quarta-feira, maio 31, 2006
Descubra o erro
Carlos Graça, delegado de Beja da IGT [Inspecção-Geral de Trabalho], explicou à agência Lusa que "foram inspeccionadas três propriedades de montado na zona de Almodôvar e detectados 42 trabalhadores em situação ilegal de trabalho não declarado, a totalidade das pessoas fiscalizadas".(...)
"Há casos de trabalhadores que, durante o Verão, deixam os seus empregos para ganhar dinheiro extra a tirar cortiça e casos de pessoas que estão a receber subsídio de desemprego, rendimento de inserção ou reformas por invalidez", exemplificou.
Segundo Carlos Graça, durante a campanha da cortiça, entre Maio e Agosto, um trabalhador pode ganhar até 10.500 euros, "dinheiro que simplesmente não é declarado".(...)
"Trata-se de acções que pretendem fiscalizar uma actividade não declarada em absoluto, tirando-a da economia subterrânea", explicou.
[AMR]
Onde está o erro?
Em cada um tentar, da melhor maneira que pode e consegue, assegurar a sua subsistência e nesse processo eximir-se a entregar parte do pouco que ganha ao estado que o irá "socialmente redistribuir"?
No aproveitamento de todas as possibilidades de ser subsidiado pelo estado, nem que isso signifique omitir dados (sobre rendimentos sazonais, p.ex.) que dificilmente os serviços públicos podem comprovar?
No descontrolo e multiplicação das políticas sociais do estado, dos subsídios de toda a espécie que concede e que requerem a cobrança de impostos à maior base possível?
Já colocado no Insurgente.
Figueirinha
A Câmara Municipal de Setúbal disponibiliza gratuitamente, a partir de 15 de Junho, até ao final da época balnear, um serviço especial de transporte para acesso público à praia da Figueirinha.(...)
A carreira diária de vaivéns para a Figueirinha tem início no parque da Secil e os autocarros circulam continuamente, entre as 08h30 e as 19h00(...) a Autarquia avançou igualmente com a instalação de casas de banho públicas na praia, assegurando, assim, as condições sanitárias do espaço.
As Estradas de Portugal e o empreiteiro da obra garantem a conclusão dos trabalhos até ao dia 28 de Julho(...)
terça-feira, maio 30, 2006
Imperdível
Todos de artistas da ZTT.
Nunca ouviram falar em tal coisa?
Não?
E de The Art of Noise, The Buggles, Frankie Goes to Hollywod, Grace Jones e Propaganda?
Ah...!
Perplexidades
Sinceramente, não percebo por que razão se exclui a mulher só, sem marido ou companheiro estável muitas vezes por força das circunstâncias da vida, do direito à Reprodução Medicamente Assistida.
E nada muda(rá)
A governante lamentou que a escola não esteja a combater as desigualdades sociais. A título de exemplo, referiu-se à organização dos horários escolares que, segundo sublinhou, privilegia os alunos melhores, assim como filhos de funcionários das escolas.(...)
Maria de Lurdes Rodrigues criticou, ainda, a cultura profissional dos professores. Segundo disse, ela é marcada pela actualização dos conhecimentos científicos, mas "não é uma cultura em que os principais desafios sejam os resultados"(...)"As reuniões nas escolas são cumpridas apenas porque os normativos legais assim o mandam"(...)No seu entender, há uma aristocracia nas escolas que reserva os melhores alunos para os professores mais experientes, e os piores alunos para os professores mais novos na profissão.
[JN]Acusações sérias, principalmente feitas por quem as faz. Parecem ser o reconhecimento de que o estado central perdeu o controlo da situação na guerra com os grupos de interesses instalados no sistema público de ensino, os quais foram recebendo ao longo dos anos benesses e capacidade de actuarem em seu próprio favor. A ministra recorre agora à difusão pela comunicação social destas declarações de catástrofe para apelar à simpatia dos pais, colocando-se do seu lado e colocando os professores em posição de adversários. Os pais, por sinal e coincidência, passarão a avaliar os professores.
Mais uma vez o paradigma do sistema público e de como este é planeado, financiado e implementado continua inquestionável. É sempre sugerido mais um "fine tuning" que reorganizará o equilíbrio de poderes e a todos contentará.
Adenda: a ler também a notícia no DN.
Texto já colocado no Insurgente.
Palma de Ouro para Ken Loach
Mesmo sem ter visto o filme, fico feliz por a escolha do júri ter recaído sobre o realizador de Kes. Enfim, subjectividades.
segunda-feira, maio 29, 2006
D.Sebastião e Bush
Feira do Livro
Alguns autores, aproveitam a sombra no calor da tarde para conversar com conhecidos que por ali passavam ou com os editores. Outros, sózinhos, aguardam que alguém se lhes dirija: "Gostei muito do seu livro!". Outros ainda, têm um pequeno grupo de fãs à volta, à espera dos votos assinados pelo autor.
Talvez fossem demasiados autores em tão pouco espaço. Talvez a sua imagem esteja tão difundida que a possibilidade de os contactar, de os ver ali, não seja já um prémio para um apreciador da sua escrita.
Talvez os escritores tenham banalizado a sua imagem.
É pena.
domingo, maio 28, 2006
Noise numa tórrida noite de Verão
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Ontem à noite, o noise dos Pan Sonic encontrou um rival à sua altura no calor infernal que emanava da Zé dos Bois.
