terça-feira, outubro 30, 2007

Doclisboa. East of Paradise



Em East Of Paradise, o cineasta Lech Kowalski confronta as suas raízes por meio do impressionante testemunho da mãe, sobrevivente do Gulag.

Maria Werla Kowalski conta como os soldados soviéticos chegaram à Polónia, no ano primeiro da Segunda Grande Guerra, e a levaram, bem como a outros membros da sua família, para as remotas paragens da Sibéria; para uma vida de trabalhos forçados. No isolamento agreste da tundra siberiana, homens, mulheres e crianças polacas cortavam a madeira que iria servir para a construção de uma linha de caminho de ferro. Esse tempo de escravidão apenas era quebrado pelos interrogatórios e torturas nas celas da NKVD, a polícia política do regime de Estaline.

A crueza do seu relato dá-nos a imagem do que era o sofrimento no Gulag. As descrições daqueles vagões mórbidos, onde se recolhia gente esfomeada, consumida pelo tifo e a disenteria, mas que eram o único abrigo possível do frio, quando Maria e o sobrinho se viram abandonados na imensidão dos grandes espaços russos. Por vezes, havia momentos de humanidade. Recorda-se de quando chegaram a uma aldeia remota e uma mulher idosa lhes ofereceu o que tinha para a sua refeição, e o que tinha era parco. No rosto desta mulher, a vontade de acudir à triste sorte daqueles polacos, a vontade de lhes dar abrigo, mas também o medo (temia pela sorte do filho que era agente da NKVD...). O medo a que o poder totalitário sempre recorre para destruir os laços de solidariedade entre as pessoas. E não esqueceu também aquele guarda do campo de trabalhos forçados, que lhe escrevia cartas de amor; recorda com emoção o seu rosto.

É um relato feito de uma dor indizível. Verbalizar o que aconteceu, ao invés de ser exorcismo dos fantasmas do passado, apenas vem prolongar o sofrimento. Porque não é possível ao esquecimento operar sobre tão traumática experiência. “Por que é que me queres filmar agora?”, pergunta Maria Kowalski. Cede à comoção, não pode continuar. E Lech termina o testemunho filmado da mãe. Um testemunho que é a anatomia do regime inumano que assolou a Rússia nos anos trinta e quarenta do século passado. No rosto de Maria, as marcas da História.

Lech Kowlasiki passa então a falar-nos do que foi a sua vida no undergound nova-iorquino. Perpassam os filmes porno, que foram para Lech a sua inicição ao mundo do cinema, as máfias, as drogas e os concertos de punk e rock. Chega a estabelecer um estranho paralelismo entre as pessoas que se amontam em exíguas salas de concerto com as que outrora eram enclausuradas em vagões fechados e neles levadas para campos de concentração. quer falar sobre sofrimento e morte, também presente na Nova Iorque dos anos setenta. Evidentemente que tal paralelismo é exagerado, mas ele deve ser visto como a procura de Lech Kowalski filiar a sua experiência na da mãe. Acaba por desembocar num discurso de crítica ao poder, a todo e qualquer tipo de poder. Na vontade de viver à margem deste, de querer ser um anarquista.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Os genes e o meio. A sombra do racismo


Imagem retirada do blog Cinco Dias Link para o estudo.

