quinta-feira, novembro 30, 2006

Aborto: o referendo

Finalmente tem data o referendo da interrupção voluntária da gravidez, a onze de Fevereiro do próximo ano lá irão, novamente, os portugueses pronunciarem-se sobre tão delicada questão.
Eu preferia ver esta questão regulada em sede da Assembleia do que vê-la dirimida em referendo, não raro instrumento da imposição da vontade maioria sobre a minoria, muitas vezes em terrenos que emanam da esfera íntima. Depois, é muito provável que a demagogia e o terrorismo verbal irrompam sempre que é de aborto de que falamos. E o referendo, como terreno fértil que é, ampliará esses ecos. Ao invés, em sede do Parlamento seria talvez possível regular o ruído e ter um debate mais sob o signo da razão.
Para ser assertivo, direi desde já que sou pelo “Sim”. Porque acho razoável que até ás dez semanas esta questão seja do domínio do livre arbítrio da mulher e do seu círculo íntimo. Não é uma fórmula perfeita, estou consciente disso, mas seria pior deixar tudo como está; manter um absurda lei penal que, longe de inibir a prática do aborto, empurra as mulheres para as margens da clandestinidade, criando um problema de saúde pública que importa resolver. Além disso, a lei penal não pode ser a mera de tradução juízos éticos ou morais. E o que tem acontecido até hoje é que a visão moral comungada por uma estreita maioria (aqui estou a referir-me em particular ao referendo de 98) se sobrepõe a todos os indivíduos, partilhando estes, ou não, outros valores ético/morais deste problema. Arrastar esta discussão (são dilemas que não cessarão de existir) para o domínio do penal é de raiar o absurdo.
Acredito que a mudança da lei criará, a prazo, as condições para reduzir o aborto à sua mínima expressão social.
P.S. Se actual lei fosse aplicada, se as comissões dos hospitais e a Ordem dos Médicos aceitassem o nela preceituado, nomeadamente no que diz respeito à saúde psíquica da mulher, hoje não estaríamos na senda do referendo. Se fosse aplicada, actual lei serviria perfeitamente.

Jazz em Palmela

Esta noite, em Palmela.
Lá estarei, com bilhete comprado há algum tempo pois o espectáculo esgotou.

Seria possível realizar este espectáculo (ou outro da mesma qualidade e com os mesmos requisitos) no anfiteatro da Praça José Afonso?
Recordo uma notícia do Setúbal na Rede de 7/6/05:
Em Setembro, os setubalenses vão poder voltar a usufruir da Praça José Afonso. Uma intervenção de 4,3 milhões de euros que, segundo o responsável pela fiscalização da obra, Rui Gonçalves, “vai oferecer à cidade um anfiteatro ao ar livre com bancadas para 2500 espectadores, camarins e sanitários públicos”.

Videoclip Lounging

Actualizado com Low . Para nos dilacerar...

quarta-feira, novembro 29, 2006

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers

Isto é demasiado grave para ser ignorado

Sendo certo que a intervenção (directa e indirecta) do Estado na comunicação social em Portugal era já extensíssima, as novas medidas configuram a instituição explícita e inequívoca de mecanismos de censura permanente pelo governo Partido Socialista. Quem não julgou que se pudesse chegar a este ponto em Portugal em 2006, tem aqui a clara confirmação do que já se podia intuir há algum tempo. Ficam a faltar os blogs, mas a voracidade censória dos socialistas fará certamente com que não tarde a apresentação de medidas para limitar a liberdade de expressão também neste meio.

Quem pensar que nada tem a temer por não se encontrar entre os grupos agora determinados como alvos preferenciais da censura governamental deve ter em conta duas coisas: primeiro, que quem define os critérios que configuram uma transgressão na prática é (necessariamente) a mesma entidade que institui a censura (ou seja: o Estado); segundo, que uma vez aceite explícita e abertamente o princípio da censura como agora foi feito nada impede que o próprio leque de transgressões seja progressivamente alargado com base nos mais diversos argumentos politicamente correctos.

O Helder complementa:

terça-feira, novembro 28, 2006

E agora, vão-se queixar ao vosso representante na AR

O Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada levantou o decretamento provisório da providência cautelar para a cimenteira da Secil, na Arrábida, abrindo caminho para que a cimenteira avance com os testes de queima de resíduos industriais perigosos.

O cabeça-de-lista do PS por Setúbal avançou ainda um segundo argumento para levantar obstáculos à co-incineração na serra da Arrábida, afirmando que a própria administração da Secil «não quer» receber este sistema de tratamento de resíduos industriais.(...)
Interrogado sobre a possibilidade de um Governo PS introduzir a co-incineração na cimenteira de Setúbal, o ex-comissário europeu referiu que todas as forças políticas a nível local «são a favor de um projecto de requalificação ambiental da serra da Arrábida».
«Quando o segundo Governo do professor Cavaco Silva (entre 1991 e 1995) prorrogou o prazo de laboração da Secil na serra da Arrábida, o PS manifestou-se contra», disse, procurando sublinhar uma ideia de coerência entre a sua posição e a dos socialistas de Setúbal.



Adenda: Não esquecer que António Vitorino suspendeu o mandato. Também para ele o chamamento de Bruxelas foi mais forte que o seu compromisso com os eleitores (de Setúbal, neste caso).

Aborto: Mitos do Não

Uma breve, apenas breve nota sobre o artigo de Pedro Picoito, intitulado Talvez, alusivo ao aborto e que hoje foi levado á prensa pelo PÚBLICO.
Para além dos argumentos costumeiros, que bem espremidos se resumem à figura da feminista má (herdeira moderna da fada má), este arauto do “Não” faz uso de meias verdades, ao dizer “que em todos os países que abriram portas à liberalização o número de abortos aumentou exponencialmente”. Ora, em rigor, não é possível sustentar uma afirmação deste teor, visto que o período anterior à “liberalização” era o do aborto clandestino, pela sua natureza um fenómeno difícil de medir em toda a sua extensão (em muitos casos até nem existiam estudos; e entre nós quantos estudos sérios há?). Pelo que tal comparação enferma de desonestidade intelectual.
E a sugestão de que estes países foram submergidos pelo aborto é assaz ridícula. Não há lei universal que nos diga haver uma associação entre “liberalização”, para empregar a expressão do articulista, e níveis elevados da prática do aborto. Por exemplo, no Estado do Dakota do Sul, onde os eleitores chumbaram em referendo uma proposta de lei que visava restringir o aborto, esta prática tinha uma expressão mínima.
Por fim, é interessante verificar que, nos países europeus que levaram à prática a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (até às dez ou às doze semanas), esta questão passou a ser da esfera íntima; deixou ser problema político, remetendo movimentos ou grupos, similares aos do espectro do Pedro, à condição de espécies exóticas no paisagem da Polis.

