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sábado, 26 de março de 2011

Os corredores do H.M.S. Beagle


Por Germano Xavier

V

Após ter tido conhecimento de causa sobre a questão das colas que colam a si mesmas, após ter se indignado com sua geladeira nova que, segundo ele próprio, gela demais, revelado seu gosto por antiguidades sem serventia, após ter tentado o pneumotórax (aquele troço que só o Manuel Bandeira sabe o que é direito), após ter ido visitar um de seus impérios do Ártico (ali no Condado de Spitzbergen) e ter cheirado cheiros horríveis em proximidades latrinais, após ter pedido ajuda até ao Padin Pade Ciço (o que demonstra enorme desespero de alma), averiguado locais "privados" e esconderijos, após ter seguido misteriosas pegadas perto do porto de seu império do hemisfério norte, após ter adentrado no H.M.S. Beagle – isto mesmo, a embarcação do grande pesquisador Charles Robert Darwin -, depois de haver procurado por todo o seu aposento, dentro do veleiro, o grande vitorioso das guerras inexistentes, o herói épico dos romances sem cavalaria, Ele!, o homem que Deus guarda, O Próprio, sim!, aquele que não é o Adriano, atacante do Flamengo, mas que também é imperador, ele mesmo, Napoleão Joujaumontx, o faraó dos faraós, rei das inutilidades da mente, investe novamente suas forças para efetuar a captura do seu famigerado gato Pinóquio, conhecido atualmente pela alcunha de “O Traidor”, que no começo desta história fez o favor de roubar o chinelo arrebentado do seu senhor e seu amo, Napoleão Joujaumontx.

Quando todos pensavam que o infalível homem haveria de desistir de sua invernada contra as diabruras do seu gato ladrão, quando todos duvidavam da possibilidade de renovação da coragem por parte do general dos generais, lá estava ele, aqui está ele, mais vivo do que nunca, sorrindo-nos um sorriso amarelo com sua peculiar cara de ontem, provando-nos mais uma vez que continua sendo aquele ser de alma inquebrantável a quem devemos todas as loas do mundo.

Napoleão Joujaumontx, visivelmente transtornado depois de perder de vista os fiéis indícios da presença de Pinóquio nos corredores do H.M.S. Beagle, resolveu descansar um pouco e, para a sua surpresa, quando acordou, e ainda na cama, sentiu que o navio balançava menos que o de costume.

- Será qui êssi naviu tá mesmu paradu ou sô eu qui tô ficano lelé das mentalidadi? Tudin pur culpa daqueli salafráriu de bichanu! Ah, si eu pegu eli!

O magnânimo e indiscutível senhor das horas pôs-se a levantar de onde estava, e por meio de uma olhadela firmada em umas das escotilhas do H.M.S. Beagle, reparou que o navio estava atracado em algum porto de alguma grande cidade.

- Minha Nossa Sinhora du Patrucíniu di mô deus, ondi será qui eu tô!? Durmi dimais, minha virge santinha imaculada. I eis qui tô eu pirdidin aqui, nessa insalubridadi.

Depois de reposicionar ao corpo a sua belíssima vestimenta de imperador, Napoleão Joujaumontx deixou seu aposento e foi em direção à tábua de saída da barcarola. Decide atravessar a estreita peça de madeira onde alguns carregamentos estavam sendo despejados em terra firme, até para respirar melhor o ar das tantas incertezas que permeavam o seu raciocínio, mormente desde que Pinóquio houvera sequestrado irracionalmente o seu chinelo defeituoso. Quando terminou de passar para o outro lado, Napoleão Joujaumontx sentiu um cheiro de sardinha apodrecida ao molho de tomate, a tal da boca-torta, cheiro sempre presente na boca de Pinóquio quando este investia suas garras nas latas de sardinha da despensa do império caseiro napoleônico e lambuzava-se nelas, irrefreadamente, o que causava ao seu dono desafeições terrivelmente incontornáveis. E, roendo as unhas, pensou com os seus botões:

- Ah, Pinóquio, agora eu ti atrupelu! Nem qui a genti dê a volta nu planeta eu num vô dêxá tu iscapuli. Não adianta tu si iscundê, eu sei qui tu taqui.

