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Imagem: Google |
Por Germano Xavier
O que é ser jornalista? Ouse fazer esta pergunta a um amigo seu que não curte jornalismo impresso ou televisionado, ou direcione o questionamento para um tio que vive com o rádio ligado nas madrugadas insones, ou ainda para o seu avô que viveu anos repletos de acontecimentos marcantes para a história do país em que você nasceu, ou para um estudante de jornalismo que ainda não enxergou o real mecanismo de sua tão sonhada carreira e, por fim, ouse perguntar a um jornalista por formação. Será que todos terão a mesma resposta? Eu suponho que cada um fará uma consideração diferenciada, com balanços os mais autônomos possíveis.
Ricardo Noblat tentou respondê-la na série O QUE É SER (JORNALISTA), publicado pela editora Record. A esta pergunta, que tal você acrescentar a seguinte: Para que serve um jornalista? Ou para que serve o jornalismo? E muitas outras perspectivas lhe serão reveladas, com mais ou menos autoridade. Seria o jornalista uma espécie de cientista dos fatos e o próprio jornalismo uma ciência (seria ele uma ciência exata?), uma aleivosia empírica qualquer que sirva sobremaneira para iludir o olho e a mente humanos, um arremedo de arte de difusão massiva, um modo de alterar a órbita da Terra ou uma simples atividade com regras trabalhistas que no fundo só serve para aliviar o homem de sua aproximação desenfreada diante da morte? Seria mesmo capaz o jornalista de mudar o mundo? Concorde comigo, nada melhor do que um jornalista com anos de experiência no ramo para nos fomentar incursões mais profundas em tal debate.
O QUE É SER JORNALISTA, espécie de memorial-depoimento de Noblat, não responde tudo, mas revela o primordial. Noblat pincela até dicas básicas de como proceder diante de certas situações e burila também no mundo da ética comunicacional, ou sua falta. O lado sombrio das grandes aglomerações midiáticas, os jogos de poder envolvendo políticos e jornalistas, as articulações de censura em prol de benefícios mútuos e os sonhos de liberdade de expressão também são assuntos que não passam em branco durante a contação.
Noblat parte do período da infância e adolescência, mostra como parte da família o impulsionou a pegar o gosto pelos ofícios de escrever e ler, diz sobre sua iniciação como repórter na capital pernambucana, esboça um resumo das enrascadas em que se meteu nos anos que passou como editor, chefe, diretor e colunista de grandes jornais brasileiros e, até, marqueteiro político em Angola, passando também pela exposição de quesitos relacionados ao lado pessoal de sua vida e que sofreram duras e incessantes interferências de seu lado profissional. Afinal de contas, é verdadeiro aquele ditado que diz que o bom jornalista é jornalista até quando está dormindo. Há, óbvio, quem discorde.
A visão que fica impregnada à mente após a leitura é a de que o jornalismo não é um terreno onde reina a inocência plena nem o jornalista é um monge construído de indubitável santidade, e pensar assim não é pensar novo. A notícia é um bem muito valioso e pode, sim, mudar a rotação de várias coisas, inclusive a do mundo. E os jornalistas sabem disso, assim como os donos das emissoras de tv e rádio, dos mandatários dos veículos impressos e os políticos. Há sempre um algo a mais por acontecer nos redutos mais recônditos do jornalismo. Estar dentro dele durante uma vida e não ter seu corpo ou sua alma maculada é talvez um dos grandes mistérios da humanidade.
O que é ser jornalista quando a informação verídica é a última coisa em termos de relevância? O que é ser jornalista quando o que mais vale é cumprir ordens de terceiros e que nada tem a ver com o que você é ou idealiza? O que é ser jornalista e não sofrer com dores de consciência? O que é ser jornalista e saber que você é um herói comunicador social, cujas armas são as esferográficas, os blocos de anotações e as câmeras fotográficas? O que é ser jornalista e saber que você pode não ser nada disso de um dia para o outro?
Deve mesmo ser muito difícil ser jornalista. Deve mesmo ser muito fácil ser jornalista. É só fazer o que dá para ser feito. Basta fazer aquilo que é imperativo fazer. Observação, escrita, imagem, compilação e publicação. É só inventar uma historieta e pronto. É só não ser jornalista e ser outra coisa, tipo na área dos negócios, dos bichos e jabás da vida. É só dar a informação. É só negá-la a todos os leitores ou ouvintes a qualquer custo. É realmente tudo muito simples quando o assunto é jornalismo. E é mais do que evidente que você não está acreditando no que está lendo agora. Na verdade, só escrevi isso para jogar ainda mais o jogo da reflexão e você, caro leitor, sabe muito bem onde quero chegar.
O mundo anda mudando muito rapidamente, a sociedade clama por informações com uma velocidade cada vez mais exorbitante, o jornalista de hoje já não é mais o mesmo profissional de anos atrás, os paradigmas para que um fato vire notícia também são outros, as fontes mudaram seus frontispícios, o suporte para que a comunicação seja realmente efetivada também variou. E o jornalista, não muda? Mudou? Como deve ser um jornalista? Como deve se portar? O que é um jornalista hoje? Quanto vale? O que ele deve fazer para escapar de uma roubada no próximo lide e que pode custar o seu tão inseguro emprego? Que tal averiguar um pouco disso no depoimento do Noblat? Boa leitura.