Sob todos os títulos, foi uma noite violenta.
sexta-feira, maio 26, 2006
Falando a sério
Como é aberta, ide lá lê-la.
Miles Davis
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"I was born May 26, 1926, in Alton, Illinois, a little river town up on the Mississippi River about twenty-five miles north of East St. Louis. I was named after my father; he was named after his father. That made me Miles Dewey Davis III, but everybody in my family called me Junior. I always hated that nickname."in Miles por Miles Davis
Mais tarde teria a alcunha de "Prince of Darkness".
Timor
Pouco sei acerca das gentes, da cultura e da história de Lorosae (o meu avô, que era inspector das finanças, permaneceu aí um ano, no tempo em que este território era então uma possessão portuguesa), apenas consigo entrever um problema clássico nos processos de autodeterminação do Terceiro Mundo, para empregar uma expressão que caiu em desuso. Como integrar, na vida civil, homens que se fizeram na guerra e quase não conhecem outro mister, sabendo que nem todos poderão ser absorvidos pelas futuras forças de segurança do novo Estado. Penso que esta questão foi negligenciada pelas Nações Unidas, que administraram este território durante o período transitório para a independência. Por outro lado, o governo de Alkatiri revelou alguma inabilidade perante tão espinhoso problema. E Xanana Gusmão tem permanecido num estranho mutismo.
Portugal prepara-se para integrar uma força internacional que se espera venha a contribuir para criação de um clima de paz propício à negociação entre as partes. Contudo, a presença de militares estrangeiros é condição necessária mas não suficiente. Sem o envolvimento da comunidade internacional, no desenvolvimento de programas de reinserção destes ex-combatentes, não creio que a actual situação venha a conhecer um feliz desenlace.
Regressando à nossa participação, é de saudar o consenso entre todas as forças com assento na Assembleia da República, apenas com uma triste excepção: o Bloco de Esquerda veio, por intermédio do deputado Luís Fazenda, pôr em causa uma intervenção internacional mesmo sob a égide da ONU, alegando tratar-se de possível ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano. Sinceramente, parece-me que o Bloco foi tocado por um reflexo pavloviano, em que uma qualquer força transnacional é sempre expressão da perfídia imperialista. Doença infantil?
quinta-feira, maio 25, 2006
Moderar o quê?
O Centro Hospitalar de Setúbal anunciou hoje a realização, em Junho, de uma campanha de cobrança das taxas moderadoras em dívida ao Hospital São Bernardo desde 1998, que ascendem a mais de 352 mil euros.[RTP]
Se o objectivo das taxas moderadoras é servirem de filtro à utilização desregrada dos serviços hospitalares públicos, que efeito tem a sua cobrança passados tantos anos?
quarta-feira, maio 24, 2006
Estudantes contra o islamismo
Foram jovens como estes que, no passado, elegeram o reformista Mohamed Khatami. E é bom lembrar uma greve dos transportes que há poucos meses teve larga repercussão, imagem das tensões que atravessam o país.
O Irão não é uma sociedade monolítica, ao contrário do que alguns querem fazer crer.
A ler no Le Monde.
Jazz em Odemira
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Ao ar livre, sextas à noite pelas 21h.30m, na Fonte Férrea.
Sílvia Nazário Quinteto (9 de Junho), The Good Time Jazz Band (dia 16), Patrícia Colaço Quinteto (dia 23) e Hugo Alves Taksi Trio (dia 30).
Videoclip Lounging
Ide lá, ver e ouvir.
Ide.
terça-feira, maio 23, 2006
Silogismo
Não por ser perigoso (embora a sua presença possa desencadear violência descontrolada), mas por efectivamente ser fonte de poluição - sonora e visual.
Jamaica, man!
- Olha, vai a Shakira, o Jamiroquai, a Ivete Sangalo...
- Ai... eu gosto tanto do Jamiroquai!
- Canta lá alguma coisa.
- Uuhhh... não sei; é assim tipo jamaicano...
- Ah!
Sugestão
A ACA-M apela à participação de todos num novo site que acaba de produzir e que se destina a:
1) promover a colaboração dos cidadãos na georeferenciação de pontos negros
2) disponibilizar as ferramentas necessárias à elaboração de requerimentos para a sua resolução
Inscreva-se em http://www.aca-m.org/pontosnegros/ e georeferencie os pontos negros que conhecer. Não se esqueça também de enviar às autoridades um requerimento pedindo a resolução do problema.
"Agenda de Odemira"
Na sequência do primeiro encontro, foi criada a chamada Agenda de Odemira, "que pretende contribuir para a harmonização entre o desenvolvimento económico e a conservação da natureza".
Não esqueçamos que a CMO declarou, o ano passado, o concelho como "Território Livre de Organismos Geneticamente Modificados".
Fanáticos e virtuosos
Toda a tentativa para concretizar uma ideia até às últimas consequências é uma prova de que não se compreendeu essa ideia inteiramente.
Arthur Schnitzler
segunda-feira, maio 22, 2006
Visto
Sendo impossível resistir à gentil pressão familiar para ir assistir à transformação cinematográfica do best-seller de Dan Brown, lá me sentei num cinema atulhado como poucas vezes.
