A WikiLeaks já se tornou praticamente tão conhecida como… a Wikipedia. E, tal como esta, também aquela tem pretensões a tornar-se uma «enciclopédia»… só que, neste caso, não para a «ordem» mas sim para o «caos». E Julian Assange não é Jimmy Wales – este, pelo menos, e que se saiba, não tem a «cabeça a prémio».
Neste último ano, e em especial nesta última semana, multiplicaram-se mundialmente as menções às «revelações» que resultaram das «fugas» - os temas, os protagonistas, os segredos, as críticas, as manobras, a coscuvilhice, a má-língua… Porém, é de parecer que as principais, apesar de poucas, questões suscitadas por este caso ainda não foram completa e correctamente articuladas. E é isso que se vai fazer aqui.
Primeira, porque é que só agora a Casa Branca decidiu (aparentemente) encarar a WikiLeaks como uma ameaça, quando aquela só este ano já havia por duas vezes divulgado materiais sensíveis? Poderá ser porque, como as anteriores revelações estavam relacionadas com operações militares no Afeganistão e no Iraque em que alegadamente haviam sido cometidos crimes de guerra, e que haviam ocorrido ainda durante a presidência de George W. Bush, ou que decorreram ainda de instruções da anterior administração, a actual optou por nada fazer, numa nova demonstração – mais arriscada – de «Blame Bush», esperando não ser afectada? Se foi essa a «estratégia», falhou estrondosamente e o «tiro saiu pela culatra», porque o alvo foi agora, exclusivamente, o Departamento de Estado dirigido por Hillary Clinton, e as dezenas de embaixadas que dele dependem. Além disso, é de levar a sério uma eventual «impotência tecnológica» por parte do governo norte-americano em neutralizar o sítio da WikiLeaks quando aquele, através do Departamento de Segurança Doméstica (Homeland Security Department), recentemente (no final de Novembro, na véspera de a WL voltar a «atacar») encerrou «dúzias de domínios», sítios, da Internet por alegada «facilitação de violação de direito de autor»? E, além disso, agora não podem seriamente esperar que as pessoas, incluindo funcionários públicos, não leiam...
Segunda questão, porque é que, como principal culpado, se refere quase exclusivamente Julian Assange e não Bradley Manning? Afinal, o primeiro mais não foi, é, do que o «receptador» e «distribuidor», com as suas «fugas», da «mercadoria», isto é, das informações, que o segundo roubou. Como já aqui referimos em Agosto, Manning é um homossexual(ista) e essa é uma circunstância determinante – e agravante – neste caso: opositor da política «Don’t Ask, Don’t Tell», o soldado Bradley fez como que um gigantesco «outing» dos segredos diplomáticos e defensivos dos EUA – literalmente, fez «sair do armário» (electrónico) a verdadeira face da política externa, civil e militar, da grande nação. E, tal como Nidal Malik Hasan (este com efeitos mais trágicos), constitui um exemplo flagrante da diminuição do nível de exigência e de vigilância nos métodos de recrutamento das forças armadas norte-americanas.
Terceira questão, deve (porque já se viu que pode) a comunicação social «colaborar» na divulgação das «fugas»? Há quem considere que tal comportamento dos media constitui autêntica cumplicidade… criminal. Aponte-se apenas dois exemplos polémicos: a Time entrevistou Julian Assange, tendo este exigido a demissão de Hillary Clinton (!); o New York Times, ao contrário do que aconteceu com o «Climategate», não viu agora qualquer problema em publicar informações «obtidas ilegalmente» - uma dualidade de critérios lembrada pelo sempre perspicaz Bernard Goldberg. E, afinal, o NYT mais não fez do que «honrar» uma sua «tradição» iniciada com a publicação dos denominados «Papéis do Pentágono» no início da década de 1970.
Enfim, «culpado», com as suas «fugas», de (tentar) contribuir, a prazo, para a descredibilização, e mesmo para a derrota, pelo menos moral, dos EUA, o que mais surpreende não é que Julian Assange ainda esteja em liberdade mas sim que ainda esteja vivo! Será que ainda se vai juntar a Osama Bin Laden em alguma gruta entre o Afeganistão e o Paquistão?
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