quinta-feira, maio 31, 2007
quarta-feira, maio 30, 2007
HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA TUA VIDA
A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
(...)
SÉRGIO GODINHO
terça-feira, maio 29, 2007
segunda-feira, maio 28, 2007
domingo, maio 27, 2007
sábado, maio 26, 2007
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner
Fez 490 km do Alvito a Lousada para cantar na livraria/bar/galeria Upflow para algumas dezenas de amigos numa homenagem a Zeca Afonso.
Foi bom revê-lo depois das actuações na Faculdade de Farmácia do Porto em 1970 e das campanhas de dinamização realizadas em terras de Bougado e de Santo Tirso nos meses quentes de 1975.
A mesma voz, o mesmo discurso solidário. E as cantigas entoadas em uníssono por uma plateia saudosa mas não saudosista. E muito menos conformada.
Começou no Zip-Zip, ainda como Padre Fanhais, profissão que durante algum tempo acumulou a custo com a de cantor visto serem ambas muito solicitadas aos fins de semana, por entidades diferentes, obviamente. Emigrou em 70 e regressou em 74. A viola, essa ainda é a mesma que lhe foi oferecida por um grupo de amigos, quando, em Paris, teve de dar o seu primeiro concerto.
Ah ! A voz mantem-se, aos 66 anos, exactamente igual. Tal como o incorrigível humanismo.
Apenas os tempos mudaram. Que não as vontades...
quinta-feira, maio 24, 2007
CAPÍTULO 20
Já que estou com a mão na massa, levedando um tema ainda pouco fermentado e que todos vocês ansiavam que aqui fosse cozinhado, como seja o das primeiras aventuras amorosas, sempre vos direi que a minha pudicícia o não permite, nem que corra o risco de vos ver, em sentido figurado, é bom de ver, novamente em sentido figurado, atirar com o livro (se é que das folhas A4 conseguiu passar), para a berma da estrada se o estais a ler ao volante, para o mar se estais na praia, para cima da mesa de cabeceira na cama ou para a sanita no jacuzzi.
Nunca foi minha intenção que estas míseras letras, juntas umas às outras até palavras se formarem, entremeadas aqui e ali por pequenos pontos, também ortograficamente assim chamados, pequenas curvas em forma de larva de seu nome vírgulas, todas agrupadas em frases, períodos e parágrafos até perfazerem um texto não com um sentido mas com dois (o meu e vosso, que nem sempre o mesmo é o sentido que nós damos às mesmas coisas), merecessem repousar, em forma de livro, nos escaparates da Fnac ou integrar as sugestões de Marcelo. Generoso, ainda assim, aqui deixarei alguns relatos circunstanciais, o que, atendendo a que o homem, como dizem, é a sua circunstância, não sobrará muita razão para grandes razões de queixa.
A Lélé e a Lili foram duas raparigas às quais dediquei alguma atenção enquanto rapazinho, naquelas idades em que às meninas não se pode, porque ainda não se sabe, dedicar outras coisas. A primeira era amiga de uns vizinhos nossos, o senhor Pedro e a D.Rosário que me incutiram o gosto pelas colecções de selos. Morávamos na Rua da Alegria, eu no 769 ela um pouco mais abaixo já não sei em que número, perto da casa onde viveu Guilhermina Suggia (essa mesmo a do amor proibido de Pablo Casals) no 665. Para dar música à Lélé tive de me pôr em bicos de pés (coisa que deixei de fazer em adulto para chegar onde quer que fosse), pois era ligeiramente mais alta do que eu na pequenez dos meus onze anos.
De todas as crianças que moravam no prédio eu era, a grande distância, o mais velho. Daí que, quando surgia alguém da minha idade, era justificado motivo de curiosidade, provavelmente acrescida se fosse menina, presumo eu agora. Estávamos debaixo daquelas escadas que existiam nas traseiras dos prédios que davam acesso dos andares até ao quintal, esquartejado em tantos “lotes” quantos os inquilinos, que neles plantavam cebolo, tomate, couves ou árvores de fruto e lembro-me que a Lélé se teve de curvar ligeiramente para eu lhe dar um beijo, ao mesmo tempo que eu batia com a cabeça na base inferior do patamar.
