Sinto o som extravasando em mim
Em minhas veias, minhas têmporas
Em meu amor perdido para sempre
No prédio ao lado, ou atrás, quem sabe?
Recorro a qualquer coisa e a nada.
A sensação é muito boa, iluminada:
Rojões, fogos, buzinas, silêncio
O caos do centro paulistano em que habito
Implosão. Conforto, receio, fumo. Ar.
Poluo-me com prazer e sem opção
Luz branca, computador, televisão
E meu coração não consegue ver nada.
Essa confusão é minha, eu a criei
E como tudo na vida, não tem explicação:
Minha única e esfarrapada desculpa
É ser o que sou, o que penso, e o que digo
O som reverbera em minha caixa de ser
E só me implode, e implode, implode...
Penso que seja uma angústia súbita,
Mas sei que é só saudade danada
Danada e negada, a safada.
Negada por não poder ser
Safada por invadir indesejada
E minha, por pura covardia.
O cigarro acaba, mas o som não.
E ainda sobra essa implosão...
Fodo meu fígado, arregaço o pulmão
Viro de bruços, sem sono, culpada.