Não gostei de ouvir o candidato a Primeiro Ministro preferido das sondagens dizer que o sindicato dos nossos credores o escolhera. Este complexo do bom aluno não é garantia de nada. Está abaixo do limiar da sofisticação política que se exige a um governante moderno. É um sinal preocupante para o futuro.
Há escolhas que dependem das nossas escolhas. Um Primeiro Ministro tem que em primeiro lugar celebrar e honrar um contrato com os portugueses.
terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
sábado, 28 de maio de 2011
Janela sobre o mar
Adormecer e acordar sobre o mar trazido por uma das varandas mais extraordinárias de Portugal, desenhada pelo arquitecto Conceição e Silva no final da década de 50 e princípio da de 60 do século XX.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Espantalhos
Na transição da cidade para a envolvente rural, num campo de milho recém-semeado. Em Guimarães os espantalhos são peças de intervenção artística.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Previsões
No país das sondagens, os indecisos preparam-se para forçar o bloco central a governar. Há apenas uma decisão prévia que a noite do dia 5 esclarecerá: quem fica e quem sai das lideranças partidárias, Sócrates e ou Passos?
Sondagens não são previsões, diz Pedro Magalhães.
Sondagens não são previsões, diz Pedro Magalhães.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Redes (2)
A recente tendência de os computadores se converterem em redes é outra chave do nova sensação, a incipiente psicologia da convergência em desenvolvimento. Subitamente, as redes telefónicas e as companhias de telecomunicações, que eram poderosas e efectivas, mas geralmente ignoradas pelas prioridades do sector público e privado, estão a situar-se na primeira linha da consciência colectiva. As companhias por cabo, nos Estados Unidos, estão a negociar com as empresas de telecomunicações a oferta de serviços de multimédia, de videoconferência e video "à la carte", mediante sinais comprimidos e digitalizados.
Redes locais, internetes e redes globais estão a crescer vertiginosamente como o cérebro de um Leviathan em estado infantil.
Derrick de Kerckhove, La Piel de la Cultura. Investigando la Nueva Realidad Electrónica. Barcelona, Gedisa Editorial, 1998 [1ª ed. 1995]. p. 81-82.
Redes locais, internetes e redes globais estão a crescer vertiginosamente como o cérebro de um Leviathan em estado infantil.
Derrick de Kerckhove, La Piel de la Cultura. Investigando la Nueva Realidad Electrónica. Barcelona, Gedisa Editorial, 1998 [1ª ed. 1995]. p. 81-82.
terça-feira, 24 de maio de 2011
Redes (1)
No Sábado, em Famalicão, apresentei uma comunicação que pretendeu sublinhar que uma rede museológica
de carácter territorial é uma opção politica – e não meramente técnica – que visa
garantir escala e cooperação entre os componentes, conferir coerência ao
património cultural e rentabilizar os investimentos públicos ou privados efectuados
na respectiva valorização.
Socorri-me do caso de Peniche, que tem em execução uma rede
museológica municipal, desenhada na sequencia da elaboração de um Plano Estratégico
(Magna Carta Peniche 2025).
A rede municipal de museus de Peniche nasceu das seguintes
necessidades:
- existência de colecções e núcleos museologicos dispersos e
sem coesão, recebendo incorporações mais ou menos avulsas;
- insatisfação com a forma como o Estado gere o património
de que é detentor (exemplo - fortaleza de Peniche sobre a qual impende uma
responsabilidade nacional não cumprida);
- articulação dos museus com a politica cultural pública e
com as politicas de valorização patrimonial adoptadas pelo município;
- vantagens ao nível da gestão de recursos e da gestão
cultural;
- assegurar valor e sustentabilidade a verbas vultuosas postas
ao dispor do concelho para a regeneração urbana;
- apetrechar a autarquia a negociar com o Estado, as grandes
instituições publicas e com os promotores privados.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Obras nos Patudos
Visita atenta - guiada pelo jovem engenheiro da AOF, empresa responsável pela obra - na sexta-feira à tarde, à Casa dos Patudos. Os trabalhos de requalificação ficam concluídos dentre de dois meses. Seguir-se-ão as operações museográficas. Um trabalho notável de que Câmara, técnicos, empreiteiro, se orgulharão.
domingo, 22 de maio de 2011
De regresso à "minha" varanda
Irromperam neste blogue a 11 de Setembro (curiosa data!) de 2010. Tive sérias dúvidas de que pudéssemos estabelecer uma convivência pacífica e os meus mais solícitos leitores aconselharam-me que vestisse a pele do exterminador implacável. Nesta foto, à direita pode ver-se o ninho de vespas tal como foi (forçadamente) abandonado em Outubro de 2010. Mas eis que agora um novo ninho, pleno de actividade, surge paredes meias como anterior.
