas pretendo acreditar que sim) tomadas em defesa desta matéria-prima, símbolo de Portugal no mundo (apenas o fado e vinho do Porto terão uma conotação tão imediata com a Lusitânia), não têm tido o sucesso esperado. O sector corticeiro está em crise e começam finalmente a surgir nos meios de comunicação social algumas notícias que revelam a delicada situação em que se encontra.
No caso da Corticeira Amorim, podia ler-se hoje no Jornal de Negócios que foi anunciado o despedimento de 193 trabalhadores, o que é grave. Mas ainda mais grave é o que se passa com a Suberus, grupo detentor da segunda maior corticeira nacional. Para além da actividade corticeira, a Suberus tem ainda ramificações na área da metalurgia e não sei se noutras mais (neste momento a maioria dos sites do grupo estão suspensos ou inactivos, sendo portanto difícil reunir informação mais detalhada). No que toca à cortiça, a Suberus detém duas fábricas no norte do país a Vinocor e a Subercor, em Mozelos, Santa Maria da Feira e uma outra, a Subercentro, em Ponte de Sor, no Distrito de Portalegre.
Desde o dia 21 do passado mês de Janeiro que os cerca de 160 empregados das fábricas Vinocor e Subercor iniciaram uma greve de protesto, devido aos salários em atraso de Dezembro e respectivos subsídios de Natal. Hoje foi anunciado nos diversos meios de comunicação social que a Suberus apresentou em tribunal um pedido de insolvência para as suas 4 empresas do ramo corticeiro, Vinocor, Subercor, Subercentro e Subergal Trading, que empregavam no total cerca de 300 trabalhadores.
Escusado será dizer que lamento profundamente a situação, não só do sector (relativamente ao qual tenho uma profunda ligação de proximidade afectiva) como em especial a dos trabalhadores que vêm agora uma nuvem ainda mais negra a surgir no horizonte.
Mas não posso deixar de fazer uma referência sentida àqueles que neste momento sofrem talvez os dias mais angustiantes das suas vidas e de quem nunca se ouve falar (o que demonstra o desinteresse absoluto por parte dos media por tudo que não seja populista e notícia "fácil"). Refiro-me aos pequenos intermediários e produtores que, no último ano, venderam todo, ou a maior parte do seu stock de cortiça a qualquer uma destas empresas e até hoje não viram um tostão.
Falo de pessoas cuja vida é dedicada exclusivamente a este negócio e, em muitos caso, vivem há meses a fio numa angustia atroz, consumidos diariamente por sentimentos contraditórios que oscilam entre a esperança e o desespero, a boa-fé e a desconfiança, a revolta e o arrependimento. Assistem impotentes ao consecutivo adiar de uma solução, que vai tardando e nunca mais chega. Sujeitam-se às promessas dos devedores de que tudo está a ser feito para resolver a situação, de que não serão esquecidos, de que assim que o problema esteja resolvido serão eles os primeiros a receber o seu dinheiro. E eles, movidos por uma fé que, antes de mais só existe porque perdê-la seria sinónimo de assumir que perderam tudo, lá vão acedendo, esperando, dizendo que sim a tudo o que lhes é pedido.
Muitos destes homens não acompanharam a evolução dos tempos, não têm escritórios, nem computadores, nem internet. Não contratam advogados, nem secretárias, nem assistentes, nem analistas para os ajudar nos seus negócios e alguns nem sequer lêem o jornal mas seguem religiosamente os noticiários televisivos, mesmo que não percebam na íntegra tudo o que lá se diz. Não dispensam no entanto um bloquinho de notas, onde fazem contas e apontam números de telefone. E um lápis, que muitos afiam com o mesmo canivete que usam para retirar uma lasca das pranchas de cortiça nova, para verificar a quantidade de "verde" (que resulta da humidade por evaporar ainda "presa" no interior da mesma) e poder assim calcular quanto tempo falta para a poder pesar já seca. Igualmente indispensáveis são os dois livros sagrados, o dos cheques e o dos contratos, preenchidos sempre à mão e em triplicado, sabe-se lá quando é que um bom negócio pode bater à porta. Pesam as pilhas (de cortiça) a olho e raramente se enganam (confirmando-se a sua extraordinária precisão sempre que alguém insiste em usar a balança). Calculam a cubicagem com uma fita métrica e umas contas de cabeça. Trazem na memória o extenso mapa da planície, dos montes e vales, conhecem as corgas e os caminhos de cor, assim como os nomes das herdades e daqueles a quem pertencem. Nunca precisaram de um GPS, a maioria nem sabe o que isso é. São homens do Sul, esta raça em vias de extinção. Uma espécie de cowboys à portuguesa, cavaleiros solitários que trocaram os cavalos por jipes e percorrem diariamente centenas de quilómetros pelos montes alentejanos, à procura do negócio. Homens para quem a palavra é sempre de honra e um compromisso fica selado com um aperto de mão.
São portanto presas fáceis neste jogo em que no outro extremo do tabuleiro, no Norte, estão as modernas e organizadas empresas, com as suas unidades fabris, os escritórios, as secretárias, os advogados e a internet. Muitos destes homens têm idades avançadas, que já não permitem o fôlego necessário para lidar com esta montanha-russa de emoções que os depara agora, no fim da linha, com a hipótese de ver tudo aquilo porque lutaram uma vida inteira esfumar-se em nada. Porque o risco que correm é mesmo esse, ver o "tudo" transforma-se em "nada".
É nesses que mais penso e por quem o meu coração mais pesa. É a esses que deixo aqui uma palavra de solidariedade e coragem. Salvem o "Miguel" mas salvem primeiro aqueles que desde sempre deram o seu contributo para que, em boa parte devido ao seu esforço, o "Miguel" seja hoje aquilo que é.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

