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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cutucando o bucho das coisas


Por Germano Xavier

VII


forte das pernas lá ia doró
do mesmo modo ensimesmado
a cutucar o bucho das coisas
a roer as unhas das lerdezas

adiantava não o milagre de Vozinha-Mãe
nem chá dos verdes pra calmaria
que o mundo ele rodava brincando
fazia dele era era uma bola de pano
e dava de bicuda
e dava de bandinha
que o que é na gente sempre volta
pros outros em rodopios
e bom se fosse em rodopios de bola
e de bola de pano suja de lama
poesia de meninice aguda
e eterna

que assim é que era bom
"sabê dus mundão de cada um
das puisia desenredadas
das puisia de semente
que de nóis as fruta se amoldura
e lambuza boca de doce
e só assim nóis véve
só assim"

eita Grandeza que esse menino era uma fonte!

parava não de chutar o que coisava ele
batia forte com o pé e com jeito
que tudo tem o seu jeito
e na sua manha sabida pontapeava num tiro
a pança do mundo e saía espoletado
feito um relâmpago o moreninho do mato
num caminho descaminhado que só ele sabia
que só ele sabia

domingo, 19 de junho de 2011

Daqueles ele é


Por Germano Xavier

XV

imbricado feito pele de peixe de rio
o menino desembestava suas atividades de solilóquio
malsucedia os atavios de vida empacava
dizeres de lorota e percalina e findava os dias
esfogueteando o seu contrário jeito de ser

"queria era era sê antípoda" palavreado ornado
mas que parecia se adicionar respeitos
leitura feita em livro de geografia usado
maltratado por mãos que ora vivem
se sepultar teorias adoradoras da práxis
parou pensou pensou mais um tantinho
e concluiu num arroubo de luz
"an-tí-po-da anti-poda sou desses"
era verídico Doró no mais das horas
não se interessava em aparar ramos desbastar
que ele o morenín era era deslimitado
por natureza desejoso por ver tudo
se alevantar de impulso ou de luta
saltar ganhar mundos e aforas
por isso mesmo naquela ensimesmadura
não fazia questão de se professar aos outros
em sentimentos de cisternas enormes
salpicava no rosto uma vermelhura de feliz
quando no seu vizinho brotava um orvalho no olho
isso somente de se contar uma história
imagine se ele Doró se arresolvesse de pronunciar
um dos tantos discursos experienciosos que nele habitava
aí a Grandeza nem precisaria mais mijar
que os homens mesmos se prontificavam de serem os regadores
e o mundo desde Pastinho até o mundão mesmo
se assentaria convencido de que a chuva ou a seca
só se é quando se permite que seja

"sou desses" pensou

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O mundador de mundos


Por Germano Xavier

XIV

e deu de ser construidor de geografias?
e arrumou de ser regador também de palavreados
apanhados em literaturas, o menino moreno?
curió osado esse que nem lembra que indivíduo
ferroso pode não ser aquele que sustenta uma baita
inchação de bucho mole! oxe sô e oxe

marnué que é ô disgramadin osado
o disgramadin osado, o do mato!
vai ver que agora anda de serviço
misterioso e medonho com essas providências
fantasiosas de letras, que vivem disfarçadas
e em máscaras de algum baile duvidoso
numa resmada de papel variado e multicor
tá ele num desejoso de estreitar o beijo
das cores do mundo por ele mundado?
ou de modo que não assim Doró
pegou foi mazela de confundimento de cuca
que dá em gente que véve feito galináceo
em chocação preso em si por uma quentura sem pólo
o que será que se foi, meu padin?
o que será que se foi!

Doró aquele mesmo o mundador de mundos
parece assim por parecer às vezes que já
escolheu sua escolha mais de nobreza e estampa
ele quer é continuar sendo é ele mesmo ou seja
o que ele sempre não e jamais deixou de se saber ser
um fazedor de coisas
um coisador de fazeres

"um fazedô de mundos multicolores ou
um coisadô de fazeres viventes", disse assim
para o primeiro que lhe acercou de olhos naquele
instante disse assim para um samanbaio!

oxe, sô! e oxe!
disgramadin...