Faço parte do grupo de 27 portugueses que não leu o livro, por isso não consigo avaliar da adaptação do argumento, mas as 2h30m do filme deixaram-me mergulhado num oceano de informação e referências impróprias para cardíacos, tal a velocidade com que nos eram atiradas. Se foi respeitada a linha narrativa do livro, demonstra-se que certos escritos darão apenas boas séries televisivas, mais benevolentes com o desenrolar temporal da acção.
Acho que o fime teve realizador (não dei por ele, a não ser quando fez voar a câmara por cima, por dentro e por baixo da pirâmide do Louvre) e as caras dos actores eram todas familiares. Já agora: um filme com o Jean Reno é melhor que um filme sem o Jean Reno.
Informam-me entretanto que já só há 17 portugueses que não leram o livro.
E para variar, eu continuo do contra.
Bestia da Stile
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Vermelho é a cor desta encenação de um belo e indecifrável texto de Peir Paolo Pasolini.
Profundamente autobiográfico e glosando a figura de Jan Palach, cujo destino trágico é também o de Pasolini.
Besta de Estilo revisita a história contemporânea, a burguesia, a revolução e o advento da cultura de massas (de que o texto constitui uma crítica mordaz). É um questionamento da civilização e do sentido da humanidade.
“Nasce-se homem, rebelde se morre”
sexta-feira, maio 19, 2006
Visita recomendada
quinta-feira, maio 18, 2006
A caminho do fim da propriedade - II
No telejornal, enquanto janta, o país poderá chorar pela injustiça que é ver tantos idosos e crianças, tantos pais de família a lamentarem-se dos seus baixos rendimentos que não lhes permitem assegurar um sítio onde passar a noite.
Mas não temeis: os mesmos justiceiros sociais que contribuiram para se chegar a este ponto, têm a solução. Recorrendo mais uma vez ao dinheiro dos contribuintes, logo tratarão de encontrar "habitação social" em "bairros sociais". Em alternativa, poderão ter de ser os proprietários a suportar esses custos - mais uma imposição para manterem a sua propriedade.
Nessa noite todos dormiremos com a consciência tranquila por mais uma vez o estado providência ter demonstrado a necessidade de continuarmos a pagar impostos para subvencionar a solidariedade forçada e a fúria legislativa de quem tem abomina a liberdade nas relações contractuais e o pleno usufruto do direito de propriedade.
quarta-feira, maio 17, 2006
Um ano de Bichos Carpinteiros
Os nossos parabéns aos bichos aniversariantes.
A caminho do fim da propriedade
Os imóveis arrendados que sejam classificados como estando em mau ou péssimo estado de conservação poderão vir a ser adquiridos pelos seus inquilinos independentemente da vontade do proprietário.
Mas o que mais me intriga é a presunção de que os inquilinos, que na maioria dos casos dos prédios em causa pagam rendas ridiculamente baixas, possuem níveis de rendimento reduzidos e idade avançada, possam agora vir em massa participar do processo de recuperação dos imóveis, talvez recorrendo ao crédito bancário para as obras e consequente aquisição. Afinal, não são as próprias leis de arrendamento que protegem de forma deliberada estes grupos de inquilinos dos senhorios sem escrúpulos que pretederiam cobrar rendas que valorizassem o seu investimento/propriedade? Ao restringir a capacidade dos proprietários e arrendatários de exercerem o seu papel de livre contratação, ao impedir um processo de ajustamento do mercado através da prática de uma política de controlo de preços, o estado potencia a degradação dos imóveis. Para completar o círculo, dando mais um golpe no mercado de arrendamento e um claro sinal aos potenciais investidores, os justiceiros sociais legislam agora a transferência de propriedade em condições favoráveis aos inquilinos, até no que toca ao cálculo do valor a pagar.
Sinceramente, parece-me que estamos perante um abuso de tamanho considerável.
O Som no Office
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Black Unity - Pharoah Sanders // Soulville - Ben Webster
Há que manter o equílibrio.
Hirsi Ali abandona a Holanda
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Hirsi Ali, na sua carta de resignação ao lugar de deputada :
I came to Holland in the summer of 1992 because I wanted to be able to determine my own future. I didn’t want to be forced into a destiny that other people had chosen for me, so I opted for the protection of the rule of law. Here in Holland, I found freedom and opportunities, and I took those opportunities to speak out against religious terror.
First of all I wanted to put the oppression of immigrant women -- especially Muslim women – squarely on the Dutch political agenda. Second, I wanted Holland to pay attention to the specific cultural and religious issues that were holding back many ethnic minorities, instead of always taking a one-sided approach that focused only on their socio-economic circumstances. Lastly, I wanted politicians to grasp the fact that major aspects of Islamic doctrine and tradition, as practiced today, are incompatible with the open society.
A renúncia ao mandato parlamentar foi desencadeada por uma reportagem da televisão pública holandesa, que recuperava o facto (diga-se que há muito conhecido) de Hirsi Ali ter mentido quando do processo de naturalização.
Ora, em tais casos, a lei holandesa considera a aquisição da cidadania sem efeito. E como Hirsi era membro do partido liberal conservador (WD party), que no governo é o rosto de uma política de imigração cada vez mais rígida, foi obrigada pelos seus pares a renunciar.
Este episódio afectava particularmente a posição da ministra dos assuntos da imigração, Rita Verdonk, que aspira à liderança do partido.
Enfim, a conjugação de factores internos ao partido liberal conservador e as vicissitudes de uma política de imigração cada vez mais extremada conduziram a este triste desenlace. Para gáudio dos arautos do politicamente correcto e da esquerda refém do multiculturalismo.