"Qimonda" aqui já não sou eu.



A gigante internacional Qimonda abandonou o posto de liderança enquanto maior exportador nacional, passando a ocupar a 3ª posição no Top 10. O lugar da frente é agora assumido pela Petrogal (do grupo Galp Energia) e em 2º lugar está a Autoeuropa (pertencente ao grupo Volkswagen). Pelo andar da carruagem, penso que a Qimonda ainda estará longe de terminar a sua queda no ranking, mesmo com o surgimento de um eventual comprador. Segundo o Diário Económico, só nos últimos 7 meses a Qimonda perdeu cerca de 97% do seu valor na bolsa de Frankfurt, 68% dos quais já em 2009.
Quanto à Petrogal, tem a seu favor o facto de pertencer a um grupo forte, que vende um bem essencial. Apesar da baixa do preço do barril de petróleo, a descida de preços nas bombas de combustível não tem sido proporcional à queda, ao contrário do que se verificou ao longo do período em que a tendência foi inversa, em meados do ano passado. Outro aspecto positivo, prende-se com as sucessivas descobertas de poços de petróleo no Brasil, na parceria que a Galp Energia detém com a brasileira Petrobras. Parece-me portanto assegurada a solidez deste grupo.
No caso da Autoeuropa e apesar de um futuro que se mantém incerto, se por um lado pode sofrer baixas devido à quebra acentuada da venda de automóveis, não só em território nacional como nos mercados mundiais em geral, tem apesar de tudo a seu favor o facto de pertencer à Volkswagen, que é, não só o maior fabricante europeu de automóveis, como vê agora a Porsche assumir o controlo accionista da empresa ao reforçar a sua posição, detendo actualmente 50,76% do capital da mesma e que espera, ainda este ano, chegar aos 75%. Portanto é aguardar para ver qual o futuro da Autoeuropa que, para já, ocupa o 2º lugar deste ranking.
Aqui fica a lista fornecida pelo INE do Top 10 das maiores exportadoras nacionais (entre Janeiro e Outubro de 2008). Curiosamente, ou não, apenas 4 são realmente portuguesas:

1 - PETRÓLEOS DE PORTUGAL-PETROGAL, SA
2 - AUTOEUROPA - AUTOMÓVEIS, LDA
3 - QIMONDA PORTUGAL, SA
4 - REPSOL POLÍMEROS LDA
5 - SOPORCEL - SOCIEDADE PORTUGUESA DE PAPEL, SA
6 - CONTINENTAL MABOR - INDÚSTRIA DE PNEUS, SA
7 - PORTUCEL - EMPRESA PRODUTORA DE PASTA E PAPEL, SA
8 - PEUGEOT CITROEN AUTOMÓVEIS PORTUGAL, SA
9 - SOMINCOR - SOCIEDADE MINEIRA DE NEVES - CORVO, SA
10 - BLAUPUNKT AUTO-RÁDIO PORTUGAL, LDA

Globalização pouco global!