Foram escassos segundos libidinosos que não permitiram sequer ao Vicente constituir-se testemunha, ele que se arrastava pachorrento do fundo do quintal até ao início das escadas para comer os pedaços de carne que lhe atirávamos da varanda, até ao dia em que o meu pai, feito lavrador urbano, lhe cravou, incauto, a sachola na carapaça erguendo-o ao alto qual troféu de caça. A mesma enxada que o matou lhe cavaria, de seguida, a sepultura.
domingo, maio 20, 2007
Eu queria estar na festa, pá
Sei que há léguas a nos separar
Lá faz primavera, pá
quarta-feira, maio 16, 2007
TRINTA ANOS ...
segunda-feira, maio 14, 2007
AMO-TE TANTO, meu amor...não cante
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
Amo-te como um bicho, simplesmente
E de te amar assim, muito e amiúde
domingo, maio 13, 2007
CAPÍTULO 19
As alcatruzes são como os interruptores. O meu pai, sempre os teve, a umas e a outros voltados para o lado de baixo, conta-se que por via do negócio falhado com o meu tio Costa, naquele período da vida em que nos dão à costa os mais alterosos projectos. Por este motivo e do corte de relações habitual quando se esbracejam responsabilidades, o conhecimento dos meus primos surgiu bastante tarde com contactos tão esporádicos quanto cumplicemente desconhecidos por parte do meu pai.
A Gininha, a mais nova dos três irmãos e do que eu três anos, foi aquela com quem mais contactos mantive. Era assim tipo Mary Hopkin do “Those Were the Days” dos anos sessenta que se fartou de andar às voltas no meu gira-discos portátil, de olhos azuis, cara redonda e longos cabelos louros. Recordo-me de umas férias passadas em Constance, já adolescentes, em casa da minha tia Olinda, irmã da minha avó Adelaide, durante as quais exploramos montes e vales, que do aforismo popular não me lembro de ter feito uso.
O irmão mais velho, o Carlos Manuel (jogava futebol mas não era o do célebre golo de Estugarda embora também equipasse de vermelho mas à Salgueiros), não só cantava como tocava bateria. Juntos, demos alguns desconcertantes concertos, para os amigos, claro. A irmã do meio, que se homem fosse bem poderia chamar-se Sérgio, era a Estela, não sei se em homenagem à cultura Maia que os meus tios já se finaram, mas que poderia ser resgatada pelos arqueólogos daqui a séculos como monumento à beleza, não tenho quaisquer dúvidas.
Depois de alguns anos de afastamento forçado da irmã, o meu tio Costa começou a ir visitá-la mas só se ficava pela entrada. O mesmo acontecia com a minha avó, que, no entanto, passou a ter o privilégio de connosco almoçar e por lá se quedar durante a tarde (o trabalho no Teatro era só ao final do dia) e eu o de ter as meias sempre cosidas, uns chinelos de pano para não riscar o chão e umas camisas feitas à medida.
sábado, maio 12, 2007
ANTES E DEPOIS
Começou por se chamar Rua de Santo António, por começar junto à Igreja de Santo António dos Congregados (primeira foto), mas, após a implantação da República pasou a chamar-se 31 de Janeiro em homenagem aos precursores deste novo regime que no Porto protagonizaram a primeira tentativa do derrube da Monarquia em 31 de Janeiro de 1891. Essa Revolução fracassou em grande parte devido à famosa "Trincheira da Morte" (segunda foto) instalada pelas tropas fiéis à Monarquia no cimo desta rua e que desbaratou os revolucionários que por ela tentavam subir.
quinta-feira, maio 10, 2007
CAPÍTULO 18
Tinha passado vários anos a trabalhar em França na década de quarenta. Entretinha-me com aquelas palavras de que não conhecia o significado quando, sentados no fundo da escada de pedra da Casa do Sarrado, voltados para a eira debulhávamos as maçarocas. Apreciava-lhe os pés gretados calcando a terra, as calças sempre arregaçadas, a camisa às riscas aberta até ao umbigo e o bigode fino mas cerrado. Assim era o meu tio avô Barbosa que tinha, de vez em quando, a hilariante qualidade de, sonoramente, se libertar daquele excesso de azoto que lhe comprimia as entranhas, no que era, a espaços, (que às senhoras estavam proibidos esses desconchavos, às da cidade pelo menos, que às da aldeia pelos vistos nem por isso), acompanhado pela tia Emília. Com tamanha festa, não admira que esperasse ansioso pelo Setembro para rumar até Constance, que, como vimos atrás, fora o berço de duas grandes mulheres, uma que me deu à luz e teve alta, a outra que vivia nas luzes da ribalta.