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sobre empurros e alturas


Por Germano Xavier

XIII

palavra viva é medo resolvido dura
esfera de se criar fantasia solta
e de onde veio o meu nome é o céu
castanho e de onde veio a decisão
curta de ser grande e de cócoras o tempo
fazer-se criar-se nos matagais e grãos
e a messe colher o dom escasso de vista
ser campina e vôo ser-me a história

melhor lembrar que a vida é em rodopios
de bola de pano? chuva que molha o chão
esperança que mata a fome indo a arte
o monumento maior de ir em desenredo vale?
mais? o mundo quanto? custa à morte a vaidade
quando? a verdadeira festa elevatória música?

a gente joga e não espera a gente brinca
de barriga varrendo o chão e os telhados
a gente fujamos voa é preciso saber
que não se escolhe o pouso o front
que se vai e se deixa ir ventado em empurros
a ida a volta precisamos? estamos sempre indo
com certeza para os cantos e para as alturas

Doró não lamenta o sonho na guimba desperdiçado
Doró alcança estica os artelhos compridos
de acordado e quisto em tudo e se chega

Doró toca os demais os abismos e se alma
mais que ver ele sulca guerreia de dentro
para fora os mundos seus carinhando-se

que se é frio se amorna em umidades
em humanidades em humildades o principal
diz dizendo a voz do coração e ensina compassado
que a vergonha é estrangeira desnatura e quebra
deixa de esconder as manchas nossas verdades

mundar deixa ele o recado de mundar de mundar
de ser em capricho para outros o pão
para si mais de um mundo em borboletas
de se imaginar feituras nossas animais

e nascer nunquinha deixar esquecer e nascer
e sujar-se em nascer-se
e enlamear-se em nascer-se
renascer-se...

sábado, 4 de junho de 2011

Fus de soidade


Por Germano Xavier

XII

disse um fu! com desprezo o moreno
disse um ai! cabeçudo de soidade

Doró esperneava enlameado das lamas
das cinzuras das desalegrias dos supostos
e tudo isso os de mal nas esquinas fácil
mas não deixa de ser bem almado
aquele que apeia o próprio fado não
nunquinha não deixa de ser aboiador
de regatos milagreiro e o mais simples
o mais de tudo que se queira crer
avuador leve o estar algodoando
os outros no justar da gente colheita

arante roçante o sulco na terra o
barro febril aberto plantador os sonhos
essas nossas aleivosias de interno abisso
lá longe aqui perto tudo e nada
o ser verbo azul esse demais o mar
é mesmo azul de vidro ele quebra
em ondas vontadeando a umidade eterna

disse um hale! guerreiro menino-fonte
não estranha terra estrangeira engole ela
cozinha ela ajeita no prato das sabenças
e te ergues dando garfadas sendo ela
você inteiro tua casa teu passaporte tua ida

Pastinho mais perto um dia a morte
um dia chega a hora de partir infinito
dividido cortantante partir da terra a fenda

dia de não poder dizer um fu! com desprezo
o moreno do mato garganta seca a hora disso

dia de dizer um ai! cabeçudo de soidade
lembrador passa tudo na gente essa hora vivi?

terça-feira, 24 de maio de 2011

O dia de abanicos


Por Germano Xavier

XI

tinha dia de aluar de ver cair comprimentos
dia de autorar verdes de encontrar desencontros
tinha dia pra tudo lá em Pastinho
até pra abanar mão feito ventarola
e dizer distâncias pra quem acomodava os atalhos
e limpava o cascalho e alinhava as linhas da vida

e aquele tinha chegado o dia de abanicos!
foi uma abanicada úmida regada em choros
"é qui as dureza das dô dói é nas alegria tamém
só quem sabe dô dus ocidente da gente
dô di machucado lento lenhoso
é qui carimba as carga no couro das alma!"