Ortodoxia

segunda-feira, novembro 27, 2006

Videoclip Lounging

Bagdad está a arder

Ou então, Democracia ≠ Liberdade.
Com a ocupação americana do Iraque, puderam os iraquianos exercer o seu direito de voto em eleições plurais, abertas e competitivas. Elegeram deputados e têm um governo representativo. Em estrito senso, têm hoje Democracia (governo do povo para o povo; eleição de representantes por sufrágio directo e universal)
E no entanto não se respira um ambiente de liberdade ou de tolerância. Das eleições, emergiram quase só partidos de base étnica ou religiosa, um quadro propício ao irredentismo e à violência sectária. Alguns sectores da sociedade, desfrutam hoje de menos liberdade do que no tempo do despotismo de Saddam Hussein, caso das minorias religiosas, dos grupos secularizados ou das mulheres. Atente-se por exemplo neste testemunho de uma cidadã e (blogger) deste novo Iraque:

Para mim, Junho marcou o primeiro mês em que não me atrevi a sair de casa sem hijabou lenço. Não uso hijab normalmente, mas já não é possível sair sem o fazer. Não é uma boa ideia. (...) Olho para as minhas roupas – jeans e t-shirts e saias coloridas – e é como se estivesse a estudar um roupeiro de outro país, de outra vida, de outra vida. Houve um tempo em que mais ou menos usávamos o que queríamos se não estivéssemos em público. (...) Não há leis a dizerem que devemos usar hijab (aind), mas há homens vestidos de negro e com turbante, os extremistas e fanáticos libertados pela ocupação. Já não queremos ser vistas. (...).
Não queremos atenção – da polícia, dos milicianos de negro, do soldado americano.

In Público.
Baghdad Burning

31 da Armada

E aí está ele, o 31 da Armada.
Em especial ao Rodrigo Moita de Deus (foi bonita a festa, pá!) e ao Luciano Amaral (espero que não deixes de te insurgir!), mas extensível a todos os colaboradores, parabéns pelo projecto.
E, claro, obrigado por incluirem o Office na vossa lista de links no meio de tão ilustre companhia.

Visto


"O filme é muito bom. Gostei imenso."
Assim se pronunciou a crítica de cinema que me acompanhou no visionamento de mais uma obra de Scorsese. Eu limito-me a subscrever.
Já agora: se o Jack Nicholson não fôr o maior actor vivo, não sei quem será.

sábado, novembro 25, 2006

Um Dia Colorido

Um Dia Cinzento

sexta-feira, novembro 24, 2006

Penélope

Videoclip Lounging

O PC e a deputada Luísa Mesquita

O Partido Comunista Português está confrontado com um caso de rebelião na sua bancada parlamentar.
Luísa Mesquita, eleita deputada pelo círculo eleitoral de Santarém, decidiu não acatar a directiva do partido que impunha a sua substituição no parlamento por outro camarada.
Este caso parece fugir à bitola clássica dos ortodoxos versus renovadores, a imagem de Luísa Mesquita é a de uma deputada obediente à linha dominante na direcção comunista, ou seja, identificada com os princípios ou premissas ideológicas do partido de que é militante há muitos anos. No entanto, sabemos bem que a organização fabrica dissidências como se de um determinismo histórico se tratasse (foi visível esse tom no discurso do jovem líder parlamentar, Bernardino Soares).
Creio que a deputada Luísa Mesquita sentiu o processo como profundamente injusto, ela que tem uma ligação forte ao distrito de Santarém e que desempenhou ao longo de todos estes anos um trabalho sério na Assembleia da República. De facto, esta forma de actuar do PC não dignifica a figura do deputado, que é preciso não esquecer que tem uma fonte de legitimidade própria (ainda mais neste caso, onde é clara a ligação ao círculo eleitoral e aos assuntos locais, Luísa Mesquita é também vereadora na Câmara Municipal de Santarém), não ficando bem aos partidos promover práticas de índole burocrática ao nível da sua substituição.
A prazo, é a própria democracia que perde, e por extensão os partidos, se os parlamentares são encarados como meras peças de um engrenagem. E, acima de tudo, as pessoas existem, tem a sua importância; não podem ser diluídas nessa entidade que, nalguns discursos, parece assumir propriedades quase metafísicas, e que dá pelo nome de “Colectivo.”

O longo caminho para o heroísmo

Escreve o Miguel no Insurgente:

Está encontrada uma nova heroína e o seu nome é Luísa Mesquita. O seu grande feito parece sido a recusa em abandonar a AR contrariando as ordens do partido. Como recompensa, ser-lhe-á conferido o direito de proclamar o orgulho de ter pertencido a um partido anti-democrático e iliberal e de aderir ao Bloco de Esquerda (uma mudança na continuidade) ou ser recuperada para a democracia quando for nomeada Subsecretária de Estado num governo do PS.

Para além das gaffes de Pedro Santana Lopes não há nada que delicie mais a nossa comunicação social do que encontrar um “bom comunista”. Ninguém ousará questionar o seu percurso. Nem foi preciso renunciar aos seus “ideiais humanistas” ou a qualquer outro elemento da cartilha marxista-leninista.

Nos comentários, o Rui Carmo pergunta:

Qual foi a posição da deputada Mesquita no processo que envolveu o pcp na substituição do presidente da CM Setúbal?

