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Confesso que cheguei a criar algumas expectativas. Acontecia esporadicamente, mas parecia vir acompanhado dos condimentos todos e com uma cadência que fazia antever hipe garantido. O Meditação na Pastelaria e o Da Literatura envolviam-se em escaramuças à volta de criticas feitas por ambos aos mesmos livros,  verdadeiras peixeiradas que escorriam pela padiola dos posts e dos comentários (do MnaP), numa varinagem de escrita, mais ou menos explícita, que dava gosto ler e acompanhar e se possível até fazer o relato. Tudo faria prever que os responsáveis pelos jornais e revistas em que ambos escrevem aproveitassem esse tom de ejaculação literária assistida para o capitalizarem em polémica regular, aumentando tiragens, publicidade e vendas, criando até a devida rede de pittetes e leonardettes , e porque não merchandizing mesmo, que a pudesse alimentar, rentabilizar e multiplicar (guerreiro vs lucas, ou até uma vasconcelos vs silva). Mas não, tudo se parece ter esfumado em meia dúzia de galhardetes, acabaram os miminhos, nem uma acusação de plágio, nem de paneleirice, nem d'és feia como cornos, nem uma contagem de virgulas, nem uma acusação de encher-chouriçagem, copypastismo, nadinha disto, apenas uns ameaços de ironia, mas já nada a prometer a perenidade do cinismo, nada que deixasse ainda uma gretinha para alguém lá ir escarafunchar.
A perda desta energia de avacalhamento que está no nervo ciático da critica literária é, mais do que um sinal de perda de húmus criador, uma absoluta rendição ao jornalismo paternalista e automático (veja-se este cirúrgico post do Henrique F.) , que já deixou o mínimo contacto com o risco e a sublimação de neuras, aquilo que , convenhamos, efectivamente fundou aquele local em que crítica e  literatura se juntam e que deve ficar ali bem juntinho das portas do inferno. Já há falta de bons negócios e os poucos que aparecem deixamo-los a escorrer assim negligentemente pelos algerozes do cuidadinho que é para não estragar.

Marinho em formato jimbras

Não sei se já vos tinha dito que escreveria por fim-de-semana - e nem sequer precisava de ser de ponte - um livro tipo-mario-de-carvalho, não fora gostar mais de pastéis de bacalhau com arroz de grelos do que de escrever livros. E isto não é porque eu seja alguma bisca a escrever livros, não, isto deve-se a ter no meu pódio de irritações técnicas esse preciso gajo, enquanto gajo que escreve livros, - se fosse barbeiro por exemplo não me faria tanta aflição - de sua graça: mário de carvalho. Isto é um capricho inútil e estúpido, daqueles que há que acarinhar quando possuímos o monótono equilíbrio e a insonsa sanidade, próprias dos seres banais, e que nos permite ascender adjacentemente ao maravilhoso mundo dos paranóicos. Contudo, depois de ter pegado e aberto o seu último folhado de letras, o primeiro parágrafo - que é donde vou neste momento - entrou pela minha córnea desta forma: «a bejeca deixou fímbria de branco poroso a ferver no lábio de abreu. O ar de desdém, basófio e curto, derivava agora, nasalado, pela fresta da comissura»; ora tomando por bom que não fui traído por nenhum glaucoma repentino sou levado a concluir que a fusão pirosa de camilo com mario zambujal podia ser aproveitada para decorar pacotes de shortcake mas podia evitar-se o abate de árvores. Até este post era evitável mas se até o diabo reza podemos sempre seguir para bingo; não tarda é Natal.

Nota: este post custou 16,20 € menos 10% de cartão aderente

Bonecas de Luxo

Um dos mais radiosos e eloquentes sinais da nossa oficial decadência é que noutro dia a mena mónica deu uma entrevista pós-menopausica ao jornal de negócios e já ninguém ligou nenhuma. Mena Mónica foi-se transformando numa espécie de medina carreira da misandria e longe vão os tempos em que as suas alarvidades de largo espectro entusiasmavam ou irritavam hordas de desocupados. No entanto, há sempre uma réstia de compulsão interior que nos (me, vá) leva a ler merdas do calibre de «as mulheres também gostam de seduzir os homens mas não o fazem duma forma tão (...) pateta.», quando podia perfeitamente ter ocupado o tempo a comer um coelho na brasa duma tasca aqui pertinho, mesmo que não se vislumbrem gajas em condições num raio de 5 kilómetros, tirando uma que há atrasado vi num semáforo a comer um calipo e que vestia um filha-da-puta-dum-vestido justinho em tons que me lembravam a madre teresa de calcutá mas sem as partes madre nem calcutá.
Dar audiência a mena mónica hoje significa que se aguardam frases como «nunca estive num conselho de administração mas imagino que falem como nas casas de banho de homens» para tentar explicar o estado obsceno do mundo, o que também, diga-se de passagem, não difere muito em qualidade de outras explicações mais sofisticadas que incluem desde a ganância da espécie em geral às famosas dívidas e dúvidas soberanas em particular.
Mena Mónica representa desde há uns anos uma pièce de resistence do valha-me deus com saias, tudo fazendo para que qualquer mulher que se preze aspire a ser violada por marcianos coxos ou inclusive carpinteiros vindos de Urano ou Filatelistas de Saturno. Terráqueos a evitar em absoluto, nem sequer para um chazinho mixuruca, pois fazem desabar sobre a mulher a sua vertigem para o poder e o domínio, (excepto com mena mónica que só copulou em regime de vantagens comparativas) principalmente os mais feios (mêninha não foi totalmente clara em relação aos porcos e aos maus)
Mena Mónica deveria assim ser preservada, julgo não ser ainda necessário investir no formol,  e face a isto: «os homens têm a sorte de a parte estética e da indumentária ser secundária. A mulher ainda é vista como uma boneca de luxo. (...) gosto imenso da cor de cabelo da Assunção Esteves» poderia, com proveito de todos, designadamente da maravilhosa zona saloia, ser-lhe atribuída a cátedra Vidal Eçasson vitalícia no politécnico da Malveira.