Não tem sido muito profícua a minha actividade no Office, não por excesso de afazeres que nos lembram ser o tempo um bem escasso, a causa talvez resida antes nalguma letargia…Ou então, porque me preparei prematuramente para o fim do Verão. Mas o Verão persiste (não sei se é a síndrome do aquecimento global…), e eu fico um pouco à deriva, incapaz de tomar uma decisão, breve, de me disciplinar.
Apesar disso, lá fui acompanhando a polémica em torno das declarações do cientista e Prémio Nobel James Watson, de que os negros seriam menos inteligentes do que os brancos (estou a citar de cor, mas creio que estou a ser fiel ao sentido das suas palavras). De tudo o que vi, ouvi e li, destaco este texto do Vasco M. Barreto, que surgiu no blog Cinco Dias.
Ele toma como boa a tese de que o Q.I. é um instrumento operativo quando se trata de medir a inteligência, uma parte desta, ele ressalva, porque a inteligência não se esgota num conjunto estreito de indicadores quantitativos construídos para medir uma série de aptidões. Mas é um facto que, para parte considerável da comunidade científica, o Quociente de Inteligência é uma ferramenta importante. O interessante é que não é apenas uma questão de “genes”. Porque a parte dele que é geneticamente determinada varia entre 40 e 80%. Ora, tal latitude de variação remete-nos necessariamente para outra ordem de factores, dito de outro modo, para as causas do meio que também enformam um determinado QI, ou uma dada distribuição estatística desagregada por classe social, grupo étnico ou racial, com toda a ambiguidade que tais categorias encerram sempre. Em suma, também no “estreito” domínio do QI o debate genes versus meio parece infindável.
Outra questão importante é a das implicações sociais e políticas de determinadas descobertas científicas. Imaginemos, num grosseiro exemplo, um mundo em a que ciência provava, e comprovava, a existência de uma relação positiva entre as variáveis riqueza, pertença racial ou étnica e inteligência, sendo esta última apenas geneticamente determinada. Seria dramático para a esquerda, porque é da sua natureza a crença na correcção das desigualdades de partida, vulgo, o privilégio de nascimento. Porque as políticas postas em marcha pela esquerda visam reduzir as assimetrias sociais, as desigualdades que têm a sua raiz numa miríade de factores, que não o mérito individual ou a “inteligência”. Tudo isto porque, se a produção de ciência é mais ou menos neutra (está em princípio sujeita a regras de validação inerentes ao campo científico), já não o é apropriação que dela fazem os grupos sociais ou os actores políticos. Tomemos a chamada Acção Afirmativa: em face de uma tal teoria de determinismo genético, dificilmente seriam sustentáveis políticas de imposição de quotas com base em critérios de natureza étnica, na universidade ou no mercado de trabalho. E as restantes políticas sociais acabariam reduzidas a uma dimensão meramente caritativa (a compaixão pelos "mais fracos”), esvaziadas dos princípios de universalidade que hoje as enformam. Isto no cenário optimista, porque os pessimistas poderiam ir da segregação de pessoas e grupos até ao “Pesadelo de Darwin”.
Felizmente que a realidade científica não é assim tão dramática. Olhando para a figura acima, podemos verificar que as curvas normais dos grupos étnicos estão sobrepostas. Assim, tratando-se de meras distribuições estatísticas, não é possível fazer a extrapolação do QI médio da população (de um dado grupo étnico) para o do indivíduo. E basta também olhar para o grau de dispersão destas curvas normais para perceber como é redutor sustentar diferenças de aptidões/inteligência entre os indivíduos com base unicamente em critérios de natureza étnica ou racial. Haveria ainda que explicar as causas ou os factores que explicam determinadas distribuições estatísticas ou curvas normais. Regressaríamos então à velha, mas sempre actual, discussão entre o peso do genético e a importância das causas do meio. E isso está para lavar e durar.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Leituras sobre Carris



“Contos de Saki" - Saki
For G. K. Chesterton, he is 'sparkling and impenetrable'. For Graham Greene, 'the absurdities fly back and forth, they dazzle and delight'. For Evelyn Waugh, he is the author of 'six or seven masterpieces'. Noel Coward called him 'my favourite writer'. Tom Sharpe confessed he was a Saki 'addict'.
Contemporary Review, Dec, 1999 by Adam Frost


Quem acompanha o que por aqui vou escrevendo, já terá reparado que Greene é o meu escritor favorito, que Sharpe é o meu escritor favorito e que Waugh está a caminho de ser o meu escritor favorito. Sabe ainda o visitante do Office que Allen é o meu realizador e escritor favorito.
Já chega de "name dropping"? Já ganhei a Vossa atenção?

