Diz-me com que nódoa andas dir-te-ei que pano és.
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made in woven #13
Inesperadamente aquele tecido com acabamentos tão intensos, tão profundos, com tratamentos dos mais sofisticados e persistentes, um dia, depois de passar por uma simples limpeza a seco, acordara cru, como um pano cru. Todas as cores o deixaram, todas as protecções, todos os efeitos especiais, tudo aquilo que o tinha feito um tecido cobiçado pelos mais afamados costureiros e pelas mais glamorosas modelos. Perdera o toque, o brilho, a subtileza, a queda suave, o passear ondulante, e era agora um pano liso, baço, teso, seco, empapelado. Nunca mais tocaria naquelas peles sedosas, nunca mais lhe passariam pelos poros os odores dos perfumes, nunca mais roçaria num corpo ardente de desejo. Tudo se fora naquela lavagem traiçoeira. Nas nódoas estava afinal o seu poder. Mesmo tendo sido fugaz a sua presença junto à vida do corpo que amava, agora estava preso na pureza estúpida do pano cru, virado para si próprio, em dobras e vincos feitos no rigor duma geometria de conveniência, feita moeda de compensação.
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made in woven #12
Um porquê pode fazer uma dúvida, dois porquês podem fazer uma incredulidade, três porquês podem fazer uma indignação, quatro porquês podem fazer uma incompreensão, cinco porquês podem fazer um desespero, seis porquês podem fazer uma desistência, mas a partir do sétimo porquê revela-se aquela repetição que já só é própria do amor resistente.
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made in woven #11
Os punhos e os colarinhos gastos são os principais sinais de envelhecimento das camisas. Muitas vezes podem ser substituídos e põem-nas como novas, aptas para novas etapas de vaidade e serviço. No caso do coração do homem o que se desgasta primeiro são as ilusões de correspondência, e depois são as frustrações de compreensão, no entanto, ambas as zonas são demasiado escorregadias para receber pano novo.
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made in woven #10
O cerzir dos mercados: os violentos ataques à zona eurogena só podem ser combatidos com robustas fazendas púbicas.
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made in woven #8
Compreender o esgaçado é meio caminho para condescender com o roto e três quartos do caminho para andar de mão dada com o nu.
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made in woven #7
Quando foi alfaiate e se especializou em casacas de virar, o seu maior problema eram os bolsos: tinham de ser grandes em qualquer dos lados.
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made in woven #6
Há duas hipóteses para quem se sente feito num trapo: ou torce e entrelaça com outro trapo podendo chegar a fazer de tapete, ou esfarrapa-se, mascara-se de fibra, e sonha em vir a encher almofadas. Se Jesus fosse filho de tecelão teria antes sentenciado: Panniculus eris et in panniculus reverteris.
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made in woven #5
Toda a bainha pode ser folga, mas nem toda a folga pode ser bainha.
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made in woven #4
Existem dois tipos de gajos chatos: os 'ferros de engomar' , que passam por cima dos outros como quem pensa que os estão a alisar, e os 'etiquetadores' , que estão sempre a indicar aos outros a que temperatura é que podem encolher.
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made in woven #3
Era o seu último dia no tear. Destinara o derradeiro padrão já uns anos antes, e fora guardando os fios coloridos dos restos das colecções, alguns já bem esbatidos pela curtição do tempo; mas fizera-o com pouca convicção, mesmo que sem medo das nostalgias a vir, e apenas sabendo que um dia os usaria para tentar enganar o desespero com uma falsa bomba de saudade, e com uma mais falsa ainda bainha de compreensão. Quem depois de mim urdir, bom urdidor de mim fará, consolou-se sem razão de consolo.
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