MnhEC

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Miguel Esteves Cardoso escreve há uns tempos no Público sobre as miudezas da sua vida, a chamada vidinha. Mas, infelizmente, - do que acompanho, há sempre esta ressalva técnica - não conseguiu descolar da figura que fazem aqueles jogadores de futebol que tiveram carreiras de sucesso baseadas na sua grande velocidade (geralmente pelos flancos) e que, depois, sem essa muleta da velocidade, tentam adaptar o seu jogo às novas circunstâncias, com novas fintas e outras posições no campo, uma espécie de futre a experimentar a posição de beckenbauer. Man, vai por mim, não deu, não dá.

Tens de perceber, pá, nós fizemos aquele esforço atento para ver o que ias conseguir, do género: «vá, pode ser que ele dê o tal golpe de asa, (como talvez Tolstoi também conseguisse fazer anedotas de alentejanos, ou Pavese conseguisse também largar uma ou outra piada sobre pívias de elefantes) ele talvez consiga descer ao sentimento-do-dia-a-dia e dar-lhe um pinote para cima, pô-lo no parnaso daquelas merdas que fazem comichão onde menos se espera e nos ficam a gargarejar da goela ao fígado». Mas fazer do prosaico o que mais ou menos facilmente se faz do caricato, do horrível, ou do estranho, é o 13ª trabalho de Hércules, e então fazer 'do nosso' o que se consegue fazer com brilhantismo com 'o dos outros', ou com 'o da malta toda' é algo que estará ao alcance de muito poucos.

O sentimento banal, o sentimento da maralha, o que fode sem foder, a solidão parva, a companhia estúpida, o cheiro que incomoda, um hemograma estragado, a traição desnecessária, a dor nas costas, a alegria que é apenas alegria, a vaidade inconsequente, o alívio da mijinha a sair, isso é o que mais foge a quem quer escrever em regime de auto-caravana-com-montra, e é isso que pode matar ou salvar quem ambiciona ser diarista sem rede. Não estás a conseguir. Não conseguiste sair daquela teia que monta a mera agudeza de espírito, e quando esfregaste outra vez na lamparina o génio pôs-te a língua de fora. A vidinha é muito traiçoeira quando queremos fazer dela a estrela da companhia.

Ontem, quando MEC escreveu, a tentar tocar-nos na glândula, «esperar não é necessariamente ficar à espera - é viver enquanto não acontece uma coisa que , afinal, queremos menos do que viver apenas» ficou precisamente a meio do caminho de exprimir (e comover-nos realmente) que o 'esperar-com' é o toque de Midas que Deus nos deu para transformar o tempo em ouro.

Francisco José!...

