Friday, November 25, 2011
Perguntas
Onde estavas
tu quando fiz vinte anos
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
Nas camisolas das teen-agers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylon
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
Ou Alende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.
Joaquim Pessoa
(vou ali. depois volto.
deixo-vos com Joaquim Pessoa,
uma excelente companhia...)
Thursday, November 24, 2011
Wednesday, November 23, 2011
AMANHÃ É DIA DE GREVE!
Vamos fazer de dia 24 uma dia de paralização total!
Isto significa que vamos ficar em casa, comprar o que precisamos a 23 de Novembro, de preferência alimentos que possam ser comidos frios a 24, para que no dia 24 não gastemos gás, nem luz, nem água.
O banho pode sempre ser tomado dia 23 à noite, dia em que podemos 'armazenar' água suficiente para gastar dia 24.
Telefone só as chamadas gratuitas e telemóveis - uso zero!
Televisão? Computador? Népia. Um dia para jogos ou leituras em família. Que tal?
Isto significa que vamos ficar em casa, comprar o que precisamos a 23 de Novembro, de preferência alimentos que possam ser comidos frios a 24, para que no dia 24 não gastemos gás, nem luz, nem água.
O banho pode sempre ser tomado dia 23 à noite, dia em que podemos 'armazenar' água suficiente para gastar dia 24.
Telefone só as chamadas gratuitas e telemóveis - uso zero!
Televisão? Computador? Népia. Um dia para jogos ou leituras em família. Que tal?
Monday, November 21, 2011
Contra a Sedução
1
Não vos deixeis seduzir!
Regresso não pode haver.
O dia já fecha as portas,
Já sentis o frio da noite:
Não haverá amanhã.
2
Não vos deixeis enganar,
E que a vida pouco vale!
Sorvei-a a goles profundos!
Pois não vos pode bastar
Que tenhais de a abandonar!
3
Não vos contenteis de esp'ranças,
Que o tempo não é demais!
Aos mortos a podridão!
O maior que há é a vida:
E ela já não está pronta.
4
Não vos deixeis seduzir
Ao moirejo e à miséria!
Que pode fazer-vos o medo?
Morreis como os bichos todos,
E depois não há mais nada.
Bertold Brecht, in 'Canções e Baladas'
Saturday, November 19, 2011
Música para o fim-de-semana
Não canto porque sonho
Não canto porque sonho
Canto porque és real
Canto o teu olhar maduro
o teu sorriso puro
a tua graça animal.
Canto porque sou homem
Se não cantasse seria
mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho.
Canto porque o amor apetece
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados
Porque o meu corpo estremece
ao vê-los nus e suados.
Thursday, November 17, 2011
***
Tuesday, November 15, 2011
Adormeço
Tu entras lentamente dentro de mim e eu abraço-te
numa tentativa vã de parar o tempo e assim ficarmos
num vai e vem doce
e bonito
e quase desesperado.
É o amor que nos chama é o amor que nos une e nos
invade os corpos suados cansados e tão únicos que,
mesmo depois
quando
nos separamos
e tu vais dormir,
eu levo-te comigo ainda dentro de mim.
O teu cheiro envolve-me
e então
eu adormeço.
Monday, November 14, 2011
Saturday, November 12, 2011
Friday, November 11, 2011
Sempre
Wednesday, November 09, 2011
Dia 178
Inventa o que quiseres quando estou entre as tuas coxas.
Tudo o que inventares aumentará o fogo e o fôlego do amor.
E eu serei príncipe, coral, animal devastador, incansável pescador de pérolas.
O que durar uma hora, parecer-te-á um segundo.
Mas nesse segundo cabe a eternidade.
Joaquim Pessoa
(Ano Comum)
Monday, November 07, 2011
Chamo-te
Saturday, November 05, 2011
Thursday, November 03, 2011
Porque me apetece Joaquim Pessoa
Amor Combate
Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços são a flor do aloendro.
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.
Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:
O nosso amor é sangue. É seiva. É sol. É Primavera.
Amor intenso. amor imenso. amor instante.
O nosso amor é uma arma. É uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.
O nosso amor é pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa.
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.
Deixa-me soltar estas palavras amarradas
para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.
Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade.
Tuesday, November 01, 2011
Sob o chuveiro amar
Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?
Carlos Drummond de Andrade
in 'O Amor Natural'
(31.Outubro.1902 - 17.Agosto.1987)
Subscribe to:
Posts (Atom)