Desta vez não estou disponível para lhes disputar a hegemonia sobre a "minha" varanda. De bom grado lhes cederei a posição.
Desta vez não estou disponível para lhes disputar a hegemonia sobre a "minha" varanda. De bom grado lhes cederei a posição.
sábado, 21 de maio de 2011
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Duas ou três coisas que sei sobre síndromes
Síndrome de bombeiro: muito sensível à presença e actividade de pirómanos nas imediações (sai-se sempre vencido deste combate desigual).
Síndrome do pregador em latim: está convencido que persuade pela palavra, independentemente de quem a ouve e do que é efectivamente dito (variante: síndrome do nominalista - a conversa é tudo, o resto é conversa que não interessa.
Síndrome de galileu-galilei (versão erudita): os factos nunca têm razão, face aos argumentos. Valha-nos isso (já viveram sob uma tirania dos factos?)
Síndrome do menino ao colo: pegar na criança mal ela começa a fazer beicinho. Uma forma específica de andar com o mundo às costas.
Síndrome do pregador em latim: está convencido que persuade pela palavra, independentemente de quem a ouve e do que é efectivamente dito (variante: síndrome do nominalista - a conversa é tudo, o resto é conversa que não interessa.
Síndrome de galileu-galilei (versão erudita): os factos nunca têm razão, face aos argumentos. Valha-nos isso (já viveram sob uma tirania dos factos?)
Síndrome do menino ao colo: pegar na criança mal ela começa a fazer beicinho. Uma forma específica de andar com o mundo às costas.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
Leopoldo Roberto (3)
Algumas pinturas de Leopoldo Roberto, o artista que Camilo fez entrar, em Florença, num dos mais extraordinários romances de que foi autor.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Leopoldo Roberto (2)
Nasceu em Neuchatel, na Suíça. Rumou a Paris com 16 anos
para desenvolver a sua experiência de gravador. Aí frequentou também um atelier
de pintura. Forçado a regressar à sua terra natal em 1815, é como pintor,
sobretudo de retrato, que se estabelece.
Graças a um apoio mecenático, seguiu para Roma, onde
permaneceu entre 1818 e 1831 obtendo um certo sucesso e viajando por toda a
Itália. Em 1929 conheceu a mulher do príncipe Luis Napoleão, Carlota Bonaparte, por
quem se apaixonou. Em 1831, após um reconhecimento tributado em Paris, deixa
Roma por Florença e em seguida por Veneza. Cai então numa profunda depressão que
o levará ao suicídio em 1835, aos 39 anos.
domingo, 15 de maio de 2011
Leopoldo Roberto (1)
Eugenia fez signal a um francez, que não era principe, nem duque, nem se quer especieiro rico: era um pintor, um amigo querido de Bonaparte.
—Senhor Leopoldo Roberto—disse ella—conhece aquelle portuguez que está falando com a princeza Carlota?
—Fernando?... Conheço-o desde que elle chegou a Florença—respondeu o palido mancebo.—Achei-o um desgraçado.
—Desgraçado?!—atalhou Paulina.—Que infortunios são os d'elle?
—Os extremos: os do amor sem esperança—respondeu o pintor.
Paulina encontrou os olhos de sua irmã, que pareciam dizer-lhe: «ouves?»
Leopoldo Roberto esperou novas perguntas das meninas. Passados minutos, aventurou-se o artista a perguntar:
—Pois não conheciam o seu patricio?
—Foi-nos apresentado pelo principe de Monfort—disse Eugenia—mas dos seus infortunios não sabiamos.
—É de Florença a senhora que elle ama?—perguntou Paulina.
—É de Portugal.
—E elle está em Italia?!—accrescentou Eugenia—porque não vae então para Portugal?
—Andará a viajar para conhecer se ella o ama, e sente a ausencia—disse Paulina.
—A dama está em Florença. A formosa Paulina conhece-a.
—Eu!...
—Sim, minha senhora. Digo-lhe o grande amor de Fernando, e peço-lhe que o salve.
O pintor ia retirar: Paulina exclamou:
—Venha cá... explique-me esse mysterio... Eu conheço a senhora portugueza que Fernando ama?!
