terça-feira, dezembro 22, 2009
segunda-feira, dezembro 21, 2009
quinta-feira, dezembro 17, 2009
Sobre o recuo dos Direitos Humanos
Ou Vítor Dias a pôr o dedo na ferida:
A manchete do Público de hoje fala como um livro aberto sobre a selvajaria social que avança a passos largos: 6o horas semanais para os trabalhadores dos hipermercados e outras grandes superfícies, num acréscimo horário sem pagamento como horas suplementares, o que se estes trabalhadores tiverem só um dia de folga dá 10 horas por dia e, se tiverem dois, dará 12 horas por dia, em funções que só um consumidor muito egoísta não perceberá que são extraordináriamente desgastantes. E também fala como um livro aberto que um dos sectores económicos mais espampanantemente rendosos não se lembre de contratar mais empregados em vez de descarregarrem traços de moderna escravatura sobre os seus actuais trabalhadores. E, depois, como já aqui escrevi a respeito de um debate na Quadratura do Círculo, virão uns sujeitos que apoiam tudo isto e depois dizem umas frases pesarosas sobre as alterações na vida familiar que até se repercutem negativamente no acompanhamento dos filhos.
Vítor Dias, in O Tempo das Cerejas
A manchete do Público de hoje fala como um livro aberto sobre a selvajaria social que avança a passos largos: 6o horas semanais para os trabalhadores dos hipermercados e outras grandes superfícies, num acréscimo horário sem pagamento como horas suplementares, o que se estes trabalhadores tiverem só um dia de folga dá 10 horas por dia e, se tiverem dois, dará 12 horas por dia, em funções que só um consumidor muito egoísta não perceberá que são extraordináriamente desgastantes. E também fala como um livro aberto que um dos sectores económicos mais espampanantemente rendosos não se lembre de contratar mais empregados em vez de descarregarrem traços de moderna escravatura sobre os seus actuais trabalhadores. E, depois, como já aqui escrevi a respeito de um debate na Quadratura do Círculo, virão uns sujeitos que apoiam tudo isto e depois dizem umas frases pesarosas sobre as alterações na vida familiar que até se repercutem negativamente no acompanhamento dos filhos.
Vítor Dias, in O Tempo das Cerejas
quarta-feira, dezembro 16, 2009
Direitos Humanos...
Esqueci-me dos direitos humanos. O 61.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos foi há uns dias, mais precisamente, a 10 de Dezembro. Mas eu nada escrevi. Ficou o Morales a pairar como símbolo do progresso dos direitos humanos num dos países mais pobres da América do Sul.
O nosso tempo é feito de contradições. De avanços e recuos. Foi assim também ao tempo da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, parto difícil, pois resultou da combinação de diferentes visões da sociedade e do mundo, não raro em oposição.
No nosso tempo, a democracia emerge muitas vezes refém das forças do mercado. É um tempo em que as políticas dos governos sufragados nas urnas são perigosamente embargadas por agências de rating que estão para além de qualquer escrutínio democrático. E assim as políticas de combate à exclusão e à pobreza ficam suspensas destes ratings que decretam o que os governos podem ou não fazer. É o virtual a sobrepor-se ao real. Sombras sobre os direitos humanos.
Num tempo em que a existência parece não ter sentido, para além do feiticismo do défice de 3% ou coisa que o valha. Para além das totalidades “lucro” ou “rentabilidade” que violentam o nosso presente.
O nosso tempo é feito de contradições. De avanços e recuos. Foi assim também ao tempo da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, parto difícil, pois resultou da combinação de diferentes visões da sociedade e do mundo, não raro em oposição.
No nosso tempo, a democracia emerge muitas vezes refém das forças do mercado. É um tempo em que as políticas dos governos sufragados nas urnas são perigosamente embargadas por agências de rating que estão para além de qualquer escrutínio democrático. E assim as políticas de combate à exclusão e à pobreza ficam suspensas destes ratings que decretam o que os governos podem ou não fazer. É o virtual a sobrepor-se ao real. Sombras sobre os direitos humanos.
Num tempo em que a existência parece não ter sentido, para além do feiticismo do défice de 3% ou coisa que o valha. Para além das totalidades “lucro” ou “rentabilidade” que violentam o nosso presente.
segunda-feira, dezembro 07, 2009
Evo de Nuevo!
Há quatro anos atrás, Evo Morales tornava-se o primeiro indígena a chegar à presidência da Bolívia. Então, não deixámos de referir o que essa eleição representava de esperança para os povos indígenas. Povos de há muito vítimas de espoliação e opróbrio.
A reeleição de Morales por uma margem esmagadora não deixa dúvidas quanto ao significado das políticas levadas a cabo nestes quatros anos. Políticas socialistas que Morales ousou empreender, num tempo marcado pela hegemonia do pensamento único (neo)liberal. Contra os arautos do privatizar "rapidamente e em força", Morales ousou dizer não! Nacionalizou recursos energéticos e pôs em marcha políticas redistributivas. Impulsionou a saúde num país fortemente carecido dela.