Era o baloiço na ramada, a varanda por cima do curral, a horta com as couves que ajudava a regar, a cozinha onde a grande pedra da lareira ocupava lugar de destaque com os potes de três pés (num deles havia sopa quente sempre pronta a servir), o forno com a bosta a vedar a entrada (os assados ficavam melhor, dizia a minha tia) e as noites, as noites mal dormidas, que o tempo era pouco para tanta felicidade. E havia os cheiros, seguia-os rafeiramente pelos cantos da casa, a fumo na cozinha, a madeira velha no corredor e nos quartos, deixando que me invadissem as pituitárias.
Certo dia andava eu de patins na íngreme estrada alcatroada que atravessava a aldeia quando dou conta que já não consigo controlar a velocidade que tomara e que me aproximo velozmente de uma curva. Valeu a destreza do meu pai, que, fazendo das suas habituais fraquezas forças, se lançou em meu auxílio e obikwelamente me agarrou lançando-me ao chão, para todos os efeitos coisa de pequena monta para quem estava prestes a atirar-se por um abismo.
Numa dessas tardes quentes de Verão, juntamente com o Germano, que morava na casa ao lado dos meus tios e vestia sempre de preto, descobri em Vila Boa de Quires, uma aldeia próxima, aquilo que pensava serem as ruínas de uma antiga casa senhorial mas que a minha tia contava como sendo a casa do Fidalgo de Vila Boa, o qual, emigrado no Brasil no início do século como muitos outros da terra em busca do pão que ali minguava, lhe acabara o dinheiro para aquilo que havia começado, ali ficando aquele esqueleto de pedra, por entre silvados e ervas daninhas, quem sabe se daqui a algumas dezenas de anos convertido em monumento nacional com subsídios do IPPAR ou de outro qualquer instituto com qualquer outro nome mas com as mesmas preocupações preservativas.
Mais acima, em Castelães, próximo da estrada que nos trazia do Porto, estavam as verdadeiras ruínas da casa onde nasceu o Zé do Telhado, (e não aquela outra para turista ver na estrada nacional perto de Paredes) também conhecido pelo Carvalhosa e pelo Robim dos Bosques português mas José Teixeira da Silva de nascimento que, por via dos seus dotes de salteador dando aos pobres o que tirava aos ricos, foi colega de Camilo na Cadeia da Relação do Porto.
terça-feira, maio 08, 2007
Tal como nessa altura, volto a reiterar a minha filiação clubística nortenha sem qualquer complexo e desde já disposto a chutar para canto qualquer dourada suspeição sobre a influência, mesmo que subliminar, que ela possa ter sobre a objectividade e isenção a que me propus ao escrever estas linhas.
Os sketches dos Gato Fedorento fazem lembrar os primeiros tempos de Herman José. Tal como nessa época, anos oitenta, apenas um número muito limitado de espectadores começou por entender e apreciar um tipo de humor que quebrava com as regras do sorriso fácil e da gargalhada garantida. Começava a surgir aquilo que na gíria se começou por apelidar de humor inteligente.
Pois bem. Parece que os Gato, a exemplo do que aconteceu com Herman (embora este só o tenha feito alguns bons anos depois), começam também eles a abandonar os tortuosos mas gratificantes caminhos das circunvoluções cerebrais para percorrerem as rectilíneas e vazias avenidas novas das elites bem falantes da capital, imitando-lhes os tiques e os toques.
Vem isto a propósito do último programa do grupo em que pela enésima vez se fez a apologia do SLBenfica e a chicana do FCPorto. Todos sabemos que é de bom tom, em especial em determinada comunicação social, ter este tipo de atitude. Atrai audiências, confere promoções e até dá votos em eleições.
