31 de out. de 2010

um poema e 02 haicais de Cloves Marques*

TRABALHO DE SEGUNDA-FEIRA

Abri a cortina,
com a luz, pedi licença
aos fantasmas que trabalharam
no fim-de-semana.
(Prédio novo, nem sei se tem...)

Abri as gavetas,
saltaram os problemas
que aprisionei na sexta.

Peguei o lápis mais apontado,
papel virgem,
(Não foi desejado por nenhuma mulher!)
comecei a trabalhar,
só nasceram poemas.

*Cloves Marques é um haijim (um poeta dos haicais), como ele mesmo se apresenta. Pratica o HAICAI já alguns anos, com vários livros escritos. É fundador do Grêmio Haicai Arrecifes, que se reune, no Recife, no primeiro sábado de cada mês. É também Engenheiro Civil. Participa da União Brasileira de Escritores-UBE/PE, da Academia de Letras e Artes do Nordeste, da Academia Recifense de Letras e da Academia de Artes e Letras de Pernambuco.

Bem a luz do dia,
a fome assalta o homem.
A justiça espia.

O sol arrebenta
os pensamentos afoitos.
A vida é lenta.

Mais do poeta, aqui.

da flor, da pedra

as flores amarelas
nos vãos das pedras
suavizam o cinza
(sempre tão ríspido)
- e as pedras

29 de out. de 2010

punctum


40º
primavera quente
nada de chuva

passarinho mergulha
no mar de areia

27 de out. de 2010

olhos de ver vasos

o velho vaso de flor sobre a mesa
porque o vejo
é belo

o belo vaso de flor sobre a mesa
se não houver quem o veja
é nada

anjo



eu sempre quis saber o nome
do meu anjo da guarda
[... agora descobri
ele se chama Bono
mora no meu quintal
e tem os olhos doces
e puros
[... e eu que pensei
que todo anjo
tivesse asas

26 de out. de 2010

...

agora
arrasto minhas asas

estranho
------[... ainda flutuo

25 de out. de 2010

não fim

parto do princípio
que partir é o principio
e chegar é recomeço
[... não fim

dia de haikai

bola amarela
rompe a montanha --
parto do dia

24 de out. de 2010

redoma

cai a tarde. lenta [...como convém
aos domingos
o dia embaçado já não me afronta
há dentro de mim
agora
pequena lamparina
que pretendo manter acesa
protegida dos ventos fortes
(água e óleo que não se misturam
essenciais à existência da chama)
- que venham as noites e os temporais
na redoma de cristal dos meus olhos
aceso o fogo
[... tão frágeis os cristais
tão frágeis

23 de out. de 2010

dois poemas de Jacinta Passos*

Canção do amor livre

Se me quiseres amar
não despe somente a roupa.
Eu digo: também a crosta
Feita de escamas de pedra
e limo dentro de ti.
Se me quiseres amar.

Cântico do exílio

Compreendi, Senhor, compreendi
a voz que sobe
do fundo misterioso do meu ser.
Esta angústia que vive dentro de mim,
Somente há de ter fim
quando nada mais existir entre nós,
quando, num dia sem crepúsculo,
eu me abismar em ti,
no teu esplendor absoluto.

*Do livro: Jacinta Passos, Coração Militante, poesia, prosa, biografia e fortuna crítica, organizado por Janaína Amado. Nem terminei de ler ainda, mas precisava dividir com vocês estas belezas. Virão outras, com certeza. Parabéns, Janaína, o livro é belíssimo, teu trabalho primoroso e a poesia de Jacinta Passos absolutamente encantadora. Abraço forte.

OBS: Recebi uma carta linda de um amigo, hoje, que quero também dividir com vocês: AQUI. Um beijo grande, Lalo.

20 de out. de 2010

reflexo


by mihail ilie

o olhar do macaco
atrás das grades

é puro

- reflexo dos nossos
[... por isso dói tanto

19 de out. de 2010

dos sentires do tempo V

às vezes penso que tudo já foi dito
[... me calo
sempre tão breve meu silêncio
o tempo exato de um espanto
ou de um espasmo
o tempo de qualquer existir
ou extinguir
o tempo aflito do estalo da língua
no céu da boca
o tempo do sentir
[... o tempo

18 de out. de 2010

mutatis mutandis (ou - desejo de voar)

quando a vida se torna
fardo
já não é vida
é fardo
que não pretendo carregar
embora o tenha
colado às minhas costas
[... que um dia serão asas

17 de out. de 2010

o verso

do absurdo, do tempo
da vida
[de tudo
o que vale é o verso
vide
[... o verso

16 de out. de 2010

Antero de Alda - um poema, uma fotografia


"Quem canta sua aldeia canta o mundo"!