Antes de começar sua disparada ao encontro do ladrão dos chinelos velhos e arrebentados, o grande imperador dos grandes impérios nada imperiais ainda viu o Sir. Charles Robert Darwin acionar um buzinaço de dentro da cabine do H.M.S. Beagle, indicando a todos os tripulantes e prováveis passageiros que era hora de retomar os rumos normais da viagem. Destino: Ilhas Galápagos, no gradioso oceano Pacífico.

O mais elegante de todos os elegantes, atingido por um sentimento de gratidão, bateu os pés, prontamente, e fez o gesto de continência na direção do capitão da embarcação, como se num apuro de despedida veementemente saudosista. Porém, no instante seguinte, recobrando as vistas para tudo que estava ocorrendo ao seu derredor, Napoleão Joujaumontx percebeu que não podia perder mais tempo e desandou a dar piques demasiado acelerados na direção do desconhecido.

- Ripa na chulipa e rumboraquibora! - disse, afetado.

O desvio de atenção durante a saída do navio do famoso Sir Dr. Charles Robert Darwin foi suficiente para fazer com que Pinóquio se afastasse com mais segurança das possibilidades de captura do nosso senhor imperador Napoleão Joujaumontx. Uma chuva fina caía na zona portuária da cidade, onde ele estava e, também, lugar de onde Pinóquio não deveria ainda ter conseguido se afastar.

- Quem tá na chuva é pá si moiá.

Assim pensando, caminhou até o fim do porto, deixando-se molhar pelos pingos grossos da chuva que caía do céu cinza daquela cidade estranha. Depois de mais de duas horas andando no que parecia ser a zona sul da localidade, Joujaumontx decide sentar-se num banco de uma praça com o intuito de descansar as pernas fatigadas de quem tem no sangue a ávida ganância pelas vitórias. E nosso queridíssimo imperador não suportou o peso das pálpebras e levemente cochilou.

Sobressaltado, despertou após ter tido um sonho possivelmente revelador no tocante ao destino que Pinóquio houvera traçado no interior da cidade. Pela primeira vez o fabuloso, o general das multidões sem grito, o vestido branco de Marylin Monroe, o príncipe que beijou a Bela Adormecida, o inquestionável Napoleão Joujaumontx teve consciência de seus poderes de ordens premonitórias e clarividentes. Um momento fenomenal e que jamais deveria ser esquecido das memórias de todas as gentes do mundo! Mais uma prova da genialidade escabrosa de nosso ídolo-mor. E sem refutar, partiu seguindo os indícios do sonho há pouco sonhado...


* O que será que o nosso herói sonhou no banco da praça da inusitada cidade? Terá forças Napoleão Joujaumontx para conseguir de volta o objeto surrupiado por seu gato Pinóquio? Só há um jeito de descobrir o final desta estapafúrdia historieta: esperar o próximo capítulo. Vocês não perdem por esperar! Continuemos, bucaneiros...

domingo, 13 de março de 2011

A capagem do gato


Por Germano Xavier

IV


Após ter sido seduzido pelos bigodes do seu escudeiro trapaceiro Pinóquio, que provavelmente estaria se escondendo do seu amo por detrás do barril de vinho do Porto que o H.M.S Beagle carregava em seu convés, o homem que dispensa comentários, o Lampião muito mais que pós-moderno, o bandeirante das novas eras, o D’Artagnan dos tempos de agora, a criatura mais que humana, o inimitável Napoleão Joujaumontx terminou embarcando para uma viagem com destino incerto e data de retorno ainda mais insuspeitável...