The Departure












Em The Departude, Martin Scorcese filma uma guerra fratricida que tem como pano de fundo a máfia irlandesa (em Massachusetts) e as polícias, mundos imbricados um no outro.
O enfoque na trágica condição irlandesa fez-me lembrar The Wind That Shakes the Barley, de Ken Loach, onde, mais do que a denúncia da ocupação britânica, eram as agruras e traições de uma luta fratricida que davam corpo ao filme.
Em Depature, a espiral de violência não desemboca em qualquer espécie de redenção. Não há saída. Sentimos que o cepticismo tomou conta de Scorcese. Parece ser esse o seu olhar sobre a nova América. A América no quadro de uma globalização já não reconhecível (o medo da China) e do Acto Patriótico pós-Onze de Setembro.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Videoclip Lounging

A gozar com todos nós e com o nosso dinheiro

A propósito deste post da categoria "Irresponsabilidade Com o Dinheiro dos Outros", o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, lamenta a decisão da CML (RR):

“Foi uma decisão infeliz, porque a Câmara de Lisboa sabe que os trabalhos que estão a ser feitos para a terceira travessia do Tejo, têm um parecer da REFER contra aquele loteamento por essas razões, houve conversas entre responsáveis, e eu pensei que isso era mais do que suficiente para que a autarquia tivesses uma atitude mais responsável nesta matéria”(...) “pelos vistos, é preciso haver um decreto, um diploma, que imponha que os terrenos fiquem com a sua utilização condicionada enquanto não se decide exactamente onde se vai fazer a implantação dos acessos à ponte pela margem direita do Tejo”

Ao menos, neste lamentável aspecto, o estado é quase auto-suficiente - bastam as embrulhadas criadas pelos seus agentes e instituições, ao exercerem o seu controlo do que se passa em propriedades privadas, para que tal propicione ocasião para expandir a sua produção de regulamentos.
Ainda nem um carril foi assente e o TGV já será mais caro do que o esperado pelo Sr. Ministro.
Pagam os mesmos de sempre.

Já colocado no Insurgente.

Adenda: Digam-me lá se não há razão para estar "de mata-moscas na mão" (uma expressão do João Aldeia, nos comentários deste post) de cada vez que o estado sente necessidade de regulamentar qualquer coisinha...?

Viagem no Tempo

No Blasfémias, o JCD afirma ter conseguido a enorme proeza de viajar no tempo.
Só assim se compreende que tenha conseguido recorrer à investigação feita por uma jornalista do DN para escrever um post dois dias antes.
Parabéns, João!

Adenda: Pode não parecer, mas aquilo ali em cima tem uma pitada de ironia...

quarta-feira, novembro 22, 2006

AutoEuropa em causa?

IHT:

Volkswagen said Tuesday that it planned to end production of the best-selling Golf compact car at its Brussels factory, resulting in a loss of about 3,500 jobs in a country rapidly losing blue-collar jobs, as the company tries to cut costs and raise profit.(...)

The company plans reduce its work force in Germany by 20,000 people, mainly through early retirement and voluntary departures, to cut production costs. The carmaker's factories are not running at full capacity and exports, especially to the United States, are suffering from the strength of the euro against the dollar, the company said Tuesday.(...)


The carmaker is also shifting to a longer workweek after reaching an agreement with unions in September. Other Volkswagen plants outside Germany are now being incorporated into the reorganization, the company said. It will probably shift some production to Germany from Spain and Portugal, Houchois said.

Visto

O fime anuncia-se logo nos primeiros intantes: "Uma tragédia à portuguesa, quase uma comédia."
Quase.
Quase todos representam bem. Quase todos esbracejam em desequilíbrio ante a possibilidade de se molharem na piscina da canastrice. Curiosamente, a maior parte do actores safa-se do mergulho, alguns mostrando que sabem como aproveitar toda a sua experiência (noutros formatos, até) para evitar lá cair. Mas não com a ajuda do argumento, que durante mais de duas horas se arrasta para um fim há muito percebido (nada de mal nisso, a não ser o arrastar). Uma pequena ajuda da Ninfa da Imaginação dos argumentistas e a ideia nem seria má. Assim é só "quase".
O realizador conseguiu não afogar o filme. Pelo contrário.
Quase, quase um bom fime.

Monica

terça-feira, novembro 21, 2006

A Televisão. Ou o Capitalismo de Casino

Sobre a regulamentação das práticas televisivas, para que os operadores cumpram os mínimos no que diz respeito aos horários e às alterações nos alinhamentos previstos, veio o Miguel, do Insurgente, clamar contra mais esta vil intervenção do Estado na liberdade e nos destinos dos promotores privados.
Chega a ser espantoso como qualquer prática legislativa, ou tímida iniciativa de regulação do sector, é logo vista como uma forma (heresia das heresias) de engenharia social. Como se a lei tivesse que ser apenas a mera tradução do costume ou tradição e nada mais (como seria se John F. Kennedy tivesse respeitado o costume da discriminação racial em vigor no Sul dos Estados Unidos, em vez de impor os direitos civis nestes estados?).
A lei em causa parece querer refrear práticas que, entre nós, são regra em vez de excepção: refiro-me às sucessivas mudanças na grelha de programação, numa manifestação do mais profundo desprezo pelo telespectador. O que aqui está em causa é apenas o direito à boa informação por parte do público.
Parece pois que o governo pretende que os canais televisivos passem a informar da sua programação, com 48 horas de antecedência. Contempla excepções (e elas são muitas vezes o cavalo de Tróia da subversão da lei) e estabelece coimas. Consta aliás que o montante destas coimas será pouco mais do que simbólico. A ser assim, estaremos perante mais um exemplo da não aplicação da lei, a juntar ao já nosso longo currículo.
Mas algo terá mudar neste campo, pois não é aceitável por exemplo esperarmos longos minutos, às vezes até mais de uma hora, por um programa, enquanto nos ministram pesadas doses de uma publicidade a mais das vezes histriónica e de muito mau gosto (encontrar um anúncio sedutor é, nos dias de hoje, um oásis); esta prática não é inocente, como muito bem sabemos, e está largamente disseminada pelos canais generalistas. Podíamos também falar dos longos blocos publicitários entre os filmes assim adulterados (a Suécia tem regras estritas neste domínio) ou do corte dos genéricos.
Perante este estado de coisas, do ruir de referenciais éticos ou de toda e qualquer noção cívica de serviço público, legislar acaba por ser a solução de último recurso. Agora é preciso fazê-lo com seriedade.
De facto, parece que, nas sociedades globalizadas, nada mais interessa a não ser multiplicar os ganhos ou os lucros, ninguém está preocupado em constituir-se exemplo cívico, modelo de conduta (vide ontem nos Prós e Contras o caso dos banqueiros); é o capitalismo de casino de que fala Ralf Dahrendorf:

The 1980s as I see it (and most of the these things which I associate with particular decades started a little earlier in the United States than in Europe), were characterized, in the terms which I have just used, by an attempt on the part of some leading politicians to extend the range of choices for those who can make it, never mind the citizenship rights of everybody. So they have encouraged a new Darwinism, a new struggle for survival of each against everybody, and the sort of "casino capitalism" which we have seen in this decade. This decade has forgotten the need to make sure that every human being in our societies has to be a citizen with full access to economic, social, and political opportunities. And so the agenda for liberalism today is, in my view, to correct the one-sidedness of the 1980s by a better combination of opportunity.

