Certa vez, matei um
rato. Quer dizer, participei de sua morte. Foi preciso montar um esquema de guerra para aniquilá-lo! Minha primeira reação à aparição daquele inseto asqueroso (sim, eu sei que
rato não é inseto, mas essas classificações da biologia não me servem, já que ele se aproxima mais de uma barata do que de um mamífero qualquer!), pois minha primeira reação foi subir na cadeira e gritar, tal qual eu sempre havia visto nos desenhos que animaram minha infância!
– Um
rato!
– Um
rato!
- Ali!
- Ele foi por ali!
Tínhamos acabado de chegar, eu e meu namorado. Os outros rapazes que moravam com ele na república deviam estar ainda na faculdade. Pois foi meu namorado à caça do bichano pelos quartos, enquanto eu ululava sobre a cadeira da sala de jantar. Durante um bom tempo ele revirou o quarto à procura daquele invasor indesejado. Achou num dos quartos. Mas não conseguia pegá-lo. Ele pulava e soltava uns ganidos, uns guinchos estridentes, era muito ágil e perspicaz, seu corpo mole se adaptava a qualquer buraco em que se escondia naquela fuga desesperada. Respirei fundo, tomei coragem, e resolvi ajudar na captura. Os outros rapazes foram chegando e ajudaram a montar a estratégia de guerra. Arrastamos todos os móveis para o fundo da sala, formando um corredor e liberando a passagem para a porta da rua; fechamos as dos demais cômodos. Então seria mole. Era só fazer com que o bicho saísse do quarto e ele só teria um caminho: o da porta pra fora!
Enquanto uns se empenhavam em fazê-lo sair do apartamento, outro aguardava no corredor do prédio com uma vassoura. Eu subi no sofá do lado da sala que estava protegido pela barricada e lá fiquei observando a movimentação dos soldados. Pois não é que o bicho ao sair do quarto deu um salto acrobático digno de Daiane dos Santos, ultrapassou a barricada e foi se enfiar no meio dos entulhos todos que arrastamos para o fundo da sala?! Ao passo que ele pulou pra cá, eu pulei pra lá soltando também meu guincho estridente! Caralho, e agora?!
Foi mais uma hora pra fazer ele sair de lá. E eu já no corredor do prédio pronta pra correr, pude presenciar o momento exato em que ele meteu as fuças pra fora e foi certeiramente golpeado pela vassoura, voou alto, bateu no teto e caiu no chão em espasmos fatais. Mas
rato é que nem mosca na sopa, “cê mata um e vem outro em seu lugar”. E não é que hoje eu me deparo com outros
ratos?!
Ratos vivos, muito vivos! Não insetos! Mamíferos, que mamam em muitas fontes.
Ratos ágeis, perspicazes, como aquele.
Ratos duros na queda, que se enfiam em qualquer buraco, que fazem inúmeras acrobacias e fazem ecoar seus bramidos.
Ratos que me fazem subir na cadeira e gritar. Não de medo, pavor ou asco. De alegria!
Ratos que me fazem gritar poesia...
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Obs.: Cada clique num "rato" dá no blogue de um rato, e clicando em qualquer "ratos", dá no blogue dos Ratos di Versos.