Por Germano Xavier
De acordo com as teorias construcionistas, a citar a estruturalista e a interacionista, podemos concatenar, de antemão, que as notícias são o reflexo – não no sentido de transposição, mas no de construção – de um trabalho de ordem coletiva, o que até aqui não deixa de ser apenas uma análise óbvia. Todo trabalho/produção denota a utilização de critérios e métodos para sua realização. Com o trato noticiário não é diferente. As notícias são como são, não porque elas são matérias pré-concebidas ou pré-moldadas, reflexos da realidade, como defende a Teoria do Espelho, mas sim porque existe a necessidade da lapidação desse objeto, desde o momento em que ele é apenas um acontecimento até o instante em que ele é transformado, com a utilização de inúmeros recursos, em notícia propriamente dita. O jornalista é, aqui, visto como um ourives, um talhador, pois é dado a ele a função ou o poder de “dar vida” ao fato. Claro, não podemos deixar de associar o fato de as próprias notícias serem construções, ou seja, é evidente a possibilidade do próprio acontecimento ser resultante de interações que dependam dos fatores organizacionais e dos mapas culturais acionados pela figura do repórter. Aqui, estamos diante de outro ponto importante: as notícias são também o que são por representarem um interesse próprio que não o individual, porém jamais sendo de caráter imparcial – trato mais plausível quando das ferramentas ligadas às teorias da ação política, posto que as teorias construcionistas negam o caráter de distorção das notícias. Se é imparcial, óbvio também, elas podem ser distorcidas. As teorias construcionistas falam da interação entre fonte, jornalista e sociedade, uma espécie de cultura profissional. É importante salientar aqui, novamente, o corpo do aparelho jornalístico (empresa, editoriais, jornalistas). Há na teoria estruturalista um quesito bem fechado diante do que pode ou não pode ser notícia. Acredita-se piamente no que é de ordem primária e basal. A credibilidade e a legitimidade dos fatos só são conquistadas ou reconhecidas se o material for oriundo de fontes oficiais. Essa visão vai de encontro aos que defendem a teoria interacionista, que dizem haver a possibilidade clara de que algo proveniente de outras fontes/bases, que não as oficiais, possam, e com boas chances para tal, tornar a ser um produto final e polido. Nesse ínterim, também surgem outras condições que fazem das notícias o que elas são: uma delas é o desenvolvimento e a acurácia com duas problemáticas fundamentais: o tempo e o espaço. É preciso estar onde o fato/acontecimento ocorre. Decorrente disso, há uma preocupação com a divisão das várias facetas do espaço de trabalho: mundo em áreas, jornais/empresas em editorias, ou seja, uma segregação do aparelho como um todo. Valoriza-se o instantâneo/atual em detrimento do recém-atual, que já se constitui em passado. Uma estratégia de organização e otimização de toda a produção jornalística. Tomando como pressupostos fundamentais e inerentes à prática e ao exercício do jornalismo, podemos inferir que as notícias são como são porque simplesmente utilizam desses recursos, sem nunca se esquecer dos interesses e dos possíveis interessados. Outro ponto de destaque, em todo o campo jornalístico, dizem tratar-se dos critérios de noticiabilidade que envolvem a construção da produção da notícia, tais quais os critérios substantivos e de produto. São vários os critérios de noticiabilidade, tomando em consideração as diversas abordagens/teorias que o jornalismo enquanto ciência perfaz. Aqui, os valores/notícias revelam, com justiça, os seus reais significados. Tudo inteiramente e intensamente relacionado. As características construtivas da notícia, algumas já citadas anteriormente neste mesmo texto, tornam ainda mais perceptível o caráter de construção/produção que a notícia agrega. O trabalho de artesão do profissional desse segmento é ainda mais indispensável, tendo ele que fomentar um ordenamento para a efetuação de suas capacidades, o que se costuma chamar de “rotinas produtivas”. Trabalha-se a apuração, a seleção e a publicação/materialização do fato com a finalidade de – e aqui eu repito o termo – “dar vida” ao que é, principalmente, atual, estritamente avesso ao cotidiano ou ao que foge ao natural (caráter extraordinário), ao que se refere ao grau hierárquico da fonte, ao que é de interesse de um contingente maior de pessoas, ao que atinge de forma hierárquica os segmentos sociais (quanto maior for o interesse das classes mais altas, mais noticiável é o fato), o que diz respeito ao capital que move este setor. Sendo assim, torna-se viável e de bastante funcionalidade/praticidade o respeito aos critérios que fazem o constituinte-mor do jornalismo – sem esquecer a importância da gestão da linguagem, das diferenças e particularidades de cada meio, como o televisivo e o impresso, da necessidade do uso de uma linguagem diversificada de acordo com o material-produto, as questões que giram entorno das novidades, entre tantos outros pertinentes aos critérios de produto -, a notícia ou o fato-noticiável, a mercadoria mais preciosa e motor de toda essa engrenagem, daí a importância das rotinas produtivas no processo de produção das notícias. Toda rotina produtiva implica em um exercício de disciplina. Em contrapartida, todo exercício de disciplina nos remete a uma aplicação mais ordenada e eficaz de todo o aparelho e dos conhecimentos/experiências adquiridos durante toda a vida profissional do jornalista. Existe, através do emprego desse conjunto de ferramentas, uma probabilidade mais reduzida de se observar desperdícios e ramificações de caráter dispensável nas notícias. Dentro das rotinas de produção, três são os pilares que as suportam: a apuração, a seleção e o ato final, que é o endereçamento, em forma de texto/imagem, edição da notícia ao leitor/ouvinte. Esse processo, que parece ser demasiado simples, implica em diversos encadeamentos – tudo se faz muito importante, sem falar na relevância das agências de notícias e do bom uso dos memorandos, ou seja, das notícias planejadas. Por exemplo: no momento da apuração, o jornalista deve ter e manter uma rede de fontes críveis, a ponto de tornar mais ágil e dinâmico o seu esforço. Isso acontece, também, nas outras duas fases (seleção, publicação). Seguindo esses direcionamentos, que são tanto do aparelho da empresa quando do indivíduo, o jornalismo consegue, na maioria das vezes, cumprir o seu papel de informar integralmente e instantaneamente o público ao qual se destina.
Destarte, é fácil entender o jornalismo como importante forma de conhecimento devido a simples fatores, tais como:
• O jornalismo é um aparelho produtor de conhecimento de rápida circulação, de fácil absorção e extremamente popular; é o único meio de produção e interação intelectual de muitas pessoas no mundo; é meio fomentador de discussões concernentes aos mais diversos segmentos sociais; é, querendo ou não, formador de opinião e de consciência crítica, servindo de ponte para as mais variadas conquistas ideológicas etc.