Robert Altman (1925 - 2006)

segunda-feira, novembro 20, 2006

Regresso ao Videoclip Lounging

De regresso ao Videoclip lounging, com sonoridades norte americanas: o jazz de Keith Jarrett, para aliviar um pouco a frustração de não ter ido ao concerto. Depois, Jessica Bailiff e Castanets, projecto de Ray Raposa, que tive a sorte de ver numa noite de Carnaval na Zé dos Bois.

A Ler




A Crítica ao filme Marie Antoinette, de Sofia Copolla. Pelo historiador Paulo Varela Gomes:

A música, os All Star fugazmente aparecidos no meio dos sapatos de cetim (que são uma citação deliberada do mais conhecido “erro histórico” dos dramas históricos – o relógio de pulso que aparece nos Dez Mandamentos de Cecil B. De Mile e em muitos outros filmes), a sequência do baile filmada não em Versalhes mas no átrio da Opéra de Paris, um edifício construído cem anos depois de Versalhes, são dispositivos que estão no filme, não para criar distanciamento em relação à História, não para dizer que ali não se trata de História, mas para fazer a crítica ao género cinematográfico “drama histórico”, uma crítica, aliás, letal – ninguém poderá voltar a fazer “dramas históricos” inocentemente depois de Marie Antoinette.


No filme há mais esquemas, dispositivos e funções que personagens, composição e sequência. Quer dizer, o filme é, em alguma medida, um mecanismo teórico do tipo do mais inteligente e duro filme histórico alguma vez feito, A Tomada do poder de Luís XIV de Roberto Rossellini (1966), que é cinema político em estado puro, à maneira da década de 1960 (e não um “drama histórico”).
Sofia Copolla não dá ao povo aquilo que ele quer. Não serve o povo. Ninguém reconhecerá ali a Rainha e o Rei. Ninguém terá ali adolescentes aos saltinhos. É chato, mas é preciso pensar depois de ver e ouvir Marie Antoinette.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Aborto/ Para compensar maridos e parceiros

Gostei da ironia deste post do Glória Fácil, não resisto a reproduzir este excerto aqui no office:

concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, desde que:

a) o marido concorde;
b) o unido de facto concorde;
c) o namorado concorde;
d) o gajo que ela não via há séculos e que encontrou há um mês à noite e aconteceu aquilo concorde;
e) o gajo de quem ela se divorciou e que já tem outra pessoa (e ela também)mas encontraram-se e pronto, aconteceu, concorde;
f) o gajo casado com quem ela anda concorde e já agora a gaja que vive com o gajo casado e os filhos dos dois concordem;
g) o gajo que a violou concorde;
h) aquele gajo que não lhe atende o telefone concorde;
i) o alemão que ela conheceu nas férias na tailândia concorde;
j) o padre amaro concorde;
l) caso haja dúvidas quanto ao progenitor, a mulher deve convocar todos os possíveis candidatos para análises de dna, posto o que, se ainda se estiver dentro do prazo legal, se procederá à consulta sobre o consentimento;
f


Uma forma de estabelecer pontes com aos arautos do “Não”.

O Portugal De...Silva Lopes

Assisti, talvez no único programa verdadeiramente de serviço público da RTP1 (O Portugal D…), a uma interessante entrevista com o prof. Silva Lopes, que confesso ser um dos poucos economistas deste país que me dá prazer ouvir.
A entrevista versou aspectos biográficos, como o tempo de criança numa aldeia perdida no interior, em que todos iam descalços para a escola primária. O Portugal feito de privação (o pão de trigo era coisa rara por aquelas paragens mais a Norte e as gentes faziam um pé-de-meia para acautelar doenças futuras, pois não havia serviço nacional de saúde nem segurança social). Um Portugal que existiu não assim há tanto tempo, mas que depressa caiu no esquecimento, nesta sociedade do espectáculo suspensa do tempo presente.
O ritmo do programa é a antítese das montagens frenéticas que são a praga moderna da televisão que alguns dizem ser a que queremos e a que merecemos. Privilegia o tempo lento, a palavra seguida imagem que reforça o sentido. E sentimos a espessura do tempo.
Retenho, entre outras coisas, aqueles apontamentos sobre os primeiros tempos da revolução (creio que se referia ao PREC), nomeadamente as críticas à política de subida dos salários (em cerca de 40%) e do congelamento dos preços, que fez a ruína de muitas empresas. A sinceridade desarmante de Silva Lopes quando nos revela que esteve no conselho em que essa medidas foram aprovadas e não se pronunciou contra, ainda hoje não sabendo muito bem porquê. Esse foi um grande momento da entrevista. E também provocador quando nos diz que a nacionalização foi a solução encontrada à época para evitar o desaparecimento de muitas empresas, a braços com prejuízos avultados por força do insucesso de que se revestiu o controlo da gestão pelos trabalhadores. No entanto, esse período conturbado seria rapidamente ultrapassado e já em 1976 se vislumbravam os primeiros sinais de recuperação da economia. E O país entrou no caminho da prosperidade, mesmo se pelo meio houve uma recaída, muito por culpa dos erros do governo da Aliança Democrática, que teve como epílogo o FMI (Fundo Monetário Internacional).
À luz desta análise de quem viveu aquele período quente, penso ainda assim que valeu a pena o esforço da subida dos salários, mesmo se à custa de parte do tecido empresarial. No fundo, os trabalhadores aproveitaram um momento conjuntural em que a correlação de forças lhes era favorável para obter ganhos. Foi a política, que o mundo não é só feito de ciência económica. Mas isso não impediu a rápida recuperação (facto que à época espantou o economista Silva Lopes) e o crescimento económico nas décadas subsequentes, bem como um período de prosperidade sem precedentes na história do país. E quanto às empresas, essas, foram privatizadas, algumas das quais regressando à posse das antigos donos. Terá sido assim tão dramático o PREC? Como seriam hoje os níveis salariais dos portugueses, se não tivesse havido o PREC?

quinta-feira, novembro 16, 2006

Milton Friedman (1912 - 2006)

O Voo do Corvo

Example
A resistência no tempo da Paris ocupada.
Tempos interessantes numa bela bd de Jean - Pierre Gibrat.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Pergunta e dúvidas

Está aprovada pelo T.C. a pergunta para o referendo sobre a despenalização do aborto voluntário.