O naturalista britânico Charles Robert Darwin, líder do navio, saudou o maior dos maiores, dizendo:

- Sir Imperador, o H.M.S Beagle está inteiramente à sua disposição. Caso precise de alguma coisa, é só contatar algum dos meus homens ou procurar diretamente a mim. Temos todos os tipos de mantimentos que o senhor eventualmente possa precisar. Nada faltará, disso tenha certeza. Comerá do melhor alimento, beberá do melhor vinho e da melhor água, dormirá no melhor colchão e fumará do melhor charuto. Caso queira tomar um banho de sol, o melhor setor do navio é aquele à sua esquerda. Banho e sauna estão na terceira porta à sua direita. Desejo uma ótima viagem e um bom divertimento. Só para acrescentar, caso o senhor tenha interesse em alguma questão ligada à seleção natural das espécies ou evolução humana, pode também me procurar. Estarei sempre no timão. Com licença, Sir. Passar bem...

Ainda desconfiado de tudo e receoso de não encontrar vestígios de Pinóquio dentro do navio, o bucaneiro-mor Napoleão Joujaumontx ouviu o apito estrondar o som da partida...

- Meu padin, u qui é qui eu façu agora? Será mesmu qui u disgraçadu du Pinóquio istá aqui nessi naviu véi i qui fedi a bacaiau norueguêis? I essi brabudo véi tamém, até ondi eli podi mi ajudá nessa caçada? U Pinóquio só podi istá aqui mesmu, não tinha ôta saída pá eli.

O general de oito estrelas, Napoleão Joujaumontx, foi guardar os poucos pertences em seu mais novo aposento. Depois de tudo feito, resolveu adiantar a sua peleja. Meta: Encontrar o chinelo que Pinóquio houvera afanado no Condado de Spitzbergen. E teve uma sábia idéia, típica dos grandes pensadores...

- Vô fazê u siguinti. Vô na tática di procurá na direçãu du simplis pru complicadu, ô seje, du ispaçu piquenu pru ispaçu grandi. Sendu assim, devu começá minha busca daqui mesmu du quartu ondi istô. I é pá já!

E o quase Deus Napoleão Joujaumontx, o homem que faz acontecer de verdade, que faz e não fala e nem conta vantagem, começou a agir rápido. Rastejando pelo quarto, o Bradock mais forte que o Rambo investigou minuciosamente o seu quarto, mas nada achou de importante...

- Pô, merda mesmu! Aqui só tem baú véi, garrafa di rum, ganchu di açougui, tocu di vela, ispada inferrujada, pinicu di bronzi... Mais u certu di tudu issu é qui u cêrcu istá si fechanu, seu gatu da disgrama! Vai chegá uma hora qui tu não vai tê pá ondi escapituli. Vai chegá...

Após realizar a detecção e varreção vestigial em sua alcova, o bucaneiro-mor dos sete mares parte para o corredor escuro do H.M.S Beagle, onde, do nada, depara-se com um pegueno vulto que velozmente desaparece na altura da oitava porta à esquerda de onde se encontrava. O pai dos medrosos, o primogênito dos deuses do mar, o impermeável Napoleão Joujaumontx não titubeou e logo investiu suas pernas contra a sombra misteriosa...

- Apareça, si fô você, Pinóquio! Prometu qui eu ti darei a carta de alforria. Não vô ti maguá, pesti, não mesmu...

Certamente, tinha falado aquilo apenas como mais uma estratégia fenomenal de captura. A verdade é que o sangue do imperador Napoleão Joujaumontx ardia em brasa só em pensar no gato ladrão. Mataria-o apenas com o poder dos olhos, caso fosse possível tal artesanato.

Quando ia dobrando o umbral da porta, deu de cara com Darwin...

- Eureka, Sir! Eureka! É a idéia de evolução a partir de um ancestral comum, Sir, por meio da seleção natural! Não pode ser outra coisa! É justamente o que pensei! É isso, meu caro imperador Napoleão! É isso! Agora acredito que tenho em mãos minha tese quase perfeita e completa. Vou poder escrever meu livro On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. Vou poder escrever, meu bom senhor! Agora preciso terminar de ler “Os Princípios da Geologia”, de Charles Lyell, escrever sobre uma conchas que vi na Patagônia e sobre uns mexilhões que coletei no Chile. Bom passeio, meu senhor! Até breve!

