29 de abr. de 2010

(II)

não ouso pedir
o maná dos céus

peço os frutos da terra

na lida
dos humanos quereres

cansaço e suor

grão
que se possa colher

pão
ainda que ázimo

mão
que se possa tocar

saciadas fomes

(II)

26 de abr. de 2010

(I)


Street Crossing, Paris 1964 - Jon Goell


pai
o que sentia

ao percorrer caminhos
que hoje são meus

insondáveis
todos os caminhos

(I)

25 de abr. de 2010

ainda o deserto

o poeta não tem mesmo nenhum pudor
no corpo do poema
se desnuda e se expõe em praça pública

perdi a voz
nenhum som
gemido canto
sopro
p a l a v r a
estou muda
talvez
não tenha mesmo
nada
mais a dizer

22 de abr. de 2010

na estrada

depois de ler Walkyria

busco um caminho novo
de ser estar de poemar
será que encontro?

20 de abr. de 2010

agônica

do que não somos
dizem
brotam flores
única e trágica
espécie
a florescer
hoje
no meu jardim

16 de abr. de 2010

massacre

a luta pelo pão
massacrou a poesia

é tudo tão raso
tudo tão pouco
tudo tão

des_humano

verso nenhum resiste
a uni_verso tão

limitado

12 de abr. de 2010

dos poetas, loucuras e vaidades


bukowski_crazy_inspiring_life

de perto ninguém é normal
às vezes segue em linha reta
a vida, que é meu bem, meu mal
caetano veloso
I-

no fino fio
que a lucidez
separa da loucura
o poeta se equilibra

ventos fortes soprando

II -

canto eu
cantamos nós
cantam vocês

sonoro verso
que nos faz poetas

III -

era um poema e tanto
era o melhor de todos

foi para o ralo

antes mesmo
de chegar ao rio

evaporou

que pena
não saberá dos abismos

nem do sal

IV -

solidão já não dói
vira poesia

ser poeta é ir além
do que se pode suportar

V -

chamam-me poeta

sou apenas uma tola
(uma louca de pedra)

que se desmancha em versos

VI -

todos

os poetas padecem
do mesmo mal (pecado?)

da vaidade dos poetas
livrai-nos Senhor

9 de abr. de 2010

...

tarde sem sol
passarinho no ninho

por não ter asas
flor de esperar - espera

8 de abr. de 2010

incrédula

era preciso acreditar
que outonos viriam
e arrancariam folhas e ventos soprariam
mas não - insisti na utopia
do eterno verão
das flores que não morrem - do céu
sempre azul

tenho as mãos e as unhas
sujas de terra agora
fui procurar sob as folhas secas
meus olhos antigos
não encontrei
quis mergulhar no campo
em busca de estrelas que já não havia

a pedra me salvou a pedra
me impediu de seguir – a pedra
filha do fogo
onde queimam poetas e loucos
filha das horas
que sedimentam folhas e poeiras
estratos de tempo
sopro

a carne
se curvou à pedra
o sangue
fecundou a terra
era inverno já - e eu nem sabia
que outras flores viriam
vieram - ainda assim
não acreditei

5 de abr. de 2010

o infinito jaz z

paralelas linhas que se tocam
no infinito
perpendiculares que se cruzam ali
na esquina
(neon)
escolhi transitar
por aquelas que nunca se encontram
o infinito jaz z no caminho
(no mesmo tom)

3 de abr. de 2010

dívidas


Foto: Frank Horvat

amor
com amor se paga


tem alguém me devendo

tenho também
algumas contas penduradas

em algum velho balcão
por ai
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