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?

Já por aqui escrevi sobre o referendo e as dúvidas que me suscita. Por enquanto não tenho a certeza que as minhas ideias sobre o aborto resultem num voto em acordo com elas.
Dúvida: se na actual legislação, para os contextos nela definidos, se prevê que as mulheres possam optar por abortar e com isso pôr termo a uma vida humana (escusam de contra-argumentar; tal é dogmático para mim) sem serem penalizadas, como se pode pretender penalizar as mulheres que o fazem fora desses contextos?
Dúvida: se se deve proteger um ser humano que não tem capacidade de se defender a si próprio, votando não, como se pode prescindir dessa defesa nos contextos actualmente consagrados na lei?

Liberdade de escolha para todos

As escolas vão poder contratar professores através de anúncios nos jornais, em situações como a substituição de docentes de baixa ou o desenvolvimento de projectos de combate ao insucesso, segundo um diploma apresentado aos sindicatos.(...)

Para a Federação Nacional dos Professores (Fenprof), a medida abre portas "à discricionariedade, à arbitrariedade, ao amiguismo e ao compadrio, com as escolas a poderem fixar os seus próprios critérios de selecção, que poderão ser muito diferentes de escola para escola".

Porque é que todos os professores não são contratados individualmente por cada escola?
Porque é que os critérios de escolha em todas as escolas têm de ser iguais e decididos centralmente?
Porque é que as famílias não podem escolher qual a escola que querem para os seus educandos?
Porque é que as famílias não podem optar por diferentes currículos?
Que interesses são protegidos ao continuar-se a defender um modelo de gestão do sistema educativo que tem produzido os resultados que se conhecem?

Recordo o que escrevi: "Educação e Liberdade de Escolha"

Já colocado no Insurgente.

terça-feira, novembro 14, 2006

O Salário Mínimo. Coisas da Democracia Directa no Coração do Imperialismo

O Governo prepara-se para um parco aumento do salário mínimo nacional, que regra geral tem crescido abaixo da produtividade.
Claro que a medida de um tímido aumento desse referencial suscitou a discordância do empresariado luso; dessa elite de empreendedores. E sendo um governo socialista que tem recebido o aplauso da generalidade dos analistas de direita, precisava de inflectir um pouco, ou parafraseando o antigo secretário-geral da transição comunista, Carlos Carvalhas, de piscar o olho ao eleitorado de esquerda. Nada melhor então do que, em pleno congresso, assumir o compromisso do salário mínimo.
E por falar em comunistas, que em congresso internacional reunidos voltaram invectivar o imperialismo americano; o que dirão eles da democracia participativa, que nas terras do Tio Sam parece ir de vento em popa? Dos estados do Arizona, Colorado, Missouri, Montana, Nevada e Ohio, onde os eleitores votaram em referendo a subida do salário mínimo. Do facto de terem chamado a si o cerne da decisão, em vez de a delegarem em parlamentares eleitos ou na imaculada concertação social.

Little Miss Sunshine



Este filme é uma inteligente celebração da vida! E uma deliciosa e corrosiva desconstrução do american way of life.
Mas mais importante, há muito que não me ria tanto numa sala da sétima arte. E rir é um dos grandes prazeres da existência.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Congresso Socialista

Não obstante ecos de preocupação por uma governação afastada das raízes socialistas, de esquerda pois claro, José Sócrates teve uma plateia rendida aos seus encantos. E aos da sua bem oleada máquina de propaganda (ao pé de Sócrates, Santana Lopes não passa de um pobre aprendiz de feiticeiro).
Líder popular, no partido e no país, é para a imensa maioria dos militantes socialistas a garantia da permanência do PS no governo da República por muitos e bons anos.
De pouco importa que a sua política de reformas seja no essencial dirigida contra esse povo de esquerda, que na hora da verdade não deixará no entanto de votar socialista. Mas o efeito imediato das medidas anunciadas que dão corpo à virtuosa política de reformas de que o país tanto carece, assaz aplaudida pela legião de comentaristas colonizadora do espaço público ou de opinião, não é a contestação da rua, mas sim a redução do partido da alternância (de governo) à quase insignificância política.

Videoclip Lounging

Visto

Example
Eu já disse por aqui que a nossa família funciona como a primeira safety net que ampara as nossas quedas.
Não se atrevam a perdê-lo. Se puderem, levem a vossa família convosco.

O Som no Office

Lookin' Out - Terry Callier
BSO mais que perfeita para um fim de semana de Verão Índio.
Já agora: qual é a desculpa do estimado leitor para não ouvir, várias vezes por ano, os discos de Callier?

Viva o aquecimento local!

Na Polinésia, não sei como foi.
Na Terra Nova, também não.
Na Patagónia, idem.

Mas na Zambujeira... Um fim de semana com vinte e tal graus de temperatura, sem frio ou humidade à noite, céu limpo e sol a brilhar, banhos em água do mar morna (exacto: morna!). Eu não sei se S. Martinho passou por lá ou se devo agradecer aos escapes dos SUV das soccer-moms americanas, mas que as consequências locais foram muitos agradáveis, lá isso...

sexta-feira, novembro 10, 2006

U Samogo Sinyego Morya











À Beira do Mar Azul
Uma comédia romântica do tempo soviético. Sobre a nobreza dos sentimentos e a utopia amorosa.
De Boris Barnet.
Ciclo Gulbenkian Como era belo o Cinema, Sábado às 18.30 H.

Eu não sou um homem de teorias, mas tiro o tema dos meus filmes da vida. Bem ou mal, sempre tentei mostrar a época contemporânea, o verdadeiro homem dos tempos soviéticos. Mas isso não é fácil, e a propósito disto podemos evocar um pintor japonês. Até aos 40 anos ele pintou naturezas-mortas. Entre os 40 e os 60, garças e canárias. Precisava de ter chegado aos 100 para se sentir digno de pintar os homens. Mas será que estamos certos de ter tanto tempo diante de nós? Quanto a mim, gosto dos aspectos cómicos de um drama e dos elementos trágicos da comédia. É uma questão de proporções, nem sempre fáceis de encontrar.

Boris Barnet

Videoclip Lounging

De pais para filhos

No Canhoto (via Adufe), o Rui Pena Pires refere que "reduzir a desigualdade imputável à herança seria uma medida simultaneamente liberal e social". Defende, ele, o imposto sucessório.