—Os anjos de innocencia nem mesmo tem o coração que adivinha?—replicou Leopoldo—Hei de eu por força dizer-lhe que Fernando queria morrer sem que a imprevista Paulina soubesse que o matava?!
As meninas não proferiram um monosyllabo. Leopoldo, o ascetico amante de Carlota Napoleão, approximou-se de Fernando, que falava com a princeza. Levava nos olhos uma alegria desusada. Carlota mudou de local, e o pintor disse a Fernando:
—Quebrei o encanto. Paulina sabe que a amas. É bom que estas mulheres se glorifiquem com saberem os nomes das victimas. Morrer obscuramente!... morrer ignorado da mulher por quem diluimos a vida em lagrimas de sangue! Isso não! é preciso abrir larga fenda no peito, arrancar fóra o coração, e mostrar-lh'o. Então sim! ao menos servimos á gloria da mulher que se amou. Ella, se não póde dizer «amei-o,» diz «matei-o!» e póde ser que o diga com piedade; venha, pois, essa piedade posthuma, que deve ser regalo do cadaver! Que maior serviço posso eu fazer-te, amigo?
Fernando apertou convulsamente a mão de Leopoldo, saiu aos jardins a dilatar o peito, a desdobrar da alegria que vos commove como os assaltos do medo. O pintor não o seguiu, dizendo:
—Vae só, que eu não tenho alegria nem lagrimas que esconder. Recorda-te sempre de mim: propiciei-te o idolo em cujas aras era desconhecido holocausto. Agora pódes acabar, que cumpristes a tua missão. A minha ainda está imperfeita.
Camilo Castelo Branco, Agulha em Palheiro, 2ª edição, 1865. p. 112-117.
—Senhor Leopoldo Roberto—disse ella—conhece aquelle portuguez que está falando com a princeza Carlota?
Louis Léopold Robert (1794-1835)
—Fernando?... Conheço-o desde que elle chegou a Florença—respondeu o palido mancebo.—Achei-o um desgraçado.
—Desgraçado?!—atalhou Paulina.—Que infortunios são os d'elle?
—Os extremos: os do amor sem esperança—respondeu o pintor.
Paulina encontrou os olhos de sua irmã, que pareciam dizer-lhe: «ouves?»
Leopoldo Roberto esperou novas perguntas das meninas. Passados minutos, aventurou-se o artista a perguntar:
—Pois não conheciam o seu patricio?
—Foi-nos apresentado pelo principe de Monfort—disse Eugenia—mas dos seus infortunios não sabiamos.
—É de Florença a senhora que elle ama?—perguntou Paulina.
—É de Portugal.
—E elle está em Italia?!—accrescentou Eugenia—porque não vae então para Portugal?
—Andará a viajar para conhecer se ella o ama, e sente a ausencia—disse Paulina.
—A dama está em Florença. A formosa Paulina conhece-a.
—Eu!...
—Sim, minha senhora. Digo-lhe o grande amor de Fernando, e peço-lhe que o salve.
O pintor ia retirar: Paulina exclamou:
—Venha cá... explique-me esse mysterio... Eu conheço a senhora portugueza que Fernando ama?!
—Os anjos de innocencia nem mesmo tem o coração que adivinha?—replicou Leopoldo—Hei de eu por força dizer-lhe que Fernando queria morrer sem que a imprevista Paulina soubesse que o matava?!
As meninas não proferiram um monosyllabo. Leopoldo, o ascetico amante de Carlota Napoleão, approximou-se de Fernando, que falava com a princeza. Levava nos olhos uma alegria desusada. Carlota mudou de local, e o pintor disse a Fernando:
Carlota Bonaparte, retratada por Louis Léopold Robert, 1831
—Quebrei o encanto. Paulina sabe que a amas. É bom que estas mulheres se glorifiquem com saberem os nomes das victimas. Morrer obscuramente!... morrer ignorado da mulher por quem diluimos a vida em lagrimas de sangue! Isso não! é preciso abrir larga fenda no peito, arrancar fóra o coração, e mostrar-lh'o. Então sim! ao menos servimos á gloria da mulher que se amou. Ella, se não póde dizer «amei-o,» diz «matei-o!» e póde ser que o diga com piedade; venha, pois, essa piedade posthuma, que deve ser regalo do cadaver! Que maior serviço posso eu fazer-te, amigo?