Fazendo o respeitoso sinal de continência, Charles Darwin saiu em disparada. E Napoleão Joujaumontx teve a nítida impressão de que aquela curta conversa foi suficiente para que ele perdesse o vulto de vista. E sentiu um arrependimento por ter dado atenção ao capitão do navio, uma sofreguidão pouca e que certamente iria passar num raso espaço de tempo...

- Você tem muinta sorti, Pinóquio! Mas issu vai acabá! Podi escrevê qui vai...

Transtornado, o general dos generais, o pano que cobriu Cristo, a camisa 10 do Clube de Regatas do Flamengo na década de 80, o número um do Czar também número um, a bola de Pelé que não entrou do meio do campo, o gol de mão de Diego Armando Maradona, o homem que sabe que sabe, levantou o queixo, abriu os olhos fixos no alvo ainda só desejo e pôs a mão direita sobre o peito, dizendo...

- Eu ti capu, disgraçadu!

...

Não perca o próximo capítulo da saga de Napoleão Joujaumontx.
Você não perde por esperar...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O caso no H.M.S. Beagle


Por Germano Xavier

No último episódio de sua saga, o inconceituável Napoleão Joujaumontx resolveu, depois de cautelosa e inteligente idéia de construção pensamental, colocar em prática um de seus planos estratégicos infalíveis de captura.

Pinóquio, mais conhecido como “O Traidor”, fugindo das impiedosas mãos do maior dos maiores, o mitológico Imperador Napoleão Joujaumontx, acabou deixando no chão vestígios de sua passagem pelos recantos e cantos do setor norte do Condado de Spitzbergen, onde toda a celeuma começou.

O som refletido nos ares do Condado ainda podia ser ouvido em alto e bom tom, devido mormente à representatividade e força que aquele susto houvera lhe proporcionado...

- U qui foi aquilu, meu deus? ... U qui foi aquilu, meu deus?... U qui foi a...

Como que de chofre, Napoleão Joujaumontx parou um segundo caprichoso bem dentro de si, e depois sussurrou...

- É chegadu u momentu, seu Pinóquio di uma figa! É chegada a sua vêis! Tenhu qui agí logu!

Sem pensar mais um segundo, o indestrutível Napoleão Joujaumontx largou todo o peso que carregava e também todo o apetrecho capaz de produzir barulho. Tudo muito estudado para que não ocorresse falhas em sua investida. Foi assim que Napoleão Joujaumontx iniciou sua busca em nome de sua honra...

- Eu não mi chamu Napoleão Joujaumontx, nem manterei a ordi dus cavalêrus bravius di “La Mancha”, a qual meu irmãu Quixote féis parti, si um dia eu não ti pegá na boca da butija, seu gatu safadu! Eu só pricisu di tempu! Eu só pricisu di tempu e paciênça!

O homem que Deus guarda, o insolúvel e indissolúvel homem incrível, o quase Deus e a bala que matou John Lennon, o marido da Luana Piovani, o ser que pinta de rosa a situação preta, o homem que dá rasteira no vento, ele, o próprio Napoleão Joujaumontx, agora caminha seus primeiros passos e percebe que o sucesso é apenas uma questão de tempo...

- Milhó luta é u lutá du deseju, Pinóquio! U lutá du deseju!

Com passadas largas e resolutas, e ainda seguindo a estrada construída com as supostas pegadas de Pinóquio, Napoleão Joujaumontx conhece pela primeira vez o pequeno porto do Condado de Spitzbergen, território pertencente ao seu Império do Ártico.

Napoleão jamais houvera pisado no porto de Spitzbergen. O destruidor das demagogias não precisava gastar energias observando a chegada e a partida de navios e saveiros que abasteciam todo o Condado com mantimentos de última necessidade. Havia um esquema de administração muito bem estruturado e que dava um bom rumo aos negócios do Império.

Nesse ínterim, Napoleão Joujaumontx percebe que as pegadas vão ficando cada vez mais desfiguradas, até perderem, em determinada coordenada geográfica, as suas formas mais visíveis. Um tanto que desorientado, Napoleão Joujaumontx não perdeu tempo. Começou a perguntar aos seus empregados sobre o possível destino trilhado por um ser que foge de alguém. E todos lhe apontavam o setor de embarque e desembarque do porto de Spitzbergen...

