sexta-feira, dezembro 21, 2007

Um Feliz Natal para os habitantes da blogosfera

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Nas compras de Natal antes do jantar



Antes do jantar, as últimas compras de Natal e a Fnac.
Não ia comprar nada para mim. Mas depois vi este dvd e…não resisti.

Num jantar de Natal...


Ontem num jantar de Natal de amigos, calhou-me em sorte esta prenda, um livro de Maurice Blanchot. Desta vez, não posso maldizer a sorte…

«O olhar da morte. Três personagens - com a mesma paixão irreprimível - vão viver e morrer devido à humanidade infinita e à gélida crueldade desse olhar.
Rodeadas por algumas testemunhas ocasionais, garantes da plausibilidade da história, vão viver a morte do outro e morrer a sua própria morte»

Salário mínimo

Sobre esta questão do salário mínimo nacional, não vou discutir os "méritos científicos" dos dois lados da barricada, dos que sustentam que a sua subida é causa de desemprego e dos que dizem não haver impacto negativo ao nível de emprego (não tenho competência, acredito apenas que a resposta mais provável é "depende...", o alcance universal das teorias parece-me aqui limitado, aliás como em muitos outros domínios das ciências socais; convém não esquecer o que é a economia...) Limito-me a constatar que, mesmo entre os economistas, não há consenso, ao contrário do que alguns querem fazer crer.

Esta é uma questão eminentemente política, mesmo quando as partes em contenda invocam a ciência em sua defesa. Diria até que se trata de uma escolha ético-moral.

Quem sustenta a existência de um salário mínimo e o seu progressivo aumento procura, pelas práticas da regulação, reduzir as assimetrias sociais e os abusos por parte de quem tem mais poder numa relação de troca desigual como é a estabelecida entre o empregador e o trabalhador. Não ignora as relações de poder e dominação no mundo do trabalho, que as mais das vezes pendem para o lado da empresa ou do empregador (evidentemente que não há regra sem excepção, há grupos profissionais que, mercê de um elevado grau de especialização ou de um posição privilegiada no mercado do trabalho, impõem a sua lógica à empresa; estou-me a lembrar dos pilotos das companhias áreas, pois não é fácil substituí-los; mas existem outros exemplos). Em suma, pretende-se constituir um limiar mínimo para uma vida decente, materialmente falando, algo que ainda não conseguimos atingir no nosso país; o salário mínimo nacional não chega para as necessidades; por isso, qualquer subida do seu nível é, na minha opinião, de louvar.

Os que defendem que fixar administrativamente os níveis salariais é distorcer o mercado e, por essa via, aumentar o desemprego dos mais pobres ou precários, acreditam na liberdade contratual dos indivíduos e que é do jogo da oferta e da procura que devem sair os ajustamentos nos rendimentos do trabalho. A liberdade é assim afirmada em abstracto. O problema desta mundovisão é o seu carácter a-histórico, ignorante das assimetrias de recursos ou das relações de poder e dominação perenes na sociedade (no limite, para eles, esta não é mais do que mera agregação de indivíduos atomizados). Não é livre quem quer, mas quem pode. É preciso criar as condições, sociais e políticas, para que a liberdade floresça, para que muitos mais sejam livres. E isso faz-se também contra poderes coercivos que estão fora do Estado.


quarta-feira, dezembro 19, 2007

Visto(s)

Infelizmente, nos últimos meses, não tenho conseguido ir ao cinema tanto quanto queria. Felizmente, na última semana fui 3 vezes.


Liberais, versão americana, em luta contra as mentiras dos neo-cons, tentam salvar a juventude pós-9/11 quer das consequências de acreditarem quer das consequências de não acreditarem. Em qualquer coisa.


Em inglês, claro...


Tenho uns oculozinhos mui jeitosos para vender. Barato, barato.
O filme é bom entretenimento. Em 3D.

terça-feira, dezembro 18, 2007

A liberdade e o consumo que é nossa condição

Se em 1600 era tarefa difícil escrever um prefácio a La Boétie, hoje não é mais fácil.

Hoje, como nos tempos de La Boétie e Montaigne, a alienação é demasiado doce (como a Coca-Cola) e a liberdade demasiado amarga, porque está demasiado próxima da solidão. E da loucura.

O discurso que hoje endeusa a liberdade individual não merece mais crédito do que qualquer outro discurso político-ideológico. Hoje, mais do que ontem, a liberdade individual é só aquilo que o poder, através das suas máquinas de propaganda, houver por bem considerar liberdade.