Fernando apertou convulsamente a mão de Leopoldo, saiu aos jardins a dilatar o peito, a desdobrar da alegria que vos commove como os assaltos do medo. O pintor não o seguiu, dizendo:
—Vae só, que eu não tenho alegria nem lagrimas que esconder. Recorda-te sempre de mim: propiciei-te o idolo em cujas aras era desconhecido holocausto. Agora pódes acabar, que cumpristes a tua missão. A minha ainda está imperfeita.
Camilo Castelo Branco, Agulha em Palheiro, 2ª edição, 1865. p. 112-117.
sábado, 14 de maio de 2011
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Bebedeiras
Um novo blog - O economista português - promete revelar a 3 de Junho uma solução para Portugal. Conhecendo o autor, não duvido nem por um momento que o fará. Entretanto vai discutindo Portugal perante o memorando da troika.
Recomendável para quem não sofra de depressões nem de delírios optimistas.
Se os portugueses estivessem sóbrios, ouviríamos uma choradeira colectiva perante as promessas estapafúrdias: «prometem-nos o que não têm, querem a nossa definitiva ruína». Mas não ouvimos nada disso. Os portugueses não estão sóbrios. Os portugueses estão na sua terceira bebedeira nacional numa geração; a primeira foi a bebedeira revolucionária; a segunda a bebedeira europeia, quase comatosa no caso do Euro; a terceira é a bebedeira «o alemão paga sempre». Se continuar, vão ligar-nos à máquina – ou desligar a máquina.
Recomendável para quem não sofra de depressões nem de delírios optimistas.
Se os portugueses estivessem sóbrios, ouviríamos uma choradeira colectiva perante as promessas estapafúrdias: «prometem-nos o que não têm, querem a nossa definitiva ruína». Mas não ouvimos nada disso. Os portugueses não estão sóbrios. Os portugueses estão na sua terceira bebedeira nacional numa geração; a primeira foi a bebedeira revolucionária; a segunda a bebedeira europeia, quase comatosa no caso do Euro; a terceira é a bebedeira «o alemão paga sempre». Se continuar, vão ligar-nos à máquina – ou desligar a máquina.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
terça-feira, 10 de maio de 2011
Há 30 anos
10 de Maio de 1981, 22h30. François Miterrand dirige-se aos franceses:
"Esta vitória é em primeiro lugar a vitória das forças da juventude, das forças do trabalho, das forças da criativas, das forças da renovação que se reuniram num grande impulso nacional, pelo emprego, pela paz e pela liberdade".
sábado, 7 de maio de 2011
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Metáfora
Pormenor de muralha antiga de Barcelona (Museu de História da Cidade). Uma cidade é isto: uma composição estratificada de pedras de várias origens e aparelhos, onde é possível ler a acção do homem no tempo. Construção, desconstrução, reconstrução. Demolir e edificar. Fazer de novo a reaproveitar.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Vamos lá então
Como o PSD disse, não fazia sentido propor um programa nacional antes de conhecer a decisão dos nossos credores externos acerca do que fazer com Portugal e as suas dívidas.
Como a troika explicou, o adiamento do pedido de ajuda aumentou as dificuldades e portanto o PS vai ter que rever o seu programa num dos seus fundamentos cruciais.
Vamos então lá ouvir os partidos!
Temos pouco tempo. Ou tempo demais?
Como a troika explicou, o adiamento do pedido de ajuda aumentou as dificuldades e portanto o PS vai ter que rever o seu programa num dos seus fundamentos cruciais.
Vamos então lá ouvir os partidos!
Temos pouco tempo. Ou tempo demais?
quarta-feira, 4 de maio de 2011
A crise foi empurrada para a frente
Bruxelas decidiu: Portugal não sai agora do Euro. A crise foi adiada. Até ao próximo Orçamento? A depressão vai continuar.
Entretanto, a margem de decisão nacional foi amputada drasticamente.
Entretanto, a margem de decisão nacional foi amputada drasticamente.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Decepção
A fotografia do post de ontem não é manipulada ou imaginária. Aquelas pessoas, uma delas com uma criança ao colo, às voltas dentro de um círculo de grades, fustigadas na praia pelo vento, existem mesmo. Aquelas outras pessoas distantes do que ali se passa, porque atentas ao horizonte, existem mesmo. Eu limitei-me a tirar a foto. É o meu País, a sua classe dirigente, que ali está, fechada num pequeno anel que não seria difícil talvez transpor se decidisse olhar também para o horizonte.