Um aluvião possidónico assolou de repente a blogaria literaloide portuguesa: a aversão ao ponto de exclamação. (pelos vistos até recuperando um esgar mexiano de 2007, mas duma altura em que ainda precisava de dar um pouco nas vistas). O texto de JMSilva então apresenta um acervo de tiradas dignas duma espécie de Paula Bobone da crítica literária (‘sintoma da absoluta falta de requinte estilístico’, ‘ideal para adolescentes idealistas’, ‘prenúncio de estridências capazes de furar o silêncio da leitura’, ‘profunda incapacidade de alguém se fazer explicar’, – esta é dum tal de Palomar, Senhor – ‘muleta dos maus escritores que querem impressionar’, etc) recolhendo o maior chorrilho de granulado para dissolver desde o discurso dos irmãos castro nos prémios gazeta dos desportos. Ora então queridos especialistas em escrita explicativa de requinte sem muleta, dizei-me, como vai significar um ‘bum’ sem ponto de exclamação, um peidinho sem cheiro?, (calma, ponto de interrogação ainda não fura o ‘silêncio da leitura’) um orgasmo sem jacto?, uma sodomia sem rabo? Como fazemos? E a seguir a um foda-se gritado? Também não se pode? Arredonda-se para ponto e vírgula? Como fazemos: «O senhor Palomar ia na rua encontrou o senhor Silva e estavam os dois muito bem a falar sobre o último Nabokov quando o sr Francisco José se aproxima e lhes arremessa com um 'martelo pneumático' na testa. Palomar, senhor, desmaia, e Silva, senhor também, grita: foda-se, ponto e virgula, Francisco José, que bruto, ponto e virgula; era uma metáfora virgula será que só tens reticências nessa moleirinha?». Será assim? O que fazemos com leitores e críticos tão sensíveis, receosos que a exclamação-em-ponto-de se lhes atormente a boca do cólon do estilo? Damos-lhes o lápis azul do ‘requinte estilístico’? É que nem a reticência vai escapar, coitada, mas atenção: novo lema: todos a castrar a exclamação, acordo ortográfico é que não! Perdão, ponto e virgula. E se o escritor quiser mandar o leitor e o personagem principal para o caralho, e por atacado, no final do livro, como faz? Mete dois pontos travessão? E se uma velha cai a rebolar numas escadas e lá em baixo no fundo das ditas está o Pacheco Pereira? Como se descreve? Ela diz, «carago, não me bastava cair das escadas e ainda tinha de apanhar com este ponto e virgula dum cabrão» (mulher do norte). Como é? (se me acabam com o ponto d’interrogação é que fico desgraçado) E como fazemos para não ‘furar o silêncio da leitura’ do sr. José Mário se quisermos mandar um GNR ir passar multas de excesso de velocidade para a puta que o pariu? «Senhor agente ainda agora me apeteceu enfiar-lhe um cacetete de exclamação pelo cu acima mas não sei o que vão dizer os críticos do Expresso». E o que faço quando me perguntarem da Granta como estou das costas? Digo «que aborrecimento esta sensação de espasmo que me subverte em dor o lombo querido»? Não seria melhor um «dói-me como o caralho!», meus anjos da guarda do estilo? Então e se eu quiser mesmo um 'martelo pneumático' no final da frase? Qual é o mal de querer um 'martelo pneumático' no final da frase? Não devo? Aumento as contas d'otorrino de alguém? Tenho de acabá-la em chave de fendas? Só a picareta é que não avilta o estilo? Desisto. Também ando com uma imensa incapacidade de impressionar.

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Queria apenas deixar registado que achei o gran torino um filme mediano e até desconsolado. Já corre e vai continuar a correr nos próximos dias baba mais ou menos viscosa sobre o dito e acho bem desmarcar-me. Cenas enfiadas à pressão, [clint a passear no banquete dos chinocas; clint a defender a miúda chinoca dos pretos; clint a ser visto pelo feiticeiro chinoca] cenas mal estruturadas, [o passado de clint com a mulher, o chinoca a trabalhar para clint, clint na Coreia; a relação de clint com a miúda chinoca] cenas mal aproveitadas, [a personalidade do chinoca, a confissão de clint, a cadela de clint; o jardim de clint; a leitura do testamento de clint], cenas mal filmadas, [a tentativa de roubo do carro do clint; o tiroteio à casa dos chinocas] cenas enchouriçadas, [clint no barbeiro] mau casting, [a namorada do chinoca; os pretos, a nora do clint] e uma multidão de etc’s.
A malta agora enternece-se com uma velhice griffada (Roth’s, Clint’s, Oliveira’s, e até já algum Saramago) a falar da morte com um estilo viril blasé. Como se viver muito ensinasse alguma coisa sobre a morte e a decadência, a culpa e redenção. Já no filme da gaja que era boxeur, o clint se esticara; agora apenas se matou. Clint pareceu-me uma espécie de medina carreira a fazer um documentário sobre a remissão duma vida em evasão fiscal através do mecenato. Revelou-se um Tarantino light em slow motion. Mas, se calhar, posso ter visto mal.

Os Pachecos Alegres


A fase decadente da democracia sufragada e parlamentar, no climax do seu processo de degradação, produziu o que aparentava ser uma proteína salvadora mas que veio a verificar-se ser um mero sub-produto, gente que nem faz de hormona nem faz de enzima. Estes trovadores dum vento que nunca passa especializam-se em vidências do passado e dedicam-se a informar o povo onde acaba o crocodilo e onde começa a carteira de pele. Mas, sendo todos nós meninos da casa pia a quem os Pachecos Alegres guardam e protegem o rabinho dos predadores populistas que nos oferecem vaselinas falsificadas, só lhes devemos estar gratos, e ansiar que sejam eles os últimos a fechar a luz, porque, o mais certo, é não saberem encontrar o interruptor. Roliços, Bem postos, Burgueses à procura de pintor flamengo, Vida Repleta de Perseguições em Salas de Chá. Guardadores de Proletariado. Velhos sem Hemingway e sem Mar. Decoram povos que fazem do vestíbulo sala de estar, mas serão sempre Yves sem Laurents.

