Ano II do Golpe de Estado: ditadura de MiSheLL Temer
É tarde, estou cansado & este pobre blog não quer mais insistir, já que, é óbvio, o controle sobre a vontade se tornou algo em prática comum & profunda ao menos depois de, como sabia Philip K. Dick, os nazistas ganharem a Segunda Guerra Mundial.
Mas façamos um pequeno digesto antes de abraçar Morfeu.
Poderia simplesmente aludir àquele gracioso filme de 2009 no título desta postagem, & tudo estaria explicado de um modo muito lateral, esquivo, metido à besta: diria Zombieland &, quem quisesse, que entendesse.
(Seria também uma homenagem disfarçada a meu cineasta favorito, Stanley Kubrick, que tentou dizer as coisas justamente assim, alusivo, alegórico, & as disse. O custo, para ele, foi alto. Altíssimo, se vamos avaliar bem a situação, mesmo com poucas pessoas efetivamente percebendo seus truques de mágico macabro).
O grande pesadelo, como todos sabem, é estar acordado enquanto todos dormem.
Um homem certa vez foi acordado por um misterioso ruído nos ouvidos, que aparentemente não vinha de fonte externa alguma. Ergueu-se, & o mundo que viu não se parecia em nada com aquele em que acordava todos os dias para o trabalho, para retornar a casa, se distrair um pouco, comer, dormir & tudo de novo amanhã.
Os outros dormiam, desta vez, o mesmo sono em que sonhara viver seu pequeno pesadelo cotidiano de apáticas obediência & rotina, mas mil vezes mais desejável do que o que tinha diante dos olhos agora.
De olhos bem abertos: via claramente.
O terror de uma distopia de ficção científica ou de um experimento literário mais ou menos psicosociológico é nosso velho conhecido, se tornou cinema & foi parar na Netflix também sob o nome perfeitamente sugestivo de Black Mirror.
O real, como costumo dizer, se tornou até nome de dinheiro, que é a coisa menos real que há.
Informações não importam, porque são conflituosas & interpretações sempre diferem - & eis aí o sabor da invenção, & da fertilidade infinita da mente.
Um ponto deveria, no entanto, ser muito elementar & de usufruto do bom-senso: aquilo que um dia o advogado nascido em Arpino, de nome Cícero, lembrou de um outro orador ter arguído como pista lógica inequívoca: cui bono? ou cui prodest?
"A quem beneficia?"
Aquele que fizer precisamente essa pergunta, & tiver a inteligência, a curiosidade & a coragem de seguir para a resposta evidente a ela despertará como o triste infeliz lembrado alguns parágrafos atrás, para sua inteira perplexidade.
Poderá viver no mundo de antes? Dificilmente. Não estará mais no Kansas, acordará da Matrix, terá posto os óculos escuros de João Nada.
Será como os antigos filósofos & arquitetos que, uma vez tendo contemplado a constituição numérica oculta que constrói o mundo, já não podiam mais ignorar a estrutura implícita em tudo.
O plano é um horror, a ingenuidade quer a harmonia.
Mas, como disse o bêbado F'rnándo P'ssôa uma vez, é mesmo um horror, mas é melhor ter consciência. E o caolho, C'mõesh, contou da abertura da máquina do mundo, aquela que um itabirano magro, funcionário público & cansado rejeitou de mãos pensas.
A máquina, & sua ansiedade sobre o mundo hipnotizado.
Fechamos os parênteses, encerramos os contos misteriosos & arrumamos a cama.
Good night. And good luck.