Confesso que esperava mais dos "meus" comentadores.
Confesso que esperava mais dos "meus" comentadores.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
domingo, 1 de maio de 2011
sábado, 30 de abril de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Gago, arménio
Gagik Arakelyan nasceu na Arménia soviética em 1965. Estudou artes, sociologia e filosofia na Universidade de Yerevan (capital da Arménia) e passou por Moscovo para completar a formação artística. Em 1994 veio para Espanha, procurando trabalho e fazendo exposições em diversas cidades. No fim da Rambla, em Barcelona, podemos encontrá-lo, com as suas pequenas pinturas de registo do bairro Gótico.
Gago - nome com que assina - perscruta os seus eventuais clientes - com um olhar suave mas não ingénuo. - Donde es? - Portugal.
- Há em Lisboa, diz, um grande museu de um homem que se chamou Calouste Gulbenkian. Sabes a nacionalidade dele? - Arménio, respondo.
Gago sorri, surpreendido. És o primeiro português que encontro que sabe a nacionalidade do meu compatriota. Te darei, por isso, um regalo. Podes escolher uma das minhas pinturas.
Gago - nome com que assina - perscruta os seus eventuais clientes - com um olhar suave mas não ingénuo. - Donde es? - Portugal.
- Há em Lisboa, diz, um grande museu de um homem que se chamou Calouste Gulbenkian. Sabes a nacionalidade dele? - Arménio, respondo.
Gago sorri, surpreendido. És o primeiro português que encontro que sabe a nacionalidade do meu compatriota. Te darei, por isso, um regalo. Podes escolher uma das minhas pinturas.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
A crise continua
Leio no Soir (entre Bruxelas e Frankfurt) o novo provérbio dos belgas, há 10 meses à procura de um governo:
"Quando não há solução é porque não há problema".
"Quando não há solução é porque não há problema".
terça-feira, 26 de abril de 2011
Corto Maltese
Umberto Eco: Quando ho voglia di rilassarmi leggo un saggio di Engels, se invece desidero impegnarmi leggo Corto Maltese.
Tradução livre: Para me descontrair leio um ensaio de Engels, mas é em Corto Maltese que procuro o envolvimento.
Viagem imaginária de Hugo Pratt. Para visitar aqui.
Tradução livre: Para me descontrair leio um ensaio de Engels, mas é em Corto Maltese que procuro o envolvimento.
Viagem imaginária de Hugo Pratt. Para visitar aqui.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
As três datas do 25 de Abril
1. Uma data singular: a revolução
No Portugal do século XX, o 25 de Abril foi o acontecimento mais importante. Podia ter originado uma alteração de regime político e arrastado mudanças na classe dirigente, podia ter introduzido novas expectativas sociais e criado condições para uma reorientação da economia. Foi tudo isso, que já é muito, mas foi muito mais do que isso. Implicou um corte profundo na história, uma verdadeira ruptura com o passado. E por isso foi uma data singular.
As rupturas históricas não são o mero resultado da vontade dos intervenientes, mas o produto de uma conjugação rara de factores, de uma sincronização de descontentamentos e de disponibilidade de meios para lhes dar voz e direcção. Foi o que sucedeu com o 25 de Abril de 1974.
Talvez pudéssemos resumir a quatro os elementos que confluem para o 25 de Abril. Em primeiro lugar, naturalmente, devemos pôr em destaque o movimento militar, conduzido com coragem e generosidade pelos capitães de Abril. Esse movimento começara por definir intenções do foro exclusivamente militar, mas rapidamente se apercebeu de que o regime da ditadura era surdo aos seus apelos, e que teria de ser derrubado pela força e substituído por um regime democrático que assegurasse a normalidade institucional no país.
Antes porém desse acto de insubordinação que foi absolutamente decisivo, está a Resistência, um somatório longo e persistente de vontades que se opuseram à ditadura, reclamando a liberdade. A história do Autoritarismo que regeu Portugal entre 1926 e 1974 foi percorrida, ininterruptamente, por gestos de insubmissão, protestos dos mais variados sectores sociais, a que a Ditadura respondeu com repressão violenta, prisão, eliminação física, discriminação, desterro, com fundamento em opinião ideológica e política. A resistência acumulada ao longo das quase cinco décadas anteriores não só conferiu legitimidade ao 25 de Abril de 1974, como manteve viva uma cultura da liberdade que foi fundamental para dar corpo ao regime construído em seguida. Este é o segundo elemento.
