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Mensagens

A mostrar mensagens de 2010

por ora, apenas os ramos batem nos vidros da janela

por ora apenas os ramos batem nos vidros da janela. é tarde nesta véspera de natal, a noite adensa-se, o mundo recolhe-se como pode e os sons ensurdecem na terra fria, mas a promessa da tua vinda é certa, a minha memória é verdadeira e isso apenas me basta. tudo me diz que é tarde nesta véspera de Natal, e por ora apenas os ramos batem nos vidros da janela. neste tempo liminar, esgota-se o rasto do dia que acabou, a luz escorre pelas pedras velhas do caminho e não te oiço ainda nesse rio por onde vens, mas o meu coração contrai-se, eu espero-te, tanto, e isso basta-me! é noite de natal, os ramos cantam nos vidros da janela és tu? só amor, só amar, isso basta-me alma

Trust

Alyssa Monks

Scream

Alyssa Monks

Poema simples sobre o silêncio

{do silêncio}. do sinal de fogo. citar-te, escrever-te, transcrever-te, conjugar-te, oralizar-te na orla do teu tronco demasiado extenso para a curva do vento órfão de vontades. {do silêncio}. grotesco. do sinal de fogo. literatura. comer-te. beber-te com rigor moral, como consta do guião de contra-indicações. infra. {do silêncio}. ler-te. do sinal de fogo. contar-te uma história verídica num outro contexto. incomensurável. definitivamente provisório. belo. {do silêncio}. quadriculado, vândalo. do sinal de fogo. do ruído preceptivo. do processo de esverdeamento do corpo com saudade. da cápsula de tempo. {do silêncio}. um acto. do homem que se debruça sobre cada órbita. um gesto. do mundo digestivo. instintivo. somos um acto mas não um gesto. mera raiz da voz oca. e numa linha recta aberta refundimos como quem se ouve a si mesmo. do silêncio. do sinal de fogo. Sylvia Beirute Uma Casa em Beirute

Still Life

Alissa Monks

tão pouca luz no quarto

entra tão pouca luz no quarto, o ocre antigo das paredes desliza pelo chão e despe-se nas minhas pernas, não sei se o sol nasce ou morre, no meu corpo indecifrável o mundo parte devagar e os sons para trás acomodam-se no meu ouvido como finos vapores húmidos, sem dia, sem noite, apenas as horas ficam, e o meu peito adormece. alma

Estou a ir...de férias!

Fiquem bem e...até Setembro! At last Beyonce [Etta James]

Crónica da Rapariga à Chuva

"Há bocadinho fui espreitar à janela e estava uma rapariga lá em baixo, à chuva. Isto às onze da manhã, a rua deserta e ela imóvel diante da agência de viagens, sem gabardina sequer, à chuva. Cabelos curtos, sapatos de ténis, os braços ao comprido do corpo, sozinha como uma estátua. Não volto à janela porque não quero encontrá-la, parece acusar-me de uma falta que desconheço, afigura-se-me um remorso vivo. À chuva. Não acaba, este inverno, esta solidão magoada, desconfortável. (...)" António Lobo Antunes http://aeiou.visao.pt/cronica-da-rapariga-a-chuva=f568316

Canção para Leonard Cohen

enquanto nos faltarem fotografias o futuro estará à deriva. pero si. yes. la ciudad. a cidade. a cidade que assinala a urgência no meu vestido comprido e justo, saída do banco com o dinheiro negro. the money. money likes rain. chove. é insuficiente dizer que chove. é como dizer dinheiro. ou love. (love não quer dizer amor). d'accord, got it, há máximos e mínimos. concepções copernicianas do espaço. leonards cohens que espiam atrás de canções bifurcadas. gerações diferentes. a realidade não dá conta do recado because it depends on, you know, pois depende do expressável. representável. não basta dizer «tudo tem uma duração». é preciso dizer «tudo é uma duração». pero si, chica. la ciudad! a cidade. sim. mas cala-te um pouco. a cidade onde agora faz sol. sabe: o sol só é auto-expressável porque é cópia de si mesmo. todos os dias copia a fórmula recém-passada de aplanar nos rostos que vão demolindo a arte de acordar. wake. up. e nada resulta para mim. e nem a metáfora é analgésico. tal

Cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço

cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço, nas minhas mãos tenho os teus ombros, envoltos em pele, inesperados, nas tuas costas o mundo silencia e trago-te à vida, as minhas mãos são um berço de intenções assimétricas e perfeitas, e quando os segundos se adensam no perímetro desconcertante do teu olhar, o instinto demora-me, como duas ilhas os meus joelhos nascem e afastam-se desafiando o suor frio da solidão, desalinhando os braços num rasto de palavras desacordadas, cinge-se a vida ao diâmetro do pescoço, mas sobra-nos espaço, sobra-nos amor... alma

Study of Kelsie I & II

Lucong

diz-me

diz-me um segredo qualquer coisa inacessível dessa tua alma alguma coisa que eu possa ainda fingir que não sei gil t. sousa no blog exercícios de esquecimento

4 anos...

4 anos...nesta ilha por vezes habitada! Na ilha por vezes habitada Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer. Então sabemos tudo do que foi e será. O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam. Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura. Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites. Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela. Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz. Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste. poema de José Saramago pintura "Sonidos del mar" de Antonio Carzola

Praia e dunas...

Antonio Cazorla

Eu luminoso não sou

Eu luminoso não sou. Nem sei que haja Um poço mais remoto, e habitado De cegas criaturas, de histórias e assombros. Se, no fundo poço, que é o mundo Secreto e intratável das águas interiores, Uma roda de céu ondulando se alarga, Digamos que é o mar: como o rápido canto Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável O movimento de asas. O musgo é um silêncio, E as cobras-d'água dobram rugas no céu, Enquanto, devagar, as aves se recolhem. José Saramago

Blue Jeans

Antonio Cazorla

Domingo no mundo | 21

Marilyn Monroe Elliott Erwitt

O poema ensina a cair

O poema ensina a cair sobre os vários solos desde perder o chão repentino sob os pés como se perde os sentidos numa queda de amor, ao encontro do cabo onde a terra abate e a fecunda ausência excede até à queda vinda da lenta volúpia de cair, quando a face atinge o solo numa curva delgada subtil uma vénia a ninguém de especial ou especialmente a nós uma homenagem póstuma. Luiza Neto Jorge

Aqui nesta praia | 39

Beach,  Chris Wake

Adrift

Eric Zener

saberás por acaso que a praia já está vazia

saberás por acaso que a praia está vazia e as ondas já não quebram perto dela, que nos imagino aqui à superfície, corpos exilados à procura de água doce e o sal a estilhaçar na pele, a traçar caminhos, a deixar rasto, segue-me porque há ondas que rebentam na minha boca, há guitarras e canções e correntes de ar que explodem como estrelas no meu corpo, olha a praia azul e serena onde a água se deita como uma pequena deusa cansada no final da tarde, podíamos ser como ela e podíamos ficar, podemos ser cúmplices, poderíamos amar, e quereríamos sofrer, saberíamos mudar mas saberás sequer que aqui estamos mesmo quando nos olhas, que o mundo por instantes é belo e perfeito que há silêncio e que a noite se atrasa quando nos vê, que há um significado invísivel nos teus gestos, cheiros que se revelam como fotografias, memórias que nos habitam como um vírus, não há palavras pousadas na minha língua, há expectativas espalhadas por tanto mar, por isso te vigio, ser estranho

Comfort

Eric Zener

Pode nem sempre ser assim

encontrei no blog #poesia pode nem sempre ser assim; e eu digo que se os teus lábios, que amei, tocarem os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem o seu coração, como o meu em tempos não muito distantes; se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem nesse silêncio que eu sei, ou nessas palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado ficam desamparadamente diante do espírito vozeando; se assim for, eu digo se assim for – tu do meu coração, manda-me um recado; que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos, dizendo, Aceita toda a felicidade de mim. Então hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro cantar terrivelmente longe nas terras perdidas. e. e. cummings tradução de Jorge Fazenda Lourenço