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Fora do ambiente das bibliofosquices, este movimento de aquisição e concentração na actividade editorial é olhado com naturalidade. Gente ‘dos negócios’, da actividade empresarial, detectou uma oportunidade por aproveitar, estava motivado, conseguiu congregar e motivar capitais e pessoas, avançou. Lembro que só estaremos perante boas operações se aumentar o interesse geral pela leitura/livros como entretenimento e/ou forma de enriquecimento e/ou elemento decorativo e, consequentemente, o número de livros lidos/comprados. Se este se mantiver inalterado, estaremos perante meras operações de redução de custos de estrutura que seriam irrelevantes para o montante das operações montadas, e não tornariam os investimentos bem sucedidos. Assim, o que irá acontecer forçosamente é um aumento de qualidade geral de edição, uma aposta na diversidade, concorrência mais forte e não pulverizada, e o aparecimento de nichos estruturados, ou seja, a coca cola a vender-se como coca cola e o moet & chandon como moet & chandon. O mundo da escritualha saracoteia uma despeitada nervoseira porque, obviamente, gostam de ler e escrever todos uns ao colo dos outros; mas para isso já existem os blogues; à borliu. Os escritores são, em primeiro lugar, trabalhadores da escrita em particular e do entretém alheio em geral.
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Escrita Molotoff

Acho que o Mário de Carvalho vai editar outro livro. ‘A Sala Magenta’. (É festa garantida neste blogue: desde julio verne - e descontando o caso patológico do nabokov - não há escritor que me irrite mais; a Inês Pedrosa comparada com este gajo até me parece uma Melvilla Faulkneriada).

O enredo parece que é «sobre a relação sobremaneira equivocada e frustrante entre homens e mulheres» diz o próprio (?) ao ‘diário digital’. Poderá aproveitar-se como livro de boas sobremaneiras.

Mário de Carvalho é aquele escritor previsível (semi-fetichado pelos humoristas profissionais e pelos críticos amadores na falta de bonecas insufláveis ) que está sempre a bater as claras e a açucará-las, mas nunca chega a tê-las em castelo. Por mais caramelo que lhe meta por cima, não compensa.

Mas isto, com a torta de laranja que já está no frigorífico, amanhã passa-me.
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A mulher e a ciência


Quando Deus no seu Insondável Ser pensou a mulher, tal como se pode comprovar desde o Gilgamesh até às crónicas da Inês Pedrosa, passando pelas flores-que-não-eram-de-cheiro do Pentateuco, quis criar um ser de intuição e sistemas urinários bastante sensíveis e sofisticados.

Esta enorme capacidade da mulher, que escapa a toda a epistemologia, em se servir do pensamento como outrora se serviu da costela, da serpente, e da maçã, e hoje da saia de racha, são uma marca do género. Ficaram talhadas para chegarem à verdade sem a maçada e o desconforto da comprovação concomitante, da dedução iterativa, da confrontação de teses contrárias, e o conceito de probabilidade afigura-se-lhes mesmo como algo de meramente romântico. Vem daqui o verdadeiro fascínio que as mulheres possuem pelos cientistas da experimentação, da elocubração, da inferência, principalmente daqueles que com um paleio enleante, mas certo e criteriosamente pejado duma tal de fundamentação, conseguem validar aquelas verdades que elas alcançam por pura e fulminante intuição, nessa espécie de misticismo de kitchnete . São exemplos blogosféricos desta paixão, os 'recentes' da f. Câncio pelo rapaz da biologia inventada, ou os da Bomba pelo Freud, ou mesmo da Rititi pelo António Banderas.

Ora, como todos sabemos, a mulher é, em paralelo, a grande mestre da generalização, possui a inigualável mestria em pressentir equinócios floridos à mera presença duma andorinha a gaguejar chilreios, em vislumbrar Junos entre cirros desenhados a algodão doce. Parecia assim um ser talhado (já é a segunda vez, o que indica a minha visão de Deus como Supremo marceneiro) para gerir a economia do conhecimento científico, mas a sua congénita dificuldade abstraccionista impele-a para o reino desse refogado que é a intuição feminina, o verdadeiro ‘je ne sais quoi’ das ciências do conhecimento.

Este verdadeiro fascínio das mulheres por cientistas, por homens que conseguem agarrar-se a um método sistemático que nem um colete de forças para confirmar aquilo que a elas se lhe corre das entranhas para a epiderme que nem uma espécie de linfa sagrado, será um fenómeno historicamente intermitente. Nos dias que correm a mulher sente-se dona de verdades muito delas, coisas que o falocentrismo terá obscurecido ao longo de séculos e que agora elas trarão ao de cima com a naturalidade e a exuberância dum abade de priscos que durante anos foi pudim flan. Ora o que é que este homem das ciências, este neoneantherdal estruturalista, tem que a seduza desta forma peri-orgásmica?