É então com um enorme prazer meu muito meu e no gozo da satisfação da descoberta que recomendo a leitura desta pequena colecção de contos de Hector Hugh Munro, aka Saki.
Se não lerem, a culpa é toda vossa. Não se queixem.

Doclisboa: Jesus Camp e outras coisas



Jesus Camp foi o meu primeiro documentário no doclisboa.
Heidi Ewing mostra-nos a realidade do fundamentalismo cristão (evangélico) nos Estados Unidos, ao filmar o quotidiano de um campo de férias, para crianças e jovens, dirigido pela pastora Becky Fisher.
Começamos por ver as crianças numa coreografia guerreira, envergando trajes militares, ao som de ritmos que poderíamos dizer saídos de uma qualquer rave, futuros soldados de Cristo na guerra em curso contra o secularismo. Porque, para os cristãos evangélicos, o secularismo é um corpo estranho aos valores da América; espécie de alienígena que tem de ser erradicado.
É de uma guerra cultural de que se trata, e estas crianças são ensinadas a tudo sacrificar à fé em Cristo, a exemplo dos combatentes jihadistas do Islão, por quem Becky Fisher não esconde aliás o seu fascínio. Serão ensinadas a morrer e a matar, no desprezo pelos não cristãos. Uma cultura de medo e ódio a alastrar pelo tecido social americano. Nas igrejas e nas escolas; na política e nos media. Não é de surpreender que, num futuro não muitos distante, os Estados Unidos venham a ser confrontados com novas formas de terrorismo; internas à sociedade.
É um documentário cheio de vitalidade, muito por força quer da montagem, quer da sinceridade desarmante (e assustadora) dos seus protagonistas. E também capaz de arrancar momentos de humor, como quando vemos aqueles Outdoors, em paisagens da América profunda, que nos convidam a conversar com Jesus, antes do jogo de futebol de Domingo. Ou quando cristãos evanngélicos questionam o aquecimento global, porque “a temperatura só subiu 0,6 graus…”
Podemos ver este fenómeno como exoticamente americano, refiro-me a estas formas de viver a religiosidade, distante de uma Europa cada vez mais descristianizada. No entanto, pelo prisma da dinâmica entre secularidade e religião, encontramos tensões também na Europa. A diferença é que, no velho continente, os protagonistas não são nem os evangélicos nem os católicos, mas sim os combatentes do Islão.
Outras coisas do doc…, As duas faces da Guerra, de Diana Andriga e Flora Gomes, em que antigos soldados portugueses e guerrilheiros do PAIGC falam das lutas que travaram. E à margem dos conflitos, a beleza de Glitterburg, colagens de memórias filmadas, último filme de Derkek Jarman. Quase que poderíamos dizer metafísico. Perpassa a Londres dos anos setenta, a moda e as reminiscências do punk… Imagens que são indissociáveis da música de Brian Eno.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Cuba. Ventos da Sociedade de Consumo


Cuba, os jovens e a paixão pelos automóveis. No El Pais:

Los cubanos, especialmente los jóvenes, se gastan grandes cantidades de dinero en accesorios, a los que llaman pacotilla,que consiguen de las maneras más inverosímiles para acicalar desde un Chevrolet de 1956 a un Fiat nuevo, pasando por los omnipresentes Lada y Moscovich rusos.

Hay teorías de todo tipo para explicar la avidez por el aderezo de los vehículos en un país donde el salario medio ronda los 17 dólares: desde el incremento de la entrada de divisas a través de profesionales cubanos en misiones en el exterior a la imposibildad de gastar los ahorros en otra cosa.