ver Doró daquele jeito feito tatu em toca
dava outra coisa não senão dó, e que dó
mas da "chuva dos zói" ele humanizava fortalezas
pintava pneu nas pegadas de pé e depois saía
aventurado em nunca mais olhar pra trás
o que era impossível forte em paredes
alegre em verbetes de cidade nova e grande

pai-dos-burros aumentado já no sentar do transporte
lá ia teimoso desafiador de destino morno
lá ia o menino escorregando estilos
pavoneando as iluminuras sobressalentes
tornando o que já era fonte num reavivo escandaloso

"si eu tivé di avuá vô vê du alto Pastinho
vô vê du alto meus canto meus aconchego meus linho
bebê du tempo ventoso dus relógio apressado
sem nunquinha deixá de sê eu o morenín du mato"

domingo, 15 de maio de 2011

Medando azulidões


Por Germano Xavier

X

si iscafede trejeito corredor!
e nem bem se imaginava o já imaginado
o morenín do mato escapulia dos horizontes
do olho da besta-fera pois que há horas pra tudo
até pra gente ser as coisas do momento
e é justamente nesse instante de labor ebulitivo
que a meninada precisa ser bateria
tudo pra enlarguecer fazer girar
amolecer desastres sonar silêncios
petelecar murmúrios assustar sustos sustosos...

"tudin de mió era sabê qui nóis pode mais
qui as besta-fera é das outridões dus zalém
qui a gente fugueta na hora do bem intendê
e avoa feito bala de beca catada
impurtante é num dexá de nóis fugí os passarinho!"

tinha de deixar avuar pra dentro e pra fora
principalmente pra fora horizontado
pois que dentro é sentido na vermelhura do sangue
da gente não precisava como as distâncias longes
e foi que na mangueira do quintal de casa
Doró daquele jeito ensimesmado
foi ter certeza em alturas que o telhado
do mundo era azul de "azulá os zói"...
subiu cantinhos já marcados por bundas
lugar de brigado sentimento de infância
e lá na cama das "fôia vrede" fitou
em aturdimento esplendoroso a azulidão do monumento

e Doró teve certeza das existências
e teve apaixonância pelos "derrepentes"
e esperou as pequeninices gigantes
e celebrou o embaraço das pernas
e nomeou-se embrulhador de sonhos
sem jamais se esquecer de medar das coisas...

Doró morenín fontudo das bençãos bem dadas
me empresta as chaves?!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A salvação


Por Germano Xavier

IX


Doró vivia por querer almar
todas as coisas do mundo
e ver brotos de sabenças
nas outridões que lhe chegavam

como era lindo saber-se assim
assaz sábio em bonanças e farturas
de miudezas realmente imensas
que sucumbiam dos lugares de mais limo

é que lá em Pastinho o segredo andava em vagens
e era sempre preciso encerar o bucho das coisas
pra ver nascer a glauqueza das esperanças
lá ia armado com arma branca de unha de calangar
em tocas que "armas outra num era referênça"
amolava o osso dos dedos no seixo queimante
de sol nos seus modos de rapidez de natureza
e balançava algaroba no cio pra pegar "vage mardura"
depois na posse da douradeza de escândalos bons
era "iscuiê bicho ou coisa malaumada zunhá vage
virge e mardura cum uma só zunhada abrí peito
sem istóra pra encerá o oro das lonjuras
de dentro no cerne das farsa sorrisada
só assim o mundo era mió
só assim"

esfregava tanto a vagem em suco
que a parte chegava a empretecer de ficar sombrosa
estranho isso não era pois servia de resultado
se desse modo se terminava tava almado e bem
agora se empós a operação de Doró
persistisse na carne da vagem uma alvura de amarelos
o mais estudioso que se tinha de fazer
era era se " iscafedê pros mato discaminhado
pois que o cassaco divia era era de sê dos grandes"

não tinha outro jeito
a salvação era "si iscafedê"