O terceiro é a questão colonial. O 25 de Abril está indissoluvelmente ligado a ela, e à guerra que, desde 1962, o Estado Autoritário levou a cabo em África. O prolongamento da guerra tornou o sacrifício imposto à juventude cada vez mais intolerável e foi engrossando a consciência pública da sua inutilidade. Mas o autoritarismo tinha associado de tal forma a sua continuidade à permanência das colónias que qualquer forma de relacionamento entre Portugal e os países africanos de língua portuguesa, baseada na autonomia e na cooperação, implicava forçosamente uma mudança de regime.
Finalmente, e em quarto lugar, há que referir o movimento popular que no próprio dia 25 de Abril e seguintes, por todo o Portugal, e de forma expontânea, saiu para a rua exprimindo apoio ao movimento dos capitães e exigindo a democratização da sociedade portuguesa. Esse movimento popular colocou de um modo ainda mal estruturado, mas vigoroso, a urgência de novas instituições políticas, e foi nesse contexto que se formaram os partidos políticos e se definiu uma matriz pluralista para a nova República.
Estes são os argumentos que invoco para falar de revolução a propósito do 25 de Abril.
2. Uma data histórica: um processo de mudança
A ruptura do 25 de Abril inscreve-se num ciclo de grandes transformações da sociedade portuguesa, e funciona como um acelerador da mudança. É possível destacar três níveis de mudança.
A mudança social foi um desses níveis. Os campos tinham começado a perder gente na década de 60 e a tendência para a diminuição da população rural e para o aumento percentual da população urbana acentuou-se nas últimas duas décadas. A urbanização trouxe uma diversificação social e um aumento do peso relativo das classes médias. As áreas de Lisboa e Porto foram as principais beneficiárias desse movimento populacional, e o interior o principal sacrificado, mas surgiram igualmente cidades médias com capacidade de atracção, sobretudo no sector dos serviços. Alteraram-se os padrões de consumo e muitos indicadores civilizacionais, desde o tipo de família à condição da mulher, desde a disseminação da informação à ocupação dos tempos livres.
Em paralelo com estas mudanças sociais, assistimos ao crescimento do conjunto dos sistemas sociais, funções modernas do Estado. Trata-se, entre outros, dos sistemas de ensino, de segurança social e de saúde. O Estado Providência deu os primeiros passos na década de 1960 e adquiriu contornos de sistema depois da revolução de 1974. O sistema nacional de saúde foi consagrado na Constituição de 1976. O ensino obrigatório que era de 4 anos em 1974, subiu para 9 em 1986. O número de alunos duplicou nas últimas quatro décadas. Só os estudantes do ensino superior decuplicaram no mesmo período (de 40000 para cerca de 400000).
Mudanças políticas estruturais situam-se a um terceiro nível. O 25 de Abril assegurou a refundação de um Estado de Direito baseado nas liberdades e garantias individuais, na divisão de poderes, na independência dos tribunais, na representação plural mediada pelos partidos políticos. Entre os aspectos que mais creditam a nova República da Democracia podemos citar o poder local e a integração europeia.
Os municípios constituem hoje a instância mais importante e generalizada da descentralização administrativa. Estiveram logo a seguir ao 25 de Abril na primeira linha do combate pelo desenvolvimento das comunidades. Dados os poderes que obtiveram e os meios que controlam, a sua influência na vida das populações e no ordenamento do território é hoje decisiva.
Portugal aderiu à Comunidade Europeia em 1986, um acto político que culminou uma aproximação de várias décadas. As instituições portuguesas adaptaram-se com relativa facilidade à nova ordem jurídica e aos processos de decisão comunitários. A economia portuguesa, uma economia muito aberta e que tinha já nos países europeus os principais parceiros, tem mantido uma capacidade de resposta interessante, e conseguiu cumprir os critérios da convergência monetária. A Europa constitui hoje um espaço de afirmação da identidade nacional e de projecção da cultura portuguesa.
3. Uma data mágica: de quantas vidas é feita a vida de um homem?
Suponho que a minha condição de historiador pesou no convite para participar nesta iniciativa. Procurei acima não desmerecer dessa condição, conhecendo embora não só as minhas próprias limitações, como a pouca distância a que nos encontramos de uma data que pretendemos avaliar historicamente.