Fica a Holanda, e a Europa, privada de um exemplo de grande coragem cívica, de uma mulher que amava acima de tudo a liberdade.
Ayaan Hirsi Ali parte para os Estados Unidos.
Ayaan Hirsi Ali
terça-feira, maio 16, 2006
O pecado de Peter Handke
Retenho a fúria de alguns na defesa do director da Comedie-Francaise, anatemizando Handke pelas suas posições políticas a respeito da tragédia que assolou os territórios da ex-Jugoslávia, nomeadamente a presença do dramaturgo no funeral de Milosevic.
É sempre de lamentar ver um director artístico vetar uma obra, invocando critérios que extravasam o campo da arte, ainda que os territórios não sejam, como sabemos, estanques e tudo o que diga respeito à guerra civil que assolou a antiga Jugoslávia esteja ainda muito presente.
tudo isto porém entronca numa visão da história que não vai além de Milosevic, personificação da culpa do povo sérvio. Handke diz-nos que os sérvios foram também vítimas e que sobre eles escasseiam as narrativas. É esse o seu pecado.
Uma maternidade ao longe
O presidente da CMBarcelos justificava a necessidade de manter a maternidade (também) pela distância até Braga. Dizia ele que sempre eram uns bons 20 KM de autoestrada.
O ministro respondeu-lhe com um exemplo que me é caro: de Odemira (o maior concelho do país) a Beja são 90 km. O percurso é feito por estrada nacional, com muitos troços em más condições. Por isso se tornou famoso um bombeiro odemirense, ao ter sido parteiro em umas 50 ocasiões.
Visto
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Não sou propriamente fã do realizador/actor italiano. Enerva-me o seu modo nervótico de representar o maluquinho desajustado, o qual volta a aparecer neste filme.
A história segue um percurso de um sonho que quer ser realidade, dando possibilidade que Benigni introduza alguns elementos mais surrealistas para, numa ou noutra sequência, ir buscar uma boa gargalhada.
Bónus considerável: Tom Waits a dar música ao sonho.
A Selecção como agência de emprego
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GR: Bruno Vale, Quim, Ricardo[RR]
DD: Miguel, Paulo Ferreira, Fernando Meira, Ricardo Carvalho, Ricardo Costa, Caneira, Nuno Valente
M: Costinha, Petit, Maniche, Tiago, Deco, Hugo Viana, Figo, Simão, Luís Boa Morte e Cristiano Ronaldo
A: Pauleta, Hélder Postiga e Nuno Gomes
Desafio: tente descobrir quais os jogadores desempregados ou que quase nem entraram em competição este ano.
Desafio: tente perceber porque é que Scolari prefere esse grupo de jogadores a outros mais jovens, mais ambiciosos e eventualmente em melhor forma física e psicológica.
segunda-feira, maio 15, 2006
Albino Aroso sobre a interrupção voluntária da gravidez
“ Nós não somos moralmente melhores que os suecos ou os finlandeses. Contudo, nós criminalizamos o acto, eles não.”
(A lei portuguesa é similar à espanhola).
“Não conheço os detalhes dessas alterações, mas para mim há um país que tem uma lei que devia inspirar-nos: a Alemanha. Lá qualquer rapariga que queira interromper a gravidez é ouvida por uma comissão a quem explica o que se passou, se foi o médico que falho, se ela que não tomou a pílula, e aconselha-a.
Se a mulher quiser interromper a gravidez, interrompe, não é impedida, é apenas aconselhada. Muitas destas comissões estão ligadas à Igreja, o que levou a que até o Papa João Paulo II condenasse esse comportamento da Igreja alemã. Estas comissões ajudam muito, até nas situações em que as motivações são de natureza económica, pois podem colocar-lhe meios à disposição. Mas não criticam as mulheres, pois então não seguiriam o exemplo de Cristo, que perdoava a toda a gente."
Setúbal fora de Setúbal
sexta-feira, maio 12, 2006
O Som no Office
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Ella Swings Brightly with Nelson / Ella Swings Gently with Nelson - Ella Fitzgerald/Nelson Riddle
Dois discos gémeos. O primeiro rendeu a Ella o Grammy para melhor Performance Vocal Solo em 1962.
Putin e o Lobo
Como se costuma dizer, o camarada lobo sabe quem comer. Come e não dá ouvidos a ninguém, e nem pretende fazê-lo”.
Putin aludia, evidentemente, aos EUA, à política externa deste país no Iraque, no Irão e muito em particular nas ex-repúblicas soviética, onde a influência americana não pára de aumentar, para descontentamento da Rússia.
O mundo precisa de uma Rússia forte e próspera, que seja também um actor global, mas infelizmente o Ocidente, desde a queda da União Soviética, nada fez senão humilhar este grande país euroasiático; primeiro, apoiando políticas económicas que quase conduziram à decomposição do estado russo; depois, expandido a Nato até às fronteiras da Rússia, ou seja, até ao limite do intolerável.
Pelo caminho, a democracia passou a ser promessa distante, os modos da autocracia estão de volta e os russos vêem em Putin a imagem restaurada de um estado russo forte e respeitado, depois do caos e desmoralização que constituíram marca do consulado de Ieltsin.