Eu penso que é a parte decorativa do homem das ciências; esses tipos que transformam toda a verdade num preliminar deixando antever climaxes cósmicos, esses verdadeiros laliques do pensamento, quando encaixam na vitrine que a mulher vem construindo à base daquele sentido que vem a seguir ao quinto, põem-na num estado de excitação que só se compara com o do arroz de grelos quando chega perto dos pasteis de bacalhau. A mulher precisa que as suas verdadezinhas sejam apascentadas por homens que se concentrem a descobrir porque têm pêlos a saírem-lhes das orelhas. Steiner escreveu que há uma ‘intimidade determinante entre a morte e a poesia’ e que esta ‘espia sempre a morte com o ciúme de amante’, pois eu acho que as mulheres espiam a verdade com o ciúme das amantes, ou seja, só a podem ver nas mãos daqueles homens que verdadeiramente nunca lhe podem tocar, os cientistas.
Onde andas Eva?

Um dos efeitos colaterais da chamada ‘emancipação da mulher’ é que hoje já não há mulheres verdadeiramente românticas, mulheres que gostem romanticamente, mulheres genuinamente atormentadas por uma paixão arrebatadora. Aquela ideia peregrina instalada de que as mulheres para lhe serem reconhecidas competências, ditas profissionais, se têm de esforçar mais do que os homens em semelhantes circunstancias, mesmo que tenha alguma verdade encavalitada, foi produzindo mulheres mais amargas, mais desconfiadas, mais camufladas, mais ironificadas, mais desbovaryzadas, mais deskareninezadas, mais descarletteo’harizadas; hoje, por exemplo, Baudelaire dedicar-se-ia a fazer anúncios para a super bock, Ingres pintaria costas de cadeiras, ou henry james iria mesmo desesperar para escrever uma linha que fosse sobre uma mulher apaixonada, porque, isso, na realidade já não existe, é coisa do passado; hoje a mulher é um espécime antropológico-social, um objecto de estudo para o António Barreto, um acaso anatómico-neuronal; a mulher como construção dum certo imaginário masculino, e essencial para o equilíbrio deste, desvaneceu-se, e agora já não há kants, nem nietzches, nem wittgensteins para porem água na fervura nesta desmaterialização, nesta diluição, nesta mineralização cristalizada, simbólica, semiótica, fenomenologica do feminino. Hoje, diga-se, até a educação moral está desprotegida e sem referências, pois a expressão ‘diabo com saias’ tem perdido o seu fulgor e tem sido substituída por ‘cubos de gelo em tailleur’.

A mulher, ao ter hipotecado a sua ternura por troca dum lufa lufa, ao ter trocado um coração palpitante por uma hermafroditação de sentimentos, deixou ao homem o lugar de canastrão da espécie, que se arrasta fazendo carinhas parvas, tentando acompanhar e compreender esta degeneração afectiva da fêmea.
Daniel, o provedor do crente


Porque a olarilolelice tem de levar o devido carimbo da ignorância, e certo tipo de pessoas terão pouco que fazer, ou melhor, mais directo: certo tipo de pessoas que não sabem fazer rigorosamente nada que se aproveite e que aparecem de vez em quando amplificadas pelo trombone da revolução cibernautica – o bit quando nasce é para todos – dedicam-se a dissertar sobre o fervor religioso e a piedade duns pobres coitados, manipulados e turvos de pensamento, que também são conhecidos por católicos.

Género provedor da religiosidade popular, guardião da sanidade mental dum povo de iletrados e ladainhodependentes, e fiscal de linha para as jogadas de ataque da Igreja católica, um tal de Daniel Oliveira, com todo o tempo livre que lhe deixa o facto de não ser terço-adict, não pôde ver uma freira (e logo francesa e pós jacobina) curada por um milagre intercedido por João Paulo II, e, principalmente, não pode vê-lo a ser feito num prazo que ele não entendeu adequado, pois, certamente por, novamente, forte disponibilidade de tempo, se ter dedicado a estudar as minudências da boa canonicidade e as suas interferências na fertilidade do couro cabeludo, e também na esperança de descobrir alguma reza especial para que deixem de falar do Portas e ponham novamente os olhos na virtude - toda ela também canónica - de Louçã.

João Paulo II, tu que me estás a ouvir, (e um quase santo já se pode tratar por tu, é praticamente canónico) é pá, vê lá, intervala aí duns parkinsons de freiras e orienta uns neurónios novos e arejados àquele rapaz que escreve no arrastão. E de caminho trata-lhe do guarda-roupa e da franjinha. Já nos custa andar com este carequinha às costas.
‘Arroja’


‘arroja’ é o nick name dum sujeito chamado Pedro Arroja que escreve num blog de nónimos denominado Blasfémias.

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Ganhou alguma notoriedade por concorrer com Herman José na animação das manhãs na rádio durante os anos 90 socorrendo-se do manancial de piadas que é o pensamento liberal, praticamente tão rico neste campo como os alentejanos, ou os amores interditos entre padres e freiras. (aliás até sugeria que criassem um blog de nome blasfêmeas, só com posts para liberais loiras).

