.
.
(o que é enigmático é a perda do delírio: entra-se em quê?)
.roland barthes, o exílio do imaginário
posso dizer-te
que o rosto tem um pouco de mistério
qualquer
um sinal de nascença,
que desce na intromissão da memória
que tenho do rosto:
quando reconheço o rosto, sempre
é na expressão de um domingo que se demora o lado
bissexto do meu coração
só entendo o tempo como alternância de coisas secretas
em que acrescento os dias:
chamássemos dezembro a cada frase em que morremos
para renascer
os anos são alfabéticos e medidos pelas abreviaturas do desejo
em que pensamos descobrir o amor
e se abro a porta, sempre
é para saber se há palavras que cheguem num dia de segunda
para o tempo que procuro
.
.
[imagem de david field,
mais em silent short movies]
.
.
.
.
.