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Algarobando


Por Germano Xavier

IX


Doró vivia por querer almar
todas as coisas do mundo
e ver brotos de sabenças
nas outridões que lhe chegavam

como era lindo saber-se assim
assaz sábio em bonanças e farturas
de miudezas realmente imensas
que sucumbiam dos lugares de mais limo

é que lá em Pastinho o segredo andava em vagens
e era sempre preciso encerar o bucho das coisas
pra ver nascer a glauqueza das esperanças
lá ia armado com arma branca de unha de calangar
em tocas que "armas outra num era referênça"
amolava o osso dos dedos no seixo queimante
de sol nos seus modos de rapidez de natureza
e balançava algaroba no cio pra pegar "vage mardura"
depois na posse da douradeza de escândalos bons
era "iscuiê bicho ou coisa malaumada zunhá vage
virge e mardura cum uma só zunhada abrí peito
sem istóra pra encerá o oro das lonjuras
de dentro no cerne das farsa sorrisada
só assim o mundo era mió
só assim"

esfregava tanto a vagem em suco
que a parte chegava a empretecer de ficar sombrosa
estranho isso não era pois servia de resultado
se desse modo se terminava tava almado e bem
agora se empós a operação de Doró
persistisse na carne da vagem uma alvura de amarelos
o mais estudioso que se tinha de fazer
era era se " iscafedê pros mato discaminhado
pois que o cassaco divia era era de sê dos grandes"

não tinha outro jeito
a salvação era "si iscafedê"

domingo, 24 de abril de 2011

Brabuletano


Por Germano Xavier

VIII

e bola pra riba, pra ribanceira!
"qui u qui num presta a gente joga é fora
pra nossa desmemóra
pros nosso isquecimento..."
que o que há de ficar na gente
é toda essa antologia do menino
paraisando o lugar mais mero
alegrecendo o riso mais triste
dos de Pastinho, dos doutro mundo

que a verdade verdadeira não irrita
se nasceu foi pra ser dita
"certo é que mundos têm
e no mundo pissoas tamém
cada um que óia o teu oiá
que imagina o teu imaginá
purisso as nuve hei de inbranquiçá
purisso as largatas hei de soprar
pra nus iscuro o mundo num ficá
e nóis deixá de inxergá
us oro qui na vida há"

por isso assim o morenín corria
mais com pressa que qualquer coisa
que há que nossa calma tem de se apressar
pois que tudo passa num ventão de dar dó
vai feito lavandeira passarinho do santo
carregando nas asas a sagradura música
dançada em festa de coração batendo
o som de se ouvir o gesto em palmas
a composição de estradas em elevações do celeste
nossas cantigas de cantar

vai Doró
brinca de correr a vida simples
que no final minha certeza mais grande
que no final um brabuleta há de raiar

terça-feira, 29 de março de 2011

Lembrações de Pastinho


Por Germano Xavier

Biografia provisória de Doró.


* Nos dias de bem antes...

- Doró morenín do mato nasce, como toda gente há de nascer, depois de dar muitas cambalhotas no ventre da mãe.
- travessurar só em Pastinho, um dos mundos do mundo, e o mundo dele.
- fica órfão das coisas de fora.
- aprende a chorar de alegria.
- aprende que todo quintal é um planeta.
- pela primeira vez, anda nu das roupas da alma.
- aprende a correr de cassaco grande.
- percebe que um dia ele iria crescer, e que isso era inevitável. nesse mesmo dia, nota que era bom de dom.
- decide pupilar a vida inteira.


* Nos dias de quase-ontem...

- fica órfão das rasuras.
- aprende a ser como o vento, soprador.
- conhece o poder da invisibilidade.
- conhece uma lagarta ainda nem crisálida, por quem se apaixona.
- realiza sua primeira experiência gozosa, fazendo a Grandeza escancarar um sorriso.
- mata, sem querer, um passarinho do santo e, como para recompensar o ato feio, resolve lavar nuvens.
- toma gosto pela arte da ameninação.
- aprende a becar.
- obedece à desobediência e, no mesmo instante, resolve ir à caça dos rebeldes sem causa.
- enxerga a visão dos machados dourados, prenúncio para a salvação.
- aprende a não contar vantagens por ser uma fonte, mas sim a desaguá-la nos outros.