Acontece, no entanto que sendo esta publicação norteada pelo objectivo de dar a palavra a quem, tendo nascido em 1974, perfaz agora 25 anos, eu me acho autorizado a prestar igualmente um testemunho pessoal. É que eu tinha exactamente 25 anos a 25 de Abril e acabo portanto de perfazer meio século. Uma vida cortada pelo meio a 25 de Abril de 1974.
Quero dizer então que o 25 de Abril representou o fim do medo, tanto do medo resultante das ameaças de perseguição e de repressão, como do medo resultante da distância a que sentia os meus compatriotas do desenvolvimento, da ciência, da cultura, dos factores da dignidade humana.
Para a minha geração o 25 de Abril foi um desafio sem medida, que aceitámos com a mesma generosidade com que tínhamos combatido a Ditadura, com o mesmo empenho com que tínhamos resistido à Ditadura, mas sobretudo com o gosto pelo sonho de quem subitamente acha tudo urgente e possível. Tive - tivemos - a experiência única de quem atravessa uma fronteira, a fronteira da Liberdade. Por isso afirmo que o 25 de Abril é uma data mágica.
Que é feito de muitos sonhos, agora que decorreram 25 anos? Do paradeiro de alguns, do destino de outros poderei falar com decepção e até desgosto. Mas posso continuar a sonhar, e esse é o legado inestimável do 25 de Abril. Valeu a pena!
[Texto publicado em 1999]
No Portugal do século XX, o 25 de Abril foi o acontecimento mais importante. Podia ter originado uma alteração de regime político e arrastado mudanças na classe dirigente, podia ter introduzido novas expectativas sociais e criado condições para uma reorientação da economia. Foi tudo isso, que já é muito, mas foi muito mais do que isso. Implicou um corte profundo na história, uma verdadeira ruptura com o passado. E por isso foi uma data singular.
As rupturas históricas não são o mero resultado da vontade dos intervenientes, mas o produto de uma conjugação rara de factores, de uma sincronização de descontentamentos e de disponibilidade de meios para lhes dar voz e direcção. Foi o que sucedeu com o 25 de Abril de 1974.
Talvez pudéssemos resumir a quatro os elementos que confluem para o 25 de Abril. Em primeiro lugar, naturalmente, devemos pôr em destaque o movimento militar, conduzido com coragem e generosidade pelos capitães de Abril. Esse movimento começara por definir intenções do foro exclusivamente militar, mas rapidamente se apercebeu de que o regime da ditadura era surdo aos seus apelos, e que teria de ser derrubado pela força e substituído por um regime democrático que assegurasse a normalidade institucional no país.
Antes porém desse acto de insubordinação que foi absolutamente decisivo, está a Resistência, um somatório longo e persistente de vontades que se opuseram à ditadura, reclamando a liberdade. A história do Autoritarismo que regeu Portugal entre 1926 e 1974 foi percorrida, ininterruptamente, por gestos de insubmissão, protestos dos mais variados sectores sociais, a que a Ditadura respondeu com repressão violenta, prisão, eliminação física, discriminação, desterro, com fundamento em opinião ideológica e política. A resistência acumulada ao longo das quase cinco décadas anteriores não só conferiu legitimidade ao 25 de Abril de 1974, como manteve viva uma cultura da liberdade que foi fundamental para dar corpo ao regime construído em seguida. Este é o segundo elemento.
O terceiro é a questão colonial. O 25 de Abril está indissoluvelmente ligado a ela, e à guerra que, desde 1962, o Estado Autoritário levou a cabo em África. O prolongamento da guerra tornou o sacrifício imposto à juventude cada vez mais intolerável e foi engrossando a consciência pública da sua inutilidade. Mas o autoritarismo tinha associado de tal forma a sua continuidade à permanência das colónias que qualquer forma de relacionamento entre Portugal e os países africanos de língua portuguesa, baseada na autonomia e na cooperação, implicava forçosamente uma mudança de regime.
Finalmente, e em quarto lugar, há que referir o movimento popular que no próprio dia 25 de Abril e seguintes, por todo o Portugal, e de forma expontânea, saiu para a rua exprimindo apoio ao movimento dos capitães e exigindo a democratização da sociedade portuguesa. Esse movimento popular colocou de um modo ainda mal estruturado, mas vigoroso, a urgência de novas instituições políticas, e foi nesse contexto que se formaram os partidos políticos e se definiu uma matriz pluralista para a nova República.
Estes são os argumentos que invoco para falar de revolução a propósito do 25 de Abril.
