Por Germano Xavier
A primeira vez que ouvi o The Doors foi o fim.
No fundo, eu já tinha The End dentro de mim.
Aí veio a explosão. Blummmmmm!!! Light my fire, as pessoas são mesmo muito estranhas.
"Elas são muito mais estranhas do que eu", pensei.
Era algum dia que não sei se domingo ou quinta-feira.
Ray Manzarek, o Vox de minha alma reacendida em espantos. Nunca mais aquilo.
As pessoas são mesmo muito estranhas.
Chan, chan, chan, channnn, channnnnnnn, chan... O Vox de minha alma relampejando no céu!
"Chama o deus, chama o deus", pensei vociferar.
Ou queimem ele! Matem-no!
O animal nascido em mim, eu grávido. "Vou vomitar esse filho", suando.
John Densmore, a besta galopando ginetes sem adestração.
"Esqueça os cavalos, esqueça os cavalos...", quis.
O chão encharcado. Meu corpo charco, pandemônio.
No fim da década de 60 eu era apenas a sofreguidão de uma máscara sem préstimos.
Não saberia me cuidar.
O Vox de minh'alma me perfurando, a segunda vez viria.
Eu sumi.
Minha fuga não sei pra onde!
O vocal xamânico do cara cabeludo que se rasgava no palco. Engolia a dor dos outros...
Eu era o outro, ali no palco de baixo, no palco da vida.
O fumo e o bafo da revolta.
Jimbo, pai das portas.
Eu quase morto, eu. O acorde sombrio...
Janelas procurava para executar defenestrações. O mundo é estranho.
As pessoas são mesmo muito estranhas.
Robby Krieger, a máquina. O pulso maior, caso houvesse um.
Acordes metralhadoras, o cara morto.
"Finjo ser", pobreza de espírito.
Putos e putas, prostitutos e prostitutas! Vão se danar!
Eu quero o sol!
Eu quero o som!
Eu quero o teatro que sou ! Metralhadoras metralhando, ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ...
Um cara caído, grandeza. As portas da percepção... caríssimos!
Quem sou eu diante? Oca esfera. Tenho meu nada.
"Tenho meu nada que se completa", Riders on the Storm.
As pessoas...
É tudo estranho... Break on Through (To the Other Side)
A primeira vez que ouvi o The Doors foi o fim.
O fim de um fim. Recomeço.
Começo.
E quando a música acaba?