Quando acabo de mobiliar meu castelo
Vem esse desejo de derrubá-lo.
E construir - não reconstruir.
O novo, o inédito, o inesperado
O risco, o medo, a superação
Tudo isso move meus pés desconstrutores.
Meu canto ainda precisa ser encontrado
Receio que nunca o ache
Tanto quanto receio um dia achá-lo.
É a busca que me motiva
O reinício, a prova de minha competência
É enxergar um mundo vasto demais para um só castelo.
Desejo de fuçar novos quintais,
Descobrir novas areias e consolidadores
Solidificar pilastras e corrimões e pisos
Encontrar um solo virgem de sujeiras de outros
Plantar minhas próprias fruteiras
E desfrutar toda alegria inerente ao meu próprio suor.
Olhar um terreno vazio e sonhá-lo construído
Com seus labirintos mais profundos
E minotauros ferozes a defender seus caminhos
Pátios ainda livres de multidões e requisições
Nada a pedir, nada a conceder, nada a julgar
Nem o conselho do amigo mais querido. Nada.
Cada castelo criado me renova a esperança
Mesmo sabendo da desconstrução ao final
- Tenho, portanto, tantas mortes quanto renascimentos
De tal modo que a cada castelo desconstruído
E a cada novo castelo imaginado e montado
Acumulo meus mais ricos e preciosos bens.
É o início de uma nova despedida, imagino.