* Nas proximidades bem próximas...

- sofre a dor do Desmijo.
- aprende piedades.
- toma gosto pelos milagres de Vozinha-Mãe, mas mesmo assim a barriga não pesa.
- aprende manejo de bola de pano.
- descobre inteligência.
- abandona as burrices.
- une-se às lonjuras.
- torna-se cutucador e chutador.
- aprende a esquecer.
- rompe suas ligações com o que não é poesia.
- conhece as passagens.
- compõe céus, branquezas, sorrisos e tantas outras estréias.
- contrói uma casa de esperanças.
- e véve.



VI

anuviado era o céu de Pastinho
lugar de idade pouca do moreninho
de facúndia boa na lembração
dos dias antigos e de chuva muita
lugar de Vozinha-Mãe fazedora de milagre
sabedora das datas de tiro e queda
bem nos idos de antanho fazia doró
caminhar até o sítio de Vozinha-Mãe
levando na bagagem do rosto
uma alegria triste de dentes
e aí já se esperava o levantar sôfrego
e claudicante de Vozinha-Mãe indo
no quesito do fogão de adobe queimado
que ardia o fogo com madeira de comida
sentado o do mato espiava a concha
nadando no caldo do feijão de mão
feito uma pisa levada amassando a bunda
do mancebo e aquelas mãos rugosas
trazendo para o lume o delírio do alimento
daí faltava pouco era misturar a farinha
com as pedrinhas carnudas
e fazer com o rodo das mãos o milagre
bolinha de feijão com farinha no ponto
que fortalecia o soprar das largatas
que fazia doró um vento só
de asa grande pra alcançar as nuve
e pra fugir de cassaco grande
e de espanto maior que seus dons de arte
eita que Vozinha-Mãe também era uma fonte
de verdade era era uma fontona
isso assim no dizer de Doró
isso assim no dizer de Pastinho
lugar de funduras
lugar de lonjuras

segunda-feira, 21 de março de 2011

Um saculejo esquisito


Por Germano Xavier

o saculejo do sol era um castigo
bola de gude incandescente
rolimã na ladeira o freio no pé
o menino escutava aquilo tudo
facão dourado dividindo a terra
sulcando o barro no enterro do vazio
e o menino escutando aquilo tudo

desde mais infância era desse modo a vida
mijo de deus que não caía
"sem o engraçamento do Grande
cumu nóis véve? sem o verde
das fôia no mato cabeludo
sem pêxe nem ingodo pra mode pegar o dito cujo
e matá nossos caimento de ombro
e matá nossas sede de boca..."

um dião enorme assim se passava
mais de duas estações de livro
"um sofrê de mais de mei de ano"

"doró morenin do mato sem mato num véve!"
fato claro como esse só mesmo
a claridade no olhar daquele povo
debaixo da escuridão do céu pesado
a matutada toda sorrindo
feito gracejo de hiena abestada

porque era deus que ia mijar!
aleluias de améns, améns de aleluia para o Grande!

que era deus que estava mijando!
aleluias de améns, améns de aleluia!

sábado, 5 de março de 2011

O rodador de roda gigante



Por Germano Xavier

IV

dava era dó ver doró
ressumando o teor da tristeza
na procura pelo infinito
que era ele mesmo
aqueles olhinhos arteiros
de quem sabia tudo de cor
derretendo numa chuviscada de lágrimas

e mais sementes regadas
e sempre mais verde e floresta
e sempre mais sombra e nuvem de escuro
pro menino brincar de imaginar
que no fundo de todas as coisas
há um machado de ouro
com a douradez na face
abrindo enormes clarões no obscuro

inverso era o moreno do mato
o posto oposto
e o absurdo de ser
e só doró
por ele mesmo em lagartixas
voz de nuvem aguada e alva
sorriso celeste em terras
que isso era o que o menino era
rodador de roda gigante
brincador das coisas de dentro
escondedor de pedra e espinho
que nada disso valia a pena
que importante mesmo era virar cambota
abraçar finura do grosso
voar em riso de morto