A Bolívia é hoje menos injusta e mais democrática. Graças às políticas de Morales.
A reeleição de Morales por uma margem esmagadora não deixa dúvidas quanto ao significado das políticas levadas a cabo nestes quatros anos. Políticas socialistas que Morales ousou empreender, num tempo marcado pela hegemonia do pensamento único (neo)liberal. Contra os arautos do privatizar "rapidamente e em força", Morales ousou dizer não! Nacionalizou recursos energéticos e pôs em marcha políticas redistributivas. Impulsionou a saúde num país fortemente carecido dela.
A Bolívia é hoje menos injusta e mais democrática. Graças às políticas de Morales.
quarta-feira, dezembro 02, 2009
Sobre o referendo suíço
Medito sobre os resultados do referendo suíço que proibiu a construção de minaretes no país da democracia participativa.
Não porque tais resultados constituam surpresa. Ao invés, eles inscrevem-se numa tendência mais geral que se exprime na crescente adesão dos europeus à agenda político-ideológica da direita popular e populista. Aqui, o espectro do Islão serviu os propósitos desses políticos tão em voga no nosso tempo.
No caso dos minaretes, a sua proibição não coarcta a liberdade de credo dos muçulmanos na Suíça. Mas o gesto é simbólico e, por isso, importante. E a proibição liminar de construir minaretes, inscrita na lei geral por via deste referendo, constitui uma forma de discriminação. Vale para os minaretes, mas não para os campanários das igrejas.
Quando muito, a construção de minaretes deveria ser tratada a nível local, nas freguesias e municipalidades, por causa do (possível) impacto urbanístico. Mas nunca em referendo.
O referendo suíço vem demonstrar-nos que há valores mais altos do que a democracia. Que a vontade das maiorias tem de ser limitada por via constitucional. Dito de outro modo, a questão dos limites à democracia é, paradoxalmente, indissociável do exercício da liberdade individual. E da liberdade das minorias.
Imaginemos que os suíços tinham referendado não a proibição de minaretes, mas a das mesquitas? Teríamos a vontade da maioria a colidir com o direito da minoria (nesta caso os crentes muçulmanos) em prosseguir com a sua vida em condições de liberdade.
Um último apontamento sobre o discurso da esquerda e das elites intelectuais, perante este tipo fenómenos. Nada é mais fácil do que lançar o anátema da xenofobia sobre os suíços que assim votaram. Ou vir com as velhas dicotomias rural/urbano, tradicional/moderno, o que acaba por dar no mesmo. Não passam de fórmulas de auto-suficiência para satisfação dos seus autores, mas que em nada nos ajudam a perceber estas realidades. Veja-se, a título de exemplo, este artigo do Público.
Assim não é de admirar que políticos como Berlusconi e sucedâneos coleccionem vitórias, enquanto a esquerda, lamentavelmente, acumula derrotas por essa Europa fora. É necessário perceber que há mundo para além dos lugares privilegiados em que se movem as elites.
Não porque tais resultados constituam surpresa. Ao invés, eles inscrevem-se numa tendência mais geral que se exprime na crescente adesão dos europeus à agenda político-ideológica da direita popular e populista. Aqui, o espectro do Islão serviu os propósitos desses políticos tão em voga no nosso tempo.
No caso dos minaretes, a sua proibição não coarcta a liberdade de credo dos muçulmanos na Suíça. Mas o gesto é simbólico e, por isso, importante. E a proibição liminar de construir minaretes, inscrita na lei geral por via deste referendo, constitui uma forma de discriminação. Vale para os minaretes, mas não para os campanários das igrejas.
Quando muito, a construção de minaretes deveria ser tratada a nível local, nas freguesias e municipalidades, por causa do (possível) impacto urbanístico. Mas nunca em referendo.
O referendo suíço vem demonstrar-nos que há valores mais altos do que a democracia. Que a vontade das maiorias tem de ser limitada por via constitucional. Dito de outro modo, a questão dos limites à democracia é, paradoxalmente, indissociável do exercício da liberdade individual. E da liberdade das minorias.
Imaginemos que os suíços tinham referendado não a proibição de minaretes, mas a das mesquitas? Teríamos a vontade da maioria a colidir com o direito da minoria (nesta caso os crentes muçulmanos) em prosseguir com a sua vida em condições de liberdade.
Um último apontamento sobre o discurso da esquerda e das elites intelectuais, perante este tipo fenómenos. Nada é mais fácil do que lançar o anátema da xenofobia sobre os suíços que assim votaram. Ou vir com as velhas dicotomias rural/urbano, tradicional/moderno, o que acaba por dar no mesmo. Não passam de fórmulas de auto-suficiência para satisfação dos seus autores, mas que em nada nos ajudam a perceber estas realidades. Veja-se, a título de exemplo, este artigo do Público.
Assim não é de admirar que políticos como Berlusconi e sucedâneos coleccionem vitórias, enquanto a esquerda, lamentavelmente, acumula derrotas por essa Europa fora. É necessário perceber que há mundo para além dos lugares privilegiados em que se movem as elites.