- Intãu é lá qui você si iscondi, não é! Intãu destá qui você vai vê cum quantus paus si fais uma canoa, seu Pinóquio disgraçadu! Destá!

Napoleão Joujaumontx, desviando-se de inúmeros baús e arcas repletas de alimentos e armas, finalmente consegue chegar ao setor de embarque e desembarque do porto de seu Condado no Ártico. Sem muito esforço, seus olhos denunciaram a presença de apenas um navio no atracadouro. Não era grande nem pequeno. No casco frontal havia uma inscrição:
H.M.S. Beagle – Inglaterra.

- Aqueli gatu salafráriu só podi tê carregadu u meu chinelu pra dentu daqueli naviu. Vô logu mi prontificá e encararei até uma viagi não pogramada si fô pricisu. Mas qui eu dô uma liçãu naqueli Pinóquio, eu dô! Ah, si dô!

Quando estava já subindo a rampa que dava acesso ao interior do navio, o maior viajante de todas as eras, o Marco Polo dos tempos modernos e contemporâneos e pós-modernos também, ele mesmo, e quem poderia ser?, o soldado dos soldados, Napoleão Joujaumontx, teve a nítida impressão de ter visto dois fiapos do bigode de Pinóquio em movimento de reconhecimento sensorial concernente à presença do seu amo, ali, atrás do barril de vinho, próximo ao mastro central.

Napoleão não titubeou. Acelerou suas passadas de forma a imprimir a si uma velocidade de ginete em trote considerável, quando foi abordado por um velho de calvície presente e barba branca de cerca de um palmo de comprimento.

- Saudações, Sir! Quão magnânima e honrada presença! Veio fazer uma visita ao nosso barco ou pretende conhecer os sete mares conosco? Informo ao Ilustríssimo Senhor General que dentro de 5 minutos partiremos para a nossa jornada. O que me diz, Sir?

Napoleão Joujaumontx, ainda aturdido e mais preocupado em averiguar se era mesmo Pinóquio o dono daqueles fiapos e se aqueles fiapos eram mesmo do bigode de Pinóquio, respondeu perguntando...

- Hum? Cuma? Quandu? Ondi? Hoji?

E arqueando o corpo em total reverência ao Imperador dos Imperadores, o homem de barbas compridas e alvas estendeu o braço ao General dos Generais, no intuito de auxiliar a entrada definitiva de Napoleão Joujaumontx ao interior do simpático Beagle...

Em poucas palavras, o homem do navio começou sua apresentação...

- Pode me chamar de Charles Robert Darwin, cientista e curioso inglês, natural de Shrewsbury. Será um prazer tê-lo em nossa companhia, Sir!

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Não perca o próximo capítulo da saga de Napoleão Joujaumontx.
Você não perde por esperar...

sábado, 29 de janeiro de 2011

O condado de Spitzbergen


Por Germano Xavier

II


Em sua última aparição, Napoleão Joujaumontx encarou imbróglios diversos que acabaram por mexer no seu comportamento habitual. Percebendo que nada estava acontecendo como ele queria, Napoleão Joujaumontx resolveu observar a administração de um de seus impérios do Ártico, ali nas proximidades de Spitzbergen. Furioso ao ver os desmandos de seus dependentes, o general de cinco estrelas, Napoleão Joujaumontx, decidiu ir ao encontro de seu mais antigo súdito e provável herdeiro de seu trono, posto que havia desconfiado de alguma falcatrua ideológica e de uma decepcionante corrupção material.

Parecia perdido em sua existência errante, quando tomou fôlego novamente e corroborou a sua última frase, dizendo...

- Já sei u qui fazê, pô! Tenhu um planu mirabolanti aqui na cachola. Aqueli salafráriu du Pinóquio vai si arrependê di tê mi conhecidu. Eli vai vê cum quem está li danu! Ah, si vai...