Não é fácil responder a perguntas como estas: O que vale a liberdade, para que serve a liberdade nas sociedades de consumo? Quanto custa a liberdade, que vantagens traz a liberdade nas sociedades de consumo? Que força tem, que crédito pode merecer a liberdade na sociedade do espectáculo? Quem é que se exprime em liberdade na sociedade do espectáculo?

Manuel João Gomes, in Prefácio difícil apesar da ajuda de Montaigne (ao Discurso sobre a Servidão Voluntária)

Impressões

Um soldado do Exército Vermelho está deitado na relva depois
de uma batalha, conversa consigo próprio: «Os animais e as plantas
lutam pela existência. Os seres humanos lutam pela supremacia.»

Vasily Grossman, in Um Escritor na Guerra

Imagens de Aelita



segunda-feira, dezembro 17, 2007

Aelita: Rainha de Marte



Aelita é o primeiro filme de ficção científica do cinema soviético, e é anterior ao fabuloso Metropolis, de Fritz Lang.
Foi realizado por Yakov Protazanov, em 1924.
Segundo o historiador Marc Ferro, no livro Cinema et Histoire, este filme encerra uma sátira à sociedade soviética.
Los, o herói insatisfeito com a sua vida terrena, viaja até Marte, onde conhece Aelita, filha do tirano Toskub. Enamora-se dela e os dois levam a cabo uma revolução (proletária) contra o regime opressor. Mas as coisas acabam mal. No amor e na revolução…
Aelita é um filme que continua a prestar-se a diferentes significados: sátira da sociedade soviética ao tempo da NEP; de uma NEP afastada da pureza ideológica comunista. Ou o destino trágico de todas as revoluções. Ou tão-só uma comédia sem pretensões a mais nada.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Ordem Livre

Está já online, o site OrdemLivre.org.
Eis a sua apresentação, feita pelo Pedro Sette Câmara, no Insurgente:
É um projeto do Centro de Promoção dos Direitos Humanos do Cato Institute. Além do site, temos também um blog, no qual também vou começar a postar assim que os parafusos estiverem mais apertados.

Nossos planos são ambiciosos e já começamos, francamente, muito bem. Já temos uma entrevista em áudio com Carlos Alberto Sardenberg, um vídeo legendado com Drew Carey discutindo soluções de mercado para os engarrafamentos de Los Angeles, artigos e ensaios e, mais importante, uma biblioteca gratuita com clássicos do liberalismo. Eu sei que você sempre sonhou em dar de presente para todos os seus amigos um exemplar do raro As seis lições, de von Mises, o melhor livro de “economia para leigos” que existe. Pois vá lá. Ainda tem mais.

Estatistas, tremei!
Embora ache muito ambicioso o desejo expresso na última frase, fruto talvez do meu crescente pessimismo face à "marcha para a servidão", quero desejar o maior sucesso na divulgação do ideal da Liberdade.
Mui recomendável é a biblioteca disponibilizada.

Da independência supervisionada

Kosovo. A União Europeia arranjou a fórmula algo bizantina da independência supervisionada para a ainda província sérvia. Todos falam da inevitabilidade da independência, e não raro invocam o argumento demográfico (é de presumir que, no futuro, outros também invoquem a demografia em sua defesa).
Os europeus, que é bom lembrar foram os instigadores da intervenção militar da Nato, pela mão do amigo americano, urdiram esta ficção diplomática mais para reduzir os riscos internos de uma divisão (o espectro do Iraque ainda está bem vivo) do que para preservar os sérvios kosovares. Aliás, a sorte dos refugiados sérvios nunca pareceu interessar muito aos responsáveis da Europa; Da Krajina ao Kosovo, a mesma triste história.
É de facto espantoso ver os líderes europeus, acompanhados pela legião de publicistas do costume, falarem de direitos humanos e de respeito pela legalidade internacional, quando fazem tábua rasa dos acordos antes assinados, e que preservavam a integridade territorial da Jugoslávia e, depois, da Sérvia.
E é interessante verificar que, na lógica desta independência supervisionada, os albaneses kosovares têm direito à autodeterminação, mas já os sérvios do território não podem decidir em liberdade qual o seu destino. Para eles, a União Europeia acena com uma constituição, que no futuro estado independente do Kosovo garantirá os direitos das minorias, e com a presença militar da Nato. Imaginamos pois o que será tal constituição nas mãos das gentes de Hashim Thaci, os antigos guerrilheiros do UCK. E se a imensa maioria albanesa mais a sua demografia galopante não a vão embargar, num dado momento do processo histórico. E quanto à Nato, os sérvios sabem o que ela tem significado: uma incipiente protecção, que não impediu pilhagens, destruição de monumentos e assassinatos. Desde que a Nato substituiu o exército jugoslavo, as minorias étnicas no território viram o seu número diminuir. Paradoxalmente, o Kosovo é hoje um lugar muito menos multiétnico do que antes da intervenção militar, de uma intervenção militar empreendida em nome da tolerância e da diversidade.
Face a este quadro, o mínimo que se exigia aos europeus era que equacionassem a partição do Kosovo, permanecendo o norte sérvio e mais alguns enclaves na República da Sérvia. Seria uma réstia de bom-senso, mas os europeus não irão por aí.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Primárias americanas