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‘arroja’ aparenta ser rapaz na famosa meia idade, ou seja, já não tem tanta piada como o joão miranda, mas ainda não apresenta aquele encantador ar blaisé do miguel beleza.

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A sua fixação recorrente no cruzamento da temática institucional-religiosa com a ciência política, à primeira vista poderia indiciar a saída prematura dum seminário recôndito e húmido na Beira Interior, ou dum tacho na Congregação para as causas perdidas, contudo, uma análise mais profunda aos seus posts, leva a crer que se trata de verdadeiras revelações dum anjo que trabalha como free lancer por se ter incompatibilizado com a santíssima trindade a propósito do método de cálculo do share das beatificações.

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Outra das suas fixações é um tique muito próprio de economistas que podiam perfeitamente ter sido amestradores de catatuas, mas como eram daltónicos passaram por engano anos a fio a treinar rolinhas, ou seja, toda a realidade se pode resumir a uma necessidade, um recurso, um equilíbrio, duas opções, uma oportunidade e uma ameaça: o povo ou quer milho ou o miolo húmido duma carcaça.

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‘Arroja’ apresenta uma sensibilidade muito particular e fina pelo que a sua profissão deve estar ligada ou à cremação de borboletas ou ao polimento de barcos rabelos em filigrana. No entanto, o seu método de abordar os temas apertando-os até a rosca estar completamente moída, leva a crer que se trata do accionista duma empresa fornecedora de parafusos para o IKEA. Se não mesmo das famosas estrelas da serralharia moderna: as ‘porcas mama’.

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A sua sedução pela utilização do sofisma-mascarado-de-lógica-sem-batata mostra um conhecimento profundo da retórica aristotélica devidamente condimentada do embuste saxónico. Esta combinação produz o famoso anabolizante ‘aristaxónico’, doping frequentemente usado no bilhar às três tabelas por jogadores mais dados ao snooker e com problemas de focagem para além dos 20 cm à sua frente.

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‘Arroja’ é sempre intelectualmente bastante honesto, e faz-me lembrar o sr Santos, que era o merceeiro ali à Rua Poço dos Negros - vai coisa para quase mais de 40 anos - e que me ensinou a cortar fatias de queijo da serra fininhas e enganar a minha avó que só me tinha dado dinheiro para um flamengo manhoso, porque eu não tinha feito a merda dos trabalhos. A contrapartida era a minha avó ir lá à mercearia dar-lhe valentes sermões, porque ele adorava ouvi-la; básico. Ela tinha piada, de facto, o meu avô que o diga. O sr santos acabou por trespassar a mercearia para um pronto a vestir, que eu já não acompanhei tão bem, ou melhor, acompanhei, mas não posso contar.

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‘Arroja’ pondera sempre bem todas as suas frases, articula os pensamentos uns nos outros sem a utilização de neurónios transgénicos, procura as referências bibliográficas sem cair no servilismo documental, e, inclusivamente, chegou a elaborar silogismos nos momentos em que a intuição lhe estava a cair na fraqueza. Mostra portanto um pendor fortemente pedagógico, pelo que, deve certamente ter andado na escola, e nunca abusou das selecções do reader digests em pequenino.

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O grande sonho liberal de ‘arroja’ é ter uma low cost só para ele, e a sua estratégia será decidir os destinos de cada voo já quando os aviões estiverem no ar. Os passageiros que depois não quiserem podem ir saindo à vontade. Chamar-se-ia ‘o livre ar bítrio’. (quem diz pelo bítrio diz pelas portas de segurança)
Palmira Murcha

Num blog da moda, (dererummundi) lia-se há uns dias em ambiente hamiltoniano:

«De facto, as fêmeas são muito exigentes na escolha dos machos com que acasalam e procuram garantias que o macho escolhido tenha «bons genes» contra parasitas. Para isso é necessário que os machos as convençam da excelência dos seus genes. Para evitar «gabarolices», isto é, publicidade enganosa, as provas da boa qualidade genética são muito dispendiosas em energia: apenas indivíduos com bons genes as conseguem exibir»

No entanto mais fresquinho, temos:


«Na realidade, não obstante todas as evidências em contrário, para o público em geral a imagem que perdura incontestada é a da violência primeva do Homem, a sua tendência intrínseca para o mal, um assassino da própria espécie.»


Tirando gostar da expressão ‘primeva’, porque me parece muito bíblica - se bem que algo discriminadora e não tão abrangente como seria primadão - fiquei enternecido com esta linguagem de precisão científica: ‘para o público em geral a imagem que perdura incontestada’.

De facto sente-se no ar que as pessoas andam assustadas, na rua o alarme é generalizado, em cada ombro pressente-se um assassino cromagnonico, em cada bafo a chama dum dragão enfurecido. Nota-se inclusivamente a alma humana num plano inclinado para o mal, mães a usarem os filhos como aditivo cosmético, cada vez mais patrões a chicotearem os empregados sugando-lhe o suor, em cada gene humano titila um toiro enraivecido, cada menina do gás é olhada como um auschwitz com pernas; morre, inclusive, de facto, hoje, gente que não morria antigamente; sobrevivemos porque caminhamos de negacionismo em negacionismo.


