Além do poeta extraordinário que sempre foi, era um amigo muito querido, uma das raras pessoas genuínas e verdadeiramente boas do meio literário.
É uma perda irreparável, demasiado prematura, e que parte o meu coração, como sei que parte o de muitas outras pessoas próximas, amigos, família.
E é à família de Donizete que vão os meus sentimentos, desejando a força possível a um momento como esse. Sinto com vocês.
pranto por donizete galvão
só
é possível chorar
como
dora maar:
com
pedras que caem
rolando pelo rosto, na verdadeira
miséria dos olhos.
eles
dóem aflitos, se apertam e tremem, convulsos de pranto.
conhecer
a dor não previne a dor:
a
dor se repete dolorosa igual ou pior, é dor
sem
remédio sem cura,
dura e durável dentro,
dor
sem dia ou noite, meu caro donizete.
não
posso mais ― digo
poeticamente ―
sentir
tanta dor: queremos dizer o limite
das pontas no peito, da natureza dos
fatos falíveis,
e
que a vida nos fosse mais do que é, se tal poder
pudessem palavras.
chorar
as rochas dos meus olhos, agora
que
dora retorna, dora sua amiga poeta por quem
você pediu viesse morte certa em hora justa,
você pediu viesse morte certa em hora justa,
após vida
completa;
não
pediria nada, apenas que tão prematuro
não
te cortassem o fio: tarde demais, está feito. é como fazem:
sem
aviso, sem verdade, no seco e no insalubre,
velhas podres, tanta
morte, donizete.
você
vai e nos deixa. todo dilema se foi, “teme não mais
o
mormaço do sol, ou a fúria do inverno”.
cansa
o combate, que nós o sabemos combate:
carne & tempo, você disse bem.
cremado,
pó ao pó, sem o fetiche da cama de terra.
isto
é um adeus ao abraço, à presença, ao amigo que amava:
suas
palavras me vêm em sua voz,
e
são ― não
importa o que diz quem não tem poesia
― para sempre.