Os resultados desta sondagem revelam um largo espectro de indecisos entre o eleitorado republicano, o que explica as sucessivas alterações quanto à liderança nos inquéritos de opinião, nenhum dos candidatos se destacando claramente. A novidade é o aparecimento de Michael Huckabee, senador do Estado do Arkansas; Rudy Giuliani parece levar uma ligeira, muito ligeira, vantagem: é o que recolhe a maior percentagem de respostas favoráveis. No entanto, isso é ensombrado pelo índice de opiniões desfavoráveis, ou não fosse ele um nova-iorquino.
A única tendência que se vislumbra, entre os republicanos, é a do progressivo ocaso da candidatura do senador McCain, que poderemos atribuir ao Iraque (percebe-se que ele iria prolongar o atoleiro iraquiano) e à pouca clareza em questões domésticas centrais para grande parte dos eleitores dos elefantes. Não se percebe muito bem o que ele pensa das guerras culturais, do papel da religião na sociedade, da imigração ou da alargamento da cobertura do serviço de saúde. E numa primárias, estas são as questões dominantes; nelas votam os eleitores de convicções mais arreigadas ou presos a eixos de valores (ideológicos...).
No campo democrata, a polarização entre Hillary Clinton e Barack Obama é o grande dado. Desenha-se uma vantagem de Hillary, mas não é nada que não possa ser invertido durante a corrida que se avizinha.
Quase tudo em aberto, portanto.

Acho que ainda vou a tempo























Karlheinz Stockhausen (1928-2007)

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Desabafos sobre a Cimeira

Sobre a cimeira, em jeito de desabafo, não evitei o Público de Domingo e o artigo da jornalista Teresa de Sousa, em tom oficioso, como é seu apanágio sempre que fala de Europa, elogiar a firmeza dos putativos líderes europeus que não esqueceram os direitos humanos e zurziram no octogenário Robert Mugabe.

Confesso a minha irritação pela forma como nós, europeus, brandimos a questão dos direitos humanos em África. Não que ela me seja indiferente, eu que por acaso até tenho aí as minhas raízes (e parte da minha família materna em Angola). E longe de mim pensar que os africanos estão condenados a viver no despotismo, o que me incomoda são as velhas atitudes hoje travestidas com as roupagens da democracia e os direitos humanos. O subtexto é o da velha missão civilizadora dos antigos colonos europeus, os africanos aqui nunca são sujeitos, mas sim objectos; ontem tinham de ser “civilizados”, hoje têm de ser “democratizados”. Evidentemente que o modelo (seja o da civilização cristã ou o da democracia) é imposto a partir de cima, os europeus ditam as regras aos africanos, da democracia à abertura dos mercados. Mas olhando para este nosso ocidente, ou tão-só para o nosso mui democrático país, que transforma os velhos em vil mercadoria, negócio de lares e misericórdias; que os vota ao mais profundo esquecimento e pratica o culto boçal da juventude, disseminado por televisões que têm o telelixo como negócio primeiro e primário. Será que nós, portugueses e ocidentais em geral, damos lições aos africanos? É de uma arrogância insuportável: os políticos e os jornalistas não falam assim de democracia, quando na presença de um qualquer dignitário chinês, da República Popular da China ou de Singapura. Mas em relação a Africa já nos arrogamos no direito de dar lições aos seus governantes. É verdade que nem a todos, também temos as nossas afinidades electivas: Meles Zenawi, primeiro-ministro da Etiópia, pode matar islamistas em nosso nome, na vizinha Somália, além de reprimir brutalmente as oposições internas. Mugabe, esse sim, é o arquétipo da “má governança” (interessante expressão…). E é sintomático que, em relação ao Zimbabué, ninguém fale do facto de cerca de cinco mil fazendeiros possuírem mais de metade da terra arável do país. Será que isto aconteceu do nada? Ou é apenas produto do empreendedorismo de gerações de colonos brancos? Não esconde essa desigual, profundamente desigual, distribuição da terra ancestrais relações de violência e dominação? Não estou a dizer que Robert Mugabe não tem responsabilidade na dramática situação do país (evidentemente que tem, foi desastrosa a gestão de uma reforma agrária tomada pelo nepotismo), mas importa não escamotear outros dados do problema, muito em particular o papel do Reino Unido.