Poema em Viagem

na viagem distrai-se o poema
mas pode ser de sangue, névoa ou fogo------------guerra!

até silêncio!

tão depressa infantil como impiedosamente velho –
até no cheiro!

na viagem, o provérbio diz-lhe:
“molda-te ao vento...”

vento!

não sejas cruel
se me rasgas o caminho no rosto.


Este texto faz parte de um dos scriptpoemas de Antero de Alda. Como se não bastasse a excelência dos textos, seu trabalho no campo da ciberarte é simplesmente genial. O artista expõe seus trabalhos poéticos, shortpoems e fotografia, em vários sites interligados, e sua obra, aproveitando os recursos oferecidos pela informática, mistura diferentes campos artisticos: música, som, fotografia, texto, vídeo, etc. Deixo aqui os links dos sites e quero convidá-los a uma viagem fascinante à aldeia do poeta Antero de Alda, a quem deixo um abraço, com minha admiração incondicional.

Site Oficial

Câmara Antiga

Os dias todos iguais

um poema de Marcantonio

VERSO ELÁSTICO

Dedicado a Nydia Bonetti
e a partir da leitura de seu poema Poliverso


Tentar abarcar o desmedido
como se fora ínfimo;
tocar o pequeno
como se transbordasse.

A forma inconclusa
das cordilheiras verdes,
a estranha flor azulada
sobre a pedra inóspita.

Para o besouro
(grifo guerreiro)
mil palavras.
Para a vida e a morte
dois monossílabos;
para a estrada inteira,
um discurso impossível
com vírgulas erradicadas.

Para cada urgência de água,
navegar
com diferentes calados:
a canoa instável
na arável superfície;
o rude encouraçado
assustador;
o submarino silente
sob a voragem.

Para toda a arte,
um aceno pasmo,
em pé na beira,
do todo à margem.


Conheci a poesia de Marcantonio a pouco tempo e confesso - fiquei impressionada. Sem dúvida, um grande poeta - um dos melhores. Além de poeta, artista plástico brilhante, publica seus trabalhos no DiárioExtrovertido. Dono de um estilo marcante e consistente, domina as suas duas artes com perfeição. Guardem bem este nome. Tenho a impressão que ouviremos falar muito dele. Obrigada, Marcantonio, beijo!

13 de out. de 2010

pontos



vórtice vértice vertigem
ventania

tudo tão distante do ponto
em que me encontro

(vazia)

equidistante o outro ponto
é fantasia

10 de out. de 2010

antigo, o jasmineiro

estranha esta noite quente de primavera
tento sair à rua tento
não posso
há algo que me impede que me segura
me paralisa
tenho bolas de ferro presas aos pés
as mãos atadas
e um nó na garganta
antigo, o jasmineiro tem pena de mim
e em perfume
me manda sinais
de que há vida lá fora
e que ela pode ser
doce
[... ainda

8 de out. de 2010

delírios


Flávio Scramignon - Sumi-ê

garças rosas
desafiam a lógica das cores dos bichos

todos - deveriam ser azuis

como as pedras, as árvores
e as maçãs

sob o céu vermelho dos meus delírios

6 de out. de 2010

olhos mofados

czarinas pós-modernas
lavram minas de ferro e carvão

matéria negra de que se faz o pão
de cada noite

se amanhecer moer do que restou
e deglutir fuligem

olhos mofados
gerânios na fotografia são

lembranças

5 de out. de 2010

dos sentires do tempo IV

olho minhas mãos
não as reconheço
quem foi
que as vestiu
com as luvas do tempo
e quando e como?
— não sei
mas elas estão em mim

4 de out. de 2010

franciscando


arteblog galeria

hahaha um Deus
hahaha um Deus que nos ama
hahaha

há um Deus?
há um Deus que nos ama?
há?

ah... um Deus
ah... um Deus que nos ame
ah...

há um Deus!
há um Deus que nos ama.
há!

Vocês sabem o que o EITA!? Todos convidados a conhecer. :)

2 de out. de 2010

Havana

na rota dos meus sonhos
ainda te encontro
con sus guitarras y cantos
sus poemas de arcilla y piedra
minerales y hojas
ojos de tabaco y doçura
manos de esperanza
fuegos de ternura
Habana
(reconheço-me ilha)
cenizas de lo que soñé
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