Eu penso que a sociedade devia escolher os seus cientistas que nem uma fêmea.
D. Flourenço e seus dois maridos

D. Flourenço tinha duas paixões: a estatuária pré Praxiteliana e o espólio perdido de Calímaco. De dia sonhava com Diadumenos de corpos epsilonizados e de noite sonanbulava com inversões poéticas inspiradas em Conópions com pêlos. Todos os dias era um castigo para se levantar porque lhe pesava a erudição naquela zona da nuca onde o indecente bafo se aloja, e por vezes impudicamente se cola que nem espuma de poliuretano mal expandido. Declarou-se um dia escritor. Iria fundir a poesia com a anatomia, o sentimento com o fermento, traria a castidade para fora do convento e faria dum obsceno gemido a ternura dum lamento. E foi assim que, da épica para a lírica e da coxa para o lombo, se deixou envolver por dois amantes ciumentos: um que parecia um verso alexandrino da cintura para cima e outro que se assemelhava a um vilancete da cintura para baixo. Vivia que nem uma autêntica redondilha.

De manhã, a um recitava adaptações de Rufino, e, à tarde, a correr, ia provando palmilhas de cortiça ao outro que se mascarava de Aquiles. A situação ia ficando insustentável, até porque a certa altura já misturava os quiasmos com os anacolutos e esteve quase a apanhar uma epanadiplose na anáfora. Já não conseguia descortinar o que era físico e o que era espiritual, o que era bavaroise e o que era bacanal, e ora se mostrava elíptico ora pleonástico, mas sentia-se incapaz de parar. Chegou a pensar em escrever contos para crianças, mas temeu viciar-se nas alegorias, chegou a ficar dependente das sinestesias, passou uma temporada a recitar ditirambos de Baquilíades para se libertar, mas, no fundo, tinha duas casas para alimentar e precisava daquilo com que se compram as hipérboles. Voltou por fim à sua vocação inicial, recolhida no berço maternal: traduzir frases de Platão para Agatão, sem dar ouvidos às falas enigmáticas de Diotima, e sem se preocupar quem está por baixo e quem está por cima.
Anita em S. Bento

Com Sócrates no condomínio

Sócrates, mulher a dias diplomada da nossa democracia pós guterriana, avançou que ‘não tem uma agenda de temas fracturantes’. Dando de barato que não era uma recado subliminar para correia de campos fechar mais umas urgências de ortopedia, devo dizer que fiquei com o mesmo descanso com que fica o caniche da minha vizinha de baixo quando esfrega o focinho e lambe na bata da cabeleireira rosnando «isto é demasiada camomila para a minha papila» (e assim ficou o primeiro pensamento canino do mundo entre aspas).

Com Sócrates a ler Alain de Botton

Sócrates, resultado dum programa de auto ajuda em que o PS esteve inscrito, mas sem registo youtubado, apresenta-se à plebe como o governante das causas certeiras, das que nem vale a pensa descortinar uma causalidade mínima, procurando elevar o common sense ao estatuto de filosofia política e antecipando uma nova lei natural baseada no stupidus lupus stupidum.

Com Sócrates no divã com J. Machado Vaz

Sócrates, percursor duma nova terapia sexual em que primeiro vem o sexo e depois os preliminares, parece o recepcionista dum banco de esperma: começa por perguntar ao povo quando foi a última vez que ejaculou e depois diz para reclamarem com o tubinho se não fertilizarem em condições. Pois, já se sabe, não é por muito país-ovário querer fecundar que um povo-espermatozoide fica de rabo a abanar.

Com Sócrates a brincar ao Mr Bean

Sócrates analisava os nossos tiques de povo amante do petisco mas desconfiado de pratos muito decorados, sabia que gostávamos de fungar mas não nos incomodávamos com o pingo no nariz, e por isso concluiu que se devia gastar dinheiro em guardanapos mas em lenços já seria um desperdício. E mandou retirar os espelhos do mercado.

Com Sócrates a confessar-se ao padre Américo

Sócrates, beato do pragmatismo social, desenvolveu a moderna teoria de tirar a uns pobres para dar a outros pobres e tirar a uns ricos para dar a outros ricos, evitando assim promiscuidade e alargando a base de apoio. Como diria qualquer santo de altar: o importante é uma boa base de apoio perto duma caixa de esmolas encerada qb. Ou, como diria o próprio Redentor: ‘o que está feito, está feito’.