Pero, independientemente de los motivos, la fiebre por el tuneado deja al descubierto que la juventud cubana sucumbe, como sus coetáneos en países capitalistas, a una costosa práctica enfocada al cuidado de su imagen. La mentalidad de la juventud ha sido en los últimos años una de las principales preocupaciones para la jerarquía cubana, que ha reconocido “vicios” y “tendencias negativas” en la generación que creció durante el periodo especial declarado en la isla tras el derrumbe del campo socialista.

Teorias à parte, eu creio que hoje se vive melhor em Cuba. E a civilização do consumo também me parece uma coisa inexorável.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Leituras sobre Carris



The Vote Motive - Gordon Tullock
In this classic introductory public choice text, Gordon Tullock analyses the motives and activities of politicians, civil servants and voters. Government 'servants' can most likely be assumed to be pursuing their own interests, just like those in the private sector, although, given the coercive power of the state, the effects can be far from benign. The incentive structures present within public institutions mean that government action may well fail to improve economic welfare and frequently has results different from those intended.

The application of the ‘economic theory of politics’ effectively undermines the market failure approach to government policy-making, which relies on the assumption that benevolent and far-sighted governments are capable of clearing up the failings of private markets.
Institute of Economic Affairs

terça-feira, outubro 16, 2007

Alumbramiento

No DVD Ten Minutes Older, que reúne curtas de nomes importantes da sétima arte em torno do sentido do Tempo, descobri este imenso tesouro de Victor Erice, o cineasta de O Espírito da colmeia.
Confesso que fico sem palavras, sempre que (re) vejo Alumbramiento ou, se quiserem, Lifeline:

feti-che


Benicio del Toro como Che.

Ainda o Che, num interessante artigo do jornal El Pais, longe, muito longe, do registo afectado, e até indigente, desta nossa direita, cronistas da blogosfera e de diários de referência (um deles ostentando mesmo o título de demiurgo de uma qualquer ciência) apostados em mimetizar os seus pares além-Atlântico; felizmente que sem a cumplicidade com assassinos que é atributo de muitos dos seus parentes do lado de lá…

"Era en Berlín occidental, y no en el Berlín comunista, donde se vendían más objetos del Che. Y tuvo que ser un shock para los alemanes de la antigua RDA descubrir que, entre los elegantes comercios de Charlottenburg, al otro lado de aquel muro que ellos mismos derribaron, hay una tienda dedicada exclusivamente a este hombre que debe haberles provocado más de una pesadilla en su pasado comunista.

Para la izquierda radical, el fetiche del Che significa una victoria cultural después de una derrota política. Para la derecha radical, el fetiche del Che significa una derrota cultural después de una victoria política.

Por eso, cuando algunos conservadores arremeten contra el fetiche por la historia revolucionaria y violenta del personaje, lo primero que demuestran es un alarmante desconocimiento de cómo funciona este capitalismo que tanto defienden a capa y espada. Este sistema que necesita matar al Che personaje -y así lo ha hecho- tanto como distribuir la mercancía que les representa (cosa que también ha hecho sin el menor rubor)".

Leituras sobre Carris


Absalão, Absalão! - William Faulkner

Não é fácil.
Encontrar. Ler. Assimilar.
Não é díficil.
Render-se-lhe. Apaixonar-se.
Recomendo acompanhamento de "O Som e a Fúria".
Imprescindíveis.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Robert Wyatt e Portugal


Robert Wyatt e as recordações de um tempo passado em Portugal, um tempo de infância.

Essas recordações foram a matéria-prima do álbum A Short Break, de que já aqui fiz eco.