O nacionalismo exacerbado, que neste caso não hesita em fazer uso da iconografia soviética, é uma má notícia para a paz e estabilidade no mundo, mas é consequência do período conturbado que a Rússia viveu na década de noventa e das políticas do Ocidente. E a crise energética há muito anunciada abre uma nova oportunidade de afirmação da Rússia, Putin não deixou de lembrar esse facto no discurso sobre o estado da nação.
Não esqueceu também os oligarcas, socorrendo-se de F. D. Roosevelt : “
“Apertámos e continuaremos a apertar os calos aos que querem conseguir uma alta posição ou riqueza, ou ambas as coisa ao mesmo tempo, pelo caminho mais curto à custa do bem-estar comum.”
O Mundo
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Mundo é um filme sobre o desajustamento na vertigem da modernização chinesa.
Esteticamente muito sedutor, sobretudo na forma como capta os signos do consumo e da modernidade numa paisagem urbana em mutação;
Mundo encerrado num parque temático de Beijing, com as suas reproduções da Torre Eiffel, da Praça de São Marcos e até das Torres Gémeas de Manhatan (“…nós ainda temos as nossas”, diz com orgulho uma das personagens), metáfora de uma China ávida do mundo, depois de um tempo histórico de fechamento.
Gente simples em busca da felicidade, mas sujeita a um pesado quotidiano. Tao (curiosamente a actriz tem o mesmo nome do personagem) procura no amor um ponto de equilíbrio, num mundo em que as principais referências ruíram e em que o individualismo e a anomia tudo parecem tomar. Uma espécie de mal de vivre assola as personagens deste filme. Que são no entanto cativantes.
Traço do cinema de Jia Zhang-Ke é o olhar crítico sobre o processo de modernização da China. Não é por isso do agrado das autoridades chinesas, embora desta vez tenha sido autorizado a filmar (sinal de abertura?). A Plataforma foi, por exemplo, rodado na clandestinidade, com o apoio financeiro da produtora de Takeshi Kitano. Mas talvez mais importante seja a forma de filmar o espaço e a ternura que se pressente no olhar sobre os indivíduos. Ao contrário do seria de supor, há humanismo nos filmes de Jia Zhang-Ke.
quinta-feira, maio 11, 2006
Heaven Knows
why do I give valuable time
to people who don't care if I live or die
(...)
In my life
why do I smile
at people who I'd much rather kick in the eye"
Quase nunca vale a pena ficarmos a pensar nelas.
Então, porque ficamos?
Festroia
O festival, com um orçamento de 500 mil euros, substancialmente superior ao do ano passado, apresenta 179 filmes de 48 países, o que constitui «um novo recorde», com a representação de 30 países nos filmes a concurso, assegura Mário Ventura Henriques.(...)
Mário Ventura Henriques reconhece que o evento «vai crescendo de forma imparável», graças ao apoio da Câmara de Setúbal, o qual tem sido de grande importância para a sobrevivência do festival e que este ano volta a apoiar com cerca de 150 mil euros. Quanto ao Grupo Amorim, que no ano passado comparticipou com 50 mil euros, ainda não definiu a ajuda para a presente edição.
O projecto europeu Média Program apoia com 35 mil euros e a Região de Turismo da Costa Azul com 32 mil euros. Todavia, Ventura Henriques mostra-se insatisfeito com o comportamento do Instituto do Cinema Audiovisual e Multimédia (ICAM) que disponibiliza este ano 75 mil euros, depois de em 2004 ter excluído o certame da sua lista de apoios. «Este apoio é idêntico ao de há quatro anos atrás, o que não é justo, pois os custos das coisas aumentaram», frisa Mário Ventura Henriques.
O Som no Office
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Karma - Pharoah Sanders // The Black Saint and the Sinner Lady - Charles Mingus
Ambos são obras primas dos seus autores.
O primeiro inclui o conhecidíssimo "The Creator Has a Master Plan". Um plano delineado em 33 minutos.
O segundo inclui, no booklet que o acompanha, os comentários do psicólogo de Mingus (feitos a pedido do músico) sobre o disco.
quarta-feira, maio 10, 2006
Ir à praia à Figueirinha
A estrada de acesso às praias da Arrábida, que tem estado encerrada desde 2004 devido ao risco de derrocadas, só vai reabrir ao tráfego de automóveis em Agosto. Entre 15 de Junho e 31 de Julho, a circulação só será permitida a transportes escolares devidamente credenciados e a um autocarro “vai-vém” da Câmara de Setúbal que fará a ligação entre o parque de estacionamento junto à fábrica do Outão e a praia da Figueirinha.(...)
O horário de funcionamento da Figueirinha – das 8h30 às 19h00 - terá de ser «escrupulosamente cumprido».(...)
Quer o parque de estacionamento do Outão quer a viagem de autocarro até à praia serão gratuitos.(...)
As obras de consolidação das encostas só tiveram início no final do ano passado, estando prevista a sua conclusão, no troço entre o Outão e a praia da Figueirinha, para o final do mês de Julho. (...)a praia de Galapos continuará inacessível. Só em Setembro deverão estar concluídos os trabalhos no troço entre o túnel da Figueirinha e o Portinho da Arrábida.
A Ministra e os professores
É realmente ridículo que os professores tenham agora de responder a um toque de sineta ou antecipar a doença ou o imprevisto em caso de falta.
