Por Germano Xavier
- As coisas mudam, Camilo - desfiou Don'Ana.
Tão demente a noite no olhar da pureza, lua quebrada.
Chega um dia, sempre, que toda volta irá doer. Aquele paradeiro.
Aquele. Viu? Foi a palavra que passou pela cabeça do menino.
Paradeiro de tudo. E a sensação de tudo boiando
ladeira abaixo. Pior - indo para.
prateleiras tortas
pratos rasos
talher de plástico
flores mortas e vivas
sem o galo
sem o revólver velho do avô
a parede limpa
de pouco céu
o embrulho dos trapos
velhos
para doação
quem irá sentir a oração que fiz todos os dias?
quem irá se olhar rude humano e o espelho será o mesmo?
quem se tornará quem fui nas coisas que vivi?
Sabia-se que Camilo não aceitaria a errante rota que todos tomaram,
sua plateia, a nova casa, o quintal podado, sem mangas nem espadas.
Construtor de castelos... ai, Camilo!, tua mãe irá te mostrar as novidades.
E você tão doce em tua palidez, morrendo, sem pobreza alguma.
Que chegada horrenda, e que tanta poeira a cobrir o amor
que você fabricou...
- Tem aquela comidinha de sábado pós-feira de que tanto gostas, Camilo.
Olhe, sinta o cheirinho. Vês? Não fique assim, parado, como se o mundo -
achas mesmo que vale a pena abdicar, meu filho? -, fosse enterrado agora.
As coisas mudam, Camilo. Pare já com este sorriso!
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