Normalmente as heranças são o resultado do trabalho e poupança de várias gerações que actuaram com responsabilidade e preocupação com o futuro (o seu e o dos seus descendentes). Actuar contra isso, via impostos, também será penalizar ou destruir mais uma das aprendizagens que são feitas em família: que a primeira "safety net" a que podemos recorrer é a providenciada por aqueles a que nos ligam laços invisíveis e não obrigatórios. Temos também que considerar que será o Estado e os seus agentes que irão alocar estes recursos durante a sua planificação do que deve ser a redistribuição de rendimentos. E quanto à eficiência e eficácia com que isso é feito estamos conversados...
A desculpa de que a criação de igualdades de oportunidades deve ser feita com a penalização dos descendentes de quem poupou e investiu é um claro desincentivo a que o comportamento dos seus antepassados seja valorizado e copiado. No limite, será mesmo um encorajamento à quebra dos laços familiares, ao esbanjamento e ao aumento de custos para a comunidade, se esta se propor substituir o amparo que o amor e preocupação dos nossos pais transformaram em património herdado. Pelo contrário, esse exemplo de comportamento de responsabilidade individual e com a sua família, deve ser encorajado.
Nada disto vai contra o filantropismo ou contra a utilização a seu bel-prazer do património acumulado por cada um no exercício dos seus direitos de propriedade. Nada impede, pois, que o resultado de uma vida de poupança e bons investimentos (de que os demais participantes da sociedade acabam por beneficiar), seja transferido para uma fundação promotora de desenvolvimentos científicos, que seja doada à caridade favorita ou ao clube de futebol do coração (como exemplo de malbaratar dinheiro...). Também aqui o pleno usufruto dos direitos de propriedade devem ser defendidos.

Já colocado no Insurgente.

Estórias do Capitalismo. Da propriedade e do lucro.

Nas Lundas, as províncias ricas em diamantes do Nordeste de Angola, mesmo simples actos como a agricultura, pesca ou banho num rio podem resultar num cruel castigo por parte das empresas de segurança privadas. (grande parte da extracção mineira artesanal consiste de trabalho manual nos leitos e nas margens do rio).
Numa manhã do passado mês de Abril, Francisco Pinto, de 17 anos, foi à pesca no rio Lumonhe, no município do Cuango, como fazia todos os dias. Os guardas da K&P Mineira, uma empresa de segurança activa na região, obrigaram-no a parar porque, disseram, o peixe também estava incluído na concessão de diamantes que estavam a proteger. Quando discutiu com eles foi espancado e deixado inconsciente.


Rafael Marques, in PÚBLICO, 8 de Novembro de 2006

A ler, com calma e até ao fim...

Via The Economist (seguir o link para ler o artigo todo):
HOW much has Daniel Ortega changed? That was the question Nicaraguans were asking after the Sandinista leader won a presidential election held on November 5th. The last time he was in power, from 1979 to 1990, his presidency was marked by revolution, civil war, confrontation with the United States and runaway inflation. This time, Mr Ortega promises, will be very different.
A ler, também, este meu post no Insurgente e os links nele indicados:
O regresso do Sandinista?

quinta-feira, novembro 09, 2006

A Canção de Carla

Regresso Sandinista


Os resultados finais das eleições presidenciais na Nicarágua confirmaram o regresso de Daniel Ortega ao poder.
A ressurreição do homem que foi o rosto da revolução sandinista, na Nicarágua dos anos oitenta, está a deixar o grande vizinho do Norte à beira de um ataque de nervos. Não se coibiram figuras, directa ou indirectamente ligadas à administração Bush, de interferir na campanha eleitoral, ameaçando os nicaraguenses das consequências do voto em Ortega; deixaram pairar a ameaça do estrangulamento económico, querendo, como há vinte anos atrás, vergar os cidadãos da Nicarágua pelo medo. À época, é bom lembrar, não hesitaram em fazer uso do terrorismo e de actos de sabotagem económica, processo que culminou no escândalo Irangate como então ficou conhecido.
Creio que muitos eleitores, num país socialmente polarizado e cada vez mais empobrecido, em grande parte herança de ortodoxias neoliberais impostas à maneira de um despotismo iluminado pelos candidatos de Washington, se viraram para o que ainda resta do sonho revolucionário: a dignificação da condições de vida dos que nada ou pouco têm, a memória de políticas sociais então esboçadas mas a que o estado de guerra cortou raiz. A esperança de que venham agora a ser realizadas, num horizonte de paz e no quadro da democracia mulipartidária.
Resta saber se Daniel Ortega estará à altura do desafio

quarta-feira, novembro 08, 2006

Ecos da derrota republicana

Donald Rumsfeld, secretário da defesa e principal rosto da estratégia militar de Washington no Iraque, foi a primeira vítima do terramoto que assolou as hostes republicanas. E é o reconhecimento, por parte do presidente George W. Bush, da importância do factor Iraque na hecatombe eleitoral que se abateu sobre os republicanos, que perderam a maioria nas duas câmaras legislativas.
A democrata Nancy Pelosi será a primeira mulher a chefiar a Câmara dos Representantes. Ela vem de São Francisco, o que só pode significar boas notícias.

Bordéis e Prisões

As prisões constroem-se com as pedras da Lei, os Bordéis com os tijolos da Religião.

W.Blake

Sono molte cose


Sono una Geisha. Sono una Ragazza.
Sono una Diva. Sono una Donna.
Sono una Gatta. Sono una Bomba a Mano.
Monica B.