O corpo não espera

O corpo não espera. Não. Por nós ou pelo amor . Este pousar de mãos, tão reticente e que interroga a sós a tépida secura acetinada, a que palpita por adivinhada em solitários movimentos vãos; este pousar em que não estamos nós, mas uma sede, uma memória, tudo o que sabemos de tocar desnudo o corpo que não espera; este pousar que não conhece, nada vê, nem nada ousa temer no seu temor agudo... Tem tanta pressa o corpo! E já passou, quando um de nós ou quando o amor chegou. Jorge de Sena

Ninguém...

Michael Kenna

Manhã fria e cinzenta de tão vazia

A manhã está fria e cinzenta de tão vazia, ninguém me vê no mar tão macio, tão pequeno ao meu redor e tão cheio de mim, espero as horas que chegam, e partem, e voltam parecem-me mulheres perdidas, desamadas, loucas, cheias de silêncio levando as marés, não ficam, não vou ninguém é meu, ou minha, não há histórias, não há memórias, não há cheiros, não há canções, não há paredes manchadas, nem roupas estragadas, não há flores no jardim, não há passos junto à porta, não houve início, não há fim, não há cama para fazer, nem mesa, nem janela para abrir, nem livro pra fechar, há um vazio que não é possível, um desejo que não cresce há uma dor que não mata alma

SER DE SOMBRA

Fui até ao Insónia ...e trouxe comigo este poema! Chovia. No bosque os pequenos ruídos de folhas de água deslizando verde. Chovia. E eis que a límpida brancura se raiou de fumo brilhando uma ágata. Surgiam do chão os ramos os troncos os braços desenterrados bocas de luz candeias chuva de oiro o canto desfibrado húmus húmido incendiado. Um ser de sombra e de água chovia. Os anéis dos cabelos acesos intactos adejando a hera as mãos negras e as anémonas um lago. A cinza era o que restava verde chuva alada passagem rubra. Ana Mafalda Leite

Atrás da porta

Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei Eu te estranhei Me debrucei Sobre teu corpo e duvidei E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos No teu peito (Nos teus pelos)* Teu pijama Nos teus pés Ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar Pra sujar teu nome, te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que inda sou tua Só pra provar que inda sou tua... * verso original vetado pela censura Elis Regina Chico Buarque

Eu te amo

Ah, se já perdemos a noção da hora Se juntos já jogamos tudo fora Me conta agora como hei de partir Ah, se ao te conhecer Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios Rompi com o mundo, queimei meus navios Me diz pra onde é que inda posso ir Se nós nas travessuras das noites eternas Já confundimos tanto as nossas pernas Diz com que pernas eu devo seguir Se entornaste a nossa sorte pelo chão Se na bagunça do teu coração Meu sangue errou de veia e se perdeu Como, se na desordem do armário embutido Meu paletó enlaça o teu vestido E o meu sapato inda pisa no teu Como, se nos amamos feito dois pagãos Teus seios ainda estão nas minhas mãos Me explica com que cara eu vou sair Não, acho que estás te fazendo de tonta Te dei meus olhos pra tomares conta Agora conta como hei de partir. Chico Buarque

És um pequeno animal de papel nas minhas mãos

Desenhas-me com as tuas palavras enquanto me olhas, e ficas depois como um pequeno animal de papel nas minhas mãos Escreves-me e o som vibra dentro de mim Cheiro-te, procurando as impressões dos teus dedos, o relevo das tuas linhas, e nesse caminho de sobressaltos olhamo-nos há um instante puro e esmagador que nos transforma, um labirinto que nos tenta, uma palavra que nos esmaga. alma

Ler contra o silêncio | 18

Woman reading Alexander Deineka

Woman Reading...