2. Uma data histórica: um processo de mudança
A ruptura do 25 de Abril inscreve-se num ciclo de grandes transformações da sociedade portuguesa, e funciona como um acelerador da mudança. É possível destacar três níveis de mudança.
A mudança social foi um desses níveis. Os campos tinham começado a perder gente na década de 60 e a tendência para a diminuição da população rural e para o aumento percentual da população urbana acentuou-se nas últimas duas décadas. A urbanização trouxe uma diversificação social e um aumento do peso relativo das classes médias. As áreas de Lisboa e Porto foram as principais beneficiárias desse movimento populacional, e o interior o principal sacrificado, mas surgiram igualmente cidades médias com capacidade de atracção, sobretudo no sector dos serviços. Alteraram-se os padrões de consumo e muitos indicadores civilizacionais, desde o tipo de família à condição da mulher, desde a disseminação da informação à ocupação dos tempos livres.
Em paralelo com estas mudanças sociais, assistimos ao crescimento do conjunto dos sistemas sociais, funções modernas do Estado. Trata-se, entre outros, dos sistemas de ensino, de segurança social e de saúde. O Estado Providência deu os primeiros passos na década de 1960 e adquiriu contornos de sistema depois da revolução de 1974. O sistema nacional de saúde foi consagrado na Constituição de 1976. O ensino obrigatório que era de 4 anos em 1974, subiu para 9 em 1986. O número de alunos duplicou nas últimas quatro décadas. Só os estudantes do ensino superior decuplicaram no mesmo período (de 40000 para cerca de 400000).
Mudanças políticas estruturais situam-se a um terceiro nível. O 25 de Abril assegurou a refundação de um Estado de Direito baseado nas liberdades e garantias individuais, na divisão de poderes, na independência dos tribunais, na representação plural mediada pelos partidos políticos. Entre os aspectos que mais creditam a nova República da Democracia podemos citar o poder local e a integração europeia.
Os municípios constituem hoje a instância mais importante e generalizada da descentralização administrativa. Estiveram logo a seguir ao 25 de Abril na primeira linha do combate pelo desenvolvimento das comunidades. Dados os poderes que obtiveram e os meios que controlam, a sua influência na vida das populações e no ordenamento do território é hoje decisiva.
Portugal aderiu à Comunidade Europeia em 1986, um acto político que culminou uma aproximação de várias décadas. As instituições portuguesas adaptaram-se com relativa facilidade à nova ordem jurídica e aos processos de decisão comunitários. A economia portuguesa, uma economia muito aberta e que tinha já nos países europeus os principais parceiros, tem mantido uma capacidade de resposta interessante, e conseguiu cumprir os critérios da convergência monetária. A Europa constitui hoje um espaço de afirmação da identidade nacional e de projecção da cultura portuguesa.
3. Uma data mágica: de quantas vidas é feita a vida de um homem?
Suponho que a minha condição de historiador pesou no convite para participar nesta iniciativa. Procurei acima não desmerecer dessa condição, conhecendo embora não só as minhas próprias limitações, como a pouca distância a que nos encontramos de uma data que pretendemos avaliar historicamente.
Acontece, no entanto que sendo esta publicação norteada pelo objectivo de dar a palavra a quem, tendo nascido em 1974, perfaz agora 25 anos, eu me acho autorizado a prestar igualmente um testemunho pessoal. É que eu tinha exactamente 25 anos a 25 de Abril e acabo portanto de perfazer meio século. Uma vida cortada pelo meio a 25 de Abril de 1974.
Quero dizer então que o 25 de Abril representou o fim do medo, tanto do medo resultante das ameaças de perseguição e de repressão, como do medo resultante da distância a que sentia os meus compatriotas do desenvolvimento, da ciência, da cultura, dos factores da dignidade humana.
Para a minha geração o 25 de Abril foi um desafio sem medida, que aceitámos com a mesma generosidade com que tínhamos combatido a Ditadura, com o mesmo empenho com que tínhamos resistido à Ditadura, mas sobretudo com o gosto pelo sonho de quem subitamente acha tudo urgente e possível. Tive - tivemos - a experiência única de quem atravessa uma fronteira, a fronteira da Liberdade. Por isso afirmo que o 25 de Abril é uma data mágica.
Que é feito de muitos sonhos, agora que decorreram 25 anos? Do paradeiro de alguns, do destino de outros poderei falar com decepção e até desgosto. Mas posso continuar a sonhar, e esse é o legado inestimável do 25 de Abril. Valeu a pena!
[Texto publicado em 1999]
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