«Portugal foi muito importante para mim. A minha empatia com o Terceiro Mindo vem do facto de eu ter sido fantasticamente intoxicado por um país que naqueles tempos imaginávamos ser o Terceiro Mundo: as crianças andavam descalças, as raparigas eram impossivelmente exóticas, os meus pais deixavam-me ficar acordado até tarde porque todas as crianças portuguesas ficavam acordadas até tarde (e podiam beber vinho misturado com água). Brinquei com uma rapazinho chamado Rudolfo que era tão bonito que se eu tivesse ficado mais algum tempo ter-me-ia tornado homossexual. Foi incrível ver esta gente, que era muito mais pobre do que nós, ter uma vida maravilhosa na pobreza. Um melão custava um escudo. As pessoas carregavam na cabeça grandes blocos de gelo, com um passo muito digno. Fiquei com vergonha de ter sapatos e tentei andar descalço, mas o chão estava cheio de escarros e a minha mãe obrigou-me a calçá-los. Lembro-me de coisas muito simples, como dormir na praia, com um cobertor, em sítios como a Trafaria, junto ao rio, e ver as estrelas...Para um rapazinho que vivia num subúrbio de londres, com brumas e nevoeiro, era como um reino mágico. Isto é incrivelmente romântico, mas eu não percebia nada de pobreza ou opressão (Portugal ainda era um país fascista), eu via apenas a beleza das pessoas, mas não compreendia o que é que isso tinha a ver comigo, como é que eu podia ser parte daquilo»

Rui Tentúgal , in Actual, Expresso, 5/10/07

quarta-feira, outubro 10, 2007

Robert Wyatt. Sobre o Che e outras coisas mais.


«Hasta Siempre, Comandante» foi recuperada de uma compilação de 1999: Fear of a Red Planet. «As canções espanholas estão relacionadas com sentimentos políticos com os quais tenho algumas associações românticas, como a Guerra Civil de Espanha. A parte final do disco é sobre as soluções que as pessoas encontram para escapar a este ciclo de violência. A minha geração encontrou várias formas de lidar com os aspectos insuportáveis da vida: através do feminismo, do surrealismo, da música improvisada (libertando a música liberta-se a mente). Termino com um hino a São Che Guevara, que simboliza o sonho louco da minha geração. Não sei se é um final feliz ou triste porque não sei como a história acaba.»

Rui Tentúgal , in Actual, Expresso, 5/10/07

terça-feira, outubro 09, 2007

Comicopera



















Comicopera é o mais belo dos discos, cantado pela mais triste das vozes
Rui Tentúgal , in Actual, Expresso, 5/10/07

segunda-feira, outubro 08, 2007

Impressões dos EME

Os Encontros de Música Experimental /EME tinham, este ano, o desafio de fazer uma edição à altura da anterior, talvez a mais ambiciosa de sempre, que contou com nomes bem firmados na cena da música electrónica avant-garde . Estou a lembrar-me de Murcof, de Oval ou de Colleen, sem esquecer Sack Ziegler (só faltou o Blumm), que nos proporcionaram momentos de rara beleza na Igreja de Santiago, em Palmela.

Para 2007, nomes como Marsen Jules, Tim Hecker e Biosphere eram a melhor prova de que a organização queria manter a fasquia alta. E pode-se dizer que foi uma aposta ganha.

Tivemos mais projectos a explorar a componente visual/imagética, de entre os quais nunca é demais destacar o trabalho de Laetitia, austero e quente; linhas brancas, sob um fundo negro, representavam graficamente as frequências sonoras (um bom registo de ambient), e por elas éramos transportados para territórios emocionais. Marsen Jules, na primeira noite dos EME, jogou habilmente com as possibilidades acústicas da Igreja de Santiago, oferecendo-nos uma música cheia de profundidade, num registo ambient capaz de nos transportar para territórios contrastantes. Biosphere, projecto do norueguês Geir Jenssen, é música de uma beleza agreste, impregnada de nostalgia; e o trabalho vídeo de G Jenssen, com recurso a imagens urbanas que se dissolviam numa espécie de liquidez, não podia ser melhor complemento para os sons que tão bem souberam exprimir a espessura do tempo. Fechou pois com chave de ouro os Encontros de Música Experimental de 2007.