...a Possession Order ...an Eviction Letter Tom Hunter After Vermeer

Girl Reading a Letter in an interior

Peter Vilhelm Ilsted

Ler contra o silêncio | 17

Girl Reading Marilyn Sears Bourbon

cherry blossoms...Tokyo

Cherry blossoms

Brigitte Carnochan

Ranunculus

Brigitte Carnochan

Recordação

Agora, o cheiro áspero das flores leva-me os olhos por dentro de suas pétalas. Eram assim teus cabelos; tuas pestanas eram assim, finas e curvas. As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo, tinham a mesma exaltação de água secreta, de talos molhados, de pólen, de sepulcro e de ressurreição. E as borboletas sem voz dançavam assim veludosamente. Restituiu-te na minha memória, por dentro das flores! Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix, tua boca de malmequer orvalhado, e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios, com suas estrelas e cruzes, e muitas coisas tão estranhamente escritas nas suas nervuras nítidas de folha - e incompreensíveis, incompreensíveis. Cecília Meireles

não são alvíssaras...mas

Rose Points Brigitte Carnochan

Alvíssaras da Letícia

Este texto é da Letícia do blog silent(still)life. É encantador... A palavra é deliciosa: alvíssaras. Aprendi com José de Alencar quando tinha uns dez ou doze anos e li O tronco do ipê. Um dos capítulos do livro se intitulava justamente "Alvíssaras". Tomei aquela palavra desconhecida à boca, maravilhada com sua eufonia, e a saboreei, como quem prova uma iguaria rara. Deixei que derretesse na língua e que seu perfume subisse até o palato para depois, só depois, pronunciá-la. Delícia de palavra... Imaginei, de imediato, que era um nome de flor. 'Alvíssaras'. Flor branca, claro, pela alvura anunciada desde o princípio. E o plural parece indicar uma penca, muitos cachos, de flores miúdas, daquele tipo que funciona bem em conjunto. E criei na minha cabeça primeiro uma floreira de janela, com os pompons de alvíssaras que me dariam muitos bons-dias por muitas manhãs; depois quis um canteiro de alvíssaras que iriam tagarelar à vontade com as boas e sinceras margaridas, com as

Rosa

Hoje o céu está mais azul, eu sinto Fecho os olhos mesmo assim, eu sinto O meu corpo a estremecer Não consigo adormecer Ah, nem o tempo vai chegar P’ra dizer o quanto eu sinto Você longe de mim É uma espécie de dor Hoje o céu está mais azul, eu sinto Olho à volta mesmo assim, eu sinto Que este amor vai acabar E a saudade vai voltar Ah, nem o tempo vai chegar Pra dizer o quanto eu sinto Você longe de mim É uma espécie de dor Já não sei o que esperar Desta vida fugidia Não sei como explicar Mas é mesmo assim o amor Rosa Passos Música de Rodrigo Leão Letra de Ana Carolina

a cultura é uma inspiração para coisas perfeitas e impossíveis

Há de vir o dia em que a cultura não significa apenas espetáculo, financiamento, palco – mas há de ser vivida como parte do dia de cada um. Por necessidade. Por absoluta falta. Porque a cultura (a literatura, a música, a pintura, o cinema, o teatro, a língua, a paisagem, as ruínas do tempo, o património invisível) tem uma relação estreita com a felicidade e a infelicidade. Não é apenas um gueto de atividades catalogadas na ‘programação cultural’ – é, também, elegância, espírito do tempo, negação do tempo, memória, transigência. E mesas de café. Esplanadas. Contemplação. Distância. Viagem. Coisas que não se entendem. Coisas sem explicação. Vidas sem geometria. Uma respiração. Uma representação, um eco, um silêncio. Uma inspiração para coisas perfeitas e impossíveis. Sérgio Aires (Blog # 650 a Julho 14, 2010 ) do blog Crónicas de Francisco José Viegas