Com Sócrates a cantar Jorge Palma

Sócrates sabia que o país estava ‘frágil’, e pôs-lhe o braço no ombrinho, demonstrando que nunca mais ‘jeremias, o fora da lei’ o iria incomodar, e iria transformá-lo na ‘terra dos sonhos’, onde todos poderão ser quem quiserem, ‘à espera do fim’, que nos assentará como uma luva. Mas, até lá, ‘deixa-me rir’, pela tua rica saúde, até porque ‘a gente vai continuar’.
Eu cá se fosse ao Moisés nunca tinha saído do Egipto

Moral’ e ‘consciência’, duas das mais puras e mirabolantes construções da linguagem humana (não sei se nos golfinhos haverá algo parecido), servem de biberon e agitador (e palhinha) à espuma dos dias. É um pouco como discutir a vida sexual baseados no orgasmo das pestanas e no clitóris da papoila, ou discutir o direito romano com base no assassinato de Papinianus por Caracala.
E ao 7º dia pronunciou-se

«os patriotas não se devem afligir com a “imagem de Portugal no mundo”, se o mundo tem a mais vaga imagem de Portugal, o que nada indica. Apesar dos milhões que se gastam em propaganda turística e em viajatas várias, para a maior parte da humanidade Portugal, coitado, não existe (…) A maior gaffe da viagem foi a viagem. » pelo nosso Pulido Valente, no Público de hoje.

Façamos agora aquele exercício básico…

«os fãs não se devem afligir com a “imagem de Vasco Pulido Valente no mundo”, se o mundo tem a mais vaga imagem de Vasco Pulido Valente, o que nada indica. Apesar dos milhões de palavras que debita em comentarísmo turístico e em historietas várias, para a maior parte da humanidade Vasco Pulido Valente, coitado, não existe (…) A maior gaffe dos seus artigos são os seus artigos».

Parece-me justo. VPV, cada vez mais previsível que uma bordadeira de naperons, andou vários dias a pensar de que forma é que conseguia dobrar a tontice de M. Pinho e dizer qualquer coisita que mais ninguém tivesse dito, e, principalmente, que nos levasse inevitavelmente àquela malvada salazarice invisível que nos persegue: sossegadinhos para não levantarmos muito pó.

Já causa sonolência tanta verborreia em torno da nossa pequenez implícita e explícita, e piora quando a conclusão é ainda reforçá-la – artificial e retoricamente - mais. Sócrates, amigo, fizeste bem em ir, o Hu Jintao ( belo nome) andava a fazer de novo colonizador, não te preocupes, um dia bate a bota e ficam os outros, fizeste bem em te artilhares para o jogging, são geralmente as tuas melhores imagens, e fazes melhor ainda em ter ministros broncos porque, se não, repara, falávamos de quê?

Nota: João Pereira Coutinho, no Expresso de ontem, tem uma certeira consideração quando diz que os agora apoiantes do não (como eu) andaram a dormir em cima da lei actual, julgando que o problema tinha ficada enterrado, e mais enterrado ainda com uma lei feita letra morta, que se foi tornando para muitos ‘uma lei a feder para lá do tolerável’. Sobejou-lhes (me) de catequese e que lhes (me) faltou de investimento na realidade.
Nobre povo, nação Valente

«Mas triste de quem espera do Estado uma fonte de legitimidade moral» diz Vasco Pulido Valente no Público de hoje, largando ao vento um lugar comum anglo-saxo-liberal, decorado com uns sininhos de bem soar ao ouvidinho da plebe pseudo esclarecida.

Muito mais triste é quem espera do Estado um esgoto de banalidade e indiferença moral onde desaguarão apenas os restos dos interesses e facilidades de ocasião.
Banco de esprema

Gostaria também de vos dizer que me estou bastante a borrifar para os dramas pessoais e soberanamente a cagar para os dramas colectivos. Não é bonito de se dizer, não, e, saibam, não é sequer interessante de se sentir, mas a verdade é esta, não há que escamoteá-la, nem escanhoá-la, nem escalpelizá-la e agora não me estão a ocorrer mais palavras giras começadas por ‘esca’ tirando escalope e esgadanhar se bem que esta última tenha um malandro dum ‘g’ de gato. Um drama pessoal geralmente incomoda, desconcentra-nos e, não raras vezes, contemplá-lo torna-nos mais egoístas ainda, focando-nos no agradecimento bacoco pela nossa condição de meros gajos que apenas são espremidos até ao tutano pelo mundo cruel, mas que no fim acabam por não no-lo chupar (o tutano, registe-se) e ainda deixam qualquer coisinha para nós próprios desfrutarmos, género ir ao cinema, fumar um charuto ou mesmo empurrar o baloiço duma criança de faces rosadas e a dizer papá adoro-te, e se me deres uma nova playstation ainda poderei gostar mais de ti do que dos morangos com açúcar. Para além disso ainda não tenho uma opinião formada sobre o disco do JP Simões, e isso chateia-me, até porque sobre o referendo já tenho, mas, basicamente, eu hoje estou parvo, ou melhor, notar-se-á mais que estou; para compensar, a senhora dona aqui do estabelecimento até que podia pôr uma fotografiazinha para animar e tal.