Duas notas ainda, primeiro para o registo da ucraniana Kateryna Zavoloka, que trouxe até nós uma música inteligente e rica nas suas explorações rítmicas (foi a única a ir além da ambient, presença quase totalitária nos Encontros deste ano), introduzindo samples de vozes, nuances que traziam um sentido de mudança à performance; depois, Tim Hecker, que desiludiu, ao enveredar por uma espécie de pastiche sonoro, na abordagem que fez ao espaço da Igreja. É caso para nos interrogarmos sobre o que veio Tim Hecker fazer aos Encontros (deve ter estado, pelas minhas contas, somente uns vinte minutos em "palco", e apenas para fazer aquilo; foi um embuste).

Para terminar, uma palavra de agradecimento para o pessoal da organização, sempre muito simpático e generoso com o moscatel...

sábado, outubro 06, 2007

Biosphere


Encontros de Música Experimental/EME. Igreja de Santiago (Castelo de Palmela). Às 21:30 horas.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Zavoloka


Zavoloka.
Encontros de Música Experimental/EME.
Dia 4 de Outubro, na Igreja de Santiago (Castelo de Palmela). A não perder.

terça-feira, outubro 02, 2007

Os cubanos não sabem a sorte que têm!

Jornal de Negócios:
Os portugueses pagam demasiado por um serviço público de Saúde que aparece em 19º lugar na lista dos 29 países que compõem o "ranking" europeu. A conclusão resulta da análise do "Índice Europeu do Consumidor de Serviços de Saúde 2007", ontem apresentado em Bruxelas, e das recomendações defendidas pelos responsáveis da "Health Consumer Powerhouse", organização que tutela o "ranking".

Público (meu destaque):
Para estabelecer qual o sistema de saúde mais favorável aos utentes, esta organização analisou vários parâmetros, como as leis dos direitos dos cidadãos, o acesso directo a médicos especialistas ou o direito a uma segunda opinião.
(...)
Portugal obteve ainda maus resultados na análise à mortalidade por ataque cardíaco, às operações às cataratas e aos cuidados dentários no sistema público.

Não é pois de admirar a escolha feita por um reformado boliviano.

OS EME



Os Encontros de Música Experimental/EME têm início amanhã, dia 3 de Outubro, na Igreja de Santiago (Castelo de Palmela), que pela sua acústica constitui um palco privilegiado para estas manifestações artísticas.
Esta é a sétima edição de um evento desde sempre dedicado às novas linguagens sonoras e visuais, à exploração de novas fronteiras sensoriais. Os Encontros são acima de tudo um espaço de liberdade.
Destaco as presenças do canadiano Tim HecKer e do norueguês Geir Jenssen, mais conhecido pelo projecto Biosphere.
Podem consultar aqui a programação. Apareçam e tragam outro (a) amigo (a) também!
Deixo-vos com este vídeo da ucraniana Zavoloka, que também será presença nos EME:

Che vuelve a ganar otro combate



Mario Teran, antigo sargento do exército boliviano, foi o homem que há quatro décadas atrás executou Che Guevara. Fazia parte de um destacamento militar, devidamente enquadrado pela CIA, que andava em busca do mítico guerrilheiro.

Há poucos dias, médicos cubanos devolveram-lhe a visão, depois de uma bem sucedida operação às cataratas.

Quis assim o destino que coubesse aos inimigos de outrora, e não ao amigo americano, a tarefa de livrar o antigo militar desta forma cegueira. Tudo aconteceu em Santa Cruz, num moderno hospital inaugurado pelo presidente Evo Morales, um confesso admirador das realizações do regime de Castro.

Não podia pois ser mais apropriado o título do Granma, órgão oficial do Comité Central do Partido Comunista de Cuba, Che vuelve a ganar otro combate.