Napoleão Joujaumontx, a lenda viva e o virtuose do poder, num acesso de cólera, iça sua adaga imperial e grita gritos de homem já experimentado em fronts por todo o mundo...

- Eu hei di ti pegar, seu gatu disgramadu! Eu hei di arrancá us fiapus di teu bigodi, seu bichanu di uma figa! Ou eu ti capu di uma vêis pur todas ou eu não mi chamu Napoleão Joujaumontx!

Depois de elevar a voz forte e máscula de guerreador invencível, Napoleão Joujaumontx, ele mesmo, o irmão caçula do Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, aquele do Saavedra, olha para o seu relógio suíço de ouro 24 quilates e acerta os ponteiros de sua próxima glória...

- Agora são 07:37 da matina i você tem exatamenti uma hora pá aparecê di ondi quer qui você isteja, seu Pinóquio disgraçadu. Eu não disistu assim tão fácil não! Doa a quem duê, eu ti capu ainda hoji. Nunca mais você vai mi disobedecê dessi jeitu. I vou logu avisanu, viu! É melhó você trazê a disgraça du meu chinelu, purque sinão a coisa podi ficá ainda mais preta pú seu lado!

Armado da cabeça aos pés e com os devidos broches da Academia Militar de Paris pendurados no belo capuz azul com bordados turcos, o artilheiro-mor Napoleão Joujaumontx começa a aferir todos os recantos do condado de Spitzbergen, onde descansava havia duas semanas...

- Ondi é qui essi infiliz si meteu!? Atráis da bosta da geladêra nova eli num tá. Nem imbaixu da pia. Piorô atrais du bujão. Sabi di uma coisa, eu vô é procurá lá no banhêru. Gatu gosta di iscondê suas artis em locais privadus. Nada melhô du qui vê si eli istá atráis da latrina. Não custa nada averiguá!

Conhecendo novamente a força que impulsiona os maiores homens da história a lhe percorrer as veias e as artérias, o indestrutível Napoleão Joujaumontx demonstra uma certa malemolência corporal logo depois de adentrar pelo portão sul do Condado de Spitzbergen, perto do setor de descarga de paramentos bélicos de seu já citado território...

- Pô, qui disgraça di fedô é essi! Qui disgraça é essa, meu padin Ciço! Quem foi qui obrô nessa merda i não deu discarga!? Pinóoooquio, seu felinu maleducadu! Deixa eu ti pegá qui você vai vê a cô du meu currião vermei, viu... Pô, esse banhêru tá parecenu us infernu... cum aqueli tantu di inxofri frevenu nus caldeirão lá das terra di baixu. Qui fedentina, meu padim! Pareci qui não limparu a privada desdi o início du anu.

Surpresa maior o maior dos mestres da guerra iria ter ao abrir a tampa do seu esconderijo subterrâneo...

- Qui tulete é essi, meu sinhôzim do Ceará! Aqui tem cocô qui não acaba mais! E é cocô di gatu, i di gatu safadu! Pinóooquio, seu gatu fididu, queru tê uma convessinha cum o sinhô! Apareça, seu vermi disubidienti!

Depois do susto, mas ainda claudicante, Napoleão Joujaumontx percebe uma trilha feita com as pegadas de seu súdito. Uma trilha construída recentemente, ainda viva e de perfeitas formas...

- Ah rá, seu Pinóquio di uma figa! Seguindu essa istradinha eu vô ti achar rapidinhu e pegá você cum a boca na butija!

Mesmo descobrindo uma real pista do seu escudeiro trapaceiro, o irmão caçula do Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, o fenomenal Napoleão Joujaumontx, utiliza-se de cautela, dom daqueles que já nasceram para a arte da guerra*...

- Eu não possu mi afoitá. A paciência nessas hora é a melhó coisa a si produzí. Precisu esperá chegá u meiu du dia, pois assim terei mais chanci di capiturá Pinóquio. Todu gatu é priguiçosu quandu u sol tá nu meiu du céu.

É quando Napoleão Joujaumontx percebe alguma coisa a se movimentar no setor norte do Condado de Spitzbergen...