O teor da medida da ministra da Educação é profundamente demagógico, infelizmente inscrito na prática política deste governo, que à falta de ideias verdadeiramente reformadoras se limita quase só a invectivar e desclassificar as classes profissionais. Basta lembrar a história das estatísticas truncadas sobre as alegadas faltas dadas pelos professores, que teve como protagonista o inefável Valter Lemos, secretário de estado da Educação.
É muito provável que esta medida recolha o aplauso de muitos, em face da cultura de irresponsabilidade que grassa no país e de todos aqueles para quem a escola não é mais do que um depósito e que abdicaram da educação dos próprios filhos.
O professor era até há bem pouco tempo uma profissão prestigiada, assim o demonstravam os sucessivos inquéritos de avaliação do prestígio das diversas classes profissionais. Hoje, talvez já não o seja, pressente-se uma degradação do estatuto do professor.
Responsáveis? As sucessivas políticas do Ministério de Educação, que foram retirando cada vez mais poder ao professor, hoje quase desprovido de meios para fazer face à indisciplina na sala de aula, refém da pedagogia de que “o aluno tem sempre razão”; a excessiva valorização das actividades extracurriculares e a multiplicação das reuniões sobre tudo e nada, de que sobra cada vez menos tempo para a preparação das matérias e a valorização profissional do docente.
Longe de mim defender um qualquer regresso ao passado, não sou apologista de uma escola proto-fascista. Mas creio que algumas teses pedagógicas, hoje dominantes, (atravessam mesmo a clivagem política esquerda/direita) pertencem mais ao domínio do dogma ou das boas intenções do que ao da ciência. E tiveram um efeito pernicioso no ensino que temos.
Para piorar, esta atitude da ministra. Como quer o Governo melhorar o nosso ensino se projecta do professor a imagem de um irresponsável, sobre o qual é preciso ter rédea curta?
Efeméride
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Há 6 anos, uma cegonha suicida punha meio país às escuras. Suspeitas nunca fundamentadas, davam conta de que ela pertencia a uma organização com raízes nos movimentos terroristas, tendo recebido treino no norte de África, de onde teria vindo directamente para, ao aterrar num poste de alta tensão, provocar o caos eléctrico.
Visto(s)
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Sobre o primeiro o Marvão já disse o que havia a dizer.
O "Pequeno almoço em Plutão" servido por Neil Jordan é altamente recomendável para quem ficou com boa memória do "Jogo de Lágrimas". É impossível não recordar este anterior filme do realizador conforme a acção do mais recente se vai desenrolando. Apesar de haver coincidência de tema, de comportamentos das personagens e do contexto histórico, o realizador conseguiu produzir uma obra que vale por si só. Destaca-se a prestação de Cillian Murphy, que recentemente vi em "Vôo Nocturno", participando também no último Batman, em "Cold Mountain" e no "Rapariga com Brinco de Pérola".
Finalmente, atenção à banda sonora, que ajuda a definir a evolução temporal e emocional do filme na perfeição. Inclui uma excelente versão de "The Windmills of Your Mind" cantada pela Dusty Springfield.
terça-feira, maio 09, 2006
O Som no Office
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Live at Birdland - John Coltrane
Lá estão o absolutamente brilhante "Afro Blue" e a lindíssima balada "I want to talk about you", uma das minhas favoritas de sempre, tocada de modo bem diferente da versão que aparece no disco "Soultrane".
A ouler em conjunto com este post do Marvão.
Saiam-me do caminho
Com a excepção de Pires de Lima (representando o grupo parlamentar do CDS ou a direcção?), que pediu a diminuição da despesa estatal, libertando a sociedade e tornando país mais atractivo ao investimento, todos os outros comentários iam no sentido de uma política activa do estado na condução da economia do país.
É sempre ao estado, dirigindo-se ao governo do momento, que os políticos portugueses pedem que actuem de forma a influenciar activamente determinado indicador, legislando desta ou daquela maneira. É como se os portugueses fossem peões das jogadas estudadas, preparadas, planeadas e executadas pelo governo através do aparelho do estado.
É neste contexto que se atacam alguns vislumbres de liberalização que, de tempos a tempos, vão surgindo quando um ministro resolve enfrentar determinado grupo de interesse e decide que é altura de devolver ao mercado, aos cidadãos, consumidores e empresários, a capacidade de actuarem livremente sem dirigismo ou influência do planeador. É rídiculo que por vezes se acuse, a partir destes pequenos desvarios liberalizadores, os governos dos últimos vinte anos de terem seguido políticas liberais e serem elas a trazer o país às actuais circunstâncias. Nada será mais falacioso.
Os políticos ou os sindicalistas julgam conhecer, a todo o momento, o "número de ouro" do desemprego/emprego ou do crescimento do PIB, aquele que a vontade imutável da Natureza destinou a esta pequena população de 10 milhões de portugueses. O apelo que é feito, quando surgem estimativas menos agradáveis sobre determinado indicador, para que o estado actue para acomodar a diferença para o nível óptimo (o de cada um, diferente do de cada outro) é próprio da premissa socialista que os níveis óptimos de uma economia podem ser conhecidos e ela conduzida até eles pelas decisões centrais de alocação dos impostos cobrados. A receita é mais estado, mais regulação, mais controlo.
Não.