Não, não é um convite para ir para a neve. É Davos, que termina sem consenso, ou melhor, sem soluções para a "crise", revelando a grande anedota dos tempos que correm. Tempos esses de globalização, dos gigantes globais, das comunicações globais, dos monopólios globais, das marcas globais, das empresas globais mas e quando se fala de crise? Onde é que estão as soluções globais? E as políticas globais? E as medidas globais? É que, ao chamar-se "global" a esta crise, embora o seja de facto, só o é nos seus efeitos, pois ninguém assume a sua parte de culpa. Já agora, até se aproveita para ir ao mapa, tirar o pó e puxar o lustro às fronteiras que pareciam tão apagadas e mortiças mas afinal estão (e sempre estiveram) lá. E aproveita-se o momento solene para recordar o mundo da culpa do vizinho e da nossa inocência. E já agora recorda-se também, um bocadinho, as nossas diferenças, porque que em tempos de vacas gordas, quando se anda de barriga cheia é tão fácil pensar: Ahhhh… Como é bom sermos todos iguais!
Pelos vistos a "globalização" só funciona quando a seta está no verde. Quando os peixes se vão comendo, segundo a “ordem natural” das coisas, um após outro, sendo que o último é sempre maior que o anterior. Assim que esta cadeia alimentar é interrompida por uma indigestão ou pior, uma intoxicação alimentar, pronto! Zangam-se as comadres, viram-se as costas, ninguém come mais ninguém e ninguém se fala (fora meia dúzia de peixes, dos maiores, que vão trocando umas impressões entre eles de como é que hão-de continuar a papar os pequenitos assim que lhes passar a dor de barriga). Começam a atribuir-se as culpas para poder votar uns quantos ao ostracismo e restabelecer a ordem e o equilíbrio. Os grandes dizem que os pequenos estavam estragados e não avisaram e os pequenos defendem-se dizendo que, se assim era, foi porque os grandes não tinham nada que limpar o rabo com o plâncton de que eles (os pequenos) se alimentam.
E pronto, a globalização é assim.

sábado, janeiro 31, 2009

Silêncio............................


Um apelo solidário!


Entre a espada e a parede





O ano começa especialmente mal para um dos pilares económicos deste país.

As alterações na chamada Tributação Autónoma, no P.C. (Pagamento por Conta) e no P.E.C. (Pagamento Especial por Conta), numa altura em que se apregoam ajudas às pequenas e médias empresas, revelam bem a ironia e o sentido de humor negro, tão característicos de um governo do sul da Europa.

Assiste-se, uma vez mais, ao lançamento de uma cortina de fumo que tem como objectivo desviar a atenção dos reais contornos desta chamada "crise" que assola o mundo. Crise essa que por cá, pouca importância tem quando comparada com o mexerico e a iminente escandaleira. Quem é que vai quer saber da Tributação Autónoma e do Pagamento por Conta, quando o 1º Ministro, num ano de eleições legislativas, se vê envolvido num potencial escândalo de corrupção?

Num país de iliteratos, é muito mais interessante (e fácil) especular com grande afinco acerca dos culpados e inocentes (sendo que as massas se entusiasmam mais com os culpados) do que estar atento às decisões do poder que influenciam directamente a vida e as condições de vida daqueles que tanto especulam em vez de estar atentos.

Depois há os chavões mediáticos, de que as pessoas gostam muito mas de que normalmente sabem pouco. Coisas como o Freeport , a 3ª ponte, o aeroporto, o TGV, o BPN ou o BPP, vão servindo de quebra-gelo no dia-a-dia da sociedade. No entanto fica sempre bem ter assunto ou no mínimo opinião, acerca destas coisas. Mas após aquela fase inicial de conversa, em que se lançam para a mesa um apanhado das memórias mais presentes daquilo que se ouviu ou se leu acerca do assunto nos últimos dias (tudo dito em tom de opinião), o que realmente fascina as pessoas, é especular quem estará por detrás disto e daquilo, quem andará a meter dinheiro ao bolso, quem sofrerá as consequências, quem pagará a factura e, em suma, quem será culpado... Ou inocente, claro. O mais curioso é que tal debate, nunca se traduz numa tomada de atitude ou de posição concreta relativamente a coisa nenhuma. Mesmo que se apurem "culpados" e que a certeza seja absoluta, a consequência máxima resultante será sempre e apenas uma carga extra de emoção na abordagem do assunto e todos os actos de revolta contra tal vilania, serão sempre teóricos e jamais passarão a outro formato que não o da ilustração verbal. Parece que esta passividade tem uma raiz genética, contendo uma informação acumulado ao longo dos séculos, que nos faz assumir que, de uma forma ou de outra, estaremos sempre a ser pilhados e ludibriados por quem está no poder, tomando-o portanto como um dado pacífico e adquirido.

Por outro lado, assassinar a carreira política de José Sócrates em ano de eleições, quando a única alternativa é uma senhora cujos recursos políticos variam apenas entre um silêncio absurdo e veementes críticas, demonstrando assim uma falta absoluta de ideias concretas, alternativas e soluções que não passem apenas por colocar a palavra "não" antes de todas as iniciativas e planos do actual governo, não me parece alternativa.

Sinto portanto que estamos entre a espada e a parede. E o problema é a tal da "crise", que muita gente ainda não percebeu que, mais do que um excelente tema para conversas de café (e muito caro aos lusitanos dada a sua fácil conotação com o fado e a desgraça), lhes pode mudar a vida por completo, num abrir e fechar de olhos, enquanto se distraem com a grande novela dos culpados e inocentes.

"Não perca esta noite, mais um episódio de Freeport, a primeira novela portuguesa transmitida por todos os canais em simultâneo, com uma versão diferente em cada um. A escolha a sua..."