Dissolving

Christina Sealy

Sea

Christina Sealy

Inside

Christina Sealy

é como acordar

é como acordar. mas aquilo que flúi quando acordas, aquilo que te liga os dias donde vens aos dias a que queres chegar, aquela abundância de razão e de consciência que te dá sentido à vida... esse movimento está ausente e sentes-te como um fumo. qualquer coisa te pode esmagar, qualquer gesto te pode transportar a um chão que não existe, a um caminho que os teus passos não sabem percorrer. e as tuas mãos ficam húmidas desse delírio. e os olhos caem-te aflitos no lugar da doçura ausente. e ficas sem gritar, ergues-te sobre esse dia que chega e tudo é maior do que possas ter para te agarrar. e deixas-te ir, etéreo como um fumo… podia ser esse o minuto da loucura. podia ser esse o momento de abraçar a luz e estalar docemente numa noite qualquer. como uma fenda de fogo, como um punhal de lume que enfim te rasgasse o mundo. gil t. sousa do blog poesia

Flora

Brigitte Carnochan

Barakei #32

Eikoh Hosoe

o pequeníssimo alfinete de metal

o pequeníssimo alfinete de metal entrou finalmente na estreita e desconhecida veia e percorreu cioso todo o corpo disponível, nada foi esquecido ou negligenciado, toda a dor, da mais estreita e fina, à mais gloriosa e esmagadora, foi testada, experimentada absorvida e finalmente no último dia, na última página, o alfinete e o corpo atormentado uniram-se num só elemento, etéreo, porém obscuro alma

Rendida

Josephine Sacabo

Dor

Teresa Dias Coelho

0 azul e as farpas

Sigo a sangrar, do peito ao vão das unhas, os dardos do amor: o que há sido e o que há. Naufragado ao vento de um cais sem mar o que serei se alia ao que me opunha. As farpas do desejo – esse tear das aranhas da dor e sua alcunha – fazem da luz do dia uma calúnia, cravam no azul da tarde o zen do azar. Tento amarrar o tempo e a corda é curta, tento medir o nada e nada ajusta. (Meus nervos tocam para os inimigos que chegam sob o som de uma mazurca.) Resta a mó do destino – o desabrigo – a devolver meu pão de volta ao trigo. Salgado Maranhão

Os fogos da fala

a fala aflora à flor da boca às vezes como fogos de artifício fulguração contra os terrores do silêncio só espada espavento espelho ou pedra ficção arremessada ou canção pra cantar as graças as virilhas as maravilhas da amada a deusa idolatrada do amor: essa outra voz quase jazz que subjaz ventríloqua de si mesma Geraldo Carneiro

À flor da fala

é daqui mesmo que eu te conheço? ah não? então de que outro lugar será que eu não te conheço? se eu fosse místico talvez redecifrasse a tua face de alguma encarnação imemorial (ou desde o princípio dos tempos, antes que os deuses desinventassem os carnavais do caos). mesmo não sendo místico diria desse pequeno prenúncio de apocalipse: agora sim compreendo a música das esferas, os teoremas de Arquimedes de Siracusa, a mecânica celeste e todos os demais mistérios do reino desse mundo: só quero conhecer-te ainda nesta encarnação: antes que a minha alma improvável se arremesse na província do nada, a morada dos seres sem amor Geraldo Carneiro http://www.geraldocarneiro.com/ "Evening glow" de Jennifer Anderson

Pudesse eu

Pudesse eu não ter laços nem limites Ó vida de mil faces transbordantes Para poder responder aos teus convites Suspensos na surpresa dos instantes! Sophia de Mello Breyner Andresen "Eyes closed" de Jennifer Anderson

La cuerda de plata

Dino Valls

Caerolea

Dino Valls

Acabei de retirar toda a minha pele e ofereço-ta

Acabei de retirar toda a minha pele e ofereço-ta. Para ti com amor e com palavras doentias, E com a dor que me enlouquece, O vómito e a palidez. Para ti meu amor , tudo o que foi teu e já não quero para mim, todo o sangue que bebeste e os sentidos que cegaste. Para ti amor, o meu sorriso rasgado, as minhas unhas partidas, os meus cabelos entrançados nos teus dedos. Estarei à tua frente para sempre, meu amor, e com todo o meu amor, a minha alma pesada e doce roubará a cor da tua carne. alma

El séptimo sello

Dino Valls

La coiffure

Roman Zaslonov