A cimeira do nosso contentamento também revelou uma Africa que soube dizer “não”. Apenas treze países assinaram a parceria económica, o Senegal disse recusar-se a fragilizar as suas economias locais, abrindo os mercados aos produtos europeus (muitos deles subsidiados, como bem sabemos). África tem hoje mais margem para negociar, a entrada em cena da China foi sem dúvida uma boa notícia para os africanos, eles ganharam novo poder negocial junto da Europa e dos Estados Unidos. E a entrada em cena de uma nova geração de líderes poderá expandir os bons exemplos de desenvolvimento, que os há, convém não esquecer, em África. Um desenvolvimento que será produto da acção criativa dos indivíduos e das forças sociais desse território imenso e diverso que é o continente africano.

sábado, dezembro 08, 2007

Stars of the Lid. O concerto


Entrar no Nimas ao som de Sowiesoso dos Clusters (estiveram cá não assim há muito tempo, no Festival Número) e sentir a secção de cordas dos Stars of the Lid a insinuar-se por entre a ambient dos pioneiros alemães, foi uma inesperada sensação. Não que os territórios dos Clusters e dos Stars of the Lid estejam assim tão distantes, pelo contrário, há pontes, e não poucas, e percebemos bem as heranças ou as filiações.
Brian McBride e Adam Wiltzie, o duo do Texas que forma os Stars of the Lid, fizeram-se acompanhar de uma secção de cordas e de um projeccionista. A sua música privilegia as estruturas minimalistas, com sonoridades harmónicas criadas a partir de reverberações de guitarras, de violinos e violoncelos e ainda com recurso às modernas caixas de músicas que são os portáteis. É música que se entranha progressivamente em nós, ambient do mais alto quilate. Não fosse sugestivo trabalho vídeo, e bem poderíamos ter fechado os olhos (e libertar a imaginação).
O concerto foi baseado no último álbum, And Their Refinement of the Decline, que pelo que me foi dado a ver parece estar na linha do anterior, The Tired Sounds of. Mas neste caso a continuidade é bem vinda, não rima com estagnação. Ou então é daquelas formas de conservadorismo que se recomendam.
Do Texas, a estranheza, a sedutora estranheza das suas músicas.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Stars of the Lid
























Os Stars of the Lid em Lisboa, amanhã no Nimas, pelas 22:00 horas.

Da greve e do conflito motor da vida democrática

A arrogância e o desprezo pelas greves está muito para além da discordância com os seus objectivos, é uma manifestação antidemocrática e mais uma, entre muitas, manifestações do tardo-salazarismo inscrito no nosso espaço público e que abomina o conflito como se fosse um mal, e que deseja um mundo sem ondas e sem confrontos, onde os negócios prosperem sem complicações, em que uma mediocridade remediada seja a regra para todos e onde a ausência de escrutínio e vigilância democrática decorrem do peso abafador dos consensos. Um pouco como já acontece com a "Europa".
José Pacheco Pereira, in Público,1/o1/07.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Control














Control, um filme de Anton Corbijn

Da derrota de Chávez

Na Venezuela, o Não venceu por escassa margem. E Chávez aceitou o veredicto dos eleitores.
Muitos disseram, a propósito deste acto referendário, que se tratava de um mero plebiscito que abriria caminho a uma ditadura. Falaram até da morte prematura da democracia e que as condições para uma tal consulta não estavam sequer reunidas
Eles, de tanto brandirem o espectro da ditadura, acabam por destituir a palavra de todo e qualquer sentido; é mero simulacro.
E é caso para dizer, sobre a democracia venezuelana, que as notícias da sua morte foram manifestamente exageradas.
Havia coisas interessantes nesta constituição que Chávez queria fazer aprovar, mas o risco de perpetuação no poder, dado que deixaria de haver limitação de mandatos, e a latitude da aplicação do estado de emergência deitaram tudo a perder. Era demasiado perigoso. Votaram bem os eleitores venezuelanos.