- Meu padin Ciiiiiçooo! U qui foi aquilu, meu deus!?!?!

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Não perca o próximo capítulo da saga de Napoleão Joujaumontx!
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Obs: Napoleão Joujaumontx não leu "A Arte da Guerra", de Sun Tzu. Todos os seus conhecimentos foram adquiridos em campos de batalha, comendo o pão que o diabo amassou.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O chinelo, o gato e o Imperador



Por Germano Xavier

O fabuloso, o fantástico, o estupendo, o incrível, o inenarrável, o maravilhoso, o magnânimo, o impermeável, o inclassificável, o parafinado, o memorável, o homem que Deus guarda, o mosqueteiro das ínfimas situações, o fantasma da ópera, o paraninfo dos covardes, o homem que tudo vê, o grande, o maior, o incomensurável, o independente, o abominável homem das pequenas coisas, o dono do mundo, o prefeito dos formigueiros, o presidente das reuniões inacabáveis, o magnífico, o tirano e respeitadíssimo Napoleão Joujaumontx acordou atordoado e o relógio marcava 06:32 da matina.

Sem água no condado, Napoleão Joujaumontx resolve conferir um de seus Impérios do Ártico...

- Pô, u supe bondi qui comprei onti já tá cum u bico intupido. Qui disgraça di cola é essa qui cola até ela mesma!? Tô aqui matutano umas idéia, pera ainda... Deve havê algum poblema cum alguma coisa, purque num é possíve umas coisa dessa! Paguei foi quato pila na bosta da cola pá agora ela ficá assim...

Indignado e pensativo, o grande Imperador das libélulas rastejantes, o imprevisível Napoleão Joujaumontx, aparece com uma lâmpada acesa sobre a cabeça, como nos desenhos animados de antigamente...

- Issu! Suspeitei desdi us primórdio das civilização! É a disgraça da geladêra. É daquela do comercial i tá cum menos di um mêis qui ela invadiu a cuzinha aqui di casa. É issu! Motô novo só podi dá nissu, congela dimais. É purisso que cultuo u som dus bulachões. Já ouvi dizê qui quem iscuta muinta música em aparei de Mp3 fica surdo em seti anus. Pur causa das finas feqüências. Bulachão é uma onda, u chiado pareci música clássica.

Fingindo uma melhora em seu estado de nervos, Napoleão Joujaumontx é acometido por um pequeno desvio de comportamento e acaba reagindo de maneira abrupta e impensada...

-Pô!!! Gastei dinhêro pá dedéu na merda dessa cola maluca! Vô jogá é no lixo!

Depois de atirar o objeto na pequena lixeira da cozinha, o insubstituível Napoleão Joujaumontx tenta o pneumotórax...

- Meu chinelu! Cadê u meu chinelu!? Pô, cadê u meu chinelu? Qui disgraça di dia é essi qui já amanheceu dano tudo errado! Pô, devi tê sido o Pinóquio. Ah, quandu eu pegá aqueli gatu safadu eu acabu cum a raça dêli... ah, si acabu! Pinóooooooquioooo!!! Ô, Pinóoooquio! Bichano, psiu, psiu, psiu!!! Venha cá, meu herdeiro!!! Pinóoooquioooooooo...

Depois do insucesso da investida, o inabalável Napoleão Joujaumontx conversa silenciosamente com os seus botões...

- Pô, num sei u qui é qui eu faço agora. Nem cola nem u qui restava di meu chinelu, e muinto menus sei du paradêru du Pinóquio... Eu tenhu qui bolá um planu!

O estrategista Napoleão Joujaumontx encara o desafio de encontrar o seu calçado com a seriedade dos grandes generais. Quando todos pensavam que o Imperador dos imperadores precisaria de muito tempo para elaborar uma tática de abate, o gênio Napoleão Joujaumontx aponta o dedo indicador de sua mão direita na direção de sua testa e vocifera como um leão enfurecido...

- Já sei u qui fazê, pô!
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Não perca o próximo capítulo da saga de Napoleão Joujaumontx!
Você não perde por esperar...