Visto


Se precisam de ser entretidos. Se precisam de ser distraídos de dias que vos trazem mais preocupações que as que gostariam de ter. Se sempre gostaram de acreditar no sonho de uma realidade alternativa.
Então, ide vê-lo.Quando sairem, os problemas da vossa vida continuam os mesmos. Mas durante duas horas eles ficaram lá fora.
E depois há a Michelle Pfeiffer (lolitas do écran: ponham os olhos nesta Senhora!) e Robert De Niro (nunca o viram assim - garanto-vos!). E há a Claire Danes. A brilhar como uma estrela da manhã.

Menezes e o populismo

Sobre o populismo e as directas nos grandes partidos do sistema político.
Luís Filipe Menezes venceu as directas para liderança do Partido Social Democrata, o que parece ter surpreendido muita gente. Das elites políticas aos analistas da comunicação, sem esquecer híbridos como o prof Marcelo, todos falam da vitória do populismo, como se este fenómeno fosse estranho ao tecido da sociedade de massas.
O populismo encontra terreno fértil numa democracia cada vez mais alicerçada nas modernas formas comunicacionais (dos vários suportes à disposição dos indivíduos no mundo imaterial da Internet ao reino das votações em directo banalizadas pelas televisões do mercado), que causaram a erosão das instâncias de mediação ou dos mecanismos tradicionais de representação. Poder-se-ia pensar que o advento das formas directas de participação e tomada de decisão nos assuntos da polis seria inequivocamente positivo, porque gerador de mais de democracia: a vida interna dos partidos seria mais transparente, o debate mais rico e aberto. No entanto, algumas experiências passadas dizem-nos que esta história pode não ter um final feliz. Atente-se nas palavras de Fareed Zakaria, no livro O Futuro da Liberdade – A Democracia iliberal nos Estados Unidos e no Mundo, sobre o impacto das primárias (grosso modo, a eleição dos candidatos dos partidos pelos eleitores, e já não apenas pelos notáveis ou militantes de base):

Hoje, os partidos políticos não têm peso real na América. No decurso da última geração, tornaram-se tão abertos e descentralizados que ninguém os controla mais. As máquinas, as organizações, os chefes, os militantes e os líderes do partido, tudo isso deixou de ter importância. Na melhor das hipóteses, o partido representa, para um candidato telegénico, um meio de recolha de fundos. Se ele é popular e ganha a nomeação, o partido dá-lhe apoio. E por essa via o candidato beneficiará de mais algum apoio logístico e de uma nova lista de potenciais financiadores. De facto, os candidatos às primárias acharam útil, no passado, concorrer contra o establishment do partido. Essa postura dava frescura à campanha, como a de um David contra Golias, e foi esse o caminho de George McGovern, Jimmy Carter ou Ronald Reagan. Hoje, essa estratégia é mais difícil porque já não há establishment contra quem se candidatar. Quem representava o establishment em 1992? Bill Clinton, Bob Kerry ou Paul Tsongas? Nenhum dos três. O sucesso de George W. Bush não consistiu em ser candidato do establishment, mas de ser candidato da sua família. Bush tinha duas coisas que são necessárias num sistema sem partidos – um nome conhecido e uma máquina de financiamento. Quem tiver as duas, tenha ou não experiência política, tem agora uma enormíssima vantagem. Esta é a razão pela qual, neste novo sistema porventura mais «democrático», se tem visto mais dinastias políticas, mais celebridades oficiais e mais políticos bilionários do que era habitual. Isto é apenas o começo. À medida que o declínio dos partidos políticos se acentuar, a riqueza e a celebridade tornar-se-ão argumentos de peso para alguém fazer-se eleger.

O partido político é hoje um recipiente vazio à espera de ser cheio com um líder popular

segunda-feira, outubro 01, 2007

As Palavras de CMC

O Carlos Manuel Castro, que antes podíamos ler no Tugir, pode agora ser lido no Palavra Aberta.
Além de ser um socialista a quem se deve prestar muita atenção pelo que escreve e pensa, tem ainda a grande qualidade de ser vitoriano (além de ser um gajo verdadeiramente simpático).
Felicidades para a tua nova morada, Carlos.