Pelo contrário. O que é preciso é deixar que os processos, donde resultam os indicadores tão apreciados e comentados por tantos, decorram sem a interferência e perturbação introduzida pelo excesso regulador. O que é preciso é que o estado diminua a sua presença na sociedade portuguesa, reduzindo o seu consumo da riqueza produzida, devolvendo a esta maior liberdade e responsabilidade para se ajustar à vida nesta pequena economia participante da economia global.
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O bar americano desempenha um papel vital na literatura americana e em Eros, no carisma icónico de Scott Fitzgerald e Humphrey Bogart. A história do jazz é inseparável dele. Mas o bar americano é um santuário de luzes desmaiadas, muitas vezes de escuridão: Vibra com música, muitas vezes ensurdecedora. A sua sociologia e o seu tecido psicológico são permeados pela sexualidade, pela presença – desejada, sonhada ou real – de mulheres. Ninguém redige tomos fenomenológicos à mesa de um bar americano (cf. Sartre). As bebidas têm de ser renovadas, se o cliente quiser continuar a ser desejado. Há “seguranças” que expulsam os indesejáveis. Cada uma destas características define uma ética radicalmente diferente daquela do Café Central ou do Deux Magots ou do Florian.
segunda-feira, maio 08, 2006
Ir à praia a Grândola
A Sonae Turismo vai garantir, este Verão, o acesso às praias de Tróia através de um passadiço sobre o areal, como alternativa às praias da Arrábida, que podem voltar a estar interditas, pelo menos até ao final de Julho. «Não vai haver limitação no acesso e já estamos a executar uma obra importante, o passadiço, que estava prevista só para daqui a quatro ou cinco anos e que vai permitir chegar à praia de uma forma muito confortável», garantiu ao “Região de Setúbal Online” o administrador da Sonae Turismo.
sexta-feira, maio 05, 2006
Adriana
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Não vão começar a queixar-se de alergias às flores ou outras mariquices primaveris, pois não...?
Duuhhh!
"O Governo tem sido muito claro: não haverão despedimentos na Função Pública. Se há 35% nesse inquérito que defendem que haja despedimentos e que não se pague o décimo terceiro mês aos funcionários públicos, eu diria que, com certeza, não serão os funcionários públicos que estarão a defender uma medida dessas"(...)
Teixeira dos Santos, que se encontra em Bruxelas, lembrou que essa é uma hipótese impedida por lei e que o Governo não admite qualquer alteração nesta área.
[RR, Teixeira dos Santos dixit]
Pois não, Sr. ministro.
Quem fala assim são os contribuintes portugueses que sabem que são os seus impostos, a substancial fatia dos seus rendimentos que lhes é retirada todos os meses, que serve para pagar a folha de vencimentos dos empregados do estado.
Espero que perceba que eles já vão percebendo como é gasto seu dinheiro.
Texto já colocado no Insurgente.
quinta-feira, maio 04, 2006
Vícios sadios
São eles a música, a matemática e o pensamento especulativo (no qual incluo a poesia, cuja melhor definição será música do pensamento).
George Steiner, in A ideia de Europa.
Casadoiros
E é (também) por lá que podemos re-encontrar Deus (o outro). O Rodrigo.
Vai ali para a coluna da direita.
Outra esquerda
“We’re interested in improving our access to the US market with beef, diary produce, textiles and software, among other items”, said President Vazquez(...)
Vázquez emphasized Uruguay’s advantages to reach trade agreements, reliability and stability, plus the fact “there’s no need to corrupt officials” to have investment projects advanced. (...)
Further on he called for “a fair economic liberalism, fair in all commerce aspects so hopefully economic and political liberalism can march together”.
“Uruguay is interested in investments, quality investments, which challenge our potential and are equally profitable for the country and for investors”.
Eles andem aí!
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Certamente pintado por um membro de uma corrente revisionista, em luta contra a ortografia totalitária...
(Foto recebido por e-mail)
quarta-feira, maio 03, 2006
João Bénard da Costa, Democracia e Marx
Eduardo Prado Coelho, in Público, 1/5/2006.
Theronismo
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Apesar da temperatura ter subido, vale a pena ter à mão uma mantinha. Não vá uma corrente de ar mais fresca causar algum arrepio.
Infiltrado
Muito bem urdido este filme de Spike Lee.
Excelente a atmosfera deste thriller, com assaltantes inteligentemente subversivos e um banqueiro com um passado sombrio, cuja fortuna remonta ao tempo do nazismo e ao espólio dos judeus. Mais uma crítica mordaz de Spike Lee; à acumulação de riqueza (“quando há sangue nas ruas, compra propriedades”); às paranóias da América, com o 11 de Setembro em pano de fundo (o sikh que é confundido com árabes e que nos aeroportos não escapa às inspecções aleatórias); ao racismo também, como não podia deixar de ser.
Independentemente de concordarmos, ou não, com a visão iconoclasta de Spike Lee, o filme cativa-nos pelos ambientes criados ao longo do desenrolar da acção e pela argúcia do argumento. E o detective personificado por Denzel Washington confere muita força a esta narrativa; é a cereja em cima do bolo.
É o regresso de Spike ao bom cinema, depois de um decepcionante “Ela odeia-me”.
terça-feira, maio 02, 2006
O bater de asas da borboleta
Assim, também um gesto índio dos confins das Américas faz estremecer certas paragens da blogoesfera lusa.
No poupar está o ganho
Aqui fica o meu texto publicado na revista "Dia D", incluída no Público de ontem.