esse menino era era uma fonte

doró e era
e só

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cada caroço um sorriso



Por Germano Xavier

III

quando se pensava que era já hora
do curió do mato sossegado piar
aí era que o vento dava duas dobras
na própria propriedade de existência
e anunciava do meio do pó doró
o moreninho do mato

o moleque estripuliava era era com tudo
uma vez foi foi matar lavandeira
passarinho do santo abençoado
dizia ele ia pro céu
ser lavador de nuvem

"tem de aguá bem aguado
pro mode ficá alvinha assim pra sempe"
pensava o menino

esse moleque era uma fonte

tinha era um umbuzeiro inteiro
plantado na cuca
cada mordida no fruto era uma arte
cada caroço um sorriso

doró gostava mesmo era soprar lagarta
"vê brabuleta de largata ameninar" dizia
e de matar "largatixa" com beca de pau
que ele mesmo fazia nas folgas de menino respeitoso
aos pais e arredondava as pedrinhas de catada
"qui largatixa é fi de largata disubidienti
fugiu de casa nun quis iscutá mãe e brabuleta sê
feiz foi ficá iscondeno no mei das foia suas arte de rastejo"

pra bicho que se esconde do seu viver
lá ia era tiro de beca de pau pra riba
que o menino ia era pro céu "sê aguadô de nuve"
e arreganhar ainda mais o sorriso de deus

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Soprando lagartas



Por Germano Xavier

II

eita doró corredor
ou é cassaco fugindo de espanto grande
ou é o moreno um artista

e se dizia que era bom de dom
e era dom de terra ele tinha
e era de água de fogo
e até dom de ar
esse menino era uma fonte
pois decifrando dom de ar devia ser
saber voar

pelas minhas contas
doró sabia voar
e eu já desconfiava disso
vendo aquela
carreira dentro do verde
a poeira depois se assentando
e nos trazendo a vista vazia sem doró
calmaria de passarinho no alto
essa altura estava láááááááááááá

o certo é que ninguém sabia onde
do menino
quando dava sumiço
desaparição dele e nele mesmo

depois foi que me contaram
era que doró soprava lagartas ainda nem crisálidas
e fazia borboletas pintoras de arco-íris
e quando o moreno sorvia tristeza
era pegar uma lagarta e soprar
depois ver o céu colorado um sorriso de deus

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Feito assombramento do cão



Por Germano Xavier

Hoje, apresento a vocês a história de Doró. Mais uma criação minha, talvez minha melhor criação. Talvez o "menino dos meus olhos". Tenho muitos capítulos já escritos e hoje ele me pediu a vida. Cansou da escuridão das gavetas e do negro dos meus arquivos. Doró ganha vida a partir de hoje e aprende o caminho do mundo. Doró que sou eu, que é você, que é tudo e todos. Um menino que não aprendeu a maldade, que ainda acredita na água cristalina. Um menino que sonha, e só.


I
doró juntava as mãos
numa saraivada de aplausos
toda vez o vento abraçava
a velha mangueira
perto ali quintal de casa
perto ali quintal de sonhos

doró cria do mundo ensimesmado
pensava os seus botões
morenidão
do seu gesticular descamisado
"se mesmo sô do mato bicho levado
e se rio eu sozinho desmiolado
acredite culpa num sofro no fundo
esses homi tudo aconjuntado
rasga de inveja pru mim abençoado
p'essas nuve d'algodão amaciado
p'esses vento de coração lavado"

doró cai cai
e tôma bâi pelado de outras roupa
da alma
quiaqui num tem fantasma na gente colado
feito assombramento do cão

pra bicho grande cassaco foge

e era mesmo dessa maneira o menino
arredio mas bem conversado

esperto doró bicho do mato
via tudo pelos buracos
e tresmalhava tudo pra outras bandas
que não as dele, e era e só