Videoclip Lounging

As eleições americanas

Example
As eleições americanas estão a ser marcadas por ganhos dos candidatos do partido democrático, quer na Câmara dos Representantes, onde já garantiram a maioria dos lugares, quer no Senado, cuja balança parece também pender para o lado democrata, ainda que por estreita margem.
Embora a generalidade dos media se tenha centrado nestas duas câmaras, ou dito de outro modo, nas mudanças que poderão enfraquecer a administração Bush e fragilizar a sua política no Iraque , é bom não esquecer que nestas eleições os americanos elegeram também chefes de polícia locais (os famosos xerifes), escolheram presidentes de câmara e governadores estaduais e ainda tiveram de se pronunciar sobre uma miríade de referendos.
A pulsão referendária é mesmo um caso sério na coeva democracia americana. Com raízes fundas nos territórios da América do Norte, o renascimento moderno desta prática é indissociável da célebre Proposition 13, de Howard Jarvis, que impôs limites legais à cobrança de impostos por parte das autoridades estaduais e locais da Califórnia (1978). O cientista político e editor da Newsweek, Fareed Zakaria, vê no uso desmedido do referendo uma das principais causas do avanço da democracia iliberal na América.
No Estado do Dakota do Sul, da América vermelha, conservadora e republicana, foi rejeitada em referendo uma proposta que previa fortes restrições à prática do aborto (só era autorizado em caso de risco para a vida da mãe) e constituía um desafio directo ao Acórdão Roe v. Wade do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, que, em 1973, liberalizou a interrupção voluntária da gravidez. De facto, referendar assuntos que relevam da esfera íntima pode ser visto como uma prática iliberal, transformando-se o referendo num mero instrumento da imposição da vontade da maioria à minoria. Felizmente que, neste caso, falou mais alto a sensatez dos eleitores do Dakota do Sul. E a rejeição desta proposta constitui um sério revés para os arautos da penalização do aborto, que esperavam dela fazer mola impulsionadora de um movimento que levasse o Supremo Tribunal a rever o acórdão aludido e a devolver a questão aos estados.

terça-feira, novembro 07, 2006

Uma péssima e triste notícia

MSNBC:
Genesis will reunite next year for a "Turn It on Again" tour of Europe, their first tour in 15 years.
Ainda bem que são os finlandeses a recebê-los em primeiro lugar.
Também não gosto deles.

De um conhecido autor, defensor da servidão

O amante da Liberdade

What opinion, in your view, should we have of dictatorships?
Well, I would say that, as long-term institutions, I am totally against dictatorships. But a dictatorship may be a necessary system for a transitional period. At times it is necessary for a country to have, for a time, some form or other of dictatorial power. As you will understand, it is possible for a dictator to govern in a liberal way. And it is also possible for a democracy to govern with a total lack of liberalism. Personally I prefer a liberal dictator to democratic government lacking liberalism. My personal impression — and this is valid for South America - is that in Chile, for example, we will witness a transition from a dictatorial government to a liberal government. And during this transition it may be necessary to maintain certain dictatorial powers, not as something permanent, but as a temporary arrangement.

Apart from Chile, can you mention other cases of transitional dictatorial governments?
Well, in England, Cromwell played a transitional role between absolute royal power and the limited powers of the constitutional monarchies. In Portugal, the dictator Oliveira Salazar also started on the right path here, but he failed. He tried, but did not succeed. Then after the war, Konrad Adenauer and Ludwig Erhardt held initially almost dictatorial powers, using them to establish a liberal government in the shortest possible space of time. The situation called for the presence of two very strong men to achieve this task. And the two of them very successfully accomplished this stage towards the establishment of a democratic government. If you permit I would like to make a brief comment in this sense on Argentina.

F.A. Hayek

Via Esquerda Republicana

O Julgamento de Saddam


O julgamento de Saddam Hussein foi a crónica de uma condenação há muita anunciada. Não se esperava outro desenlace, que não a pena de morte.
Também não é de estranhar que o veredicto tenha coincidido com o derradeiro período da campanha eleitoral dos EUA e que o presidente George W. Bush a ele se tenha associado, considerando o acontecimento “uma grande conquista para a jovem democracia iraquiana e o seu governo constitucional.” É evidente que Bush falava mais para os americanos (afinal a captura de Saddam lembra um troféu de caça) do que para os iraquianos.
Sobre o julgamento em si, a história é antiga: é a da justiça dos que sofreram às mãos do tirano e, ainda que assista a estes razão, tal não chega para fazer um julgamento justo, com garantias para o acusado e a sua defesa. Mais grave, este veredicto poderá ter uma tradução étnica, simbolizar a vingança xiita sobre os seus inimigos sunitas, históricos detentores do poder e da riqueza no Iraque; mais uma acha para a fogueira de violência sectária que assola este país.
Há quem se tenha entregue a um exercício de relativismo moral, como foi o caso do director do PÚBLICO, hoje, num vergonhoso editorial.
Para José Manuel Fernandes, é um sinal positivo que este julgamento tenha chegado ao fim, mesmo que durante o processo tenham sido assassinados três advogados de defesa ou que o governo iraquiano tenha feito uso da prerrogativa da substituição dos juízes, quando estes não eram do seu agrado, certamente num gesto emblemático da separação de poderes. Nisto, vislumbra, o putativo articulista, o Estado de Direito em gestação. E a equivalência estabelecida com o julgamento de Milosevic é do domínio da desonestidade intelectual (este processo decorreu dentro das regras estabelecidas do Direito, com o réu a encarregar-se da sua defesa livre de constrangimentos e com juízes imparciais e independentes; o que correu mal no Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia foi o maniqueísmo da acusação, que projectou a imagem da culpa colectiva do povo sérvio, foi isso que feriu a legitimidade deste tribunal). Mas vai ainda mais longe o nosso ideólogo neoconsevador, ao apontar as virtudes deste julgamento por oposição à paralisia que é atributo do sistema judicial português: “e num país como Portugal, onde aos réus são dadas todas as garantias de defesa, o julgamento seria porventura anulado (para além de que duraria). Mas também outros julgamentos de crimes de guerra realizados em tribunais internacionais correriam o risco de serem nulos em Portugal, o que não os torna menos legítimos ou importantes.”
Perante isto, interrogo-me, nos termos do próprio José Manuel Fernandes, se não é possível ter um julgamento justo quando estão em causa crimes de guerra? É que se cedemos neste ponto, estamos a caminhar mais uma vez no sentido da barbárie.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Quanto é que vai custar o TGV...?

TSF:
Em declarações à TSF, António Camilo Coelho adiantou ainda que a retirada de alguns idosos das suas casas foi bastante complicada e que a intervenção em alguns lares foi mesmo impossível devido à subida das águas.

O autarca falou ainda sobre a suspensão do serviço de comboio na linha ferroviária do sul, entre S. Marcos e Santa Clara, devido ao alagamento da via na sequência da chuva que caiu na região.

«Havia grandes zonas da linha que estavam submersas, mas nas que já não estavam, a cheia tinha trazido uma série de detritos, de lama e de uma série de coisas que na prática impediam a linha de funcionar», concluiu.