A estabilidade no emprego, que para as gerações passadas era garantia de um futuro sem grandes preocupações quanto ao fluxo de rendimentos, desapareceu e dificilmente voltará. Na economia global em que participamos, os nossos rendimentos estarão cada vez mais dependentes de, a qualquer o momento, podermos encontrar no mercado quem seja comprador dos nossos conhecimentos e capacidades. Há, por isso, a crescente possibilidade de passarmos por períodos em que não estamos empregados o que deveria levar os portugueses a se precaverem da correspondente diminuição de rendimentos.
Pelo contrário, são cada vez mais as notícias e os estudos que indicam uma forte diminuição da poupança e, até, que poupar não faz parte das nossas intenções prioritárias. Esta tendência demonstra que damos mais valor à utilização desses rendimentos na actualidade, no consumo que fazemos, que ao seu diferimento como forma de assegurar consumos futuros, em tempos de menores ou nenhuns rendimentos. Isto é preocupante por significar uma diminuição da consciência que é responsabilidade de cada um tudo fazer para assegurar o bem estar próprio e daqueles que de nós dependem. O resultado é uma transferência para a comunidade das preocupações com o futuro, ampliando a dependência face a esta.
Em Portugal, nada disto é alheio ao alargamento do conceito de “estado social” que ocorreu nas últimas décadas. Os portugueses têm optado por eleger quem lhes propõe um modelo que considera que o estado, através dos seus agentes e instituições, sabe melhor que eles, que cada indivíduo, a maneira como gerir os seus rendimentos, poupando-os a preocupações com o seu futuro. A multiplicação das “políticas sociais”, com todos os “direitos sociais” que promovem, contribuiu para fazer crescer de forma exorbitante a carga fiscal, mas esta revela-se, mesmo assim, ainda insuficiente.
Um modelo alternativo, visando diminuir os valores a transferir entre portugueses (no desempenho da função redistributiva da riqueza, basilar à existência do actual “estado providência”), seria a promoção pelo estado de mecanismos e políticas que incentivassem a poupança. No entanto, este cenário merece duas críticas.
A primeira é que dificilmente esses incentivos seriam acompanhados da diminuição dos outros gastos do estado. A necessidade de financiar os seus serviços, os grupos de interesse que por ele são subsidiados e os vários projectos públicos que continuamente vão surgindo, continuará a requerer taxas elevadas de impostos ou a emissão de dívida pública (mais impostos no futuro).
A segunda crítica resulta da intervenção do estado em decisões que só aos indivíduos devem dizer respeito. Só estes dispõem da informação relevante para, a cada momento, decidirem o que fazer com os seus rendimentos e como alocar no tempo a sua transformação em consumo. Vira-se a moeda para encontrar, do outro lado do “estado social”, o estado preocupado com a falta de iniciativa e a indecisão dos seus cidadãos. Mais uma maneira de não devolver a estes maior responsabilidade sobre o seu futuro.
Hoje em dia, a enorme fatia dos rendimentos que os portugueses entregam ao estado, afecta de forma negativa os fundos disponíveis para quem pretende investir.
Afinal, poupar não significa trancar o nosso dinheiro num cofre. Ao diferirmos consumo, estamos a criar um fundo disponível para ser cedido a quem tem, actualmente, projectos de investimento em novos negócios ou em melhorias nos já existentes através de novos processos ou equipamentos. Cria-se, assim, mais riqueza e mais empregos. Dessa troca de preferências temporais entre aforradores e investidores, resulta a remuneração da poupança - o juro recebido ou a mais valia da aplicação desse capital. Alarga-se a capacidade de cada um de nós conseguir preparar a sua reforma, acudir aos gastos com a saúde ou garantir a educação da sua família. Aumentar a poupança significa assumir responsabilidade pelo nosso futuro ao mesmo tempo que potenciamos o desenvolvimento do país.
Jean-François Revel
segunda-feira, maio 01, 2006
Foi há 120 anos
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Recordar Haymarket, o 1.º de Maio de 1886, início da greve geral dos trabalhadores americanos pela jornada de trabalho de oito horas.
No dia 4 de Maio, sindicalistas membros da influente IWPA (Anarchist International Working Peoples' Association) organizaram uma concentração em Haymarket (chicago) para protestar contra a repressão policial, que dois dias antes tinha causado a morte a dois grevistas e ferimentos em muitos outros (South Side). Durante a intervenção policial que se seguiu, na tentativa de pôr cobro à manifestação, uma bomba explodiu, ceifando a vida quer de polícias quer de manifestantes.
A acusação recaiu sobre os organizadores do protesto, os dirigentes anarquistas August Spies, Albert Parsons, Adolph Fisher, George Engels, Louis Lingg, Miguel Schwab, Oscar Neebe e Samuel Fielden. Num processo judicial feito mais para anatemizar o movimento grevista do que para apurar a verdade, August Spies, Albert Parsons, Adolph Fisher, George Engels foram sentenciados com a pena de morte e enforcados a 11 de Novembro de 1887. O processo acabou por ser reaberto mais tarde e terminou com a condenação do Estado(1889).
Em homenagem às lutas laborais dos trabalhadores de Haymarket, a II Internacional proclamou, em Paris, o 1.º de Maio como “Dia Internacional do Trabalho", mais tarde conhecido como o “Dia do Trabalhador”.
“The time will come when our silence will be more powerful than the voices you strangle today."