O que não seria de esperar é que este grupo de talentosos rapazes (ou melhor, de um talentoso mais três) mergulhasse nesta onda e a cavalgasse da forma despudorada como o faz. Eu sei que políticos de nomeada como Manuel Alegre, Medeiros Ferreira ou Bagão Félix por mais de uma vez vieram dizer que a única coisa a que não conseguem resistir é à paixão e à irracionalidade do futebol. Mas que diabo, são políticos …
Costuma dizer-se que a carne é fraca e a tentação é forte. Não sei, nem estou interessado em saber se resistem à primeira. À segunda, seguramente que não. E mais não digo que o assunto já começa a feder.
segunda-feira, maio 07, 2007
sexta-feira, maio 04, 2007
Da primeira guardo infelizes recordações das longas procissões, vestido de anjo, de padre, de bispo, de cruzado, com os alfinetes a enterrarem-se nas alvas carnes.
Da segunda sobra-me a memória das regueifas levadas do Porto para entregar aos familiares e mais amigos espalhados pela povoação em troca do folar de ovos de que apenas comia os ditos.
As vindimas obrigavam-nos a ir no sábado logo pela manhã. O que mais me atraía era a pisa das uvas no lagar de pedra, em calções, rodeado de homens de calças arregaçadas e pernas ensanguentadas e o escorrer do primeiro líquido etilizado para gáudio do meu tio Manuel que o dava a provar aos circunstantes. O jantar era diferente. A mesa era pequena para tantos pratos, os uropígios demasiados para tão poucos bancos, só a comida estava à medida daquelas bocas famintas.
Saciada a fome aos presentes, partíamos para outras matanças em direcção aos poços existentes nos terrenos onde os pardais dormiam o seu sono de morte. Colocava-se uma rede a tapar a boca do poço, atirava-se uma pedra lá para baixo e os infelizes, que tinham escolhido o abrigo errado, esvoaçavam atarantados até se enforcarem nas malhas que o seu próprio destino lhes havia tecido. Aos mais resistentes torcia-se-lhes o pescoço… Hitchcock não faria melhor.
O Vouga, no Murçainho, tomava o sinuoso caminho do Rio Velho até desaguar na antiga Foz, no chamado Bico da Murtosa. Em épocas de grandes cheias, que as houve antes da abertura da nova Barra de Aveiro, o Rio Velho não tinha cava suficiente para dar rápida vazão às grandes enxurradas vindas da serra e dos rios que afluíam ao Vouga na última etapa. A Barra, por seu lado, obrigava a encerramentos temporários da Ria, com a natural e consequente retenção de lixos e putrefacção das águas morosamente acumuladas, o que originava, cíclica e esporadicamente, epidemias que desbastavam as populações ribeirinhas.
O Rio Novo do Príncipe foi, assim, especialmente construído para dar vazão a essas perniciosas enxurradas. Decorria o ano de mil oitocentos e treze, e na sua construção empenhou-se pessoalmente o príncipe regente D.João, futuro D.João VI, pelo que este último lanço de cerca de cinco quilómetros do Vouga antes de chegar à Foz tomou aquele nome.
Ignorante destas obras de engenharia, percorri inúmeras vezes aquelas águas transparentes que deixavam ver as areias do fundo, os robalos e as tainhas, sentado nas tábuas das bateiras, que assim chamavam, e chamam ainda naqueles lugares, aos pequenos barcos afilados que serviam para galgar o rio.
Os carros de bois também o atravessavam ajoujados de junco apanhado nos arrozais da outra margem e os bois, penso que as vacas também, chegados ao meio do rio, faltando-lhes a pata, tratavam de nadar deixando à pele da água apenas a cabeça, enquanto o carro deslizava em harmonioso equilíbrio até as rodas de novo alcançarem terreno firme. As margens eram bordejadas de eucaliptos, plantados para melhor as fixar, que elas haviam sido, como vimos, construídas pelo homem e nem sempre as leis que este escreve são as mesmas que a natureza dita.
Hoje, à conta da fábrica da celulose a água negra não deixa ver o fundo, os peixes mortos nadam ao sabor da corrente e os eucaliptos começam a tombar sobre a água à conta da erosão das margens. ................................................................................................................
RESPOSTA 16 : Tia Inês
PERGUNTA 17: O padre da foto celebrava missa em que freguesia ?