Videoclip Lounging

Repescagem

O debate continua animado na caixa de comentários do post "Os guardiães nas muralhas dos privilégios".
São já 84 comentários!
Já agora, também outro post que começa a afundar (um assunto que gostaria de ver mais discutido...) e que pode merecer visita à respectiva caixa de comentários: "Eleições antecipadas em Setúbal?".

domingo, novembro 05, 2006

Impressões diarísticas

Example
«A partir do momento em que a vida se torna suportável, já não carece de análise. Arruinaremos um dia de sossego se teimarmos em dissecá-lo ao pormenor.»
George Sand (1804-1876).

sexta-feira, novembro 03, 2006

Novo blog

Destaque para o novo "O Cachimbo de Magritte".

Entre os seus ilustres autores está também o Fernando da Cruz Gabriel, o que só por si torna merecedor de atenção o que por lá se escreve. Vai já ali para a direita.

Toca a trabalhar!

Eleições antecipadas em Setúbal?

O PCP (aliado ao partidinho melancia) tem uma minoria de 4 vereadores face aos 3 do PSD e 2 do PS. A continuação do actual governo camarário depende da desorientação e dos desentendimentos internos nestes dois partidos bem como de outras considerações feitas a nível de estratégia nacional pelas respectivas direcções.
Algum tempo depois da reunião no edíficio Arrábida (sede do PCP e do governo setubalense) e de um primeiro momento de cai-não-cai da nova edil Maria Meira ditado pela oposição, eis que o PSD encomendou agora à Eurosondagem uma pesquisa que o ajudasse a perceber qual o sentimento eleitoral dos setubalenses. Presume-se que a posição política do partido seja ditada pela escolha dos inquiridos, o que é bem revelador da falta de rumo e da facilidade com que a espinha dorsal dos responsáveis do partido se pode inclinar para um lado ou outro. O resultado indica alguma possibilidade de Fernando Negrão ganhar.
Interessante é considerar a hipótese de a concelhia do PSD estar a tentar provar empiricamente, junto de outras instâncias com poder no partido (a distrital ou a direcção nacional), a necessidade de não cooperar com a rotação de nomes do PCP.
Uma história que me tinha sido contada por outras fontes, vim a encontrá-la repetida no "O Estado do Tempo" (cujo autor não conheço):

Que o PSD teve culpas no cartório é indesmentível. A concelhia de Setúbal, a distrital e a nacional. Desentenderam-se, atrapalharam-se, passaram-se a perna e fizeram-se ultrapassar pela velha guerrilha interna.(...)
Os social-democratas retraíram-se na questiúncula interna e no medo das comparações. Esqueceram-se que o povo se esquece! Já ninguém se lembra do Durão e do Santana a não ser as bases partidárias. Não havia perigo de lembrar os incómodos do passado que o PSD não soubesse acalmar, mas ficaram-se pelo receio e pela “calma” bafienta que vai caracterizando a ala laranja. Uns derrotados por antecipação. E depois os resultados não poderão ser os melhores com um candidato independente que não abdica do direito de contradizer o partido. É uma obstinação do homem, defeito profissional de juiz que trabalha isolado. Enfim, teimosia perigosa de quem não quer mais do que a maquina de campanha.

Quanto ao PS, e caso o PSD resolva endireitar as costas, fica com o poder de decisão. Ou seja, a possibilidade de eleições antecipadas no concelho de Setúbal pode ficar dependente de Catarino Costa. Não sei se os seus chefes políticos estarão interessados em criar a possibilidade de o PSD vir a ganhar uma câmara tão significativa como a de Setúbal.
Entretanto, continuaremos a usufruir da liderança de Maria Meira e dos controleiros da 5 de Outubro.

(obrigado ao BB pelo link sobre a sondagem)

Inquietações do Tenente Gustl

«tens os olhos mais bonitos que eu já vi!», disse a Steffi há pouco tempo…Oh Steffi, Steffi, Steffi! A Steffi é que tem culpa de eu estar aqui e de ter de me lastimar horas a fio. – Ah, as eternas desculpas da Steffi já me estão a pôr cá com os nervos em pé! Hoje o serão podia ter sido bonito. Apetecia-me ler a cartita da Steffi. Tenho-a aqui comigo. Mas se a tiro da carteira, o tipo aqui ao lado come-me vivo! – Eu bem sei o que lá está escrito…que ela não pode vir porque tem de ir jantar com «ele»…ah, foi tão esquisito quando ela esteve com ele há oito dias no clube dos horticultores, e eu mesmo em frente com o Kopetzky; e ela sempre a fazer-me sinais com os olhinhos para combinar. E ele não deu por nada – incrível! Aliás, deve ser judeu! É certo que está num banco, e o bigode preto… Também dizem que é tenente na reserva! Ora, o melhor é ele não ir fazer exercícios militares ao meu regimento! Aliás, que eles deixem tantos judeus ser oficiais – eu cá’ tou-me nas tintas para o anti-semitismo!
Há dias, no clube, quando se seu aquela ‘stória com o doutor em casa dos Mannheimer…dizem que os Mannheimer também são judeus, baptizados, claro…mas neles não se nota nada – especialmente a mulher… tão loura, de belo porte…

O Doschintzky contou-me que um tipo que pegou na espada pela primeira vez por um triz que não o matava; e o Doschintzky é hoje professor de esgrima da milícia. Está bem – talvez que ele nessa altura não era tão bom…O principal é ter sangue-frio. Já nem sequer sinto bem raiva, e no entanto foi um atrevimento – incrível! De certeza que ele não se atrevia se antes não tivesse bebido champanhe… Que descaramento! É socialista pela certa! Hoje em dia os trapaceiros são todos socialistas! Uma seita…o que eles queriam era acabar já com o exército; mas no que eles não pensam é quem é que os vai ajudar quando os chineses lhes caírem em cima. Palermas! Tem de se castigar na altura própria para que sirva de exemplo. Tive toda a razão. Ainda bem que não o larguei mais depois daquela observação. Só de pensar nisso, fico furioso! Mas portei-me de uma maneira extraordinária; o coronel também disse que foi o mais correcto possível. Vai ser mesmo útil a coisa. Conheço muitos que deixavam escapar o tipo. O Müller de certeza, esse tornava a ser objectivo ou coisa parecida. Por causa de serem objectivos é que muitos ficaram mal colocados… a maneira como ele disse «Senhor tenente» já foi insolente!... «O senhor tem de reconhecer»… – Mas como é que isso veio à baila? Porque é que meti conversa com o socialista?

In O Tenente Gustl, Arthur Schnitzler

quinta-feira, novembro 02, 2006

Videoclip Lounging