[Como se iniciou: Prelúdio]
Esse já era o terceiro dia em que Giórgia
acordava sozinha, ela foi até a cozinha comer algo. Com seus 6 anos de idade já
sabia que não podia cozinhar nada, pegou uma metade de maça, havia entendido
que precisaria guardar para mais tarde, colocou meio copo de iogurte de
morango, seu favorito e foi até o computador. Colocou um desenho para rodar, a
TV saiu do ar há dois dias, sorte a sua que seus pais sempre copiavam muitos
desenhos para o computador. Depois de estar bem acordada foi para a varanda de
sua casa, brincar um pouco, mesmo sozinha ela conseguia se divertir. Lembrou de
uma brincadeira que sua mãe lhe ensinou, pegou um giz de cera e desenhou no
chão uma amarelinha, ficou pensando em como sua mãe ficaria orgulhosa em ver
seu trabalho. E brincou, brincou muito, brincou até suar.
Gio não sabia ver as horas, mas seu estômago
dizia que era hora do almoço, novamente em frente à geladeira pensou:
- Como seria bom comer algo quentinho...
Escolheu uns tomates bem pequenos, uma gelatina
verde (não sabia o sabor), um copo de água e lembrou que no armário tinha um
pouco de salgadinho. Esse foi seu almoço, há alguns dias atrás seria o almoço
perfeito sobre o olhar de uma criança, porém ela já não aguentava mais.
Depois do almoço dormiu um pouco na sala, quando
acordou tentou novamente usar o telefone, percebeu que ele continuava mudo. Foi
até em frente de sua casa, levou uma boneca e um pouco do salgadinho que
sobrou. Sempre andava com a bolsa da sua mãe, lá tinha alguns curativos, batom,
perfume, escova de cabelo, alguns papeis, um pouco de dinheiro e a carteira do
seu pai. Ela ficou olhando para o céu, sempre vermelho, o dia todo parecia que
o céu estava em chamas, ela não entendia mais o porquê não ficava de dia, com
um sol forte e nem de noite, com a lua bem bonita no céu. Era sempre esse céu
vermelho e cheio de nuvens.
Mais um dia se passou, as ruas desertas, a TV
chuviscando, a internet fora do ar, o telefone mudo e nenhum dos seus
familiares chegaram. Voltou para seu quarto, estava com sono e cansada de
esperar. Antes passou no quarto de seus pais, lembrou de como eles falaram que
fugiriam disso tudo. Sua mãe estava muito doente e seu pai irritado demais.
Desejou que eles acordassem logo, não queria que continuassem dormindo tanto,
desde aquele dia que foram dormir e continuavam ali na cama, dormindo há muitos
dias. Ela fechou à porta do quarto e foi se deitar, mas um dia dormindo e
desejando que no dia seguinte seus pais finalmente acordassem. [...]
Imagem