a Cesar Vallejo
Enquanto Fala
Um homem morto lá em seu pé repousa,
e com sua mão livre nos cumprimenta
enquanto a outra arranha tristemente a terra.
Como nos amou então seu cabelo.
Como nos ama agora. Quanto sente
cumprimentar-nos assim, sem o lenço.
Como nos diz agora que já volta,
que não demora, só
o que gasta para ver como está seu pessoal,
tomar café, se for o caso, e estar de volta.
Como nos diz agora que já volta, e sabe
que para nós dava no mesmo, e não sabe
como agora queríamos
que secasse sua mão, a que arranha,
e com as duas nos abraçasse, e depois
reunidos, comemos alguma coisa e olhamos
como se já não fosse embora e amanhã
voasse para Lima ou Paris. Quase o vemos
lá outra vez, amando-nos.
E, enquanto fala, cai
um distante pó de biscoitos.
* Nascido em Cuba, 1948, reside no Chile. Poeta, narrador e ensaísta, licenciado em Língua e literatura hispânica, pela Universidade de Havana.