Assim também, quando os habitantes de um país encontram uma personagem notável que dê provas de ter sido previdente a governá-los, arrojado a defendê-los e cuidadoso a guiá-lo, passam a obedecer-lhe em tudo e a conceder-lhe certas prerrogativas; e isto é uma prática reprovável, porque vão acabar por afastá-lo do bem e empurrá-lo para o mal. Mas em tais casos julga-se que poderá vir sempre bem e nunca mal de quem algum dia nos fez bem.

La Boetie, in Discurso Sobre a Servidão Voluntária.


P.S. Estou muito longe de ver em Chávez um personagem notável, mas sinto que este excerto do Discurso… se aplica com inteira propriedade também neste caso.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Eleições e Autocracia


Na Rússia, as eleições legislativas consagraram, como era esperado, Valdimir Putin e a sua democracia soberana, a face moderna da autocracia.
A nova duma, ainda mais do que na sua anterior composição, será dominada pelos deputados do Rússia Unida, a ficção partidária engendrada por Putin, sem ideologia, a não ser uma tosca síntese de elementos do czarismo e da grandeza soviética, que congrega oligarcas e antigos burocratas do PCUS, estes últimos no seu elemento, onde podem mandar como nos bons velhos tempos. De resto, apenas mais três formações conseguiram entrar na duma, duas das quais não passam de satélites do presidente, o Rússia Justa e os liberais-democratas do palhaço de extrema-direita Vladimir Jirinovski; por último, o partido comunista, que ainda faz oposição, mas com uma base de apoio envelhecida (os jovens de esquerda escolhem o Partido Nacional-Bolchevique, do escritor Eduard Limonov, impedido pelo Kremlin de concorrer a estas eleições).
Na Rússia de hoje, ser oposição não é fácil, a elite no poder recorre a todos os expedientes para neutralizar a dissidência, se preciso for até ao rapto ou ao assassinato político; os media estão controladas quase na sua totalidade por gente fiel ao presidente. Além disso, Putin tem muito dinheiro para distribuir graças à generosa renda do petróleo.
Dito isto, importa não esquecer que Vladimir putin é genuinamente popular.
Apoiando-se na elite dos serviços secretos, conseguiu travar a decomposição da Federação Russa, domesticou os oligarcas e trouxe aparentemente estabilidade e alguma segurança ao país. Os russos, descrentes da democracia, que associam ao caos e ao saque dos bens públicos, viraram-se para este homem de gestos rudes, mas que lhes inspira confiança e parece ter devolvido o orgulho à Rússia.
E se a Rússia regressou ao estado da autocracia, não é porque lhe esteja no sangue ou seja parte do seu código genético, mas pelo aviltamento que a democracia conheceu às mãos dos liberais russos, os democratas dos anos noventa:

Os dissidentes e os democratas tentaram, durante demasiado tempo, levar o povo a acreditar, erradamente, que Ieltsin, logo ele, era um verdadeiro democrata. Chegou uma altura em que esse conto de fadas se tornou insustentável e «democrata» tornou-se literalmente um palavrão: as pessoas transformaram «demokrat» em «dermokrat» (merdocrata) Tornou-se corrente não só entre os comunistas e estalinistas fanáticos, mas também entre a maioria da população. Os dermokrat» deram à Rússia a hiperinflação, fizeram-nos perder as poupanças que tínhamos trazido do período soviético, iniciaram a guerra da Chechénia e estavam no poder quando da falência monetária do governo russo.

Anna Politovskaya, in Um Diário Russo.

E os Liberais?
Isso depende muito de quem se está a falar. Há esse mito em relação aos liberais como Gaidar e Tchubais, que vocês chamam “jovens reformadores”. Penso, pelo contrário, que eles tiveram um papel extremamente negativo. Essa revolução liberal que lhes é atribuída é uma coisa ambígua e controversa. As pessoas detestam-nos, não por causa da democracia e da liberdade, mas, como direi…por culpa desse, como direi, thatcherismo ou algo ainda mais à direita de Thatcher, essa forma extrema de tomar medidas económicas absolutamente insensíveis. E não muito bem pensadas, pelo contrário algumas bastante primitivas. É isso que, infelizmente, as pessoas hoje associam à liberdade e à democracia.


Andrie Nekrasov em entrevista ao jornal Público/Suplemento Ípsilon, 26/10/07


sábado, dezembro 01, 2007

Vintage


Sharon Jones & The Dap-Kings - "100 Days, 100 Nights"


Sharon Jones & The Dap-Kings - Just Dropped In (To See What Condition My Condition Was In)

Seriously Funkin' Shit!


100 Days, 100 Nights - Sharon Jones & the Dap-Kings


Keep Reachin Up - Nicole Willis & The Soul Investigators