era preciso acreditar
que outonos viriam
e arrancariam folhas e ventos soprariam
mas não - insisti na utopia
do eterno verão
das flores que não morrem - do céu
sempre azul
tenho as mãos e as unhas
sujas de terra agora
fui procurar sob as folhas secas
meus olhos antigos
não encontrei
quis mergulhar no campo
em busca de estrelas que já não havia
a pedra me salvou a pedra
me impediu de seguir – a pedra
filha do fogo
onde queimam poetas e loucos
filha das horas
que sedimentam folhas e poeiras
estratos de tempo
sopro
a carne
se curvou à pedra
o sangue
fecundou a terra
era inverno já - e eu nem sabia
que outras flores viriam
vieram - ainda assim
não acreditei